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The Queen of Nothing - Capítulo Oito


Quando acordo, estou em uma bosque que não reconheço. Não sinto o cheiro onipresente do sal do mar e não ouço o barulho das ondas. Tudo são samambaias, mofo de folhas, o crepitar de um fogo e o zumbido de vozes distantes. Me sento. Estou deitada em cobertores pesados, com mais em cima de mim – cobertores para cavalos, embora elegantes. Vejo uma carruagem bem construída por perto, a porta aberta.

Eu ainda estou no vestido de Taryn, ainda usando suas luvas.

– Não se importe com a tontura –, diz uma voz gentil. Oriana. Ela está sentada perto, vestida com um vestido do que parece ser lã feltrada sobre várias camadas de saias. Seu cabelo está preso em uma touca verde. Ela não se parece em nada com a cortesã em tecidos delicados que tem sido o tempo todo que a conheço. – Vai passar.

Passo a mão pelo meu cabelo, soltos agora, os broches ainda nele. – Onde estamos? O que aconteceu?

– Seu pai não gostou da ideia de você ficar nas ilhas, mas sem a proteção de Locke, foi apenas uma questão de tempo até que o Grande Rei inventasse uma desculpa para torná-la refém dele.

Esfrego uma mão sobre o rosto. Junto ao fogo, uma fada insectóide, parecendo um inseto, mexe uma panela grande. – Quer sopa, mortal?

Balanço a cabeça.

– Quer ser a sopa? – pergunta esperançosamente. Oriana acena e leva uma chaleira do chão ao lado do fogo. Derrama o conteúdo fumegante em uma xícara de madeira. O líquido tem cheiro de casca de árvore e cogumelos.

Tomo um gole e de repente me sinto menos tonta.

– O Grande Rei foi capturado? – Pergunto, lembrando quando fui levada. – Ele está vivo?

– Madoc não conseguiu encontrá-lo –, diz ela, como se ele estivesse vivo fosse uma decepção.

Odeio o quão aliviada me sinto.

– Mas... – começo, querendo perguntar como a batalha terminou. Lembro a tempo de morder a língua. Ao longo dos anos, Taryn e eu ocasionalmente fingimos ser uma a outra em casa. Na maioria das vezes, nos safamos, desde que não durasse muito tempo ou não fôssemos óbvios a respeito. Se eu não fizer nada estúpido, tenho uma boa chance de continuar até que eu possa escapar.

E depois o que?

Cardan foi tão desarmador e casual, como se me sentenciar à morte fosse uma piada interna compartilhada entre nós. E falando de cartas, cartas que nunca recebi. O que poderiam dizer? Que ele poderia ter me perdoado? Poderia ter me oferecido algum tipo de barganha?

Não consigo imaginar uma carta de Cardan. Teria sido curta e formal? Cheio de fofocas? Manchada de vinho? Outro truque?

Claro que foi um truque. Seja o que for que ele pretendia, deve estar acreditando que estou trabalhando com Madoc agora. E embora não deva me incomodar, incomoda.

– A prioridade do seu pai era tirar você – Oriana me lembra.

– Não é só isso, não é? – Digo. – Ele não deve ter atacado o Palácio de Elfhame sozinho por mim. Meus pensamentos são indisciplinados, perseguindo um ao outro. Não tenho mais certeza de nada.

– Não questiono os planos de Madoc –, diz ela neutra. – Nem você deveria.

Esqueci de como era ser repreendida por Oriana, sempre tratada como se minha curiosidade imediatamente criasse algum escândalo para nossa família. É especialmente irritante ser tratada dessa maneira agora, quando o marido dela roubou parte do exército do Grande Rei e está planejando um golpe contra ele.

As palavras de Grima Mog ecoam na minha mente. A Corte dos Dentes se juntou ao velho grande general – seu pai – e uma série de outros traidores. Tenho certeza de que seu Grande Rei será destronado antes da próxima lua cheia.

Parece muito mais urgente agora.

Mas como devo ser Taryn, não respondo. Depois de um momento, ela parece arrependida. – O importante é que você descanse. Tenho certeza de que ser arrastada para cá logo depois de perder Locke é muita coisa para assimilar.

– Sim –, digo. – É muito. Acho que quero descansar um pouco, se estiver tudo bem.

