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The Queen of Nothing - Capítulo Sete

Cruel prince art by feyspeaker

Estou furiosa enquanto atravesso os corredores do palácio, um passo atrás de Cardan, seguida por sua guarda para me impedir de tentar fugir.

Minhas escolhas agora não são boas.

Ele vai me levar de volta para seus enormes aposentos e depois o que? Vai forçar um guarda a me segurar e me despir de qualquer coisa que possa me proteger de encantamento – joias, roupas – até que eu esteja nua? Se assim for, ele não vai poder deixar de notar minhas cicatrizes, cicatrizes que já viu antes. E se tirar minhas luvas, não haverá dúvida. A metade do dedo que falta vai me denunciar.

Se eu estiver sem roupa, ele me reconhecerá.

Faço uma pausa enquanto a isso. Há a passagem secreta em seu quarto. De lá, posso sair por uma das janelas de cristais.

Olho para os guardas. Se eles fossem dispensados, eu poderia passar por Cardan, pela passagem secreta e sair. Mas como se livrar deles?

Considero o sorriso que Cardan exibia no trono quando anunciou o que faria comigo. Talvez queira ver Taryn nua. Ele me desejava, afinal, e Taryn e eu somos idênticas. Talvez se eu me voluntariar para me despir, ele concordará em dispensar a guarda. Ele disse que me examinaria sozinho.

O que me leva a um pensamento ainda mais ousado. Talvez eu pudesse distraí-lo minuciosamente o suficiente para que ele não me conhecesse. Talvez, se eu pudesse apagar as velas e ficar nua apenas à meia-luz...

Esses pensamentos me ocupam tão completamente que mal vejo uma serva carregando uma bandeja com uma jarra de vinho verde-aipo pálido e uma coleção de cálices de vidro soprado. Ela está vindo na direção oposta e, quando passamos, a bandeja pressiona ao meu lado. Ela choraminga, sinto um empurrão, e nós duas caímos no chão, com vidro quebrando ao nosso redor.

Os guardas param. Cardan se vira. Olho para a garota, confusa e surpresa. Meu vestido está encharcado de vinho. Fadas raramente são desajeitadas, e isso não pareceu um acidente. Então os dedos da garota tocam uma das minhas mãos enluvadas. Sinto a pressão de couro e aço contra a parte interna do meu pulso. Está empurrando uma faca embainhada na minha manga, protegendo o conteúdo derramado da bandeja. Sua cabeça inclina perto da minha enquanto tira cacos de vidro do meu cabelo.

– Seu pai está vindo atrás de você –, sussurra ela. – Aguarde o sinal. Então apunhale o guarda mais próximo da porta e corra.

– Que sinal? – Sussurro de volta, fingindo ajudá-la a limpar os cacos.

– Ah não, minha senhora, me perdoe –, diz ela em voz normal com um aceno de cabeça. – Você não deve se rebaixar.

Um guarda pessoal do Grande Rei pega meu braço. – Venha –, ordena, me levantando. Pressiono as mãos no coração para impedir que a faca deslize para fora da manga.

Retomo a caminhada em direção aos aposentos de Cardan, meus pensamentos derramados em mais confusão ainda.

Madoc está vindo para salvar Taryn. É um lembrete de que, embora eu não esteja mais nas boas graças dele, ela o ajudou a se livrar de seus votos de serviço ao Grande Rei. Ela deu a ele metade de um exército. Me pergunto quais planos ele tem para ela, quais recompensas prometeu. Imagino que ficará satisfeito por ela não estar mais envolvida com Locke.

Mas quando Madoc chega, qual será o plano dele? Com quem ele espera lutar? E o que fará quando for procurá-la e me encontrar?

Dois criados abrem portas duplas pesadas para os aposentos do Grande Rei, e ele entra, se jogando em um sofá baixo. Eu sigo, parada sem jeito no meio do tapete. Nenhum dos guardas entrou em seus aposentos. Assim que passo pela entrada, as portas se fecham atrás de mim, desta vez com um final sombrio. Não preciso me preocupar em convencer Cardan a dispensar os guardas; eles nunca se demoraram.

Pelo menos eu tenho uma faca.

A sala é como me lembro, das reuniões do Conselho. Carrega o cheiro de fumaça, verbenas e trevo. Cardan se estica, as botas nos pés descansando em uma mesa de pedra esculpida na forma de grifo, com garras levantadas para o ataque. Ele me dá um sorriso rápido, conspiratório, que parece completamente em desacordo com a maneira como falou comigo do seu trono.

– Bem –, diz ele, batendo no sofá ao lado dele. – Você não recebeu minhas cartas?

