Pela primeira vez, Neil acordou antes do despertador de Matt tocar. Ele ficou imóvel por um minuto, em seguida, rolou para o lado e desligou seu próprio despertador. Abriu seu celular para olhar a data. Sexta-feira, 19 de Janeiro. “Neil Josten” supostamente faria vinte anos no dia 31 de março. Hoje, Nathaniel Wesninski completava dezenove anos de idade. Neil nunca tivera o hábito de comemorar seu aniversário, mas cada ano em que ele passava vivo merecia um momento de silêncio. Passou o polegar sobre a data na pequena tela e fez um desejo: que eles ganhassem contra Belmonte.
Neil sabia que frequentava as aulas, mas não aprendera nada. Sempre escrevendo o que seus professores ditavam, mas nunca absorvera uma única palavra. Ele enfiou suas anotações no fundo de sua bolsa, comeu uma refeição sem graça sozinho no refeitório dos atletas, e voltou para a Fox Tower. Passou por alguns jogadores de vôlei na escadaria, que lhe desejaram boa sorte entusiasmadamente, e Neil lembrou-se de agradecê-los. Ele pensou que lhes tinha agradecido, de qualquer maneira. Ele não sabia. Ele não conseguia se concentrar quando pensava no jogo.
As Raposas não treinavam à tarde quando tinham jogos no Foxhole, por isso Neil teve tempo de sobra para matar. Tentou estudar, mas não chegou a lugar nenhum, então tentou cochilar, sem sucesso. No momento em que eles saíram para o estádio, faltando uma hora para a partida, ele estava ficando maluco.
O vestiário cheirava levemente a água sanitária e limpador de janelas. Neil não entendeu o objetivo de limpar o vestiário minutos antes da partida, mas uma pequena equipe de limpeza vinha todos os dias. O cheiro geralmente desaparecia durante o tempo que as Raposas levavam para chegar aos treinos, mas Neil supôs que o transito do campus, em dia de jogo, tinha atrapalhado. Todavia, isso explicava por que Wymack estava sentado na sala de TV em vez de escondido em seu escritório. Wymack alegou ser alérgico a materiais de limpeza. Abby achou uma desculpa nada criativa tendo em vista o estado desleixado de seu apartamento, mas Wymack obstinadamente manteve sua história.
Wymack assistiu sua equipe passar, provavelmente esperando por um sinal de que tivessem feito às pazes. Cada treino naquela semana fora um pouco melhor do que a anterior, mas eles não estavam exatamente onde precisavam estar. Neil e Kevin voltaram a se falar na quinta-feira, porque não podiam ignorar um ao outro para sempre. Embora os veteranos ainda não conseguissem perdoar Andrew por sua violência, eles consideraram a hipótese, mas fora de seus sensos de necessidades. Eles ainda o viam como um sociopata impulsivo, incapaz de lamentar suas ações ou entender sua raiva.
Aaron, por outro lado, parecia uma pedra, imóvel de repugnância entre as Raposas, uma colisão entre inércia e velocidade os fez tropeçarem em busca de equilíbrio novamente. Neil não sabia por quanto tempo mais toleraria essa hostilidade imatura antes de forçar outro duro empurrão contra Aaron. Ele desejou que Nicky tivesse mais influência sobre seus primos, já que por ficarem no mesmo quarto significava que Nicky teria mais chances de ajudá-los. Até Kevin seria um aliado aceitável, porém Kevin só desafiava Andrew quando se tratava de Exy. Ele não se envolveria em seus problemas pessoais.
Não havia mais tempo para se preocupar com isso esta noite; Neil teria que resolver isso no fim de semana. Ele afastou os irmãos da mente e seguiu os garotos até o vestiário.
Ele girou a combinação na fechadura de seu armário de equipamentos e destrancou a porta. Houve uma fração de segundo de inesperada resistência ao abri-la, em seguida, um estalo agudo de algo estourando.
E então... Sangue.
Aquilo explodiu em seu armário, derramando pela abertura da porta, e Neil recuou puxando o que pode de dentro. O cheiro era tão forte que entupiu sua garganta o sufocando. O choque de Neil durou apenas um segundo, antes do pânico tomar conta. Ele mergulhou em seu armário, pegando seu uniforme e equipamento. Era tarde demais, e ele sabia, mas tinha que tentar. Sua camisa pressionada em suas mãos parecia uma esponja encharcada, jorrando sangue por entre os dedos. Ele a largou e arranhou os dedos por seu capacete. As pontas de seus dedos roçaram o plástico duro, mas não conseguiu cravá-las no objeto antes de Matt agarrá-lo.
– Não –, arfou Neil, mas Matt o arrastou para longe de seu armário.
– Espere!
Ele cravou os pés no assoalho, mas a sola de seu sapato estava encharcada e deslizou. O sangue tinha atingido o fundo do seu armário, e, agora derramava sobre o chão em uma poça que se espalhava rapidamente. Pendurado no topo de seu armário estava uma sacola de plástico vazia preparada para estourar assim que a porta fosse aberta por completo. Parecia grande o suficiente para conter pelo menos dois galões; o volume era mais do que o suficiente para estragar cada peça de equipamento que Neil possuía.
– Nicky –, disse Andrew –, vá buscar o treinador.
Nicky disparou.
Neil deu uma cotovelada em Matt, forte o suficiente. Matt xingou quando perdeu o controle sobre Neil. Neil correu de volta para seu armário, escorregando um pouco ao se aproximar. Teve que se segurar no armário ao lado para evitar cair. Assim que conseguiu equilíbrio, descarregou tudo freneticamente, peça por peça. Ele não conseguia mais distinguir os uniformes para jogos, fora e dentro de casa, que ficavam separados. Até o acolchoado de sua armadura estava encharcado. Neil pegou seu capacete e virou-o para ver o sangue escorrer pela proteção de plástico firme.
