Imagem da capa

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The Queen of Nothing - Capítulo Doze

Quando volto para a tenda, o guarda já não está lá. Com sorte, deslizo para baixo da aba, esperando rastejar para a minha cama antes que Madoc chegue em casa do que quer que esteja planejando com seus generais.

O que não espero é que as velas acendam e Oriana esteja sentada à mesa, completamente acordada. Congelo.

Ela se levanta, cruzando os braços. – Onde você estava?

– Uh – digo, lutando para descobrir o que ela já sabe – e no que acreditaria. – Havia um cavalheiro que me pediu para encontrá-lo sob as estrelas e...

Oriana levanta a mão. – Eu lhe dei cobertura. Dispensei o guarda antes que ele pudesse contar histórias. Não me insulte mais mentindo. Você não é Taryn.

O pânico frio da descoberta se apodera de mim. Quero voltar do mesmo jeito que vim, mas penso em Fantasma. Se eu fugir agora, minhas chances de conseguir a chave são poucas. Ele não será salvo. E terei muito pouca chance de me salvar.

– Não conte a Madoc –, digo, esperançosa de convencê-la a estar do meu lado nisso. – Por favor. Eu nunca planejei vir. Madoc me deixou inconsciente e me arrastou para este campo. Só fingi ser Taryn porque já estava fingindo ser ela em Elfhame.

– Como eu sei que você não está mentindo? – exige, seus olhos rosados e sem piscar me olhando com cautela.  – Como vou saber que você não está aqui para matá-lo?

– Não havia como eu saber que Madoc viria buscar Taryn – insisto. – A única razão pela qual ainda estou aqui é que não sei como sair... Tentei hoje à noite, mas não consegui. Me ajude a fugir – digo. – Me ajude, e nunca mais precisará me ver.

Ela parece achar que é uma promessa extremamente atraente. – Se você for embora, ele vai adivinhar que eu tive dedo nisso.

Balanço a cabeça, lutando por um plano. – Escreva para Vivi. Ela pode vir me buscar. Deixo um bilhete dizendo que fui visitar ela e Oak. Ele nunca precisará saber que Taryn não esteve aqui.

Oriana se vira, derramando um licor de ervas verde escuro em um copinho. – Oak. Não gosto do quão diferente ele está se tornando no mundo mortal.

Quero gritar de frustração com a mudança abrupta de assunto, mas me forço a ficar calma. Eu o imagino mexendo seu cereal colorido. – Nem sempre eu gosto, também.

Ela me passa um copo delicado. – Se Madoc pode se tornar o Grande Rei, Oak pode voltar para casa. Ele não estará entre Madoc e a coroa. Ele estará seguro.

– Lembra do seu aviso sobre como era perigoso estar perto de um rei? Espero até ela beber um gole antes de mim. É amargo e explode na minha língua com os sabores de alecrim, urtiga e tomilho. Estremeço, mas não desprezo.

Ela me dá um olhar irritado. – Você certamente não se comportou como se lembrasse disso.

– Justo –, admito. – E eu paguei o preço.

– Eu vou guardar seu segredo, Jude. E enviarei uma mensagem a Vivi. Mas não vou trabalhar contra Madoc e você também não. Quero que você prometa.

Como rainha de Elfhame, sou quem Madoc está contra. Me daria tanta satisfação deixar Oriana saber, quando ela pensa tão pouco de mim. É um pensamento mesquinho, seguido pela constatação de que, se Madoc descobrisse, eu estaria com um tipo de problema completamente diferente do que antes. Ele me usaria. Por mais assustada que eu tenha estado, aqui ao lado dele, eu deveria estar com ainda mais medo.

Olho Oriana nos olhos e minto com a maior sinceridade que já fiz. – Eu prometo.

– Bom –, diz ela.  – Agora, por que estava se esgueirando por Elfhame, disfarçada de Taryn?

– Ela me pediu – digo, erguendo as sobrancelhas e esperando que ela entenda.

– Por que ela... – Oriana começa, e então para. Quando fala, parece que está falando principalmente consigo mesma. – Para o inquérito. Ah.

Tomo outro gole do licor de ervas.

– Me preocupei com sua irmã, sozinha naquela Corte –, diz Oriana, as sobrancelhas pálidas se unindo. – A reputação da família em frangalhos e Lady Asha de volta, sem dúvida vendo uma oportunidade de exercer influência sobre os cortesãos, agora que o filho está no trono.

– Lady Asha? – repito, surpresa que Oriana pense nela como uma ameaça para Taryn, especificamente.

Oriana se levanta e junta materiais de escrita. Quando se senta novamente, começa a escrever um bilhete para Vivi. Depois de algumas linhas, ela olha para cima. – Eu nunca imaginei que ela voltaria.

É o que acontece quando as pessoas são jogadas na Torre do Esquecimento. Elas são esquecidas. – Ela era uma cortesã na época em que você era também, não é? – É o mais próximo que posso dizer do que quero dizer, que Oriana também era amante do Grande Rei. E embora nunca tenha lhe dado um filho, tem motivos para conhecer muitas fofocas. Algo que lhe levou a fazer o comentário que fez.

