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The Queen of Nothing - Prólogo


E o Rei Elfo jurou se casar
Com uma filha da terra,
Cujo filho será,
Através da cruz e da água santa,
A condenação à liberdade das fadas eternamente.
E se esse dia predestinado existir!
Está longe! Está longe!
— Edmund Clarence Stedman,
“Elfin Song”

O astrólogo real, Baphen, olhou de soslaio para o mapa celeste e tentou não hesitar quando parecia certo que o mais jovem príncipe de Elfhame estava prestes a ser derrubado de seu posto real.

Uma semana após o nascimento do Príncipe Cardan, ele finalmente foi apresentado ao Grande Rei. Os cinco herdeiros anteriores foram vê-lo imediatamente, ainda berrando e corado do nascimento, mas Lady Asha impedira a visita do Grande Rei antes que ela se sentisse adequadamente recuperada do parto.

O bebê era magro e enrugado, quieto, encarando Eldred com olhos negros. Ele chicoteou sua pequena cauda em forma de chicote com tanta força que sua manta ameaçou se desfazer. Lady Asha parecia insegura de como segurá-lo. De fato, ela o segurou como se esperasse que alguém lhe tirasse o fardo logo.

– Conte-nos sobre o futuro dele –, solicitou o Grande Rei. Apenas algumas pessoas foram reunidas para testemunhar a apresentação do novo príncipe – o mortal Val Moren, que era tanto poeta da corte quanto senescal, e dois membros do Conselho Vivo: Randalin, o ministro das Chaves e Baphen. No salão vazio, as palavras do Grande Rei ecoaram.

Baphen hesitou, mas não pôde fazer nada, a não ser responder. Eldred fora favorecido com cinco filhos antes de príncipe Cardan, uma fecundidade chocante entre seu povo, de sangue ralo e de poucos nascimentos. As estrelas haviam falado das realizações fadado a cada pequeno príncipe e princesa: em poesia e música, em política, em virtude e até em vício. Mas desta vez o que ele viu nas estrelas foi completamente diferente.

– Príncipe Cardan será seu último filho nascido –, disse o astrólogo real. – Ele será a destruição da coroa e a ruína do trono.

Lady Asha respirou fundo. Pela primeira vez, aproximou a criança de forma protetora, e ele se contorceu em seus braços.

– Eu me pergunto quem influenciou sua interpretação dos sinais. Talvez princesa Elowyn tenha a mão nisso. Ou o príncipe Dain.

Talvez fosse melhor se ela o renunciasse, pensou Baphen com indelicadeza.

O Grande Rei Eldred passou a mão pelo queixo.

– Nada pode ser feito para impedir isso?

Era uma bênção mista ter as estrelas suprindo Baphen com tantos enigmas e tão poucas respostas. Muitas vezes ele desejava ver as coisas com mais clareza, mas não dessa vez. Ele abaixou a cabeça para que tivesse uma desculpa para não encontrar o olhar do Grande Rei.

– Somente do sangue dele derramado um grande soberano reinará, mas não antes do que eu disse acontecer.

Eldred virou-se para Lady Asha e seu filho, o prenúncio de má sorte. O bebê estava tão quieto quanto uma pedra, sem chorar ou balbuciar, a cauda ainda chicoteando.

– Leve o menino –, disse o Grande Rei. – Crie ele como quiser.

Lady Asha não recuou.

– Vou criá-lo como convém à sua posição. Afinal, ele é um príncipe e seu filho.

Havia uma fragilidade em seu tom, e Baphen lembrou-se desconfortavelmente de que algumas profecias eram cumpridas pelas próprias ações destinadas a tentar evitá-las.

Por um momento, todos ficaram em silêncio. Então Eldred acenou para Val Moren, que deixou a plataforma e voltou segurando uma caixa de madeira fina com padrões de raízes traçadas sobre a tampa.

– Um presente –, disse o Grande Rei, – em reconhecimento à sua contribuição para a linhagem Greenbriar.

Val Moren abriu a caixa, revelando um delicado colar de esmeraldas pesadas. Eldred levantou-os e passo-os sobre a cabeça de Lady Asha. Tocou a bochecha dela com as costas de uma mão.

– Sua generosidade é grande, meu senhor –, disse ela, um pouco mais calma. O bebê agarrava uma das pedras em seu pequeno punho, olhando para o pai com olhos insondáveis.

– Vá agora e descanse –, disse Eldred, mais suave.

Desta vez, ela cedeu.

Lady Asha partiu de cabeça erguida, apertando a criança com mais força. Baphen sentiu um arrepio de alguma premonição que não tinha nada a ver com as estrelas.

O Grande Rei Eldred não visitou Lady Asha novamente, nem a chamou para ele. Talvez devesse ter deixado sua insatisfação de lado e cultivado seu filho. Mas olhar para príncipe Cardan era como olhar para um futuro incerto, e assim ele o evitou.

Lady Asha, como a mãe de um príncipe, acabou por ser muito procurada pela corte, embora não mais pelo Grande Rei. Dado ao capricho e frivolidade, ela desejava voltar à vida alegre de cortesã. Ela não podia participar de bailes com uma criança no colo, então encontrou uma gata cujos gatinhos nasceram mortos para ser sua ama de leite.

O plano durou até que o príncipe Cardan começar engatinhar. Por assa altura, a gata estava pesada de uma nova ninhada, e ele começava a puxar a cauda dela. Ela escapou para os estábulos, abandonando ele, também.

