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The Queen of Nothing - Capítulo Seis

Jude e Cardan  by - 2ghosts (tumblr) - thicoss

O inquérito foi programado para acontecer assim que a primeira estrela estiver visível no céu. Chego à Grande Corte no vestido de bronze de Taryn, com um xale sobre os ombros, luvas nas mãos e o cabelo arrumado em um coque frouxo. Meu coração dispara, e espero que ninguém possa sentir o suor de nervoso começando a surgir sob meus braços.

Quando senescal do Grande Rei, recebi certo gral de consideração. Embora eu tenha vivido oito anos em Elfhame sem, me acostumei muito rapidamente.

Me passando por Taryn, sou observada com desconfiança enquanto avanço pela multidão que não abre caminho automaticamente para mim. Ela é filha de um traidor, irmã de uma exilada e suspeita de assassinar o marido. Seus olhares são vorazes, como se esperassem o espetáculo de sua condenação e punição. Mesmo assim, eles ainda não têm medo dela. Mesmo com seu suposto crime, eles a veem como mortal e fraca.

Bom, suponho. Quanto mais fraca parecer, mais verídica será sua inocência.

Meu olhar se afasta do trono enquanto avanço em direção a ele. A presença do Grande Rei Cardan parece infectar o próprio ar que respiro. Por um momento de temor, considero me virar e sair de lá antes que ele me veja.

Não sei se consigo fazer isso.

Me sinto um pouco tonta.

Não sei se posso olhar para ele e não mostrar no meu rosto nada do que estou sentindo.

Respiro fundo e solto novamente, lembrando a mim mesma que ele não saberá que sou eu quem está diante dele. Ele não reconheceu Taryn quando ela vestiu minhas roupas, e não vai me reconhecer agora.

Além disso, digo a mim mesma, se você não conseguir, você e Taryn terão muitos problemas.

De repente, sou lembrada de todas as razões pelas quais Vivi me disse que era uma má ideia. Ela estava certa. Isso é ridículo. Deveria estar exilada até o momento em que fosse perdoada pela coroa, sob pena de morte.

Lembro-me que talvez ele tenha cometido um erro com essa frase. Talvez eu possa me perdoar. Mas então me lembro de quando insisti que era a Rainha das fadas e os guardas riram. Cardan não precisou me negar. Ele só teve que ficar calado. E se eu me perdoasse, ele só teria que se calar novamente.

Não, se ele me reconhecer, terei que correr e me esconder, e espero que meu treinamento com a Corte das Sombras supere o treinamento dos guardas. Mas então a Corte saberá que Taryn é culpada – caso contrário, por que eu estaria no lugar dela? E se eu não conseguir escapar...

Ociosa, eu me pergunto que tipo de execução Cardan poderia ordenar. Talvez me amarrasse a algumas pedras e deixasse o mar fazer o trabalho. Nicasia iria adorar. Se não estiver com disposição, também poderia ser por decapitação, enforcamento, exsanguinação, arrastada e esquartejada, servida de alimento vivo para um sapo de montaria...

– Taryn Duarte –, diz um cavaleiro, interrompendo meus pensamentos sombrios. Sua voz é fria, sua armadura de prata entalhada indique ser um dos guardas pessoais de Cardan. – Esposa de Locke. Você deve estar no lugar dos peticionários.

Eu mudo para lá, desorientada com o pensamento de estar onde eu tinha visto tantos outros antes quando eu era a senescal. Então me lembro e faço uma profunda reverência de alguém confortável com a submissão à vontade do Grande Rei. Como não posso fazer enquanto olha para o rosto dele, me asseguro de manter o olhar no chão.

– Taryn? – Cardan pergunta, e o som de sua voz, a familiaridade dela, é chocante.

Sem mais desculpas, levanto meus olhos para os dele.

Ele é ainda mais terrivelmente bonito do que eu pude lembrar. São todos bonitos, a menos que sejam feios. Essa é a natureza das fadas. Nossas mentes mortais não podem concebê-las; nossa mente atenuam seus poderes.

Cada dedo dele brilha com um anel. Um peitoral entalhado e adornado de joias e ouro polido pendurado em seus ombros, cobrindo uma camisa branca. Botas erguidas das pontas dos pés até os joelhos. Seu rabo está amostra, enrolado em uma das pernas. Suponho que tenha decidido que não é mais algo que precisa esconder. Na testa dele, é claro, está a Coroa de Sangue.

