Imagem da capa

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The Queen of Nothing - Capítulo Quinze


Me forço a me mover. Passo a passo, cada um fazendo meu lado gritar de dor.

– Pai – diz Vivi. – Fique onde está. Se você tentar impedi-la, tenho muito mais flechas, e esperei metade da minha vida para enterrá-lo.

– Você? – Madoc zomba. – A única maneira de você dar um fim em mim seria por acidente. – Ele passa a mão para abaixa, quebrando a flecha saindo do peito. – Tenha cuidado. Meu exército está logo acima da colina.

– Vá buscá-los, então – diz Vivi, parecendo meio histérica. – Chame todo o seu exército.

Madoc olha na minha direção. Devo ser uma visão, encharcada de sangue, com a mão pressionada do lado. Ele hesita novamente. – Ela não vai conseguir. Me deixe...

Mais três flechas voam em sua direção. Nenhuma delas o atinge, não é uma grande demonstração da pontaria de Vivi. Só espero que ele acredite que a falta de pontaria foi intencional.

Um ataque de tontura me vence. Eu caio sobre um joelho.

– Jude. – A voz da minha irmã vem de perto. Não Vivi. Taryn. Ela ter Cair da Noite empunhada, segurando a espada em uma mão e estendendo a outra em minha direção. – Jude, você tem que se levantar. Fique comigo.

Devo ter parecido que ia desmaiar. – Estou aqui – digo, pegando sua mão, a deixando apoiar meu peso. Cambaleio para frente.

– Ah, Madoc – vem a voz ácida de Grima Mog. – Sua filha me desafiou há apenas uma semana atrás. Agora sei quem ela realmente queria matar.

– Grima Mog – diz Madoc, inclinando a cabeça levemente, indicando respeito. – Não importa como você veio parar aqui, isso não tem nada a ver com você.

– Ah não? – Ela responde, farejando o ar. Provavelmente sentindo o cheiro do meu sangue. Eu deveria ter avisado Vivi sobre ela quando tive a chance, mas, seja lá como ela tenha chegado aqui, fico feliz por isso. – Estou sem trabalho e parece que a Grande Corte precisa de um general.

Madoc parece momentaneamente confuso, sem perceber que ela viajou até aqui com o próprio Cardan. Mas então ele vê sua oportunidade. – Minhas filhas não têm vantagens com a Grande Corte, mas tenho trabalho para você, Grima Mog. Vou enchê-la com recompensas e você me ajudará a ganhar um trono. Apenas passe minhas meninas para mim. – O último foi um rosnado, não realmente na minha direção, mas para todas nós. Suas filhas traidoras.

Grima Mog olha além dele, para onde a massa de seu exército está reunida. Há uma expressão melancólica em seu rosto, provavelmente pensando em suas próprias tropas.

– Suspendeu essa oferta com a Corte dos Dentes? – Cuspo com o olhar trás dele.

A expressão de Grima Mog endurece.

Madoc lança um olhar irritado em minha direção que se transforma em outra coisa, algo com um pouco mais de tristeza. – Talvez você prefira vingança como recompensa. Mas eu poderia dar a vocês os dois. Apenas me ajude.

Eu sabia que ele não gostava de Nore e Jarel.

Mas Grima Mog balança a cabeça. – Suas filhas me pagaram em ouro para protegê-las e lutar por elas. E pretendo fazer exatamente isso, Madoc. Há muito tempo me pergunto qual de nós prevaleceria na batalha. Vamos descobrir?

Ele hesita, olhando para a espada de Grima Mog, para o grande arco preto de Vivi, para Taryn e Cair da Noite. Finalmente, olha para mim.

– Me Deixe levá-la de volta ao acampamento, Jude – diz Madoc. – Você está morrendo.

Balanço a cabeça. – Vou ficar aqui.

– Adeus, então, filha – diz Madoc. – Você teria dado um bom soldado.

Com isso, ele se afasta através da neve, nunca dando as costas para nós. Eu o observo, aliviada demais com a retirada dele para ficar com raiva por ele ser a razão de eu sentir tanta dor. Estou cansada demais para raiva. Ao meu redor, a neve parece macia, como camas de plumas amontoadas. Me imagino deitando sobre, fechando os olhos.

– Acorda – diz Vivi para mim. Soa um pouco como se estivesse implorando. – Temos que levá-la de volta ao nosso acampamento, onde estão os outros cavalos. Não é muito longe.

Meu lado está pegando fogo. Mas tenho que me mexer. – Me costurem – digo, tentando me livrar da letargia rasteira. – Me costurem aqui mesmo.

– Ela está sangrando – diz Taryn. – Muito.

Sou tomada com uma certeza aborrecida de que, se nada for feito agora, não restará nada a se fazer. Madoc está certo. Vou morrer aqui, na neve, na frente das minhas irmãs. Vou morrer aqui, e ninguém nunca saberá que uma vez as fadas tiveram uma Rainha Mortal.

– Encha a ferida com terra e folhas e depois costure – digo. Minha voz soa como se estivesse vindo de longe, e não tenho certeza se está fazendo algum sentido. Mas me lembro de Bomba falando sobre como o Grande Rei está ligado à terra, como Cardan teve que recorrer a ela para se curar. Lembro que ela o fez tomar um bocado de barro.

Talvez eu possa me curar também.

– Você terá uma infecção – diz Taryn. – Jude...

– Não tenho certeza de que vá funcionar. Eu não sou mágica – digo a ela. Sei que estou deixando partes de fora. Sei que não estou explicando isso da maneira certa, mas tudo vem ficando um pouco impaciente. – Mesmo que eu seja a verdadeira rainha, a terra pode não ter nada a ver comigo.

– A verdadeira rainha? – Taryn repete.

