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The Queen of Nothing - Capítulo Cinco


Já que Oak foi para a escola, me enrolo na cama dele. Tão machucada como estou, o sono me domina rapidamente, me sugando para a escuridão.

E para os sonhos.

Estou nas aulas no bosque do palácio, sentada nas longas sombras do final da tarde. A lua já nasceu, na forma crescente, acentuada no céu azul sem nuvens. Desenho uma carta celeste de cabeça, minha tinta é de um vermelho escuro que coagula no papel. É sangue, percebo. Estou usando minha pena em um tinteiro cheio de sangue.

Do outro lado do bosque, enxergo príncipe Cardan, sentado com seus companheiros habituais. Valerian e Locke parecem esquisitos: suas roupas comidas por traças, suas peles pálidas e apenas manchas de tinta onde seus olhos deveriam estar. Nicasia parece não perceber. Seus cabelos cor de mar caem pelas costas em cachos pesados; seus lábios estão torcidos em um sorriso zombador, como se nada no mundo estivesse errado. Cardan usa uma coroa manchada de sangue, inclinada para o canto, as maçãs afiadas de seu rosto são tão assustadoramente bonitas como sempre.

– Você se lembra do que eu disse antes de morrer? – Valerian me chama com sua voz provocadora. – Eu a amaldiçoo. Eu a amaldiçoo, três vezes. Da forma que você me matou, que suas mãos estejam sempre manchadas de sangue. Que a morte seja seu único companheiro. Você pode... Foi quando eu morri, então nunca consegui dizer o resto. Gostaria de ouvir agora? Que sua vida seja breve e envolta em tristeza, e quando você morrer, irá sem ninguém para lamentar.

Eu estremeço.

– Sim, esse último pedaço realmente foi o charme especial.

Cardan chega, pisando na minha carta celeste, chutando o tinteiro com suas botas de ponta prateada, espalhando o sangue derramado sobre o papel, apagando minhas marcas.

– Venha comigo –, diz ele imperiosamente.

– Eu sabia que você gostava dela –, diz Locke. – É por isso que eu tive que tê-la primeiro. Você se lembra da festa no meu labirinto? Como eu a beijei enquanto você assistia?

– Lembro que suas mãos estavam nela, mas os olhos dela estavam em mim –, retorna Cardan.

– Não é verdade! – Insisto, mas lembro de Cardan em um cobertor com uma garota fada de cabelos amarelo. Ela encosta a boca em sua panturrilha, logo acima do cano da bota e outra garota beijou sua garganta. Seu olhar se volta para mim quando uma delas começa a beijar sua boca. Seus olhos brilhantes como carvão, molhados como piche.

A lembrança vem com o deslizar da palma da mão de Locke nas minhas costas, calor nas minhas bochechas e a sensação de que minha pele estava muito tensa, que tudo era demais.

– Venha comigo –, diz Cardan novamente, me afastando da carta celeste encharcada de sangue e os outros tendo suas lições. – Eu sou um príncipe das Fadas. Você tem que fazer o que eu quero.

Ele me leva para a sombra de um carvalho, depois me levanta, então estou sentada em um galho baixo. Ele mantém as mãos na minha cintura e se aproxima, ficando em pé entre as minhas coxas.

– Assim não é melhor? – pergunta ele, olhando para mim. Não tenho certeza do que ele quer dizer, mas concordo. – Você é tão bonita. – Ele começa a traçar padrões nos meus braços, depois passa as mãos pelos meus lados. – Tão bonita.

Sua voz é suave, e cometo o erro de olhar em seus olhos negros, em sua boca perversa curvada.

– Mas sua beleza vai desaparecer –, continua, tão suavemente, falando como um amante. Suas mãos permanecem, fazendo meu estômago apertar e minha barriga arde. – Essa pele lisa irá enrugar e manchar. Ficará tão fina quanto às teias de aranha. Esses seios vão cair. Seu cabelo ficará opaco e fino. Seus dentes vão amarelar. E tudo que você tem e tudo que você é apodrecerá em nada. Você não será nada. Você é nada.

– Eu não sou nada –, respondo, me sentindo impotente diante das palavras dele.

– Do nada viestes, e para o nada voltará –, ele sussurra contra o meu pescoço.

