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The Queen of Nothing - Capítulo Dez


Depois de minha visita a Grimsen, volto para a floresta para fazer o prometido com agressividade, coletando bagas de sorva, flores de azedinha, urtigas, um pouco de doce-morte e grandes cogumelos porcini. Chuto uma pedra, enviando-a mais fundo na floresta. Então chuto outra. É preciso muitas pedras antes de me sentir um pouco melhor.

Não estou perto de encontrar uma maneira de sair daqui e não estou perto de descobrir sobre os planos de meu pai. A única coisa que estou mais perto é de ser pega.

Com esse pensamento sombrio em mente, encontro Madoc sentado ao lado da fogueira do lado de fora da tenda, limpando e afiando o conjunto de punhais que ele mantém. O hábito pede que eu o ajude no trabalho, e tenho que me lembrar que Taryn não faria isso.

– Venha se sentar –, ele pede, dando um tapinha ao lado do tronco no qual está sentado. – Você não está acostumada a fazer campanha e foi empurrada no meio de uma.

Ele suspeita de mim? Me sento, descansando minha cesta cheia perto do fogo e me asseguro que ele não soaria tão amigável se pensasse que estava falando com Jude. Mas eu sei que não tenho muito tempo, então arrisco e pergunto o que eu quero perguntar. – Realmente acha que pode derrotá-lo?

Ele ri como se uma criançinha quem tivesse perguntado: Se você pudesse esticar sua mão longe o suficiente, conseguiria arrancar a lua do céu? – Eu não jogaria esse jogo se não pudesse vencer.

Me sinto estranhamente encorajada por sua risada. Ele realmente acredita que sou Taryn e que não sei nada sobre guerra. – Mas como?

– Vou poupar toda a estratégia –, diz ele. – Mas vou desafiá-lo a um duelo– e depois que eu vencer, vou partir a cabeça dele como um melão.

– Um duelo? – Estou confusa. – Por que ele lutaria com você? – Cardan é o Grande Rei. Ele tem exércitos para ficar entre vocês.

Madoc sorri. – Por amor –, diz ele. – E por dever.

– Amor de quem? – Não acredito que Taryn ficaria menos confusa do que estou agora.

– Não existe banquete farto para um homem faminto –, diz ele.

Não sei o que dizer sobre isso. Depois de um momento, ele tem pena de mim. – Eu sei que você não se importa com lições sobre táticas, mas acho que essa vai agradar até você. Por aquilo que mais queremos, arriscaríamos quase qualquer chance. Há uma profecia de que ele seria um rei miserável. Isso paira sobre a cabeça dele, mas acredita que pode se livrar do destino. Vamos vê-lo tentar. Vou lhe dar uma chance de provar que é um bom governante.

– E depois? – pergunto rapidamente.

Mas ele só ri de novo. – Então o povo te chamará de princesa Taryn.

Toda a minha vida ouvi falar das grandes conquistas do reino das fadas. O que se esperar de um povo imortal com poucos nascimentos, a maioria das batalhas é altamente formalizada, assim como as linhas de sucessão. Feéricos gostam de evitar grandes guerras, significa que não é incomum resolver um problema com alguma disputa mutuamente acordada. Ainda assim, Cardan nunca se importou muito com luta de espadas e não é particularmente bom nisso. Por que ele concordaria em um duelo?

Gostaria de perguntar isso, porém, estou aterrorizado que Madoc me reconheça. No entanto, devo dizer algo. Não posso simplesmente sentar aqui olhando para ele de boca aberta.

– Jude conseguiu controlar Cardan de alguma forma –, levanto. – Talvez você possa fazer o mesmo e...

Ele balança a cabeça. – Veja o que aconteceu com sua irmã. Qualquer que fosse o poder que ela tinha, ele retirou dela. Não, não pretendo continuar nem mesmo com a pretensão de servir. Agora eu estaria governando. – Ele para de afiar a adaga e olha para mim com um brilho perigoso nos olhos. – Eu dei a Jude chance após chance de ser uma ajuda para a família. Todas as oportunidades para me dizer o jogo que ela estava jogando. Se ela tivesse feito isso, as coisas teriam saído muito diferentes.

Um calafrio passa por mim. Ele acha que eu estaria sentada ao lado dele?

– Jude está muito triste –, digo, o que espero que seja uma maneira neutra. – Pelo menos de acordo com Vivi.

– E você não deseja que eu a castigue ainda mais quando eu for Grande Rei, é isso? – ele pergunta. – Não é como se eu não estivesse orgulhoso. O que ela alcançou não foi coisa pequena. Ela é talvez a mais parecida comigo de todos os meus filhos. E como crianças em todo o mundo, ela era rebelde, e sua força excedia seu poder. Mas você

– Eu? – Meu olhar vai para o fogo. É chocante ouvi-lo falar sobre mim, mas a ideia de ouvir algo destinado apenas a Taryn é pior. Sinto como se estivesse tirando algo dela. Não consigo pensar em nenhuma maneira de pará-lo, porém, de uma maneira que não envolva me entregar.