– Sua mãe já foi amiga de Lady Asha, você sabe. Eva tinha grande apreço pela maldade. Não digo isso para machucá-la, Jude. É uma característica que não merece desprezo nem orgulho.

Eu conheci sua mãe. Essa foi a primeira coisa que Lady Asha me disse. Conhecia muitos de seus pequenos segredos.

– Não sabia que tinha conhecido minha mãe – digo.

– Não muito. E obviamente não é o meu local falar sobre ela – diz Oriana.

– Nem eu estou pedindo – retruco, embora eu desejasse que pudesse.

A tinta pinga da ponta da caneta de Oriana antes de ela a pousar e selar a carta para Vivienne. – Lady Asha era bonita e ansiava pelos benefícios do Grande Rei. O namorico deles foi breve, e tenho certeza de que Eldred pensou que ir para cama com ela não daria em nada. Obviamente, ele lamentou que ela tivesse lhe dado um filho, mas a profecia pode ter tido algo a ver com isso.

– Profecia? – Incito rapidamente. Me lembro de Madoc dizendo algo semelhante em relação à sua fortuna quando ele estava tentando me convencer de que deveríamos unir forças.

Ela encolhe os ombros minuciosamente. – O príncipe mais jovem nasceu sob uma estrela desfavorável. Mas ainda era um príncipe e, uma vez que Asha o tinha, seu lugar na Corte era garantido. Ela era uma força imperturbável. Ansiava por admiração. Queria experiências, sensações, triunfos, coisas que exigiam conflito... e inimigos. Ela não deve ter sido gentil com alguém tão sem amigos como sua irmã deve ter sido.

Me pergunto se ela foi cruel com Oriana, alguma vez. – Entendo que ela não cuidou muito bem do Príncipe Cardan. – Penso no globo de cristal nos aposentos de Eldred e na memória presa lá dentro.

– Não era como se ela não o vestisse com veludos ou peles; é que ela os deixava até ficarem esfarrapados. Também não era que ela não lhe desse os pedaços mais deliciosos de carne e bolo; mas ela o esqueceu por tempo suficiente para que ele tivesse que procurar comida sozinho. Acho que ela não o amava, mas acho que não amava ninguém. Ele foi acariciado e alimentado com vinho e adorado, depois esquecido. Mas, apesar de tudo, se ele era mau junto dela, era pior sem ela. Eles são cortes do mesmo tecido.

Estremeço, imaginando a solidão daquela vida, a raiva. Esse desejo por amor.

Não existe banquete farto para um homem faminto.

– Se está buscando por razões pelas quais ele a decepcionou – diz Oriana, – seguindo todas as narrativas, Príncipe Cardan foi uma decepção desde o início.

***

Naquela noite, Oriana solta uma coruja-das-neves com a carta presa em suas garras. Enquanto voa para o céu frio, tenho esperança.

E mais tarde, deitada na cama, planejo como nunca fiz desde o meu exílio. Amanhã, roubarei a chave de Grimsen e, quando partir, levarei Fantasma comigo. Com o que sei sobre os planos e aliados de Madoc e a localização de seu exército, forçarei uma barganha com Cardan para rescindir meu exílio e terminar o inquérito sobre Taryn. Não vou me distrair com cartas que nunca recebi ou com a maneira como ele me olhava quando estávamos sozinhos em seus aposentos ou com as teorias de meu pai sobre suas fraquezas.

Infelizmente, a partir do momento que eu acordo, Oriana não me deixa sair do lado dela. Enquanto ela confia em mim o suficiente para manter meu segredo, não confia em mim o suficiente para me deixar passear pelo acampamento, agora que sabe quem eu realmente sou.

Me dá roupa molhada para estender em frente ao fogo, separar feijões de pedrinhas e cobertores para dobrar. Tento não me apressar nas tarefas. Tento parecer irritada apenas porque parece haver muito trabalho para mim, embora nunca tenha havido tanto trabalho quando eu era Taryn. Não quero que ela saiba como estou frustrada com o passar do dia. Meus dedos coçam querendo roubar a chave de Grimsen.

Finalmente, quando a noite chega, tenho um descanso. – Leve isso para o seu pai – Oriana, colocando uma bandeja com um bule de chá de urtiga, um pacote embrulhado de biscoitos e um pote de geleia para acompanhá-los. – Na tenda dos generais. Ele pediu por você especificamente.


Pego minha capa, na esperança de não parecer claramente ansiosa, quando a segunda metade do que ela diz cai sobre mim. Um soldado está me esperando do lado de fora da porta, aumentando meus nervos. Oriana disse que não contaria a Madoc sobre mim, mas não significa que ela não possa ter me denunciado de alguma forma. E não significa que Madoc não tenha descoberto sozinho.

A tenda dos generais é grande e cheia de todos os mapas que não consegui encontrar em sua tenda. Também está cheio de soldados sentados em bancos de couro de cabra, alguns uniformizados e outros não. Quando entro, alguns deles olham, e então seus olhares deslizam para longe de mim, sendo uma serva.