Um pânico repentino me domina. Tenho que me afastar dele. Me empurro do galho, mas não atinjo o chão. Apenas caio e caio e caí no ar, caindo como Alice na toca do coelho.

Então o sonho muda. Estou em uma laje de pedra, enrolada em tecido. Tento me levantar, mas não consigo me mexer. É como se eu fosse uma boneca esculpida em madeira. Meus olhos estão abertos, mas não posso mover minha cabeça, não posso piscar, não posso fazer nada. Tudo o que posso fazer é olhar para o mesmo céu sem nuvens, a mesma lua em forma de foice afiada.

Madoc aparece, parado em cima de mim, olhando para baixo com seus olhos de gato.

– É uma pena –, diz ele, como se eu não estivesse ouvindo. – Se ela parasse de brigar comigo, eu teria lhe dado tudo o que ela sempre quis.

– Ela nunca foi uma garota obediente –, diz Oriana ao lado dele. – Não era como a irmã.

Taryn também está lá, uma lágrima delicada escorrendo por sua bochecha.

– Só deixariam um de nós sobreviver. Sempre seria eu. Você é a irmã que cospe sapos e cobras. Sou a irmã que cospe rubis e diamantes.

Os três partem. Vivi fica ao meu lado, pressionando os dedos longos no meu ombro.

– Eu deveria ter te salvado –, diz Vivi. – Foi sempre meu trabalho salvar você.

– Meu funeral será o próximo –, Oak sussurra um momento depois.

A voz de Nicasia ecoa, como se estivesse falando de longe.

– Dizem que fadas choram em casamentos e riem nos funerais, mas eu achei seu casamento e funeral igualmente engraçados.

Então Cardan aparece, um sorriso carinhoso nos lábios. Quando fala, sai em um sussurro de tom conspiratório.

– Quando eu era criança, organizávamos enterros, de brincadeira. Os mortais estavam mortos, é claro, ou pelo menos deveriam a final.

Com isso, finalmente posso falar.

– Você está mentindo –, acuso.

– Claro que estou. Isso é um sonho seu. Deixe-me te mostrar. – Ele pressiona uma mão quente na minha bochecha. – Eu te amo, Jude. Eu te amo há muito tempo. Eu nunca vou parar de te amar.

– Pare com isso! – Digo.

Então é Locke parado em cima de mim, água escorre de sua boca.

– Vamos ter certeza de que ela está realmente morta. – Um momento depois, ele enterra uma faca no meu peito. A faca entra de novo e de novo.

Então, acordo, meu rosto molhado de lágrimas e um grito preso na garganta.

Tiro minhas cobertas. Lá fora está escuro. Devo ter dormido o dia inteiro. Acendo as luzes, respiro fundo, verifico se estou com febre. Espero meus nervos acalmarem. Quanto mais penso no sonho, mais perturbada fico.

Vou para a sala, onde encontro uma caixa de pizza aberta na mesa de café. Alguém colocou cabeças de dente de leão ao lado da calabresa em algumas fatias. Oak está tentando explicar Rocket League para Taryn.

Ambos olham para mim com cautela.

– Ei –, chamo minha irmã gêmea. – Posso falar com você?

– Claro –, responde Taryn, levantando-se do sofá.

Volto para o quarto de Oak e me sento na beira da cama dele.

– Eu preciso saber se você veio aqui porque lhe disseram para vir –, digo. – Preciso saber se é uma armadilha criada pelo Grande Rei para me atrair a violar os termos do meu exílio.

Taryn parece surpresa, mas para seu crédito, ela não me pergunta por que eu pensaria isso. Uma das mãos vai para a barriga, os dedos se espalhando sobre.

– Não –, diz ela. – Mas eu não te contei tudo.

Espero, sem saber do que ela está falando.

– Eu estive pensando na mamãe –, diz ela finalmente. – Sempre pensei que ela tinha deixado Elfhame por ter se apaixonado por nosso pai mortal, mas agora não tenho tanta certeza.

– Não entendo –, digo.

– Estou grávida – sussurra Taryn.

Durante séculos, mortais têm sido valorizados pela sua capacidade de conceber crianças fadas. Nosso sangue é menos fraco que o dos feéricos. Mulheres fadas teriam a sorte de ter um único filho ao longo de suas longas vidas. A maioria nunca terá. Mas uma esposa mortal é outra questão. Eu sabia de tudo isso, e mesmo assim nunca me ocorreu que Taryn e Locke conceberiam uma criança.

