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The Queen of Nothing - Capítulo Dois


Esta noite, é um alívio ir ao trabalho.

As fadas do mundo mortal têm necessidades diferentes das de Elfhame. As fadas solitárias, que sobrevivem as margens de Faerie, não se preocupam com luxuria e maquinações da corte.

E acontece que eles têm muitos trabalhos estranhos para alguém como eu, uma mortal que conhece seus modos e não está preocupada em entrar em uma briga de vez em quando. Eu conheci Bryern uma semana depois que saí de Elfhame. Ele apareceu do lado de fora do complexo de apartamentos, um feérico de pelo preto, cabeça e cascos de bode com um chapéu-coco na mão, dizendo ser um velho amigo de Barata.

– Soube que você está em uma posição única –, disse ele, olhando para mim com aqueles estranhos olhos dourados de bode. – Dada como morta, correto? Nenhum número de previdência social. Nenhuma presença em escola mortal.

– E procurando trabalho –, disse a ele, descobrindo onde a conversa estava indo. – Por baixo dos panos.

– Você não vai chegar longe por baixo dos panos do que comigo –, ele me assegurou, colocando uma mão com garras sobre seu coração. – Permita-me apresentar-me. Bryern. Um phooka, caso não tenha adivinhado.

Ele não pediu juramentos de lealdade ou promessas de qualquer tipo. Eu poderia trabalhar o quanto quisesse, e o pagamento era proporcional à minha ousadia.

Hoje à noite eu o encontro próximo à água. Monto na bicicleta de segunda mão que adquiri. O pneu traseiro esvazia rapidamente, mas eu comprei barato. Funciona muito bem para eu me virar. Bryern está vestido com a típica elegância: seu chapéu tem uma faixa decorada com algumas penas de pato coloridas, e está com um casaco tweed. Quando me aproximo, retira um relógio de um bolso e o observa com uma expressão exagerada.

– Ah, estou atrasada? –, Pergunto. – Desculpa. Estou acostumada há contar as horas pela inclinação do luar.

Ele me dá um olhar irritado.

– Só porque você morou na Corte, você não precisa se gabar. Você não é ninguém especial agora.

Eu sou a Grande Rainha de Elfhame. O pensamento vem a mim espontaneamente, e mordo o interior da minha bochecha para me impedir de dizer essas palavras ridículas. Ele está certo: eu não sou ninguém especial agora.

– Qual é o trabalho? – Pergunto em vez disso, o mais suave que posso.

– Um feérico vem comendo os habitantes locais no Porto Velho. Tenho um contrato para alguém disposto a extrair uma promessa de cessar.

Acho difícil de acreditar que ele se importe com o que acontece com os humanos – ou se importe o suficiente a ponto de me pagar para fazer algo.

– Mortais locais?

Ele balança a cabeça.

– Não. Não. Nosso povo. – Então ele parece se lembrar de com quem está falando e parece um pouco confuso. Eu tento não tomar o seu deslize como um elogio.

Matando e comendo feéricos? Nada disso sinaliza um trabalho fácil.

– Quem está contratando?

Ele dá uma risada nervosa.

– Ninguém que queira seu nome associado à ação. Mas estão dispostos a remunerá-la por fazer isso acontecer.

Uma das razões pelas quais Bryern gosta de me contratar é que posso me aproximar dos feéricos. Eles não esperam que um mortal seja o que vai roubar ou enfiar uma faca ao seu lado. Não esperam que um mortal não seja afetado aos encantamentos, nem conheça seus costumes ou leia as entrelinhas das suas terríveis barganhas.

Outro motivo é que preciso do dinheiro suficiente a ponto de estar disposta a aceitar trabalhos como esse... Aqueles que eu aceitei de inicio eram um saco.

– Endereço? – Pergunto, e ele me entrega um papel dobrado.

Abro e olho para baixo.

– É melhor pagarem bem.

– Quinhentos dólares americanos –, diz ele, como se fosse uma quantia exorbitante.

Nosso aluguel é de mil e duzentos por mês, sem mencionar mantimentos e utilidades. Sem Heather, minha metade é de cerca de oitocentos. E eu gostaria de comprar um pneu novo para a minha bicicleta. Quinhentos não são o bastante, não para algo assim.

– Mil e quinhentos –, digo, erguendo as sobrancelhas. – Em dinheiro, passado a ferro. Metade no começo, e se eu não voltar você paga à Vivienne a outra metade como um presente de luto para minha família.