Ele me olha com olhos pretos de bordas douradas, um sorriso pairando nos cantos da boca. Seus cabelos pretos caem ao redor do rosto, soltos e um pouco bagunçados, como se tivesse levantado recentemente da cama de alguém.

Não consigo parar de me maravilhar de como uma vez tive poder sobre ele, sobre o Grande Rei das fadas. Como já fui arrogante o suficiente para acreditar que poderia mantê-lo.

Me lembro do deslizar da boca dele na minha. Lembro de como ele me enganou.

– Vossa Majestade –, digo, porque tenho que dizer alguma coisa e porque tudo o que ensaiei começa com isso.

– Reconhecemos sua dor –, diz ele, parecendo irritantemente verdadeiro. – Não perturbaríamos seu luto se não fossem por perguntas sobre a causa da morte de seu marido.

– Acha mesmo que ela está triste? – pergunta Nicasia. Ela está de pé ao lado de uma mulher que levo um momento para reconhecer: a mãe de Cardan, Lady Asha, vestida com um vestido prateado, com gemas cobrindo as pontas de seus chifres. O rosto de Lady Asha também foi destacado em prata – prata nas maçãs do rosto e brilhando nos lábios. Nicasia, enquanto isso, veste as cores do mar. Seu vestido é do verde de algas marinhas, escuro e opulento. Seu cabelo azul-esverdeado foi trançado e adornado com uma coroa ardilosa feita de espinhas e mandíbulas de peixe.

Pelo menos nenhuma delas está no trono ao lado do Grande Rei. A posição de senescal parece ainda estar vaga.

Eu quero atacar Nicasia, mas Taryn não, então não faço. Não digo nada, me xingando por saber o que Taryn não faria, mas tendo menos certeza do que ela faria.

Nicasia se aproxima e fico surpresa ao ver a tristeza em seu rosto. Locke já foi amigo dela e amante. Não acho que ele tenha sido particularmente bom nesses dois, mas acho que isso não significa que ela o queria morto.

– Você mesmo matou Locke? – pergunta ela. – Ou conseguiu que sua irmã fizesse por você?

– Jude está no exílio –, respondo, minhas palavras saindo perigosamente suaves, em vez de suave e regular que deveriam ser. – E eu nunca machucaria Locke.

– Não? – diz Cardan, inclinando-se para a frente em seu trono. Ramos de videiras treme atrás dele. Seu rabo se contorce.

– Eu ama... – Não consigo fazer minha boca dizer as palavras, mas eles estão esperando. Eu as forço a sair e tento forçar também um pequeno soluço. – Eu amava ele.

– Às vezes eu acreditava que sim –, diz Cardan distraidamente. – Mas você poderia estar mentindo. Vou por um encanto em você. Tudo o que fará é forçar você a nos dizer a verdade. – Ele curva a mão, e a magia brilha no ar.

Eu não sinto nada. É o poder do geas de Dain, suponho. Nem mesmo o encantamento do Grande Rei pode me seduzir.

– Agora –, diz Cardan. – Me diga apenas a verdade. Qual é o seu nome?

– Taryn Duarte –, digo com uma reverência, agradecida pela facilidade com que a mentira sai. – Filha de Madoc, esposa de Locke, súdita do Grande Rei de Elfhame.

Sua boca se curva. – Que belas maneiras.

– Fui bem instruída. – Ele deveria saber. Fomos ensinados juntos.

– Você matou Locke? – ele pergunta. Ao meu redor, o burburinho da conversa diminui. Não há músicas, poucas risadas, alguns tilintar de xícaras. As fadas estão atentas, querendo saber se estou prestes a confessar.

– Não –, digo, e dou um olhar aguçado para Nicasia. – Também não orquestrei sua morte. Talvez devêssemos olhar para o mar, onde ele foi encontrado.

Nicasia volta sua atenção para Cardan. – Sabemos que Jude assassinou Balekin. Ela confessou. E venho suspeitando há muito tempo que ela tenha matado Valerian. Se Taryn não é a culpada, então deve ser Jude. A rainha Orlagh, minha mãe, jurou uma trégua a você. O que ela poderia ganhar com o assassinato do seu Mestre da Diversão? Ela sabia que ele era seu amigo– e meu. – Sua voz quebra no final, embora ela tente mascará-la. Sua dor é obviamente genuína.

Eu tento convocar lágrimas. Seria útil chorar agora, mas, diante de Cardan, não consigo chorar.