– Uau –, digo, meu olhar indo para a mão dela espalhada protetoramente sobre sua barriga. – Oh.

– Ninguém deveria ter a infância que tivemos – diz ela.

Ela imaginou criar uma criança naquela casa, com Locke mexendo com as suas cabeças? Ou foi porque ela imaginou que, se fosse embora, ele poderia caçá-la como Madoc caçou nossa mãe? Não tenho certeza. E também não tenho certeza se devo força-la a falar. Agora que estou melhor descansada, vejo nela os sinais de exaustão que não vi antes. Os olhos vermelhos. Certa acentuação em seus traços que indicam falta de lamentação.

Percebo que ela veio até nós porque não tem outro lugar para onde ir – e mesmo acreditando que havia todas as chances de eu não ajudá-la.

– Ele sabia? – Eu pergunto finalmente.

– Sim –, responde ela, e faz uma pausa como se estivesse se lembrando dessa conversa. E possivelmente o assassinato. – Mas eu não contei a mais ninguém. Ninguém além de você. E dizer a Locke: bom... você já ouviu como foi.

Não sei o que dizer sobre isso, mas quando ela faz um gesto indefeso em minha direção, eu a abraço, apoiando minha cabeça em seu ombro. Sei que há muitas coisas que eu deveria ter dito a ela e muito que ela deveria ter me dito. Sei que não fomos gentis. Sei que ela me machucou, mais do que ela pode imaginar. Mas por tudo isso, ela ainda é minha irmã. Minha viúva, irmã assassina, com um bebê a caminho.

***

Uma hora depois, estou empacotada e pronta para partir. Taryn me ensinou os detalhes de seu dia, sobre os feéricos com quem conversa regularmente, sobre o funcionamento da propriedade de Locke. Me deu um par de luvas para disfarçar o dedo que falta. Ela tirou o vestido elegante de teia de aranha e fios de vidro. Estou usando agora, meu cabelo foi arranjado grosseiramente igual o dela, enquanto ela usa minhas calças legging pretas e suéter.

– Obrigado –, diz ela, algo que as fadas nunca dizem. Agradecimentos são considerados rudes, banalizando a complexa dança da dívida e do pagamento. Mas não é isso que os mortais querem dizer agradecendo um ao outro. Não é isso que eles querem dizer.

Ainda assim, dou de ombros para suas palavras.

– Não se preocupe.

Oak vem para ser abraçado em meu colo, embora aos oito anos, ele tem todos os membros longos e corpo de menino desajeitado.

– Aperte o abraço –, pede ele, o que significa que ele pula e passa os braços em volta do seu pescoço, estrangulando você de leve. Eu me submeto a isso e o aperto de volta com força, um pouco sem fôlego.

Colocando-o no chão, tiro meu anel de rubi – aquele que Cardan roubou e depois devolveu para mim durante nossa troca de votos. Definitivamente, não posso ter comigo enquanto poso como Taryn.

– Você vai manter isso seguro? Só até eu voltar.

– Eu vou –, diz Oak solenemente. – Volte logo. Vou sentir sua falta.

Fico surpresa com a doçura dele, principalmente depois do nosso último encontro.

– Assim que eu puder –, prometo, pressionando um beijo em sua testa. Então vou para a cozinha. Vivi está me esperando. Juntas, caminhamos para a grama, onde ela cultivou um pequeno ramo erva-de-santiago.

Taryn segue atrás de nós, puxando a manga do suéter que ela está vestindo.

– Tem certeza disso? – Vivi pergunta, arrancando um raminho pela raiz. Eu olho para ela, envolta em sombras, seus cabelos iluminados pelo poste. Geralmente parece marrom como o meu, mas na luz certa é entrelaçado com fios de ouro quase verdes.

Vivi nunca ansiava pelo Reino das Fadas como eu. Como ela poderia, quando carrega consigo onde quer que vá?

– Você sabe que tenho certeza –, digo.  – Agora, vai me contar o que aconteceu com Heather?

Ela balança a cabeça.

– Fique viva, se você quiser descobrir. – Então ela assopra o raminho. – Steed, levante-se e carregue minha irmã onde ela comanda. – Assim que o raminho florido cai no chão, ele já está se transformando em um pônei amarelo, com olhos esmeraldas e uma crina de folhas rendadas.