Oriana estica o braço e alisa meu cabelo para trás da minha testa, um gesto carinhoso que eu tenho certeza que ela não teria feito se soubesse que era eu, Jude, quem ela estava tocando. Taryn admira Oriana, e elas são próximas de uma maneira que ela e eu não somos – por muitas razões, a menor das quais é que eu ajudei a esconder Oak no mundo mortal, longe da coroa. Desde então, Oriana tem sido igualmente agradecida e ressentida. Mas com Taryn, eu acho, Oriana vê alguém que ela entende. E talvez Taryn seja como Oriana, embora o assassinato de Locke tenha colocado isso e tudo o mais que pensava que sabia sobre minha irmã gêmea em questão.

Fecho os olhos. Embora eu queira montar um plano para fugir, em vez disso, durmo.

Assim que acordo, estou em uma carruagem e estamos em movimento. Madoc e Oriana sentados no banco oposto. As cortinas estão fechadas, mas ouço o som de um acampamento itinerante, de montarias e soldados. Ouço o rosnado característico de goblins chamando uns ao outros.

Olho para o barrete vermelho que me criou, meu pai e o assassino de meu pai. Observo o bigode de alguns dias sem barbear. Seu rosto familiar, inumano. Ele parece exausto.

– Finalmente acordada? – diz ele com um sorriso que mostra muitos dentes. Me lembro desconfortavelmente de Grima Mog.

Tento sorrir de volta enquanto me endireito. Não sei se algo na sopa me nocauteou ou o doce-morte que Madoc me fez inalar ainda não saiu do meu sistema, mas não me lembro de ter sido carregada para a carruagem. – – Dormi por quanto tempo?

Madoc faz um gesto negligente. – Já se passou três dias do inquérito de trunfo do Grande Rei.

Me sinto tonta, com medo de dizer a coisa errada e ser descoberta. Pelo menos o modo fácil em que fiquei inconsciência deva ter feito me parecer minha irmã. Antes de me tornar prisioneira da Corte Submarina, eu havia treinado meu corpo para ser imune a venenos. Mas agora estou exatamente tão vulnerável quanto Taryn.

Se eu manter controle sobre mim, posso fugir sem que nenhum deles saiba. Penso em que parte da conversa de Madoc Taryn se concentraria. Provavelmente a questão de Locke. Respiro fundo. – Eu disse a eles que não tinha feito isso. Mesmo enfeitiçada, eu insisti.

Madoc parece não enxergar através do meu disfarce, mas parece pensar que estou sendo idiota.

– Duvido que o menino rei pretendesse deixar você sair do palácio de Elfhame viva. Ele lutou de mais para mantê-la lá.

– Cardan? – Isso não soa como ele.

– Metade dos meus cavaleiros nunca conseguiu sair –, ele me informa severamente. – Entramos com bastante facilidade, mas o cerco fechou ao nosso redor. As portas rachavam e se encolhiam. Videiras, raízes e folhas obstruíam o nosso caminho, enrolaram em torno de nossos pescoços, esmagando e estrangulando a gente.

Eu o encaro por um longo momento. – E o Grande Rei causou isso? – Não acredito nisso de Cardan, que deixei em seus aposentos, como se ele precisasse de proteção.

– A guarda dele não foi mal treinada nem mal escolhida, e ele conhece o poder que tem. Fico contente em tê-lo testado antes de partir contra ele a sério.

– Então, tem certeza de que é sábio avançar contra ele? – Pergunto com cuidado. Talvez não seja exatamente o que Taryn diria, mas também não é exatamente o que eu diria.

– Sabedoria é para os pacíficos –, responde ele. – E isso raramente os ajuda tanto quanto acreditam. Afinal, por mais sábia que você seja, você ainda se casou com Locke. É claro que talvez você seja mais sábia do que isso; talvez tão sábia que também se tornou viúva.

Oriana coloca a mão em seu joelho, um gesto de advertência.

Ele dá uma grande risada. – O que? Não escondia o quão pouco gostava do garoto. Vocês não deviam esperar que eu lamentasse.

Eu me pergunto se ele riria tanto se soubesse que Taryn realmente fez isso. Com quem estou brincando? Ele provavelmente riria ainda mais. Ele provavelmente riria de forma doentia.