– Neil? –, perguntou Matt.
Neil deixou capacete cair junto à pilha em seus pés e socou o fundo de seu armário. Seu punho acertou o plástico em vez do metal, e Neil arrancou o saco rasgado fora do gancho. Quando se virou para arremessá-lo, Andrew segurou seu pulso. Neil nem sequer ouviu Andrew atravessar o vestiário em sua direção. Neil o fitou e, por meio desse aperto, seus batimentos pulsaram em suas têmporas.
– Tá tudo estragado –, disse Neil, voz irregular com a fúria terrível. – Tá tudo estragado.
Wymack surgiu na sala com Nicky em seu encalço. A visão de sangue em excesso o deteve por um momento antes de ele caminhar até Neil.
– Isso, é seu?
– Treinador, meu equipamento –, disse Neil. – Está...
– Não é dele. – Andrew soltou o pulso de Neil e voltou ao seu armário. – Ele está bem.
– Água oxigenada –, disse Neil. – Abby tem em seu escritório? – Quando Wymack apenas o fitou, Neil foi até a porta para procurar sozinho. Wymack pôs um braço em seu caminho para detê-lo. – Preciso limpar minhas roupas antes que o sangue seque ou não terei nada para vestir a noite.
– E eu preciso que você pare de pensar nessa merda por dois segundos e se concentre no fato de que você está coberto com o sangue de alguém ou de alguma coisa. Está tudo bem?
– Andrew já disse que estou bem –, disse Neil sendo evasivo.
– Não perguntei a Andrew –, retrucou Wymack. – Perguntei a você.
– Aqui, eu tenho uma toalha sobrando –, disse Matt, e puxou uma de seu armário.
Neil correu para banheiro mergulhando-a na pia, mas, forçou-se a uma parada abrupta ao virar-se para voltar a seus companheiros. Sua voz assustada ecoou entre as paredes do banheiro.
– Mas que merda!
Neil sabia que não conseguiria olhar, mas se aproximou mesmo assim. Wymack e Andrew vieram logo atrás. Neil seguiu o olhar de Matt para a parede dos fundos e sentiu o estômago revirar. Escrito em sangue sobre os azulejos estava uma mensagem: “feliz 19 º aniversário, Jr.”.
Neil congelou e sua cabeça encheu-se de gritos. O murmúrio estridente ao fundo vinha de fora do banheiro, e Neil demorou uma eternidade para perceber que o som vinha de seus companheiros de equipe. Ele entendia seus tons ansiosos, mas não entendeu uma única palavra do que disseram. O medo arrastou garras frias sobre seu abdômen subindo até garganta. Neil fechou os olhos por dois segundos e respirou. Não podia lidar com isso agora. Ele não podia; Ele não iria.
Ele agarrou a sensação incipiente de pânico e a enterrou profundamente, da mesma forma que sufocou seu coração partido por tempo suficiente ao cremar o corpo de sua mãe. Ele reagiria a isso mais tarde, mas, se fizesse isso agora, com todas as Raposas de testemunhas, ele colocaria tudo a perder.
O mundo voltou ao foco em partes irregulares, bem a tempo de Neil ouvir Wymack murmurar algo sobre chamar a polícia. Neil o agarrou pelo cotovelo antes que Wymack partisse, e apertou tão forte que ele sentiu os ossos Ranger.
– Treinador –, disse ele, tão calmo quanto pode. – Você vai ter que deixá-los fora disso. Ok? Vamos apenas nos concentrar no jogo. Vou limpar isso mais tarde. Ninguém mais precisa saber.
– Me dê uma boa razão para não cancelar o jogo e chamar a policia aqui –, disse Wymack.
– Não posso lhe dar um motivo, ainda –, disse Neil, inclinando um olhar para ele. – Eu lhe disse para esperares até maio.
Ele queria que Wymack se lembrasse da promessa que fizera na véspera de ano novo, quando Wymack contestara suas mentiras e cicatrizes. Ele não contara a Wymack que vivera fugindo, mas cotou o suficiente, Wymack deveria ter juntado as peças. Neil precisava que ele se lembrasse disso agora e descobrisse o óbvio: os capangas de Riko dificilmente teriam deixado evidências, mas Neil tinha digitais por todo o canto.
Wymack não disse nada, no entanto, estudou Neil com uma intensidade inquietante. Neil soltou o cotovelo de Wymack e pegou a toalha molhada de Matt, que não demonstrou resistência. Seus pulmões pareciam estar se comprimindo ao atravessar o banheiro até sua mensagem de aniversário. Ele respirou superficialmente, para não demonstrar o reflexo do vomito, e esfregou as letras na parede. Ainda havia bastantes manchas na toalha para Neil limpar, depois enxugou as mãos. Decidido a voltou para seus companheiros, deixou a tolha caída na pia para se preocupar mais tarde.
– Neil –, disse Matt.
Neil não quis dar ouvidos.
– Vá se trocar, Matt.
Na sala principal do vestiário, considerou seu armário. Não demorou muito para perceber que nenhum de seus colegas haviam se movido. Matt ainda estava congelado junto às pias. Wymack e Andrew na porta do banheiro. Aaron, Kevin e Nicky próximos de seus armários. Neil podia sentir todos os olhares voltados para si. Sentiu que a verdade estava estampada em sua pele para qualquer um ver. A mensagem só dizia "Júnior", mas ele esperava que alguém o chamasse por seu nome.