Bryern pressiona os lábios, mas eu sei que ele tem o dinheiro. Ele só não quer me pagar o suficiente para que eu fique exigindo por trabalho.

– Mil –, ele se compromete, alcançando um bolso dentro de seu casaco tweed e retirando uma pilha de notas amarradas por um clipe de prata. – E olhe, eu tenho metade de mim agora. Você pode levar.

– Tudo bem –, concordo. É um pagamento decente para uma única noite de trabalho, se eu tiver sorte.

Ele entrega o dinheiro com uma fungada.

– Me avise quando concluir a tarefa.

Tenho um medalhão de ferro no meu chaveiro. Passo ele ostensivamente pelas margens do dinheiro para ter certeza de que é real. Nunca é demais lembrar Bryern que sou cuidadosa.

– Mais cinquenta dólares para despesas –, digo por impulso.

Ele olha severo. Depois de um momento, enfia a mão em uma parte diferente do casaco e entrega o dinheiro extra.

– Apenas cuide disso –, diz ele. A falta de discussões é um mau sinal. Talvez eu devesse ter feito mais perguntas antes de concordar com este trabalho. Eu definitivamente deveria ter negociado mais.

Tarde demais agora.

Volto para a minha bicicleta e, com um aceno de despedida para Bryern, vou para o centro da cidade. Uma vez, me imaginei como uma cavaleira montado em um corcel, vangloriando em competições de habilidade e honra. Pena que meus talentos acabaram indo completamente em outra direção.

Suponho que sou uma assassina de feéricos habilidosa, mas o que realmente me destaca é o fato de irritá-los. Espero que isso sirva para convencer uma fada canibal a fazer o que eu quero.

Antes de ir confrontá-la, decido perguntar pelos arredores.

Primeiro, vejo um duende chamado Magpie, que mora em uma árvore no parque Deering Oaks. Ele diz que ouviu falar que ela é um barrete vermelho, o que não é uma ótima notícia, mas tendo em vista que cresci ao lado de um, estou bem informada sobre sua natureza. Barretes vermelhos anseiam por violência, sangue e assassinato – na verdade, eles ficam um pouco nervosos quando não há nenhum por um período de tempo. E se são tradicionalistas, possuem um capuz que mergulham no sangue de seus inimigos derrotados, supostamente para lhes conceder alguma vitalidade roubada dos mortos.

Eu peço um nome, mas Magpie não sabe. Ele me envia para Ladhar, um cluricaun que se esgueira por trás de bares, sugando espuma de cima de cervejas quando ninguém está olhando e roubando mortais em jogos de azar.

– Não sabia? –, Diz Ladhar, baixando a voz. – Grima Mog.

Eu quase o acuso de mentir, apesar de ele não poder. Então tenho uma breve e intensa fantasia de rastrear Bryern e fazê-lo engasgar com cada dólar que me deu.

– O que diabos ela está fazendo aqui?

Grima Mog é a temível general da Corte dos Dentes no Norte. A mesma Corte que Barata e a Bomba escaparam. Quando eu era pequena, Madoc leu para mim na hora de dormir as memórias de suas estratégias de batalha. Só de pensar em encará-la, começo a suar frio.

Eu não posso lutar com ela. E eu acho que não tenha uma boa chance de enganá-la também.

– Expulsa, ouviu falar –, diz Ladhar. – Talvez ela tenha comido alguém que Lady Nore gostava.

Eu não preciso fazer esse trabalho, me lembro. Eu não faço mais parte da Corte das Sombras de Dain. Não estou mais tentando governar por trás do trono do Grande Rei Cardan. Não preciso correr grandes riscos.

Mas estou curiosa.

Combine isso com uma abundância de orgulho ferido e você se encontra nos degraus a frente do galpão de Grima Mog ao amanhecer. Trazer algo é melhor do que de mãos vazias. Peguei carne crua de um açougue, esfriando em um isopor, alguns sanduíches de mel feitos de forma desleixada embrulhados em papel alumínio e uma garrafa de cerveja amarga decente.

Lá dentro, ando por um corredor até chegar à porta do que parece ser um apartamento. Bato três vezes e espero que, se nada mais puder, talvez o cheiro da comida encubra o cheiro do meu medo.

A porta se abre e uma mulher em um roupão olha para fora. Está inclinada sobre uma bengala polida de madeira preta.

– O que você quer, querida?

