Imagem da capa

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The Queen of Nothing - Capítulo Treze


Acordo com a prensa de uma mão sobre a minha boca. Bato com o cotovelo onde imagino que a pessoa me segurando deve estar e estou satisfeita por ouvir uma inspiração aguda, como se eu tivesse atingido uma parte vulnerável. Há uma risada silenciosa a minha esquerda. Duas pessoas, então. E uma delas não está muito preocupada comigo, o que é preocupante. Pego minha faca debaixo do travesseiro. 

– Jude – diz Barata, ainda rindo.  – Viemos para salvá-la. Gritos acabariam prejudicando o plano.

– Você tem sorte de eu não ter esfaqueado você! – Minha voz sai mais dura do que pretendia, a raiva disfarça o quão aterrorizada eu estava.

– Eu disse para ele tomar cuidado –, diz Barata . Há um som agudo e a luz brilha de uma caixinha, iluminando os planos irregulares do rosto de goblin de Barata. Ele está sorrindo. – Mas ele escutaria? Eu o teria ordenado, se não fosse pela pequena questão de ele ser o Grande Rei.

– Cardan enviou você? – Pergunto.

– Não exatamente – responde Barata, movendo a luz para que eu possa ver a pessoa com ele, a que eu dei uma cotovelada. O Grande Rei de Elfhame, em lã marrom-terra, capa nas costas, de um tecido tão escuro que parece absorver a luz, e espada embainhada ao quadril. Ele não usa coroa na testa, nem anéis nos dedos, nem tinta dourada nas maçãs do rosto. Se parece a cada centímetro um espião da Corte das Sombras, até o sorriso sorrateiro puxando um canto de sua linda boca.

Olhando para ele, me sinto um pouco tonta por causa de uma combinação de choque e incredulidade. – Você não deveria estar aqui.

– Eu disse isso também – continua Barata.  – Sério, sinto falta dos dias em que você estava no comando. Grandes Reis não deviam andar atrás de mulheres por aí como um mero gigolô.

Cardan ri. – Vai um mero gigolô aí?

Deslizo minhas pernas sobre a beira da cama, e sua risada se esvai. Barata vira o olhar para o teto. Fico abruptamente consciente de que estou em uma camisola que Oriana me emprestou, uma que é inteiramente semitransparente.

Minhas bochechas ficam quentes o suficiente de raiva que mal sinto o frio. – Como me acharam? – Andando pela tendo, sinto meu caminho para onde coloco meu vestido e me atrapalho, puxando-o direto sobre minhas roupas de dormir. Enfio minha faca em uma bainha.

Barata lança um olhar para Cardan. – Sua irmã Vivienne. Ela veio ao Grande Rei com uma mensagem da sua madrasta. Ela se preocupou que fosse uma armadilha. Eu estava preocupado de que também fosse uma armadilha. Uma armadilha para ele.Talvez, até para mim.

Foi por isso que eles se esforçaram para me pegar no meu estado mais vulnerável. Mas por que vir? E, considerando todas as coisas depreciativas que minha irmã mais velha disse sobre Cardan, por que ela confiaria isso a ele? – Vivi foi até você?

– Conversamos depois que Madoc levou você do palácio – começa Cardan. – E não encontrei ninguém em sua pequena moradia, exceto Taryn. Todos nós tínhamos muito a dizer um ao outro.

Tento imaginar o Grande Rei no mundo mortal, parado em frente ao nosso complexo de apartamentos, batendo à nossa porta. Que coisa ridícula ele usava? Ele se sentou no sofá irregular e bebeu café como se não desprezasse tudo ao seu redor?

Perdoou Taryn quando não me perdoou?

Penso que Madoc acredita que Cardan deseja ser amado. Parecia um absurdo e parecia ainda mais absurdo agora. Ele encanta a todos, até minhas próprias irmãs. Ele é uma força gravitacional, puxando tudo em sua direção.

Mas não sou tão facilmente atraída agora. Se ele está aqui, é para o seu próprio propósito. Talvez permitir que sua rainha caia nas mãos de seus inimigos seja perigoso para ele. O que significa que tenho poder. Eu só tenho que descobrir e depois encontrar uma maneira de usá-lo contra ele.

– Ainda não posso ir com você –, digo, puxando uma blusa grossa e enfiando o pé em uma bota pesada. – Há algo que tenho que fazer. E algo que preciso que você me dê.

– Talvez você possa se permitir ser resgatada – diz Cardan. – Só uma vez. Mesmo em suas roupas simples, sua cabeça despida de qualquer coroa, ele não pode fingir o quanto cresceu em seu papel real. Quando um rei tenta lhe dar um presente, você não pode recusá-lo.

– Talvez você possa me dar o que eu quero – digo.

– O que? – Barata pergunta. – Vamos por as cartas na mesa, Jude. Suas irmãs e a amiga delas estão esperando com os cavalos. Precisamos ser rápidos.

Minhas irmãs? As duas? E uma amiga – Heather? – Deixou elas virem?