E assim ele cresceu no palácio, não amado por ninguém e não cuidado por ninguém. Quem se atreveria a impedir um príncipe de roubar comida das grandes mesas e comer embaixo delas, devorando o que tinha levado em mordidas selvagens? Suas irmãs e irmãos apenas riram, brincando com ele como fariam com um filhote de cachorro.

Ele usava roupas apenas às vezes, em vez disso, vestia guirlandas de flores e atirava pedras quando o guarda tentava se aproximar. Ninguém, exceto sua mãe, exercia alguma influência sobre ele, e raramente tentava conter seus excessos.

Fazia exatamente o oposto.

– Você é um príncipe –, dizia com firmeza quando ele evitava um conflito ou deixava de fazer uma exigência. – Tudo é seu. Você só tem que pegar.

E às vezes:

– Quero isso. Tragam para mim.

Crianças feéricas não são como crianças normais. Elas precisam de pouco afeto. Não precisam ser acomodados à noite, podendo dormir igualmente contentes no cantinho frio de um salão de festas, enrolados em uma toalha de mesa. Não precisam ser alimentados; ficam igualmente satisfeitos lambendo o orvalho e beliscando casca de pão e creme das cozinhas. E não precisam ser confortados, pois raramente choram.

Mas se crianças feéricas precisam de pouco afeto, os príncipes feéricos requerem algum conselho.

Sem aconselhamento, quando o irmão mais velho de Cardan sugeriu atirar em uma noz na cabeça de um mortal, Cardan não teve a sabedoria de questionar. Seus hábitos eram impulsivos; seu jeito, imperioso.

– Ter a pontaria aguçada impressiona o nosso pai –, disse príncipe Dain com um pequeno sorriso provocativo. – Mas talvez seja difícil de mais. Melhor nem tentar do que falhar.

Para Cardan, que não conseguia atrair a atenção do pai e desejava desesperadamente, a perspectiva era tentadora. Ele não se perguntou quem era o mortal ou como havia chegado à corte. Cardan certamente nunca suspeitou que o homem fosse amado por Val Moren e que o seneschal enlouqueceria de tristeza se o homem morresse.

Deixando Dain livre para assumir uma posição mais proeminente na mão direita do Grande Rei.

– Muito difícil? Melhor não tentar? São palavras de um covarde – disse Cardan, cheio de bravura infantilidade. Na verdade, seu irmão o intimidou, mas isso só o deixou mais desdenhoso.

Príncipe Dain sorriu.

– Vamos trocar de flechas ao menos. Então, se você errar, vai pode dizer que foi minha flecha que errou.

Príncipe Cardan deveria ter desconfiado da gentileza, mas tinha pouco o suficiente de realidade para poder distinguir o verdadeiro do falso.

Em vez disso, ele apontou a flecha de Dain e puxou a corda do arco, apontando para a noz. Um pressentimento tomou conta dele. Ele poderia não acertar. Poderia machucar o homem.

Mas, logo em seguida, uma alegria irritadiça provocou a ideia de fazer algo tão horrível que seu pai não poderia mais ignorá-lo. Se não conseguia chamar a atenção do Grande Rei por algo bom, então talvez poderia conseguir por algo muito, muito ruim.

A mão de Cardan tremia.

Os olhos molhados do mortal o observaram com medo congelante. Encantado, claro. Ninguém ficaria assim voluntariamente. Foi esse o fator decisivo.

Cardan forçou uma risada enquanto relaxava a corda do arco, deixando a flecha sair do entalhe.

– Simplesmente não vou atirar nessas condições –, disse ele, sentindo-se ridículo por recuar. – O vento está vindo do norte e bagunçando meu cabelo. Está vindo tudo nos meus olhos.

Mas príncipe Dain levantou o arco e lançou a flecha que Cardan havia trocado com ele. Atingiu o mortal na garganta. Ele caiu quase sem som, os olhos ainda abertos, agora olhando para o nada.

Aconteceu tão rápido que Cardan não gritou, não reagiu. Ele apenas olhou para o irmão, lento, e a terrível compreensão caiu sobre ele.

– Ah –, disse príncipe Dain com um sorriso satisfeito. – Uma vergonha. Parece que sua flecha errou. Talvez você possa se queixar desse cabelo nos seus olhos com o nosso pai.

Depois, embora ele protestasse, ninguém ouviria o lado do príncipe Cardan. Dain certificou-se disso. Ele contou a história da imprudência do mais jovem príncipe, sua arrogância, sua flecha. O Grande Rei nem sequer permitiria a Cardan uma audiência.

Apesar dos pedidos de Val Moren por execução, Cardan foi punido pela morte do mortal do mesmo modo que príncipes eram punidos. O Grande Rei mandou trancar Lady Asha na Torre do Esquecimento no lugar de Cardan – algo que Eldred estava aliviado em ter razão para fazer, já que a achava cansativa e problemática. Os cuidados do príncipe Cardan foram entregue a Balekin, o mais velho dos irmãos, o mais cruel e o único disposto a levá-lo.

E assim foi feita a reputação do Príncipe Cardan. Tinha pouco a se fazer depois disso.


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9 Comentários

  1. Sua tradução é perfeita.

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  2. Sua tradução é perfeita.

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  3. Continua EU PRECISO SABER TUDO QUE ACONTECE

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  4. Continua, por favor. Eu acabei de terminar o livro dois e necessito desse livro

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  5. Continue vou acompanhar

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  6. Eu tô tão feliz de ver aqui a tradução. Agradeço demais 🤗

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  7. Eu nem acredito que consegui encontrar esse site, eu estava desesperada pelo terceiro livro. Muito muito obrigada ❤️

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