Enxergando através de seu encantamento, noto o tom verde em sua pele e seus dentes grandes. Como meu pai adotivo: Madoc. O cara que matou meus pais. O cara que leu para mim as estratégias de batalha dela. Madoc, outrora o Grande General da Corte Feérica. Agora inimigo do trono e não muito contente comigo, também.

Espero que ele e o Grande Rei Cardan arruínem a vida um do outro.

– Trouxe-lhe alguns presentes –, digo, segurando o isopor. – Posso entrar? Quero fazer uma barganha.

Ela franze a testa um pouco.

– Você não pode continuar comendo feéricos aleatoriamente sem que alguém seja enviado para tentar convencê-la a parar –, digo.

– Talvez eu deva comer você, criança bonitinha –, ela responde, animada. Mas recua para me deixar entrar em seu covil. Acho que ela não pode me comer na entrada.

O apartamento é em estilo loft, com tetos altos e paredes de tijolos. Agradável. Pisos polidos e lustrados. Grandes janelas deixando entrar a luz e uma vista decente da cidade. Está mobiliado com coisas antigas. O acolchoamento de algumas das peças está rasgado e há marcas que poderiam ter vindo de um corte perdido de faca.

Todo o lugar cheira a sangue. Um cheiro acobreado de metal, coberto por uma doçura levemente enjoativo. Coloco meus presentes em uma mesa pesada de madeira.

– Para você –, digo. – Na esperança de que ignore a minha grosseria em chamá-la sem ser convidada.

Ela cheira a carne, vira um sanduíche de mel na mão e tira a tampa da cerveja com o punho. Tomando um longo gole, ela me examina.

– Alguém te instruiu nas gentilezas. Eu me pergunto por que se incomodaram, cabritinha. É obviamente que você é o sacrifício enviado na esperança de que meu apetite possa ser saciado com carne mortal. – Ela sorri, mostrando os dentes. É possível que ela tenha abandonado seu encantamento naquele momento, embora, como eu já o tinha visto, não sei dizer.

Eu pisco para ela. Ela pisca de volta, claramente esperando por uma reação.

Por não gritar e correr para a porta, eu a irritei. Acho que ela estava ansiosa para me perseguir enquanto corro.

 Você é Grima Mog –, digo. – Líder dos exércitos. Destruidora de seus inimigos. É realmente assim que você deseja passar sua aposentadoria?

– Aposentadoria? – Ela repete a palavra como se eu tivesse dado a ela o insulto mais mortal. – Embora tenha sido derrubada, encontrarei outro exército para liderar. Um exército maior que o primeiro.

Às vezes digo a mim mesma algo muito parecido. Ouvir em voz alta, da boca de outra pessoa, é chocante. Mas isso me dá uma ideia.

– Bem, o povo local prefere não ser comido enquanto você planeja sua próxima jogada. Obviamente, sendo humana, preferiria que você não comesse mortais... Duvido que eles lhe deem o que você está procurando.

Ela espera que eu continue.

– Um desafio –, digo, pensando em tudo o que sei sobre barretes vermelhos. – É isso o que você deseja, certo? Uma boa luta. Aposto que o pessoal que você matou não era tão especial assim. Um desperdício de seus talentos.

– Quem te enviou? – Ela pergunta finalmente. Reavaliando. Tentando descobrir meu ângulo.

– O que você fez para irritá-la? – Pergunto. – Sua rainha? Deve ter sido algo grande para ser expulsa da Corte dos Dentes.

– Quem te enviou? – Ela ruge. Acho que toquei na ferida. Minha melhor habilidade.

Eu tento não sorrir, mas sinto falta da onda de poder que vem com um jogo como este, de estratégia e astúcia. Detesto admitir, mas sinto falta de arriscar meu pescoço. Não há espaço para arrependimentos quando você está ocupado tentando vencer. Ou pelo menos não morrer.

– Eu te disse. O povo local que não quer ser comido.

– Por que você? –, Ela pergunta. – Por que mandariam uma garota magrela para tentar me convencer de alguma coisa?

Examinando a sala, tomo nota de uma caixa redonda em cima da geladeira. Uma velha caixa de chapéu. Meu olhar fica preso nele.

– Provavelmente porque não seria uma perda para eles se eu falhasse.

Com isso, Grima Mog ri, tomando outro gole da cerveja amarga.

– Uma fatalista. Então, como você vai me convencer?

Vou até a mesa e pego a comida, procurando uma desculpa para me aproximar daquela caixa de chapéu.

– Primeiro, guardando suas compras.