– Elas insistiram e, como sabiam onde você estava, não tínhamos escolha. – Barata está obviamente frustrado com toda a situação. É arriscado trabalhar com pessoas que não têm treinamento. Arriscado ter o Grande Rei agindo como soldado de infantaria. É arriscado ter a pessoa que você está tentando resgatar – que pode ser um traidor – começando a minar seu plano.

Mas isso é problema dele, não meu. Ando e tomo a luz dele, usando-a para encontrar meu odre com vinho. – Isso está dosado com sonífero. Eu ia levar para alguns guardas, roubar uma chave e libertar um prisioneiro. Nós deveríamos escapar juntos.

– Prisioneiro? – Barata repete cautelosamente.

– Vi os mapas na tenda de guerra de Madoc – digo a eles. – Conheço a formação em que ele pretende navegar contra Elfhame e conheço o número de navios. Conheço os soldados neste acampamento e quais Cortes estão ao seu lado. Eu sei o que Grimsen está fazendo em sua forja. Se Cardan me prometer uma passagem segura para Elfhame e tirar meu exílio quando estivermos lá, darei tudo isso. Além disso, você terá o prisioneiro entregue em suas mãos antes que ele possa ser usado contra você.

– Isso se o que você está dizendo for verdade –, diz Barata. – E não nos levando para uma armadilha de Madoc.

– Estou do meu próprio lado –, digo a ele. – Você de todas as pessoas deveria entender isso.

Barata dá uma olhada em Cardan. O Grande Rei está me encarando estranhamente, como se desejasse dizer alguma coisa e se contivesse.

Finalmente, limpa a garganta. – Já que você é mortal, Jude, não posso garantir que vá cumprir com suas promessas. Mas você tem a minha: lhe garanto uma passagem segura. Volte para Elfhame comigo, e eu lhe darei os meios para acabar com seu exílio.

– Os meios para acabar? – Pergunto. Se ele acha que eu não conheço seus truques a ponto de concordar com isso, ele esqueceu tudo o que vale a pena saber sobre mim.

– Volte para Elfhame, diga o que tem a me dizer e seu exílio terminará –, diz ele. – Eu prometo.

Triunfo varre através de mim, seguido de cautela. Ele me enganou uma vez. Ficar à frente dele, lembrando que eu acreditava que sua oferta de casamento foi feita com seriedade, me faz sentir pequena, desleixada e muito, muito mortal. Não posso me deixar enganar novamente.

Aceno com a cabeça. – Madoc está mantendo Fantasma prisioneiro. Grimsen tem a chave que precisamos…

Barata me interrompe. – Você quer libertá-lo? Vamos estripá-lo como um haddock. Mais rápido e muito mais satisfatório.

– Madoc tem seu nome verdadeiro. Ele conseguiu com Locke – digo a eles. – Qualquer que seja o castigo que Fantasma mereça, pode dá-lo quando ele voltar a Corte das Sombras. Mas não a morte.

– Locke? – Cardan ecoa, depois suspira. – Sim, tudo bem. O que temos que fazer?

– Eu estava planejando entrar sorrateiramente na forja de Grimsen e roubar a chave das correntes de Fantasma – digo.

– Vou ajudá-la –, diz Barata, depois se vira para Cardan. – Mas você, senhor, não fará absolutamente nada. Nos espere com Vivienne e as outras.

– Irei junto – começa Cardan. – Você não pode me pedir o contrário.

Barata balança a cabeça. – Posso aprender com o exemplo de Jude, sendo assim. Posso pedir uma promessa. Se formos vistos, se formos comprometidos, prometa voltar para Elfhame imediatamente. Você deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para obter segurança, não importa o quê.

Cardan olha para mim, como se quisesse ajuda. Quando fico em silêncio, ele franze a testa, irritado com nós dois. – Embora eu esteja usando a capa que Mãe Marrow me fez, aquela que vai torcer qualquer lâmina, eu ainda prometo correr, com o rabo entre as pernas. E já que tenho um rabo, isso deve ser divertido para todos. Está satisfeito?

Barata grunhe sua aprovação e saímos da tenda. Um odre cheio de veneno desliza suavemente no meu quadril enquanto deslizamos pelas sombras. Embora seja tarde, alguns soldados se movem entre tendas, alguns se juntam para beber ou jogar dados e enigmas. Alguns cantam em couro uma música tocada em alaúde por um goblin.

Barata se move com perfeita facilidade, deslizando de sombra em sombra. Cardan se move atrás dele, mais silenciosamente do que eu poderia ter imaginado. Não me agrada admitir que ele cresceu melhor na arte de ser sorrateiro do que eu. Poderia fingir que é porque feéricos tem uma habilidade natural, mas suspeito que ele também tenha praticado mais do que eu. Investi pouco em meu aprendizado, embora, para ser justa, eu gostaria de saber quanto tempo ele passou estudando todas as coisas que ele deveria saber para ser governante de Elfhame. Não, esses estudos caíram todos em mim.

Com esses pensamentos ressentidos circulando na minha cabeça, nos aproximamos da forja. Está quieto, suas brasas estão frias. Nenhuma fumaça sai das chaminés de metal.