Neil olhou em volta, para eles, e se concentrou no mais provável de ajudá-lo a resolver isso.
– Kevin –, disse ele, e continuou em francês. – Faça-os se mexerem. Só temos 40 minutos até a partida.
– Você consegue jogar?
– Estou irritado, não ferido –, surtou Neil. – Eu não vou deixar isso nos impedir de vencer esta noite. E você?
Kevin considerou-o por um momento, em seguida, virou um olhar cáustico em seus companheiros de equipe.
– Mexam-se. Temos um jogo para vencer.
– Tá de brincadeira –, disse Matt, chegando por trás de Andrew e olhando entre os atacantes. – Vocês realmente vão ignorar o fato de que isso, – ele apontou um dedo na direção do armário de Neil, – acabou de aconteceu? Neil, você parece um dublê de Carrie a Estranha. Você não quer mesmo chamar a policia enquanto a cena ainda está recente?
– Não –, respondeu Neil. – Eu não vou.
– Tá de brincadeira – disse Matt novamente.
Neil olhou para ele.
– Riko é um egoísta e um idiota. Ele quer que a gente reaja a isso. Se fizermos o que ele quer, ele vai ganhar. Não dê a ele essa satisfação. Finja que isso nunca aconteceu e se concentre nos Tartarugas.
Wymack demorou apenas mais alguns segundos para escolher o seu lado.
– Ninguém vem para cá. Peguem seus equipamentos e saiam. Vocês podem ficar com o banheiro das garotas, quando elas terminarem. Vou te dar um voto de confiança hoje –, disse ele quando Neil o fitou. – Se eu perceber que sua cabeça não está focada na partida, eu vou arrancá-lo tão rápido que você nem vai perceber e Dan vai tomar o seu lugar. Você me entendeu?
– Sim, treinador –, respondeu Neil.
Wymack avaliou a bagunça mais uma vez, parecendo odiar ter que se aliar a Neil. Finalmente, sacudiu a cabeça e pegou as roupas de Neil na pequena pilha no chão.
– Vou chamar a Abby para limpar isto. Alguém, empreste a Neil outra toalha.
– Obrigado –, disse Neil.
– Cale a boca –, cortou Wymack, e saiu correndo.
Um silêncio terrível pairou sobre vestiário. Finalmente, Andrew atravessou a sala para seu armário terminando de descarregar seu equipamento. Esse foi o gatilho que os outros precisavam, aparentemente, porque pegaram suas coisas e partiram. Nicky deu a Neil uma de suas toalhas de reserva quando saiu. Matt foi o último a ir, e hesitou quando percebeu que Neil não estava se movendo.
– Eu vou me lavar aqui mesmo –, disse Neil, e gesticulou para sua aparência lamentável. – Não quero mais rastros desnecessários disso.
Matt aceitou sem discutir e deixou Neil em paz. Neil olhou para seu armário, em seguida, resolutamente olhou para longe e foi lavar-se. Olhando para o chão enquanto tomava banho, observou o vermelho lentamente desaparecer da água. Mesmo quando a água escorrendo ficou clara, sentiu-se morrendo por dentro. Lavou-se três vezes antes de finalmente desistir.
Assim que a ducha foi cortada, Wymack o chamou de fora da vista.
– Matt voltou a Fox Tower para pegar cuecas e meias. Eu trouxe o equipamento de reposição, mas você vai ter que descobrir quais se encaixam melhor. Trarei seu uniforme quando estiver limpo. Sente-se firme até lá.
– Sim, treinador.
Ele escutou a porta se fechar atrás de Wymack e se secou em sua cabine. As Raposas tinham alguns conjuntos de equipamentos de anos atrás sobrando, quando a equipe era um pouco maior. Renee tinha pegado uma armadura de lá quando foi escalada como defensor durante o outono. A maioria dos equipamentos era ajustável, mas até um determinado grau. Foi preciso algumas tentativas de erros e acertos para Neil escolher um conjunto completo da pilha que Wymack tinha deixado. Então, não havia nada a fazer a não ser esperar.
Pareceu uma eternidade antes da volta de Matt; o tráfego noturno do jogo fez a curta caminhada até a Fox Tower durar mais tempo do que deveria. Neil foi tomado por seus pensamentos terríveis, quando alguém bateu. Ele levantou-se do banco e foi investigar. O equipamento que usava tornava impossível de enrolar a toalha ao redor do corpo. Em vez de envolvê-la em torno de si, segurou-a entre o queixo e o pescoço deixando-a dependurada sobre sua frente marcada.
Neil abriu a porta, apenas o suficiente para perceber Matt no corredor e que ficou surpreso ao ouvi-lo dizer:
– Você que bateu?
Matt olhou para ele estranhamente.
– Abby disse que ainda está com seu uniforme.
Não era a primeira vez que as Raposas faziam de tudo para acomodar os problemas de privacidade de Neil, mas eles não tinham tempo para pensar sobre isso. Matt estava atrasado no aquecimento por causa de Neil, e abalado pelo truque sujo de Riko. Apesar disso, ele lembrou-se de não entrar.
– Obrigado –, Neil finalmente disse, e pegou as roupas que Matt espremeu pela fresta da porta. Matt lhe trouxera conjuntos de roupas inteiras para que ele tivesse algo para vestir depois do jogo. Imaginar Matt mexendo em suas coisas fez sua pele arrepiar, mas Neil lutou contra o instintivo ataque de nervos.
– Sem problema –, disse Matt. – Precisa de mais alguma coisa?
– Um tiro certeiro em Riko e sem nenhuma testemunha –, respondeu Neil.