Ele bufa no ar e atinge o chão com seus cascos, quase tão ansioso para voar quanto eu.

***

A propriedade de Locke é como eu me lembrava – torres altas e azulejos cobertos de musgo, cobertos por uma cortina grossa de madressilva e hera. Um labirinto atravessa o terreno em um padrão estonteante. Todo o lugar parece direto de um conto de fadas, do tipo em que o amor é uma coisa simples, nunca a causa da dor.

À noite, o mundo humano parece cheio de estrelas cadentes. As palavras me vêm de repente, o que Locke disse quando ficamos juntos no topo de sua torre mais alta.

Incito o cavalo de erva-de-santiago a pousar e deslizo sobre as costas dele, deixando-o tocar no chão enquanto vou em direção às grandes portas da frente. Elas se abrem na minha aproximação. Um par de criados está do lado de dentro, com a pele tão pálida que suas veias ficam visíveis, dando-lhes a aparência de um conjunto de estátuas de mármore antigas. Pequenas asas empoeiradas caem dos ombros. Eles consideram minha aproximação com seus olhos frios e manchados, lembrando-me de uma só vez a desumanidade das fadas.

Respiro fundo e me levanto a toda a minha altura. Então entro.

– Bem vinda de volta, minha senhora –, diz a mulher. Eles são irmão e irmã, Taryn me informou. Nera e Neve. A dívida deles era com o pai de Locke, mas eles foram deixados para trás quando ele partiu, para servir o resto do tempo cuidando do filho. Eles se esgueiravam antes, ficando fora de vista, mas Taryn os proibiu de fazerem isso depois que veio morar aqui.

No mundo mortal, acostumei-me a agradecer às pessoas por pequenos serviços e agora tenho que reprimir as palavras.

– É bom estar em casa – digo em vez disso, e passo por eles até o corredor.

Está diferente do que eu lembro. Antes, os cômodos estavam em grande parte vazios e, onde não estavam, os móveis eram velhos e pesados, o estofamento duro com o passar do tempo. A longa mesa de jantar estava vazia, assim como o chão. Não mais.

Almofadas e tapetes, taças e bandejas e garrafas meio cheias cobrem todas as superfícies – todas elas em uma profusão de cores: vermelho e umber, azul pavão e verde garrafa, ouro e ameixa. A colcha de um sofá-cama é manchada com um fino pó dourado, talvez de um hóspede recente. Franzo a testa por um momento, meu reflexo se volta para mim em uma urna de prata polida.

Os criados estão observando, e não tenho motivos para estudar salas com as quais devo estar familiarizada. Então, tento suavizar minha expressão. Para esconder que estou intrigada com as partes da vida de Taryn sobre as quais ela não me contou.

Ela projetou esses quartos, tenho certeza. Sua cama na fortaleza de Madoc estava sempre cheia de travesseiros brilhantes. Ela adora coisas bonitas. E, no entanto, não posso deixar de pensar que este seja um lugar feito para bacanal, para a decadência. Ela falou em fazer festas por um mês, mas só agora eu a imagino estendida nos travesseiros, bêbada e rindo e talvez beijando pessoas. Talvez fazendo mais do que beijar pessoas.

Minha irmã, minha irmã gêmea, sempre foi mais pertida do que irritada, mais tímida que sensual. Ou pelo menos pensei que ela fosse. Enquanto eu seguia o caminho de adagas e veneno, ela seguia o caminho do desejo.

Eu me viro para as escadas, insegura se vou conseguir fazer isso depois de tudo.  Repenso tudo que sei, sobre a explicação que Taryn e eu criamos juntas para última vez que vi Locke. Ele estava pretendia se encontrar com uma selkie, eu diria, com quem ele estava mantendo um caso. Afinal, era plausível. E a Corte Submarina esteve tão recentemente em desacordo com a terra que eu espero que as fadas se voltem contra eles.

– Vai jantar no grande salão? – Neve pergunta, seguindo atrás de mim.

– Eu prefiro uma bandeja no meu quarto –, digo, não querendo comer sozinha naquela mesa comprida e ser servida em um silêncio visível.