– O que? – Estou confusa o suficiente que saia como um sussuro.

– Você nunca respondeu a uma –, continua ele. – Comecei a me perguntar se você tinha perdido sua ambição no mundo mortal.

Deve ser um teste. Deve ser uma armadilha.

– Vossa Majestade –, digo rigidamente. – Pensei que você me trouxe aqui para garantir a si mesmo de que eu não tinha encantamento nem amuleto.

Uma única sobrancelha se levanta e seu sorriso se aprofunda.

– Eu irei, se você quiser. Devo ordenar que tire suas roupas? Eu não me importo.

– O que você está fazendo? – finalmente digo, desesperadamente. – Do que você está brincando?

Ele está olhando para mim como se, de alguma forma, sou eu quem está se comportando de maneira estranha.

– Jude, você realmente não pode pensar que eu não sei que é você. Eu te reconheci desde o momento em que você entrou no salão.

Balanço a cabeça, cambaleando. – Isso não é possível. – Se ele soubesse que era eu, então eu não estaria aqui. Eu seria presa na Torre do Esquecimento. Eu estaria me preparando para minha execução.

Mas talvez ele esteja satisfeito por eu ter violado os termos do exílio. Talvez esteja feliz por eu ter me colocado sob seu poder ao fazê-lo. Talvez seja esse o jogo dele.

Ele se levanta do sofá, seu olhar é intenso. – Se aproxime.

Dou um passo para trás.

Ele franze a testa.

– Meus conselheiros me disseram que você se encontrou com uma embaixadora da Corte dos Dentes, que deve estar trabalhando com Madoc agora. Não estava disposto a acreditar, mas vendo o jeito que você me olha, talvez eu deva. Diga-me que não é verdade.

Por um momento, não entendo, mas depois entendo. Grima Mog. – Eu não sou o traidor aqui – digo, mas de repente estou consciente da lâmina na minha manga.

– Você está com raiva da... – Ele se interrompe, olhando meu rosto com mais cuidado. – Não, você está com medo. Mas por que teria medo de mim?

Estou tremendo com um sentimento que mal entendo. – Eu não estou –, minto. – Eu te odeio. Você me enviou para o exílio. Tudo o que você me disse, tudo o que prometeu, foi tudo um truque. E eu, fui estúpida o suficiente para acreditar em você uma vez. – A faca embainhada desliza facilmente para a minha mão.

– Claro que foi um truque... – começa ele, então vê a arma e morde o que quer que esteja prestes a dizer.

Tudo treme. Uma explosão, próxima e intensa o suficiente para que nós dois tropeçamos. Livros caem e se espalham pelo chão. Esferas de cristal escorregam de seus estandes rolando pelas tábuas do chão. Cardan e eu nos entreolhamos compartilhando a surpresa. Então seus olhos se estreitam em acusação.

Esta é a parte em que eu devo esfaqueá-lo e fugir.

Um momento depois, há o som inconfundível do metal atingindo metal. Perto.

– Fique aqui – digo, puxando a lâmina e jogando a bainha no chão.

– Jude, não... – ele chama atrás de mim quando entro no corredor.

Um de seus guardas está morto, uma arma saindo do peito. Outros colidem com os soldados escolhidos a dedo de Madoc, severos e mortais. Eu os conheço, sei que eles lutam sem dó, sem piedade, e se chegaram tão perto do Grande Rei, Cardan está em terrível perigo.

Penso novamente na passagem pela qual planejava passar. Posso tirá-lo dessa maneira – em troca de perdão. Ou Cardan pode acabar com meu exílio e viver ou torcer para que sua guarda vença contra os soldados de Madoc. Estou prestes a voltar para fazer o acordo quando um dos soldados me agarra.

– Peguei Taryn – ela grita rispidamente. Eu a reconheço: Silja. Parte huldra e totalmente aterrorizante. Eu a tinha visto entalhar uma perdiz de maneira que a deixava muito satisfeita com o abate.

Apunhalo a mão dela, mas o couro grosso de suas luvas curva minha lâmina. Um braço coberto de aço envolve minha cintura.

– Filha –, diz Madoc em sua voz grave. – Filha, não tenha medo...

Sua mão se aproxima com um pano cheirando a doçura enjoativa. Pressiona no meu nariz e boca. Sinto meus membros relaxaram e, um momento depois, não sinto nada.


Se ainda há alguém lendo está tradução eu peço que deixe um comentário, de preferencia a baixo do post, pode ser de forma anonima, mesmo um simples “Continua”, apenas para eu saber se há demanda. Eu realmente não quero perder tempo traduzindo algo que não tem leitores, assim posso me dedicar a outras traduções. Obrigada.



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