Matt sorriu, talvez pensando que Neil estivesse brincando, e saiu. Neil fechou a porta e vestiu a cueca e meias. Levou os sapatos para o banheiro e lavou-os na pia. Não havia muito que fazer. O sangue tinha encharcado o forro interno. Neil poderia usá-los hoje à noite, mas ele teria que substituí-los o mais rápido possível. Neil puxou seus shorts sobre os sapatos, então os calçou e amarrou. Desfilando no vestiário, observou o relógio para não olhar o sangue.
Finalmente, Wymack apareceu com seu uniforme.
– Fizemos o que podíamos, mas vamos ter de arranjar um novo conjunto. Eu vou encomendar esta noite e será entregue por expresso.
Ele entregou-o e começou a arregaçar as mangas. Neil tinha sangue em sua camisa quando agarrou o braço de Wymack. Isso fez Wymack puxar as mangas um pouco mais, para esconder tudo. Neil pensou que deveria se desculpar, mas achou que Wymack o repreenderia. Em vez disso, espremeu o excesso de água da bainha e mangas de sua camisa.
– É o mais enxuto que nós conseguimos –, esclareceu Wymack, olhando os respingos de água no assoalho. – Matt trouxe um dos secadores de cabelo das meninas, mas Abby não queria usá-lo por medo de definir a mancha.
– Se alguém perguntar, direi que foi um trote pré-jogo –, disse Neil. – Tecnicamente, é a verdade.
Neil terminou de se vestir.
Wymack deu-lhe uma olhada, considerou-o apto para o exame minucioso do público com um aceno de cabeça nada convincente, e enxotou Neil à sua frente para fora do vestiário. Próximo do inicio da partida, a equipe já tinha terminado o aquecimento e alongamentos. Neil deu algumas voltas sozinho, enquanto Wymack comandava sua equipe com um discurso. Wymack o tinha terminado quando Neil voltou, e Neil abruptamente se tornou o centro das atenções.
– Tem certeza que está bem, Neil? – Perguntou Dan.
– Tenho certeza que temos um jogo para vencer –, respondeu Neil. – Preocupem-se mais com isso e menos comigo.
Os árbitros os deixaram na quadra para um rápido treino. Neil se concentrou em todos os seus movimentos para não pensar em mais nada. No momento em que o time titular assumiu suas posições, Neil estava tão perdido em si mesmo e no jogo que quase esqueceu o acontecido no vestiário. O fantasma ainda se agarrava a ele, mesmo ele não reconhecendo, e isso o instigou a ir mais e mais rápido. Kevin não o advertiu para reduzir a velocidade, e eles partiram para cima dos defensores com uma agressividade incomum. Neil ostentou um cartão amarelo antes do intervalo. Ele esperava que Wymack usasse isso como pretexto para tirá-lo, mas Wymack nada disse quando levou sua equipe de volta para o vestiário.
Neil pensou que cheirava a sangue, mas sabia que era impossível. Havia uma longa distância entre o vestiário e o saguão, e o fedor do suor e desodorante de seus companheiros exalavam no ar.
– Onde está a Abby? – perguntou Dan, e Neil percebeu que não a tinha visto desde o inicio da partida.
– Ela teve que ir para o campus por um tempo. Ninguém vai ser espancado na ausência dela. – Wymack gesticulou para o cooler. – Todos, bebam e se Estiquem. Não temos muito tempo.
As Raposas jogaram o segundo tempo como se tivessem tudo a perder. Neil usou as habilidades de ultrapassagem e arremesso que Kevin lhe ensinara, e escorregou em alguns dos posicionamentos defensivos que aprendera com os Corvos. Quando teve que chamar Kevin, ele o fez em francês. Ele não trocou uma única palavra com seu marcador defensivo, sem se importar com o que o adversário lhe dizia. Ele não tinha fôlego para ofensas sem sentido, e precisava de cada grama de sua energia para vencer este jogo. Ele sabia que o silêncio estava chegando a seu limite, a julgar pela nítida crescente no tom do outro garoto. Neil não o corespondeu, exceto para empurrá-lo e ultrapassá-lo.
Matt era a força dominante do outro lado da quadra. Nicky ainda era o elo mais fraco na linha defensiva, mas Andrew a equilibrou com implacável eficiência. Quando Aaron apareceu, ele e Andrew jogaram unidos, como se nada estivesse errado. Neil não sabia se era pela interferência de Riko ou se o jogo foi o suficiente para distraí-los de seus problemas pessoais. Por agora, Neil não se importava com o motivo desde que cooperassem.
Com oito minutos no relógio, as Raposas começaram a desacelerar. Eles foram muito duros cedo demais. Contanto que pudessem proteger sua base, eles ficariam bem, porque tinham a vantagem de dois pontos, mas Neil queria outro ponto para revitalizar a equipe. Todavia, ele e Kevin enfrentaram os defensores substitutos, a defesa os cortou a cada lance. Neil sabia que Kevin estava tão frustrado quanto ele, porque Kevin estava começando a ultrapassar linha do contato físico inaceitável. Neil cuspiu-lhe uma advertência quando eles perderem a posse da bola novamente. Kevin rosnou algo rude de volta.
Dois minutos depois, as Raposas conseguiram o gás que precisavam. Um atacante Tartaruga deu a volta em Matt e correu para o gol. Matt não conseguiu alcançá-lo, mas acertou um golpe antes do atacante atirar. O atacante tropeçou, torcendo a raquete em tentativa de segurar a bola, e deu um passo próximo do gol. Andrew estava preparado em um piscar de olhos, e ele atingiu o atacante forte o suficiente para derrubá-lo. O atacante ficou onde caiu por uns bons cinco segundos, atordoado de mais para voltar à partida. O jogo não esperou por ele. Matt foi atrás da bola com um grito retumbante e arremessou para Allison. Na vez seguinte em que Neil atirou no gol, ele marcou, e as Raposas se reagruparam.