– Então você viu essa chave? – Barata pergunta, indo a uma janela e limpando a sujeira para tentar espiar através da vidraça.

– É de cristal e está pendurada na parede –, digo em troca, sem ver nada através do vidro embaçado. Está muito escuro por dentro para os meus olhos. – E ele começou a fazer uma nova espada para Madoc.

– Não me importaria de estragar isso antes que coloquem na minha garganta – diz Cardan.

– Procure pela maior de todas –, digo. – Deve ser essa.

Barata me dá uma careta. Não posso ajudar com uma descrição melhor; a última vez que vi, era pouco mais que uma barra de metal.

– Muito grande – insisto.

Cardan bufa.

– E devemos ter cuidado –, digo, pensando na joia em forma de aranha, nos brincos de Grimsen que podem dar ou roubar beleza. – É provável que haja armadilhas.

– Vamos entrar e sair rápido –, diz Barata. – Mas eu me sentiria muito melhor se vocês dois ficassem aqui fora e me deixassem entrar.

Quando nenhum de nós responde, o goblin se agacha para se concentrar na fechadura da porta. Depois de aplicar um pouco de óleo nas engrenagens, a porta se abre silenciosamente.

Eu o sigo para dentro. O luar reflete a neve de tal maneira que até meus pobres olhos mortais podem ver ao redor da forja. Um amontoado de itens – algumas joias, bugigangas pontiagudas, todas empilhadas umas sobre as outras. Uma coleção de espadas repousa sobre uma chapeleira, uma com a alça enrolada como uma cobra. Mas não há como confundir a espada de Madoc. Sobre uma mesa, ainda não afiada ou polida, um trabalho cru. Fragmentos pálidos de raízes descansam ao lado, esperando serem esculpidos e encaixados no cabo.

Levanto a chave de cristal da parede com cuidado. Cardan está ao meu lado, olhando a variedade de objetos. Barata atravessa o chão em direção à espada.

Está no meio do caminho quando um som como o toque de um relógio soa. No alto da parede, duas portas internas se abrem, revelando um buraco redondo. Tudo o que tenho tempo de fazer antes que um jato de dardos dispare é apontar e fazer um som de aviso.

Cardan fica na minha frente, puxando sua capa para cima. As agulhas de metal atingem o tecido, caindo no chão. Por um momento, olhamos um para o outro, de olhos arregalados. Ele parece tão surpreso quanto eu por ter me protegido.

Então, do buraco onde os dardos disparam, surge um pássaro de metal. O bico abre e fecha. – Ladrões! – grita. – Ladrões! Ladrões! 

Lá fora, ouço gritos.

Então vejo Barata do outro lado da sala. Sua pele ficou pálida. Está prestes a dizer algo, seu rosto angustiado, quando cai sobre um dos joelhos. Os dardos devem ter atingido ele. Corro até ele. – Com o que ele foi atingido? Pergunta Cardan.

– Doce-morte – digo. Provavelmente arrancado do mesmo lugar que encontrei na floresta. – Bomba pode ajudá-lo. Ela pode fazer um antídoto.

Espero que ela possa, pelo menos. Espero que haja tempo.

Com uma facilidade surpreendente, Cardan levanta Barata nos braços. – Me diga que este não era o seu plano –, ele implora. – Me diga.

– Não – digo. – Claro que não. – Eu juro.

– Venha então – ele. – Meu bolso está cheio de erva-de-santiago. Podemos voar.

Balanço a cabeça.

Jude – ele avisa.

Não temos tempo para discutir. – Vivi e Taryn ainda estão me esperando. Elas não saberão o que aconteceu. Se eu não for até elas, elas serão pegas.

Posso dizer que ele não tem certeza se deve acreditar em mim, mas tudo o que faz é mover Barata para poder desatar a capa com uma mão. – Tome isto e não pare – ele ordena, sua expressão feroz. Então se dirige para a noite, carregando Barata nos braços.

Parto avançando para a floresta, nem correndo nem me escondendo, exatamente, mas me movendo rapidamente, amarrando a capa dele sobre meus ombros enquanto ando. Olho para trás uma vez e vejo os soldados se agruparem em torno da forja – alguns entrando na tenda de Madoc.

Eu disse que estaria indo até Vivi, mas menti. Vou para caverna. Ainda há tempo, digo a mim mesma. O incidente na forja é uma excelente distração. Se eles estão procurando intrusos lá, não estarão me procurando aqui com Fantasma.

Meu otimismo parece se confirmar quando me aproximo. Os guardas não estão em seus postos. Soltando um suspiro de alívio, eu corro para dentro.

Mas Fantasma não está mais acorrentado. Ele não está lá. Em seu lugar está Madoc, equipado com sua armadura completa.

– Receio que você esteja atrasada –, diz ele. – Tarde demais.

Então ele saca a espada.


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4 Comentários

  1. Rafaella27 julho

    Como um capítulo termina assim? Precisamos urgente da continuação! Kkkkk, please :D x)

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  2. Eu estou Surtando!!! Por favor continua, esta mais que otimo a sua traducao

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    Respostas
    1. Sim, o próximo capítulo vai estar saindo 00:00...

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