Grima Mog parece se divertir.

– Suponho que uma velhinha como eu poderia usar uma jovem para fazer algumas tarefas domesticas. Mas tenha cuidado. Você pode encontrar mais do que espera em minha despensa, cabritinha.

Abro a porta da geladeira. Os restos dos feéricos que ela matou me cumprimentam. Ela coleciona braços e cabeças, preservados de alguma forma, assados, grelhados e guardados como restos de comida depois de um grande jantar no feriado. Meu estômago se revira.

Um sorriso perverso rasteja pelo rosto dela.

– Suponho que você esperava me desafiar para um duelo? Pretende se gabar de como você faria uma boa luta? Agora você pode ver o que significa perder para Grima Mog.

Eu respiro fundo. Então, com um pulo, eu empurro a caixa de chapéu do topo da geladeira para os meus braços.

– Não toque nisso –, ela grita, levantando-se enquanto eu arranco a tampa.

E aí está: o capuz. Envernizado com sangue, camadas e camadas dele.

Ela está na metade do caminho, com os dentes à mostra. Eu puxo um isqueiro do bolso e agito a chama com o polegar. Ela para abruptamente ao ver o fogo.

– Eu sei que você passou longos e longos anos juntando as camadas deste capuz –, começo, querendo que minha mão não se mexa, desejando que a chama não apague. – Provavelmente há sangue aqui desde o seu primeiro assassinato, e o seu último. Sem isso, não haverá lembrança de suas conquistas passadas, sem troféus, nada. Agora eu preciso que você faça um acordo comigo. Jure que não haverá mais assassinatos. Nada de feéricos, nada de humanos, enquanto você residir no mundo mortal.

– E se eu não concordar, você vai queimar meu tesouro? – Grima Mog termina para mim. – Não há honra nisso.

– Acho que eu poderia me oferecer para lutar com você –, digo. – Mas eu provavelmente perderia. Desta forma, eu ganho.

Grima Mog aponta a bengala preta na minha direção.

– Você é a filha humana de Madoc, não é? E senescal do nosso novo Grande Rei no exílio. Jogada fora como eu.

Eu aceno com a cabeça, desconcertada por ser reconhecida.

– O que você fez? – Ela pergunta, com um sorrisinho satisfeito no rosto. – Deve ter sido algo grande.

– Eu fui uma tola –, confesso, porque posso muito bem admitir isso. – Desisti de um pássaro na minha mão por dois voando.

Ela dá uma grande gargalhada.

– Bem, não formamos uma dupla, filha de barrete vermelho? Mas assassinato está nos meus ossos e sangue. Eu não planejo desistir de matar. Se devo ficar presa no mundo mortal, então pretendo me divertir um pouco.

Eu trago a chama mais perto do capuz. A parte de baixo começa a escurecer e um fedor terrível enche o ar.

– Pare! – Ela grita, me dando um olhar de ódio. – Basta. Deixe-me fazer uma oferta, cabritinha. Nós lutamos. Se você perder, meu capuz é devolvido para mim, sem ser queimado. E continuo a caçar como eu tenho feito. E você me dá seu dedo mindinho.

– Para comer? – pergunto, tirando a chama do chapéu.

– Se eu quiser –, ela revida. – Ou usar como um broche. Porque você se importa com o que eu faço com seu dedo? Será meu e ponto.

– E por que eu concordaria com isso?

– Porque se você ganhar, você terá sua promessa de mim. E eu lhe direi algo de significativo sobre o seu Grande Rei.

– Eu não quero saber nada sobre ele –, respondo, rápido demais e com raiva. Eu não esperava que ela apelasse usando Cardan.

Sua risada desta vez é baixa e estrondosa.

– Pequena mentirosa.

Nós nos encaramos por um longo momento. O olhar de Grima Mog é amistoso o suficiente. Ela sabe que me tem. Eu vou concordar com os termos dela. Eu também sei, embora seja ridículo. Ela é uma lenda. Não vejo como posso ganhar.

Mas o nome de Cardan ecoa em meus ouvidos.

Ele tem um novo senescal? Ele tem uma nova amante? Ele vai pessoalmente às reuniões do Conselho? Ele fala de mim? Ele e Locke zombam de mim juntos? Taryn ri?

– Nós lutamos até a primeira gota de sangue –, proponho, expulsando todo o resto da minha cabeça. É um prazer ter alguém para focar minha raiva. – Não vou dar meu dedo –, continuo. – Você ganha, você pega o seu capuz. Fim. E eu saio daqui. É a concessão que faço lutando contra você.