As Raposas venceram, oito a cinco, e a multidão quase explodiu o telhado fora com as raquetes de seus jogadores. As Raposas levaram sua comemoração até o gol, porque Andrew não foi até eles. Nicky e Renee haviam conseguido prende-lo na comemoração da última temporada, parte disso por ele estar muito adoentado para reagir. Agora, Nicky correu como se fosse saltar sobre ele, e Andrew o advertiu apontando sua raquete. Nicky pensou melhor e ponderou Aaron em seu lugar. Andrew passou a ser um espectador desinteressado nos arredores, enquanto as Raposas saltavam e gritavam a poucos metros á sua frente. De alguma forma, Kevin contornou a todos para dizer algo a Andrew. Neil não conseguiu ouvir através do barulho de seus companheiros, mas o gesto desdenhoso de Andrew dizia não estar preocupado com a aprovação de Kevin.
Eles apertaram as mãos dos Tartarugas o mais breve possível e abandonaram a quadra. Wymack e Abby estavam os esperando, Wymack com um sorriso cheio de dentes, e Abby toda sorridente. A satisfação de Wymack só elevou o entusiasmo de Dan a outro nível, e ela correu em direção a multidão para atiçá-los. Nicky e Matt correram atrás dela. Wymack os deixou ir, sabendo que os repórteres lhes prenderiam, sendo alvos mais fáceis, e guiou suas Raposas ao vestiário. Neil percorreu todo o caminho até o saguão antes de se lembrar da bagunça que estava a sua espera.
– Tem algum esfregão que eu possa usar? – perguntou Neil.
– Cale essa boca – cortou Wymack. – Você não vai resolver isso agora. Acabamos de vencer.
– Oito a cinco –, disse Allison, como se Neil já tivesse esquecido. O resquício de raiva em sua voz entregou o quão irritada ela ainda estava por tudo que acontecera. Neil não vacilou ao ouvir as próximas palavras saídas da boca dela, mas foi por pouco. – Acho que pode ser considerado o presente de aniversário da equipe pra você.
– Allison! – exclamou Renee.
– Não. – Allison apontou um dedo á Renee para cortá-la, mas manteve o olhar em Neil. – Cheguei ao limite das merdas que poderia tolerar esta semana, agora imagine no ano. Eu preciso saber o quão pior este batalha de “quem bosteja mais” entre Neil e Riko vai ficar.
– Nós vamos conversar sobre isso – prometeu Wymack, – mas não até que todos estejam aqui. Vão se lavar. Em turnos novamente. As damas primeiro. – Ele as observou sair e esperou até a porta do vestiário se fechar. – Estou instaurando uma nova regra de equipe, onde todo mundo é obrigado a ficar feliz depois de uma vitória. As chatices de vocês sugam a minha paciência antes da hora.
Wymack olhou para eles, mas Kevin estava observando Neil, e os gêmeos voltaram a ignorar um ao outro. Wymack jogou as mãos para o céu, em derrota, e saiu. Sua saída gerou tensão no silêncio até que Dan apareceu com Nicky e Matt a tiracolo. Os três ainda pareciam entusiasmados com a vitória e suas entrevistas, mas ficar perto de seus companheiros mal humorados acabou com a alegria. Dan hesitou, apenas um momento, antes de continuar em direção ao vestiário sem dizer uma palavra. Nicky achegou-se, apoiando o ombro contra Neil.
– Então, nós praticamente acabamos com dois dos três. A vitória da próxima semana vai ser a cereja do bolo. – Nicky lançou a Kevin um olhar significativo, como se exigisse sua participação na conversa. – Aí, vamos para o primeiro mata-mata. Probabilidades de jogarmos contra algum time bom?
– Zero – respondeu Kevin. – Todos os times bons são cabeças de chave.
– Todos os times bons exceto nós, você quer dizer. – Nicky deu-lhe um momento para concordar, em seguida, soltou um suspiro exagerado quando Kevin não concordou. – Você é tão tendencioso. Só não se esqueça de qual time você faz parte. Se acabarmos enfrentando a USC, é melhor você torcer por nós.
– Eu vou considerar a ideia – disse Kevin.
Os Corvos e Trojans eram rivais ferozes, mas Kevin era fã impenitente da USC. Neil não ficou surpreso, já que a USC tinha uma das melhores equipes do país. Eles eram famosos por seu espírito esportivo, e lideraram o movimento para manter as Raposas na competição, no outono passado.
Eles valiam a atenção e o favoritismo de Kevin.
– Palhaço – resmungou Nicky. – Vou contar ao treinador que você gosta mais do técnico Rhemann.
– Pois diga – provocou Kevin. – Se o treinador for digno de seu status, ele saberá que os Trojans são melhores do que as Raposas. Eles sempre foram e sempre serão.
– Tendencioso – murmurou Nicky novamente.
Dan veio buscá-los quando as garotas terminaram, e os garotos assumiram o vestiário. Neil ficou sob o chuveiro e verificou suas unhas em busca de sangue. Ele não encontrou, mas por um minuto jurou que cheirava a carne queimada.
Neil foi o último a se vestir, como de costume, e encontrou seus companheiros de equipe esperando por ele na sala.
Wymack estava de pé em frente à TV com os braços cruzados sobre o peito. Abby estava encostada na porta. Neil estava tentado a passar por ela e pular inteiramente esta conversa. Ele duvidou que alguém o deixaria escapar impune, então sentou-se ao lado de Andrew no sofá.
