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Resenha: Menino de Ouro (Abigail Tarttelin)

Menino de Ouro
Abigail Tarttelin
Globo Livros

Sinopse: A família de Max não permitiria nenhum desvio na imagem perfeita que havia construído. Karen, a mãe, é uma advogada renomada, determinada a manter a fachada de boa mãe, esposa e profissional. Steve, o pai, é o exemplo do chefe de família presente em sua comunidade, favorito a um importante cargo público. O ponto fora da curva é Daniel, o caçula, que, para os padrões da família Walker, é “estranho”: não é carinhoso, inteligente ou perfeito como Max. Melhor aluno da escola, capitão do time de futebol, atlético, simpático, sucesso entre as garotas: Max, o primogênito, é o menino de ouro. Ninguém poderia dizer que sua vida não é perfeitamente normal. Ninguém poderia dizer que Max esconde um segredo. Ele é diferente, especial. Max é intersexual: nasceu com os dois conjuntos de cromossomos, XX e XY e, portanto, é menino e menina. Ou nenhum dos dois. É a partir do olhar de cada pessoa que orbita a vida de Max que a autora Abigail Tarttelin compõe a sua narrativa em Menino de Ouro. Cada uma das personagens esboça seu dia a dia, suas inseguranças e conquistas, e, principalmente, seu relacionamento com Max. Apesar da dimensão de seu segredo, Max parece à vontade com sua vida. Seus questionamentos sobre sexo, relacionamentos e até sobre rejeição são tantos quanto um adolescente de 15 anos poderia ter. O cenário muda drasticamente quando Hunter, seu melhor amigo desde a infância, volta do passado e abusa de sua confiança da pior maneira que poderia. No romance, Abigail Tarttelin trata de forma sensível, mas direta, as questões da identidade e do que consideramos “ser normal”. A autora traz à tona questionamentos sobre até que ponto o gênero sexual define uma pessoa e suas relações, por dentro e por fora.

Max é um adolescente intersexual (hermafrodita no termo popular) que se identifica como gênero masculino. Quando ele se torna vítima de violência sexual, as consequências são física e emocionalmente devastadoras e exageradas demais para um garoto de dezesseis anos, especialmente alguém que até então levou uma vida tão perfeitinha.


Apesar desse segredo Max vive razoável mente bem com isso. Ele é capitão do time de futebol, bom aluno, bonito, faz sucesso com as garotas, educado, gentil. Um verdadeiro ‘menino de ouro’. O relacionamento de Max com os pais é perfeito, ele tem um irmãozinho super inteligente, uma família perfeita aos olhos públicos, uma vez que os pais de Max são conhecidos na cidade.Tanto Max quanto seus pais não passam tempo pensando sobre sua condição ou algo relacionado, até que são forçados a isso depois do um estupro.


Alerta de gatilho! Esse livro possui cenas descritivas de estupro e outras coisa que podem ser gatilhos para algumas pessoas.

Menino de Ouro foi minha primeira releitura/leitura do ano, a primeira vez que li foi em 2015 e na época eu já havia ficado chocado. Anos depois nada mudo. Ainda é um livro que me soca no estomago de tão angustiante. Optei por esse livro justamente para fugir da bolha que os livros Jovens Adultos comerciais oferecem.


Já de cara na terceira página já acontece o estupro que Max sofre, não é spoiler assim como a condição de Max, é a linha de partida do livro, o grande plot (os grandes) são as reviravoltas que essa agressão vai causar na vida da família e de Max. A história é narrada pelo ponto de vista de vários personagens, o que é ótimo para entender o que os outros personagens pensam sobre o que está se passando e as motivações de cada um.