– A primeiro gota de sangue é chato. – Grima Mog se inclina para frente, seu corpo em alerta. – Vamos concordar em lutar até que uma de nós chore. Paramos em algo entre derramamento de sangue e rastejar para morrer no caminho de volta para casa. – Ela suspira, como se estivesse pensando em algo feliz. – Dê-me a oportunidade de quebrar todos os ossos do seu corpo esquelético.

– Você está apostando no meu orgulho. – Coloco o capuz em um bolso e o isqueiro no outro.

Ela não nega.

– Eu apostei certo?

A primeira gota de sangue é chato. É tudo uma dança ao redor uma da outra, procurando por uma abertura. Não é uma luta de verdade. Quando eu respondo, a palavra sai precipitadamente.

– Sim.

– Bom. – Ela levanta a ponta da bengala em direção ao teto. – Vamos para o telhado.

– Bem, isso é muito civilizado –, comento.

– É melhor você ter trazido uma arma, porque eu não vou te emprestar nada. – Ela se dirige para a porta com um suspiro pesado, como se realmente fosse a velhinha do encantamento.

Eu a sigo para fora de seu apartamento, pelo corredor mal iluminado e até a escada ainda mais escura, meu nervosismo disparando. Espero saber o que estou fazendo. Ela sobe os degraus de dois em dois, ansiosa agora, abrindo uma porta de metal no topo. Ouço o barulho de aço enquanto ela tira uma fina espada de sua bengala. Um sorriso largo ganancioso puxa seus lábios, mostrando seus dentes afiados.

Eu saco o longo punhal que escondi na minha bota. Não tem o melhor alcance, mas eu não tenho a capacidade de encantar coisas; Eu não posso andar de bicicleta com Cair da Noite nas costas.

Ainda assim, neste momento, eu realmente gostaria de descobrir uma maneira de fazer exatamente isso.

Subo no telhado de asfalto do prédio. O sol está começando a nascer, tingindo o céu de rosa e dourado. Uma brisa gelada sopra no ar, trazendo consigo os aromas de concreto e lixo, junto com a arnica do parque nas proximidades.

Meu coração acelera com alguma combinação de terror e ansiedade. Quando Grima Mog vem para minha direção, eu estou pronta. Eu desvio e saio do caminho. E faço isso de novo e de novo, o que a irrita.

– Você me prometeu ser ameaçadora –, ela rosna, mas pelo menos eu tenho uma noção de como ela se move. Sei que tem fome de sangue, fome de violência. Sei que está acostumada a caçar presas. Só espero que ela seja excessivamente confiante. É possível que cometa erros diante de alguém que possa revidar.

Improvável, mas possível.

Quando vem para mim de novo, giro e chuto a parte detrás de seu joelho com força suficiente para fazê-la cair no chão. Ela ruge, se levantando e vindo a mim a toda velocidade. Por um momento, a fúria em seu rosto e aqueles dentes assustadores enviam um choque aterrorizante e paralisante através de mim.

Monstro! Minha mente grita.

Eu aperto minha mandíbula contra o desejo de continuar me esquivando. Nossas lâminas brilham, brilhantes como escamas de peixes sob a luz de um novo dia. O metal bate um no outro, tocando como um sino. Batalhamos pelo telhado, meus pés são ágeis enquanto corremos para frente e para trás.

O suor começa na minha testa e debaixo dos meus braços. Minha respiração vem quente, turvando o ar frio.

É bom estar lutando com alguém que não seja eu mesma.

Os olhos de Grima Mog se estreitam, observando-me, procurando por pontos fracos. Estou consciente de todas as correções que Madoc sempre me ensinou, todo mau hábito que o Fantasma tentou arrancar de mim. Ela começa uma série de golpes brutais, tentando me levar até a borda do prédio. Dou espaço, tentando me defender contra a agitação, contra o longo alcance de sua lâmina. Ela estava segurando antes, mas não está segurando agora.

De novo e de novo ela me força para uma queda ao ar livre. Luto com determinação sombria. O suor escorre pela minha pele, ardume entre minhas omoplatas.

Então meu pé bate em um cano de metal que atravessa o asfalto do telhado. Cambaleio, e ela ataca. É tudo que posso fazer para evitar ser perfurada, e isso me custa minha faca, que cai do telhado. Ouço atingir a rua abaixo com um baque pouco audível.