Wymack esperou até que ele estivesse acomodado antes de começar.
– Primeiro: O cavalo de troia no vestiário. Aves mortas, sim. Pedi um favor à universidade e consegui o acesso de Abby aos microscópios nos laboratórios de Ciências. Precisávamos ter certeza de que não era sangue humano.
– Isso é mórbido – disse Nicky.
– Mas é necessário considerar com quem estamos lidando. – Wymack sacudiu a cabeça. – A última coisa que eu quero é colocar todos em risco. O estádio deveria ser um lugar seguro para vocês, mas eu não consego protegê-los. Tenho vontade de instalar câmeras aqui nos arredores, mas eu não vou fazer isso a menos que todos concordem. Se fizermos, os únicos que verão as gravações são as pessoas nesta sala neste momento. Quero que alguém intervenha tanto quanto vocês.
– O que me leva ao meu segundo ponto: Neil nos pediu para deixar as autoridades fora disso – disse Wymack, olhando cada uma de suas Raposas no rosto. – Eu o respeito o suficiente para permitir isso, mas não diz respeito só a mim. Vocês vão ficar bem com isso?
– Você realmente vai deixar Riko sair impune dessa? – perguntou Dan.
– Ele não teria feito isso se achasse que seria pego – disse Neil.
– Talvez não possamos pegá-lo, mas podemos pegar seus capangas – disse Matt. – Ninguém é perfeito. Todo mundo deixa rastros.
Então, Aaron tomou a palavra e sua acusação insensível fez o sangue de Neil gelar:
– Você sabe tudo sobre isso, não é, Júnior?
Neil lançou um rápido olhar na expressão sombria de Aaron preparando-se para o pior. E, quando chegou, foi pior do que ele esperava.
– Ninguém nunca encontrará provas de que Riko está por trás disso –, disse Aaron, – mas eles podem encontrá-lo facilmente, certo? É disso ai que se trata, não é? – Aaron apontou para seu próprio rosto, indicando a súbita mudança na aparência de Neil. – Sua aparência, seus idiomas, suas mentiras... Você está fugindo de alguma coisa, ou alguém.
Essa intimidação mordaz foi uma apunhalada pelas costas, tirando o ar dos pulmões de Neil e esmagando seu estômago contra a espinha. O silêncio que se seguiu pareceu infinito. Neil tinha certeza de que seus companheiros podiam ouvir seu batimento cardíaco; Estava batendo tão alto que ele sentiu em cada centímetro de sua pele. Seus olhares foram perfuradores o suficiente para descascar todos os disfarces que ele já usara.
Encontrar sua voz foi um ato de desesperador. Manter-se calmo tomou cada grama de energia que lhe tinha restado.
– Sabe, eu esperava golpes baixos e apunhaladas vidas dos Corvos. Pensei que as Raposas fossem melhores do que isso. Não, – Neil cortou quando Aaron abriu a boca novamente. – Não se atrevas a usar seus problemas com o Andrew. Sei que está irritado comigo por ter envolvido Katelyn, mas você vai ter que superar isso.
– Você a arrastou para os meus problemas. Estou os arrastando para os seus. Não é engraçado quando fazem o mesmo com você, não é? – indagou Aaron.
– Você é tão imbecil – cuspiu Neil. – Eu me dispus a sua causa porque eu queria ajudar vocês dois. Está fazendo isso porque acha que vai me atingir. Existe uma diferença muito crítica nisso. Olhando pelo lado bom, você ter sido um completo idiota significa que eu estava certo sobre suas chances. – Neil inclinou a cabeça para o lado e fitou Aaron. – Consegue entender agora, sua covardia é o que mantém você e Andrew separados, não é?
– Eu não sou covarde.
– Você é um bunda mole covarde –, disse Neil. – Você deixa as coisas acontecer com você e não se incomode em lutar. Você deixa outras pessoas ditarem como você pode viver sua vida e com quem deve passar seu tempo. Me recordo do motivo de você ter aturado o abuso da sua mãe durante tanto tempo. Você realmente a amava apesar de sua loucura, ou você estava apenas com medo de ir embora?
– Neil – disse Dan, chocada. – Isso não é...
– Foda-se – cuspiu Aaron. – Ainda estou esperando a resposta da minha pergunta.
– E eu ainda estou esperando um obrigado –, disse Neil. E enviou um olhar para Andrew. – De ambos, tanto um quanto o outro. Já se vingou agora, não foi? Então por que vocês simplesmente não passam tudo a limpo e começam tudo de novo? Por que vão estender essa coisa por mais três anos, quando se pode resolvê-la agora?
– Você não sabe nada – replicou Aaron, baixo e ríspido.
– você não quer que eu esteja certo –, Neil adivinhou, – porque se eu estiver, a culpa de ela está morta será sua.
Andrew finalmente se juntou a discussão.
– Não. Vai ser sempre culpa dela.
– Ela não se suicidou, Andrew –, disse Aaron, rudemente com tristeza.
Andrew lançou-lhe um olhar frio.
– Eu a adverti do que aconteceria se ela levantasse a mão novamente. Ela não tinha o direito de expressar surpresa.
– Ah, Jesus! – exclamou Matt. – Você acabou de...?
Wymack apertou a ponte do nariz e expirou ruidosamente.
– Podia ao menos nos deixar sair da sala antes de confessar?
Aaron olhou de Wymack para os veteranos, em seguida, voltou-se para Andrew. Neil esperou que ele tomasse o aviso de Wymack como uma ordem de silêncio. Em vez disso Aaron mudou para alemão e disse:
– Foi por isso que você fez aquilo? Não minta para mim.