Ele olha para mim, as sobrancelhas negras juntas. – Bem, o que você acha? Sua irmã fez isso? E não me diga o que eu já sei. Sim, enviei Jude para o exílio. Isso pode ou não tê-la impedido.

Eu gostaria de poder socá-lo em seu rosto presunçoso e mostrar como sou indiferente por seu exílio. – Ela não tinha motivos para odiar Locke –, minto. – Não acho que ela o desejasse mal.

– É mesmo? – diz Cardan.

– Possivelmente, seja apenas fofoca da corte, mas há uma história popular sobre você, sua irmã e Locke –, arrisca Lady Asha. – Ela o amava, mas ele escolheu você. Algumas irmãs não suportam ver a outra feliz.

Cardan olha para sua mãe. Me pergunto o que a atraiu para Nicasia, a menos que seja apenas o fato de ambas serem terríveis. E eu me pergunto o que Nicasia fez dela. Orlagh pode ser uma rainha feroz e aterrorizante do submarino, e eu nunca mais quero passar outro momento em sua presença, mas acredito que ela preza por Nicasia. Certamente Nicasia esperaria mais da mãe de Cardan do que o fino farelo de emoção que ela serviu ao filho.

– Jude nunca amou Locke. – Meu rosto está quente, mas minha vergonha é um excelente disfarce para me esconder atrás. – Ela amava outra pessoa. É ele quem ela quer morto.

Tenho o prazer de ver Cardan estremecer. – Chega –, interrompe ele antes que eu possa continuar. – Ouvi tudo o que me interessa sobre esse assunto...

– Não! – Nicasia interrompe, fazendo com que todos embaixo da colina se agitarem um pouco. É imensa presunção interromper o Grande Rei. Mesmo para uma princesa. Especialmente para um embaixador. Um momento depois que fala, ela parece perceber, mas continua assim mesmo. – Taryn poderia ter uma proteção, algo que a torne resistente a encantamentos.

Cardan dá a Nicasia um olhar mordaz. Ele não gosta dela minando sua autoridade. E, no entanto, depois de um momento, sua raiva cede lugar à outra coisa. Ele me dá um dos seus sorrisos mais terríveis.

– Suponho que ela terá que ser revistada.

A boca de Nicasia se curva para combinar com a dele. Parece estar de volta às aulas nos jardins do palácio, conspirando com os filhos dos nobres.

Me lembro da humilhação mais recente, de ser coroada a rainha da alegria, despida na frente dos foliões. Se eles pegarem meu vestido agora, verão os curativos nos meus braços, os cortes frescos na minha pele, para os quais não tenho uma boa explicação. Eles vão adivinhar que eu não sou Taryn.

Não posso deixar isso acontecer. Convoco toda a dignidade que posso reunir, tentando imitar minha madrasta, Oriana, e a maneira como ela projeta autoridade. – Meu marido foi assassinado –, digo. – Estou de luto, se acredita ou não em mim. Não farei um espetáculo de mim mesma para a diversão da corte quando o corpo dele estiver quase frio.

Infelizmente, o sorriso do Grande Rei só cresce.

– Como quiser. Então suponho que terei que examiná-la sozinho em meus aposentos.


Se ainda há alguém lendo está tradução eu peço que deixe um comentário, mesmo um simples “Continua”, apenas para eu saber se há demanda. Eu realmente não quero perder tempo traduzindo algo que não tem leitores, assim posso me dedicar a outras traduções. Obrigada.


Próximo Capítulo ⏭

19 Comentários

  1. Por favor continua, eu te imploro

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  2. Continue com certeza....

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  3. Anônimo24 julho

    Um capítulo melhor que o outro! :D

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  4. Tá maravilhoso, continua 😊 obrigada por se dispôr a traduzir

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  5. Anônimo13 agosto

    Obrigada por postar, estava querendo muito ler esse livro.

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  6. Anônimo04 setembro

    mds to amandoooooo

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  7. AAAAAA EU NÃO ACREDITO QUE EU ENCONTREI ESSE LIVRO EM PORTUGUÊS MUUUUIIIITOOO OBRIGAAADOOOO DE VERDADE QUE EXISTAM MAIS PESSOAS BOAS COMO VOCÊ

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  8. Continua!! Ótimo e obrigado

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  9. Eu tô AMANDOOO!! Mtooo obrigada pela tradução!!

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  10. Amo demais ,continua ..😍❤️

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  11. Continua.... e obrigada pelo esforço e dedicação. Sua tradução está muito bem feita.

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