Nunca deveria ter aceitado essa tarefa. Nunca deveria ter concordado com essa luta. Nunca deveria ter aceitado a oferta de casamento de Cardan e nunca deveria ter sido exilada para o mundo mortal.

A raiva me dá uma explosão de energia, e a uso para sair do caminho de Grima Mog, deixando o impulso do ataque de sua espada passar por mim. Então lhe dou uma cotovelada no braço e agarro o cabo de sua espada.

Não é uma jogada muito honrosa, mas eu não sou honrada há muito tempo. Grima Mog é muito forte, mas também está surpresa. Por um momento, hesita, mas depois bate a testa na minha. Saio cambaleando, mas quase tive arma dela.

Eu quase tive.

Minha cabeça está latejando e me sinto um pouco tonta.

– Isso é trapaça, garota –, ela me diz. Estamos ambas respirando com dificuldade. Sinto que meus pulmões são feitos de chumbo.

– Não sou uma cavaleira. – Para enfatizar o argumento, pego a única arma que consigo ver: um cano de metal. É pesado e não tem nenhuma vantagem, mas é tudo o que existe. Pelo menos é mais longo que a faca.

Ela ri.

– Você deveria desistir, mas estou satisfeita que você não tenha.

– Sou otimista –, replico. Agora, quando ela corre até mim, tem toda a velocidade, embora eu tenha mais alcance. Giramos uma entorno da outra, ela atacando e eu desviando com qualquer coisa brandindo como se fosse um taco de beisebol. Desejo muitas coisas, mas principalmente sair deste telhado.

Minha energia está diminuindo. Não estou acostumado com o peso do cano e é difícil de manobrar.

Desista, meu cérebro girando por suprimentos. Chore enquanto você ainda está de pé. Dê a ela o capuz, esqueça o dinheiro e vá para casa. Vivi pode fazer mágica e transformar folhas em dinheiro extra. Só dessa vez, não seria tão ruim. Você não está lutando por um reino. Sim, você já perdeu.

Grima Mog vem em minha direção como se pudesse sentir meu desespero. Ela me coloca em movimento, alguns ataques rápidos e agressivos na esperança de derrubar minha guarda.

O suor escorre pela minha testa, pingando em meus olhos.

Madoc descreveu a luta como muitas coisas, como um jogo de estratégia jogado em velocidade, como uma dança, mas agora parece uma discussão. Como uma discussão em que ela me mantém ocupada demais na defensiva para ganhar pontos.

Apesar da pressão nos meus músculos, mudo para segurar o cano com uma das mãos e puxar o capuz do bolso com a outra.

– O que você está fazendo? Você prometeu...  – Começa ela.

Eu jogo o capuz no rosto dela. Ela agarra, distraída. Nesse momento, eu acerto o cano ao lado dela com toda a força do meu corpo.

Acerto no ombro e ela cai com um uivo de dor. Bato nela novamente, fazendo o cano de metal arquear e atingindo seu braço estendido, enviando sua espada girando pelo telhado.

Ergo o cano para atacar novamente.

– Chega. – Grima Mog olha para mim do asfalto, com sangue nos dentes pontiagudos, de rosto espantado. – Eu me rendo.

– Você se rende? – O cano cai da minha mão.

– Sim, trapaceira –, ela grita, sentando. – Você me superou. Agora me ajude.

Largo o cano e me aproximo, meio que esperando que ela puxe uma faca e me acerte. Mas ela apenas estende a mão e me permite levantá-la. Coloca o capuz na cabeça e segura o braço que eu bati.

– A Corte dos Dentes se juntou ao velho Grande General – seu pai – e a uma série de outros traidores. Tenho certeza de que seu Grande Rei será destronado antes da próxima lua cheia. O que você acha disso?

– Foi por isso que você saiu? – pergunto. – Porque não é uma traidora?

– Fui dispensada por causa de outra cabritinha. Agora por você. Isso foi mais divertido do que eu esperava, mas acho que nosso jogo acabou.

Suas palavras ecoam nos meus ouvidos. Seu Grande Rei. Destronado.

– Você ainda me deve uma promessa –, lembro-a, minha voz saindo como um grasnido.

E para minha surpresa, Grima Mog me dá uma. Ela jura não mais caçar nas terras mortais.

– Venha lutar comigo de novo –, ela chama enquanto eu vou para as escadas. – Tenho muitos segredos. Há tantas coisas que você não sabe, filha de Madoc. E eu acho que você deseja um pouco de violência.


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