– Ela não era nada e ninguém para mim – replicou Andrew. – Por que mais eu não a mataria?
Aaron demorou um minuto para encontrar sua voz. Ainda parecendo irritado, mas com um nó embargando seu tom:
– Você nem sequer olhava para mim. Não dizia uma palavra, a menos que eu dissesse algo antes. Não sou vidente. Como eu poderia saber?
– Porque eu te fiz uma promessa –, disse Andrew. – Eu não a esqueceria só porque você optou por não confiar em mim. Fiz o que eu disse que faria, e que se foda qualquer outra coisa que você esperava.
Lá estava outra vez: a pitada daquela raiva infinita de Andrew.
Aaron abriu a boca, fechou-a novamente, e baixou o olhar. Andrew fitou a cabeça inclinada para baixo de seu irmão por um minuto interminável. Aaron tinha desistido de lutar, mas cada segundo parecia empurrar mais tensão em Andrew. Neil observou os dedos de Andrew se comprimir entre suas coxas, não em punhos, mas um gesto simulando esmagar a vida de alguém, e soube que o temperamento de Andrew se aproximava de um ponto de erupção.
Ele pôs a mão entre eles, tentando bloquear Aaron da visão de Andrew, e Andrew lhe lançou um olhar aniquilador. Um instante depois, a expressão de Andrew desapareceu. Neil lamentou sua intervenção imediatamente. Ninguém acabaria com tanta raiva assim facilmente; Andrew tinha simplesmente a enterrado onde só poderia machucar a si próprio. Era tarde demais para trazê-la de volta, então Neil descansou a mão em seu colo em derrota.
– Isso é tudo, treinador? – perguntou Neil.
– Não –, respondeu Allison. – Por mais esclarecedor que esse pequeno desvio tenha sido, ele não responde à pergunta original. O que Riko tem contra você?
Mentir a essa altura não funcionaria, considerando as acusações de Aaron. Neil optou pela honestidade em sua forma mais simples, e mais inútil:
– Ele sabe quem eu sou.
Levou um momento para todos perceber o significado, e Matt incitou Neil com:
– Hum?
– A família de Neil tem uma reputação –, disse Kevin, inesperadamente vindo em defesa de Neil. Neil o fitou, dispostos a silenciá-lo, enquanto tentava manter sua expressão o mais neutra possível. Kevin não devolveu seu olhar, mas tudo o que ele disse foi:
– Riko está tentando usá-la contra Neil.
– Vai ser um problema? – perguntou Dan.
– Não –, respondeu Neil.
Allison arqueou uma sobrancelha para ele e gesticulou sobre o ombro, presumivelmente em direção ao vestiário destruído.
– Tem certeza disso?
– Sim –, confirmou, mas ninguém pareceu convencido. Neil ponderou cuidadosamente suas palavras, buscando o equilíbrio correto entre a verdade e as mentiras que os tiraria de seus assuntos. – Riko sabe quem eu sou porque as nossas famílias operam em círculos semelhantes, mas ele é um Moriyama apenas no nome. Ele não tem recursos para fazer mais do que me ameaçar.
– Droga, Neil –, disse Matt. – Seus pais devem ser qualquer outra coisa se até mesmo Riko tem que seguir regras. Aaron estava certo, então? É essa a aparência que deverias ter?
– Sim –, confirmou Neil.
– Mas, por que mentir sua idade? – perguntou Matt. – Não consigo entender.
– Não queria ninguém me localizando atrás da minha família –, disse Neil. – Quanto mais difícil for para as pessoas somar dois mais dois, melhor. Ter dezoito anos em Millport significava que os meus professores e treinador não tinham de consultar meus pais para nada. Dizer a verdade significava ter que explicar as mentiras em primeiro lugar, e não estou acostumado a confiar nas pessoas. Não quero que me julgue pelos crimes dos meus pais.
– Como se tivéssemos moral para julgar alguém –, disse Dan, e Neil encolheu os ombros em um pedido de desculpas silencioso. Ela parecia que tinha mais a dizer, mas de alguma forma sufocou sua curiosidade e o deixou. Ela o considerou por primeiro, depois olhou para Matt e Renee. Quando ninguém tinha nada a acrescentar, Dan prosseguiu:
– Sim, acho que é tudo por agora, treinador.
Wymack assentiu com a cabeça.
– Câmeras, todos concordam? Sim? Vou tê-las instaladas no fim de semana. Falaremos sobre o local e o jogo na segunda à tarde. Antes, descubram o que fazer para resolver essas questões pessoais – disse ele com um olhar significativo para Aaron. – Todos vocês, não ousem trazer essas atitudes para a minha quadra nunca mais. Entendidos?
As Raposas murmuraram concordâncias, e Wymack gesticulou para que eles se retirassem.
– Dispensados. Dirijam com cuidado.
Estava um caos fora do estádio. Torcedores bêbados gritavam e corriam como loucos; o resto da multidão dançava e cantava exaltações triunfantemente. A policia estava em pleno vigor tentando controlar a algazarra. Os seguranças escoltaram as Raposas até chegarem aos seus carros.
Aaron passou direto pelo carro alugado e subiu no bagageiro da caminhonete de Matt. Nicky começou a dizer algo, mas Andrew acendeu seu isqueiro a um centímetro do rosto de Nicky em ameaça silenciosa. Nicky silenciosamente subiu no banco de trás com Neil e passou a viagem olhando para seu colo.