Ele estende a mão para agarrar meu ombro. Seria reconfortante, exceto que a pressão é um pouco forte demais, suas garras um pouco afiadas demais. Este é o momento em que ele vai me agarrar pela garganta e me dizer que estou presa. Meu coração acelera.

– Você deve ter se sentido como se eu a favorecesse, apesar da ingratidão –, diz ele. – Mas foi só que eu a entendi melhor. E, no entanto, você e eu temos algo em comum: nós dois fizemos um casamento ruim.

Dou-lhe um olhar de soslaio, alívio e incredulidade lutando entre si. Ele está realmente dizendo que seu casamento com nossa mãe era como o casamento de Taryn com Locke?

Ele se afasta de mim para adicionar lenha ao fogo. – E ambos terminaram tragicamente.

Respiro fundo. – Você realmente não acha... – Mas eu não sei qual mentira dar. Eu nem sei se Taryn mentiria.

– Não? – Madoc pergunta. – Quem matou Locke, se não você?

Por muito tempo, não consigo pensar em nenhuma boa resposta.

Ele solta uma risada e aponta um dedo com garra para mim, absolutamente encantado. – Foi você! Na verdade, Taryn, sempre achei que você era gentil e mansa, mas agora vejo como estava errado.

– Está feliz que eu o matei? – Ele parece mais orgulhoso de Taryn por assassinar Locke do que por todas as suas outras graças e habilidades combinadas – sua capacidade de deixar as pessoas à vontade, de escolher a roupa certa e de contar o tipo certo de mentira para fazer as pessoas a amarem.

Ele encolhe os ombros, ainda sorrindo. – Vivo ou morto, nunca me importei com ele. Só me importei com você. Se você está triste por ele ter ido embora, sinto muito por isso. Se você gostaria que ele voltasse à vida para poder matá-lo novamente, reconheço esse sentimento. Mas talvez você tenha dispensado a justiça e esteja preocupada apenas que a justiça possa ser cruel.

– O que acha que ele fez comigo para merecer morrer? – Pergunto.

Ele atiça o fogo. Faíscas voam. – Presumo que ele partiu seu coração. Olho por olho, coração por coração.

Lembro de como foi por uma faca pressionada na garganta de Cardan. Entrei em pânico com o pensamento do poder que ele exercia sobre mim, percebendo que havia uma maneira fácil de acabar com aquilo. – Foi por isso que você matou mamãe?

Ele suspira. – Afiei meus instintos em batalha –, diz ele. – Às vezes, esses instintos ainda continuam quando não há mais guerra.

Considero isso, imaginando o que seria necessário para se tornar duro para lutar e matar uma e outra vez. Imaginando se alguma parte dele está fria por dentro, uma espécie de frio que nunca pode ser aquecido, como um fragmento de gelo no coração. Pensando se eu também tenho um fragmento assim.

Por um momento, ficamos em silêncio, juntos, ouvindo o crepitar das chamas. Então ele fala novamente. – Quando matei sua mãe – sua mãe e seu pai – eu mudei você. A morte deles foi uma faísca, o fogo em que vocês três foram forjadas. Mergulhe uma espada aquecida em óleo e qualquer pequena falha se transformará em rachadura. Mas resfriadas em sangue, como vocês foram, nenhuma de vocês quebrou. Você só foi endurecida. Talvez o que a levou a acabar com a vida de Locke seja mais minha culpa do que sua. Se é difícil suportar o que fez, me dê o peso.

Penso nas palavras de Taryn: ninguém deveria ter a infância que tivemos.

E, no entanto, estou querendo tranquilizar Madoc, mesmo que eu nunca consiga lhe perdoar. O que Taryn diria? Não sei, mas seria injusto confortá-lo com a voz dela.

– Eu deveria levar isso para Oriana –, digo, indicando a cesta de alimentos colhidos. Me levanto, mas ele pega minha mão.

– Não pense que vou esquecer sua lealdade. – Ele olha para mim meditativamente. – Você coloca os interesses de nossa família acima dos seus. Quando tudo isso acabar, vai poder pedir sua recompensa, e eu assegurarei que você a receba.

Sinto uma pontada por não ser mais a filha a quem ele faz ofertas como essa. Não sou eu quem dá as boas-vindas à sua lareira, nem aquela que ele cuidaria e estimaria.

Me pergunto o que Taryn pediria para si e para o bebê em sua barriga. Segurança, eu apostaria, a única coisa que Madoc acredita que já nos deu, a única coisa que ele nunca pode realmente fornecer. Independentemente das promessas que faria, ele é cruel demais para manter alguém em segurança por muito tempo.

Quanto a mim, segurança nem sequer é oferecida. Ele ainda não me pegou, mas minha capacidade de sustentar essa máscara está se esgotando. Embora não tenha certeza de como conseguirei atravessar o gelo, resolvo que devo fugir esta noite.



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5 Comentários

  1. No fim, ambas tem um pouco do Madok. Nem imagino como será essa fuga.

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    1. A Jude deveria se chamar Madoka... Não, espera...

      [img]https://64.media.tumblr.com/c1a31e402703b6dce52acb8f43df3164/tumblr_n2gtszciMv1sgqxr8o1_250.gif[/img]

      A piada de nerd meu pai!!!

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