Você vê sempre aquela imagem de família perfeita, é claro que até as famílias ‘perfeitinhas’ tem seus problemas, aqui o ponto fora da curva desse padrão é o Daniel, irmão mais novo do Max. Durante boa parte da narrativa a mãe faz comparações entre os dois garotos. Quando passamos a narrativa par o Daniel temos as mesmas comparações com um tom de inveja, uma criança que queria ser o irmão para ter o mesmo tipo de tratamento. Daniel também tem os capítulos mais leves do livro, é basicamente a autora dando um momento para o leitor se recompor. Apesar dessa inveja que Daniel sente pelo irmão o relacionamento entre eles uma das coisas mais cativantes.


Estou começando a entender que tentar ser perfeito foi o objetivo da minha vida. Da nossa vida. Tentar ser essa pessoa sorridente e sem defeitos, nessa família amorosa e feliz que se encaixa perfeitamente nessa cidadezinha bonita e inofensiva.

Com forme a narrativa avança o livro começa um tom... Melodramático? Porque é realmente uma montanha russa de emoções a cada novo arco: angustia, tristeza, revolta. O drama familiar que se instala é bem forte, mesmo entrando em colapso a família continua com sua rotina de aparências. Em meio ao caos temos Max procurando se entender como alguém do gênero masculino ou feminino e para isso temos a narração da medica de Max que narra alguns termos mais técnicos para nós que somos leigos, mas tudo dentro das capacidades da personagem.


Quando eu era pequeno, os médicos me chamaram de hermafrodita. Essa palavra tem muito estigma, mas como palavra, por si só, prefiro essa. É uma coisa. Não é algo entre duas coisas.

No geral, Menino de ouro é foi uma leitura excelente. Minhas ressalvas foram apenas em alguns momentos no meio da história, onde Max começa a se questionar mais como individuo e o futuro, há blocos muitos densos de pensamentos que dão uma lentidão na narrativa que até então era consideravelmente boa. Durante minha releitura percebi que minha tolerância com o Daniel tinha mudado, em 2015 ele era meu personagem favorito, mas durante a releitura confesso que pulei alguns capítulos dele por ser irritantemente infantil... Será que eu odeio crianças?


Mesmo tendo as várias temática adolescente que são apresentado em outros livros e mídias, a forma que Abigail tratou essas cenas foi bem desenvolvida e agradável. A cena do inicio já é bem chocante, então a autora não repete isso, todos os outros arcos que poderiam ter cenas descritivas chocantes foram bem trabalhadas e deixadas a cargo da percepção e emoção do leitor. A autora usa o corte abrupto na narração, dando continuidade em outro capítulo, com outro narrador e espaçamento de tempo.


Bem você não é um homem só porque gosta de futebol, e não é uma mulher só porque se sente atraída por homens, e não deixa de ser mulher porque gosta de ser a única que mete, e não deixa de ser um cara só porque gosta de receber ou porque as vezares chora em filmes bobos.

Se puder leia Menino De Ouro, um romance contemporânea emocionante, educativa e informativa sobre busca de identidade, sexo, e principalmente gênero. Com certeza vai perdurar entre meus livros favoritos sem mudança de avaliação.


Às vezes, eu ainda sinto que há dois de mim: uma imagem limpa e impecável, e outra imperfeita e rachada, um menino, uma menina, uma voz que fala em voz alta e outra que sussurra em meu ouvido; um publicamente conhecido por ter ficado perturbado, mas agora em recuperação, o outro que privadamente perdeu alguma coisa que tem a ver com inocência e ganhou algo que tem a ver com sabedoria e vida adulta, e que nunca poderá ser desfeito. Sinto que às vezes há coisas que me rasgam em duas direções, que há dois conjuntos de pensamentos que crescem lado a lado. Mas me dou conta que sou inteiro, seja lá o que isso signifique ou deixe de significar; eu sou completo, sem necessidade de acréscimos ou alterações.

2 Comentários

  1. Parece ser um livro com temáticas bem fortes. Obrigada pela dica de leitura. Vou add a lista. ❤️

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    1. Sim as temática são muito fortes não é um livro fácil de digerir emocionalmente, mas é uma obra-prima.

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