O tráfego ao redor do estádio era um mar de parachoques, então os carros das Raposas se separaram à medida que se aproximavam do trânsito. Matt os deixou no dormitório. Quando os outros se achegaram, Aaron já tinha desaparecido. Neil assistiu Andrew levar Kevin e Nicky para o quarto antes de ir para o seu. Matt seguiu Neil, e Neil tentou se surpreender pelas meninas estarem logo atrás.
O toque suave de seu celular o distraiu, e Neil puxou-o para fora de seu bolso. Havia uma nova mensagem na sua caixa de recebidos. Não reconheceu o número ou o código de área. Entender a mensagem muito menos: “49”. Neil esperou um minuto, mas nada mais foi recebido. Ele apagou a mensagem e guardou o celular novamente.
– Neil –, começou Dan, e esperou até que Neil a estivesse olhando para continuar. – Obrigado. Na verdade, quero dizer. Sei que não é tudo, mas sei que não confiou em nós por opção. Estaremos prontos para ouvi-lo quando estiver à vontade. Você sabe disso, não é?
– Eu sei.
Ela apertou seu ombro em apoio silencioso, mas feroz.
– E obrigado por... bem, seja lá o que estiver fazendo com Andrew e Aaron. Não tenho certeza se entendi o que aconteceu hoje à noite, mas eu sei que é importante.
– Importante? – ecoou Matt. – Vamos falar sobre o fato de que Andrew matou a mãe deles? Pensei que ela tinha morrido num acidente de carro. É o que todo mundo sempre disse.
– Ela morreu em um acidente de carro –, Neil reforçou.
– Eu falei acidente –, disse Matt, com ênfase. Neil olhou calmamente para trás e não disse mais nada, então Matt perguntou: – Como você descobriu?
– Nicky me contou meses atrás.
– Sem mais nem menos –, disse Matt duvidosamente. – Você sempre soube do que ele é capaz, mas você disse que ele nunca lhe deu uma razão real para ter medo dele. Se você consegue passar por assassinato como se não fosse nada demais e ficar se amostrando na cara do Riko o tempo todo, em que diabos seus pais estão envolvidos?
Neil sacudiu a cabeça e foi salvo pela gentileza de Renee:
– Talvez Neil confie nas motivações de Andrew. Andrew admitiu o assassinato, sim, mas também disse que fez por causa de seu irmão.
– Foi premeditado –, acrescentou Dan. – Não foi legítima defesa. Ele poderia ter chamado à polícia ou a assistência social ou ter envolvido os pais de Nicky.
– Pessoas com os nossos antecedentes não estão dispostas a confiar na polícia –, disse Renee. – Provavelmente nunca ocorreu a Andrew que eles fossem uma opção viável.
– E olha o que aconteceu em novembro –, acrescentou Neil. – Andrew sempre soube que Luther não ficaria do lado de Aaron.
Dan olhou entre eles, incrédula.
– Vocês são a favor?
Renee deu de ombros abrindo as mãos e ofereceu a seus amigos um sorriso tranquilizador.
– Nós não podemos compreender a situação inteiramente, Dan. Nós nunca saberemos o estado de espírito de Andrew no momento ou quão ruim viver com ela foi para eles. Tudo o que podemos fazer é escolhermos: acreditar que ele estava protegendo Aaron ou condená-lo por tomar o caminho mais extremo. Eu prefiro o primeiro. Você não? É encorajador e reconfortante pensar que ele não estava agindo por pura maldade.
– Em seguida você vai dizer que é adorável –, zombou Allison.
– Pelo amor, não –, disse Dan, com uma pequena careta. – Meu estômago está fraco o suficiente como mais essa agora.
Neil esperou para ter certeza de que era só isso, então disse:
– Vou para a cama.
Nenhum deles tentou detê-lo. Neil fechou-se no quarto, trocou-se, e arrastou-se para a cama. Seus pensamentos ameaçavam arrastá-lo para lugares sombrios, de modo que Neil silenciosamente contou tão alto quanto podia em todos os idiomas que conhecia. Isso não fez nada para ajudá-lo a dormir, mas pelo menos manteve os demônios afastados um pouco mais.
caramba lendo esse capítulo eu gritei mais de cinco vezes
ResponderExcluirAhh, e as coisas tendem a piorar depois disso.
Excluirhttps://imgur.com/xlFyuDt.gif
gente como tem gente que tem coragem de fazer mal ao Neil ele e um bebezinho que só quer o bem
ResponderExcluirNé, jogaram sangue de galinha no garoto.
ExcluirEu simplesmente sou completamente apaixonada por essa trilogia, eu conheci por acaso e me arrependo por não ter conhecido antes
ResponderExcluirEnfim, eu queria saber + ou - quando vai sair o próximo capítulo
(Tô viciaderima kkk)
Ahhh quando eu comprar um computador novo já que o meu queimou. (chorando)
ExcluirO Wymack bem que poderia comprar um pra ti também kkks
ExcluirAi q triste💔
ExcluirAaaaa chorando em posição fetal! Preciso de mais!♡
ResponderExcluirEra exatamente desse site que estava falando, sou quem tava contigo no youtube ksks
ExcluirPerfeição. Obrigads pela tradução! <3
ResponderExcluirCoisa linda pqp, fico revoltada pelo Riko ser um vilão cagado, sério eu gosto de vilões, mas não tem como gosta do Riko ele faz as coisas por motivos triviais, parece só mais um garoto revoltado.
ResponderExcluirAnsiosa para o próximo, vlw pela tradução.
ResponderExcluirEu definitivamente não queria ser o wymack kkkkk
ResponderExcluirQuando lançará o novo capítulo? Meu deus, como eu amo essa triologia❤
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