Pouso a bandeja e sirvo uma xícara, me forçando a não olhar tão avaliativa para o mapa desenrolado a frente deles. É impossível não notar que estão movendo pequenos barcos de madeira através do mar, em direção a Elfhame.

– Perdão – digo, colocando o chá de urtiga na frente de Madoc.

Ele me dá um sorriso complacente. – Taryn –, diz. – Bom. Eu estive pensando que você deveria ter sua própria barraca. Você é viúva, não uma criança.

– Iss... isso é muita gentileza – digo surpresa. É gentil, e ainda assim não posso deixar de me perguntar se é como uma daquelas jogadas de xadrez que parece inofensivo no início, mas que acabam sendo escolhas par dar xeque-mate.

Enquanto toma um gole de chá, ele projeta a satisfação de alguém que obviamente tem assuntos mais importantes para cuidar, mas que tem o prazer de ter a chance de bancar o pai amoroso.

– Prometi que sua lealdade seria recompensada.

Não consigo deixar de ver como tudo o que ele diz e faz pode ser dúbio.

– Venha aqui – Madoc chama um de seus cavaleiros. Um goblin de armadura dourada brilhante que faz uma reverência elegante. – Encontre para minha filha uma tenda e suprimentos para equipá-la. Tudo o que ela precisar. – Então diz para mim. – Esse é Alver. Não seja um tormento muito grande para ele.

Não é costume agradecer feéricos, mas beijo Madoc na bochecha. – Você é bom demais para mim.

Ele bufa, um pequeno sorriso mostrando o canino afiado. Deixo meu olhar vacilar no mapa – e nos modelos de barcos flutuando no mar de papel – mais uma vez antes de seguir Alver pela porta.

Uma hora depois, estou ajeitando uma espaçosa tenda erguida não muito longe da de Madoc. Oriana fica desconfiada quando chego para mudar minhas coisas, mas permite que seja feito. Ela até traz queijo e pão, os colocando na mesa pintada que foi encontrada para mim.

– Não vejo por que ter todo esse trabalho para decorar –, diz ela quando Alver finalmente sai. – Você vai embora amanhã.

– Amanhã? – Repito.

– Recebi notícias da sua irmã. Ela estará aqui perto do amanhecer para buscá-la. Você deve encontra-la fora do acampamento. Há um afloramento de rochas onde Vivi pode esperar com segurança por você. E quando você deixar um bilhete para seu pai, espero que seja convincente.

– Eu farei o meu melhor – Eu.

Ela pressiona os lábios em uma linha fina. Talvez eu deva me sentir grata por ela, mas estou muito irritada. Se ela não tivesse desperdiçado a maior parte do meu dia, minha noite seria muito mais fácil.

Terei que lidar com os guardas de Fantasma. Desta vez, não haverá escapatória deles. – Você vai me dar um pouco do seu papel? – Pergunto, e quando ela concorda, eu também pego um odre.

Sozinha em minha nova tenda, esmago o doce-morte e adiciono um pouco ao vinho para que ele possa infundir por pelo menos uma hora antes de coar os pedaços de vegetais. A quantidade deve ser forte o suficiente para fazê-los dormir por pelo menos um dia e uma noite, mas sem matá-los. Estou ciente, no entanto, de que o tempo para preparar não está a meu favor. Meus dedos se atrapalham, nervos tirando o melhor de mim.

– Taryn? – Madoc varre a aba da minha barraca, me fazendo pular. Ele olha em volta, admirando sua própria generosidade. Então seu olhar volta para mim e faz uma careta. – Está tudo bem?

– Você me surpreendeu – digo.

– Venha jantar com a comitiva – diz ele.

Por um momento, tento inventar uma desculpa, dar algum motivo para eu ficar para trás, para que eu possa escapar para a forja de Grimsen. Mas não posso permitir sua suspeita, não agora, quando minha fuga está tão perto. Decido me levantar de noite, muito antes do amanhecer, e vou então.

E assim janto com Madoc pela última vez. Coloco um pouco de cor nas bochechas e ajeito o cabelo em uma trança nova. E se sou particularmente gentil esta noite, particularmente respeitosa, se ri alto demais, é porque sei que nunca mais farei isso de novo. Eu nunca vou tê-lo se comportando assim comigo novamente. Mas, por uma última noite, ele é o pai que melhor me lembra, aquele cuja sombra que – para o bem ou para o mau – me tornou o que sou.



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10 Comentários

  1. Rafaella25 julho

    Muito obrigada por mais um capítulo, tenho atualizado sua página a cada 5 minutos, rs.
    Aguardando os próximos! :D

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  2. Anônimo25 julho

    como sempre maravilhoso, estou ansiosa pelos próximos capítulos

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  3. Anônimo25 julho

    Muito obrigada por estar traduzindo tão maravilhosamente os capítulos!

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  4. Essa fuga tá cada vez mais complicada, ai ai.
    Obrigada pelo cap.

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  5. Obrigada pela tradução!! Continua 🥰

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  6. Obrigada. Continuaaaa

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  7. li e sai com depressão a

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  8. Eu acho q ele já sabe e só está fazendo joguinhos com ela, é uma pena se for msm pq ela gosta tanto dele,mas infelizmente ele só pensa no trono e no poder.

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