***

Por fim, a carruagem para e Madoc pula para fora, chamando seus soldados. Deslizo para fora e olho em volta, primeiro desorientada pela paisagem desconhecida e depois pela visão do exército diante de mim.

A neve cobre o chão com enormes fogueiras em alguns pontos, junto com um labirinto de tendas. Algumas feitas de peles de animais. Outras são elaboradas de tela tingida, lã e seda. Mas o mais surpreendente é o tamanho do campo, cheio de soldados armados e prontos para avançar contra o Grande Rei. Atrás do acampamento, um pouco ao oeste, há uma montanha coberta por uma espessa camada verde de pinheiros. E ao lado, outro pequeno posto avançado – uma única tenda e alguns soldados.

Me sinto muito distante do mundo mortal.

– Onde estamos? – Pergunto a Oriana, que sai da carruagem atrás de mim, carregando um manto para colocar sobre meus ombros.

– Perto da Corte dos Dentes –, diz ela. – A maioria são trolls e huldras até o extremo norte.

A Corte dos Dentes é a Corte Unseelie, a que manteve Barata e Bomba prisioneiros, e que exilaram Grima Mog. O último lugar onde quero estar – e sem um caminho certo para escapar.

– Venha –, diz Oriana. – Vamos lhe acomodar.

Ela me leva pelo acampamento, passando por um grupo de trolls esfolando um alce, passando por elfos e goblins cantando hinos de guerra, passando por um alfaiate consertando uma pilha de armaduras de pele diante do fogo. Ao longe, ouço o som de aço, vozes elevadas e sons de animais. O ar está denso de fumaça e o chão está lamacento de pisadas de botas e neve derretida. Desorientada, me concentro em não perder Oriana na multidão. Finalmente, chegamos a uma tenda grande, mas de aparência simples, com um par de cadeiras de madeira resistentes na frente, ambas cobertas de pele de carneiro.

Meu olhar é atraído para um pavilhão montado nas proximidades. Sentado no chão com pés de garras douradas, olhando para todos como se pudesse fugir se o dono desse o comando. Enquanto olho, Grimsen pisa para fora. Grimsen, o Ferreiro, que criou a Coroa de Sangue e muitos outros artefatos das Fadas, ainda anseia por fama cada vez maior. Ele está tão arrumado que pode ser um príncipe. Quando me vê, ele me lança um olhar malicioso. Eu desvio o olhar.

O interior da tenda de Madoc e Oriana me lembra desconfortavelmente de casa. Um canto funciona como uma cozinha improvisada, onde ervas secas ficam penduradas em guirlandas ao lado de linguiças secas, manteiga e queijo.

– Você pode tomar banho –, diz Oriana, indicando uma banheira de cobre em outro canto, meio cheia de neve. – Colocamos uma panela de metal no fogo, depois jogamos na neve para ser derretida, e tudo esquenta rapidamente.

Balanço a cabeça, pensando em como preciso continuar escondendo minhas mãos. Pelo menos neste frio, não será nenhuma surpresa para mim manter as luvas. – Eu só quero lavar meu rosto. E talvez vestir roupas mais quentes?

– É claro –, diz ela, e se apressa em torno do pequeno espaço para pagar um robusto vestido azul, meias e botas. Ela sai e volta. Depois de alguns minutos, um criado chega com água fumegante em uma tigela e a coloca sobre uma mesa, junto com um pano. A água é perfumada com bagas de junípero.

– Vou deixar você se refrescar –, diz Oriana, vestindo uma capa. – Hoje à noite jantamos com a Corte dos Dentes.

– Eu não pretendo incomodá-la –, digo, desajeitada diante da bondade dela, sabendo que não é para mim.

Ela sorri e toca minha bochecha. – Você é uma boa garota – diz ela, me fazendo corar de vergonha.

Eu nunca fui.

Ainda assim, quando ela se vai, fico feliz por estar sozinha. Eu bisbilhotei a barraca, mas não encontro mapas ou planos de batalha. Como algumas fatias de queijo. Lavo meu rosto, axilas e em qualquer outro lugar que eu possa alcançar, então bochecho a boca com um pouco de óleo de hortelã e raspo minha língua.

Finalmente, coloquei as novas roupam pesadas e quentes, prendi o cabelo em duas tranças apertadas. Substituo minhas luvas de veludo pelas de lã – verificando se o enchimento na ponta do dedo parece convincente.