Subo, quase certa de que me lembro do caminho. Abro uma porta com ansiedade. Por um momento, acho que estou no lugar errado, mas é só que o quarto de Locke também mudou. A cama está enfeitada com cortinas bordadas com raposas perseguindo árvores altas. Um pã baixo fica em frente à cama, onde alguns vestidos estão espalhados, e uma pequena mesa está cheia de papéis e canetas.

Vou para o armário de Taryn e olho para os vestidos dela – uma coleção de cores menos atrevidas do que os móveis que ela escolheu, mas não menos bonitos. Eu escolho um robe de cetim pesado para usá-lo, depois tiro o vestido de teia de aranha e vidro.

O tecido estremece contra a minha pele. Fico na frente do espelho no quarto dela e penteio meu cabelo. Olho para mim mesma, tentando ver o que pode me denunciar. Sou mais musculosa, mas as roupas podem esconder isso. Meu cabelo é mais curto, mas não muito. E então, claro, há o meu temperamento.

– Saudações, Vossa Majestade –, digo, tentando me imaginar no Grande Corte novamente. O que Taryn faria? Eu afundo em uma reverência baixa. – Faz muito tempo.

Claro, Taryn provavelmente o viu recentemente. Para ela, não faz muito tempo. Pânico se instala no meu peito. Eu vou ter que fazer mais do que responder perguntas no inquérito. Vou ter que fingir que sou uma conhecida cordial do Grande Rei Cardan na sua frente.

Fixo o olhar no espelho, tentando invocar a expressão correta de deferência, tentando não fazer careta.

– Saudações, Majestade, seu sapo traidor. – Não, isso não funcionaria, por melhor que fosse. – Saudações, Majestade –, tento novamente. – Eu não matei meu marido, mesmo que ele merecesse.

Alguém bate na porta e eu me assusto.

Nera trouxe uma grande bandeja de madeira, que ele coloca na cama e depois parte com um arco, mal emitindo som. Nela estão torradas e uma geleia com um cheiro estranho e enjoativo que dá água na boca. Leva mais tempo do que deveria para eu perceber que é uma fruta das fadas. E eles trouxeram isso como se não fosse nada para Taryn, como se ela comesse regularmente. Locke deu a ela sem ela saber? Ou ela tomou isso deliberadamente, como uma espécie de distanciamento recreativo dos sentidos? Mais uma vez, estou perdida.

Pelo menos há também um bule de chá de urtiga, queijo macio e três ovos de pato cozidos. É um jantar simples, além da estranheza da fruta das fadas.

Eu bebo o chá e como os ovos e as torradas. A geleia, eu escondo em um guardanapo que enfio no fundo do armário. Se Taryn achar daqui a algumas semanas, bem, é um preço pequeno a pagar pelo favor que ela vai receber de mim.

Olho os vestidos novamente, tento escolher um para o dia seguinte. Nada extravagante. Meu marido provavelmente está morto, e eu deveria estar triste. Infelizmente, enquanto a encomenda de Taryn para mim requeria inteiramente preto, seu próprio armário está vazio da cor. Passo por seda e cetim, por brocado no padrão de florestas com animais espreitando por entre as folhas e veludos bordados de verde-sálvia e azul-céu. Finalmente, visto um vestido de bronze escuro e o arrasto para o pã, junto com um par de luvas azuis da meia-noite. Folheio sua caixa de joias e tiro os brincos que dei a ela. Uma lua, a outra estrela, criada pelo mestre ferreiro Grimsen, encantado para deixar quem os usar mais bonito.

Estou ansiosa para sair das terras de Locke e voltar para a Corte das Sombras. Não quero nada além de visitar Barata e Bomba, ouvir fofocas da Corte, estar naquelas salas subterrâneas familiares. Mas esses aposentos se foram – destruídos por Fantasma quando ele nos traiu, indo para o lado da Corte Submarina. Não sei onde a Corte das Sombras opera agora.

E não posso arriscar.

Abrindo a janela, sento-me na mesa de Taryn e tomo um chá de urtiga, bebendo o forte aroma salgado do mar, a madressilva selvagem e a brisa distante através dos pinheiros. Respiro fundo, em casa e com saudades de casa, tudo ao mesmo tempo.


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3 Comentários

  1. Anônimo24 julho

    "– Saudações, Majestade, seu sapo traidor."
    kkkkk

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  2. O bom é q a irmã da jade só ferra ela, e mesmo assim a jade aceita

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