– Porque ela se casou com Cardan – diz Vivi, parecendo frustrada. – É disso que ela está falando.

– O que? – diz Taryn, atônita. – Não.

Então a voz de Grima Mog vem. Rude e áspera. – Ande logo. Você a ouviu. Embora ela deva ser a criança mais tola que já nasceu para se meter nessa situação.

– Não entendo – diz Taryn.

– Não cabe a nós questionarmos, não é? – diz Grima Mog. – Se a Grande Rainha de Elfhame nos der uma ordem, nós a fazemos.

Agarro a mão de Taryn.

– Você é boa em bordado – digo com um gemido. – Me costure. Por favor.

Ela assente, parecendo um pouco chocada.

Não posso fazer nada além de esperar enquanto Grima Mog tira a capa de seus próprios ombros e a espalha na neve. Me deito e tento não tremer enquanto rasgam o meu vestido para expor a lateral do meu corpo.

Ouço alguém respirar fundo.

Olho para o céu do amanhecer e me pergunto se Fantasma chegou ao Palácio de Elfhame. Me Lembro do gosto dos dedos de Cardan pressionados contra a minha boca quando uma nova dor floresce ao meu lado. Mordo um grito e depois outro enquanto a agulha escava a ferida. Nuvens sopram por cima.

– Jude? – A voz de Taryn a faz parecer que está tentando lutar contra as lágrimas. – Você vai ficar bem, Jude. Eu acho que está funcionando.

Mas se está funcionando, por que ela soa assim?

– Não estou... – Consigo dizer a palavra. Me forço a sorrir. – Preocupada.

– Oh, Jude – diz ela. Sinto uma mão na minha testa. Está tão quente, o que me faz pensar que devo estar com muito frio.

– Em todos os meus dias, nunca vi nada disso – diz Grima Mog em voz baixa.

– Ei – diz Vivi, sua voz vacilante. Não soa como ela mesma. – A ferida está fechada. Como você está se sentindo? Porque algumas coisas estranhas estão acontecendo.

Minha pele tem a sensação de ser picada por urtigas, mas a dor fresca e quente se foi. Eu posso me mover. Rolo para o meu lado bom e depois me ajoelho. A lã embaixo de mim está encharcada de sangue. Muito mais sangue do que estou pronta para acreditar que veio de mim.

E ao redor das bordas da capa, vejo pequenas flores brancas empurrando a neve, a maioria ainda brota, mas algumas desabrocham quando olho. Olho, sem saber o que estou vendo.

E então, quando eu entendo, não consigo entender.

As palavras de Baphen sobre o Grande Rei vêm a mim: quando seu sangue Derrama, as coisas crescem.

Grima Mog fica sobre um joelho. – Minha rainha – diz ela. – Me comande.

Não acredito que ela está falando essas palavras para mim. Não acredito que a terra me escolheu.

Tinha me convenci de que estava fingindo ser a Grande Rainha, do jeito que eu fingia ser senescal.

Um momento depois, tudo o resto volta rugindo. Me forço a ficar de pé. Se não me mover agora, nunca chegarei lá a tempo. – Eu tenho que chegar ao palácio. Você pode cuidar de minhas irmãs?

Vivi me fixa com um olhar severo. – Você mal consegue ficar de pé.

– Eu vou levar o pônei de erva-de-santiago. – Eu aceno em direção a ele. – Vocês seguem com os cavalos que tem no acampamento.

– Onde está Cardan? O que aconteceu com aquele goblin com quem ele estava viajando? – Vivi parece pronta para gritar. – Eles deveriam cuidar de você.

– O goblin se chama Barata – lembra Taryn.

– Ele foi envenenado – digo, dando alguns passos. Meu vestido está aberto ao lado, o vento soprando neve contra a minha pele nua. Me forço a ir ao cavalo, tocar sua crina rendada. – E Cardan teve que se apressar para conseguir o antídoto. Mas ele não sabe que Madoc enviou Fantasma atrás dele.

– O Fantasma – repete Taryn.

– É ridículo a maneira como todos agem como se matar um rei irá tornar alguém melhor em ser um – diz Vivi. – Imagine se, no mundo mortal, um advogado passasse no tribunal matando outro advogado.

Não tenho ideia do que minha irmã está falando. Grima Mog me lança um olhar compreensivo e enfia a mão na jaqueta, puxando um pequeno frasco com rolha. – Tome uma gole disso – ela diz para mim. – Isso lhe ajudará a continuar.

Eu nem me incomodo em perguntar a ela o que é. Estou muito além disso. Eu apenas tomo um longo gole. O líquido queima na garganta, me fazendo tossir. Com isso queimando na minha barriga, me lanço sobre a parte traseira do cavalo.

– Jude – diz Taryn, colocando a mão na minha perna. – Você tem que ter cuidado para não puxar os pontos. – Quando eu aceno, ela tira a bainha da cintura e a passa para mim. – Tome Cair da Noite – diz ela.

Já me sinto melhor com uma arma na mão.

– Nos vemos lá – alerta Vivi. – Não caia do cavalo.

– Obrigado – digo, estendendo minhas mãos. Vivi pega uma, e então Taryn aperta a outra. Eu aperto.

Enquanto o pônei adentra o ar gelado, vejo as montanhas abaixo de mim, junto com o exército de Madoc. Olho para minhas irmãs, correndo pela neve. Minhas irmãs, que, apesar de tudo, vieram atrás de mim.


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4 Comentários

  1. Rafaella28 julho

    Aguardando o próximo! :D :D :D

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  2. Para a infelicidade dos invejosos, Jude tem um pouco de magia bem. Deu até um alívio ela ser curada, um tombo para quem não tava crendo que era rainha.

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  3. uma rainha literalmente nascida do nada, com magia e tudo

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