Quando termino, Oriana volta. Trazendo vários soldados carregando paletes e cobertores de pele, que ela transforma em cama para mim, separado por uma cortina de tela.

– Acho que isso vai servir por enquanto –, diz ela, olhando para mim em busca de confirmação.

Engulo a vontade de agradecê-la. – Melhor do que eu poderia ter pedido.

Quando os soldados partem, eu os sigo pelo canto da barraca. Lá fora, eu me oriento pelo sol, já que está prestes a se pôr e olho novamente para o mar de tendas. Sou capaz de distinguir as facções. As do pessoal de Madoc, esvoaçante em seu selo, a lua crescente parecendo mais uma tigela. As da corte dos dentes têm suas tendas marcadas com padrões que parece sugerir uma montanha ameaçadora. E duas ou três outras cortes, menores ou que enviaram poucos soldados. Uma série de outros traidores, dissera Grima Mog.

Não consigo deixar de pensar como a espiã que fui, não consigo deixar de ver que estou perfeitamente posicionada para descobrir o plano de Madoc. Estou no acampamento dele, na própria tenda dele. Eu poderia descobrir tudo.

Mas isso é loucura absoluta. Quanto tempo antes de Oriana ou Madoc perceberem que eu sou Jude e não Taryn? Me lembro do voto que Madoc me fez: E quando eu te vencer, vou me assegurar de fazer tão bem quanto faria com qualquer oponente que se mostrou igual a mim. Foi um elogio, mas também uma ameaça direta. Sei exatamente o que Madoc faz com seus inimigos – ele os mata e depois mergulha o capuz no sangue deles.

E o que isso importa? Estou no exílio, expulsa.

Mas se eu tivesse os planos de Madoc, poderia trocá-los pelo fim do meu exílio. Certamente Cardan concordaria, se eu desse a ele os meios para salvar Elfhame. A menos que, é claro, ele pensasse que eu estou mentindo.

Vivi diria que eu deveria parar de me preocupar com reis e guerras e me preocupar em voltar para casa. Após minha luta com Grima Mog, eu poderia exigir trabalhos melhores de Bryern. Vivi tem razão, se desistirmos da pretensão de viver como outros humanos, poderíamos ter um lugar muito maior. E, considerando os resultados do inquérito, Taryn provavelmente não pode retornar ao Reino das Fadas.

Pelo menos até Madoc assumir.

Talvez eu devesse deixar isso acontecer.

Mas me leva ao que não consigo superar. Mesmo sendo ridículo, não consigo parar a raiva que surge em mim, acendendo um fogo no meu coração.

Sou a rainha de Elfhame.

Mesmo sendo a rainha no exílio, ainda sou a rainha.

E isso significa que Madoc não está apenas tentando tomar o trono de Cardan. Ele está tentando tomar o meu.


Se ainda há alguém lendo está tradução eu peço que deixe um comentário, mesmo um simples “Continua”, apenas para eu saber se há demanda. Eu realmente não quero perder tempo traduzindo algo que não tem leitores, assim posso me dedicar a outras traduções. Obrigada.



Próximo Capítulo ⏭

17 Comentários

  1. Continua por favor preciso desse livro até o final

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  2. Tenho todo ele traduzido pelo google tradutor, mas ficou uma tradução sem sentido, mas a sua tradução está ótima! Muito perfeita por favor continue postando mais

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  3. Quando sai mais capítulos?

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  4. Anônimo15 julho

    por favor continua!!

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  5. Anônimo15 julho

    CONTINUA!!

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    1. Sim, estou dando continuidade. Só que esses últimos dias foram difíceis de continuar traduzindo por causa do desaparecimento e morte da atriz Naya Rivera que eu era fã. Como eu tive a adolescência muito impactada por Glee, isso me abalou muito... 💔💔💔

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  6. Anônimo16 julho

    POR FAVOR CONTINUA!! A TRADUÇÃO ESTÁ MUITO BOA

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  7. Anônimo16 julho

    você faz um ótimo trabalho. A tradução realmente é muito boa

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  8. Foi um alivio ver sua traducao, mais tambem foi como uma facada no peito quando voce parrou

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  9. Ela tá meio enrascada!!!
    Continue

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  10. Continue, por favor!
    A melhor tradução que li😍

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  11. Obrigada e continue traduzindo por favor😘

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