Imagem da capa

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The Queen of Nothing - Capítulo Vinte e Sete

Os dedos de Cardan se cravam em minhas costas. Ele está tremendo e, se é por mágica ou horror, não tenho certeza. Mas ele me abraça como se eu fosse a única coisa que existisse no mundo.

Soldados se aproximam, e Cardan solta-se abruptamente. Sua mandíbula enrijecesse. Ele acena para um cavaleiro que oferece seu manto, apesar de estar revestido apenas com sangue.

– Não uso nada há dias – diz o Grande Rei, e se há alguma fragilidade em seus olhos, todos estão impressionados demais para notar. – Não vejo por que devo começar agora.

– Modéstia? – Forço, entrando na dele, surpresa que possa brincar sobre a maldição, ou qualquer coisa.

Ele me dá um sorriso deslumbrante e despreocupado. O tipo de sorriso que você pode se esconder atrás. – Cada parte de mim é uma delícia.

Meu peito dói, olhando para ele. Sinto que não consigo respirar. Embora ele esteja a minha frente, a dor de perdê-lo não desapareceu.

– Vossa Majestade – diz Grima Mog, se dirigindo a mim. – Tenho a licença para acorrentar seu pai?

Hesito, pensando no momento em que o confrontei com a rédea dourado. Você já ganhou.

– Sim – diz Cardan. – Prenda-o.

[p]Uma carruagem é trazida, rodas balançando sobre as rochas. Grima Mog grita ordens. Dois generais fecham algemas nos pulsos e tornozelos de Madoc, as pesadas correntes retinindo com o menor movimento. Arqueiros mantêm flechas apontadas para ele enquanto o levam embora.[/p][p]Seu exército está se rendendo, prestando juramentos de submissão. Ouço o zumbido de asas, o barulho de armaduras e gritos dos feridos. Barretes vermelhos renovando o pigmento de seus capuzes. Alguns feéricos comemoram entre os mortos. Há fumaça no ar, misturando-se com os aromas do mar, sangue e musgo. As consequências de uma breve batalha são a queda de adrenalina, ataduras e festa dos vencedores.[/p][p]A festa já havia começado no palácio e durará muito mais tempo do que a luta.[/p] [p]Dentro da carruagem, Cardan afunda-se. Olho para ele, para o sangue secando nas linhas de seu corpo e criando crostas em seus cachos como granadas pequenas. Me forço a olhar pela janela.[/p] [p]– Por quanto tempo eu... – Ele hesita.[/p] [p]– Nem mesmo três dias – digo a ele. – Quase nada. Não menciono quanto tempo pareceu.[/p][p]Nem digo como ele poderia ter ficado preso como serpente por todo o tempo, preso e amarrado. Ou morto.[/p] [p]Ele poderia estar morto.[/p][p]Então a carruagem se aproxima, e nós somos entregues. Criados trouxeram uma enorme capa de veludo para Cardan, e desta vez ele a aceita, envolvendo-a em seus ombros enquanto percorremos os frios corredores subterrâneos.[/p] [p]– Talvez você queira tomar banho – diz Randalin, um pressentimento compreensível.[/p][p]– Eu quero ver o trono – diz Cardan.[/p][p]Ninguém pretende contradizê-lo.[/p][p]O grande salão está cheio de mesas viradas e frutas podres. Uma rachadura corre pelo chão até o trono partido, com suas flores murchas. Cardan abre as mãos e a terra se cura ao longo da fenda, rochas e pedras borbulham preenchendo a fenda novamente. Então torce os dedos, e o trono partido cresce novamente, florescendo com espinhos, brotando dois tronos separados, onde havia apenas um.[/p][p]– Gostou? – ele me pergunta, o que parece um pouco como perguntar se alguém gosta da coroa de estrelas que conjurou do céu.[/p][p]– Impressionante – engasgo.[/p][p]Aparentemente satisfeito, ele finalmente permite que Randalin nos guie para os aposentos reais, cheias de servos, generais e a maioria do Conselho. Um banho é preparado para o Grande Rei. Uma jarra de vinho é trazida, juntamente com um cálice cravado de cabochões. Fala canta uma música sobre o rei das cobras, e Cardan parece encantado e horrorizado com tudo isso.[/p][p]Não querendo tirar minha armadura na frente de todo esses feéricos, e pegajosa de sangue, saio e vou para meus antigos aposentos.[/p][p]Mas quando chego, encontro Heather. Ela se levanta do sofá, segurando um livro grosso. O rosa do seu cabelo está desbotado, mas tudo o mais nela parece vibrante. – Parabéns, se isso não é algo muito estranho de se dizer. Não sei como falar de lutas, mas ouvi dizer que você venceu.[/p][p]– Nós vencemos – confirmo, e sorrio.[/p][p]Ela puxa um fio duplo de bagas de rowan muito mal amarradas em volta do pescoço. – Vee me fez isso. Para o pós-festa. – Heather parece notar o que estou vestindo pela primeira vez. – Esse sangue não é o seu.[/p][p]– Não. Estou bem. Apenas nojenta.[/p][p]Ela assente lentamente.[/p][p]– E Cardan – digo. – Ele também está bem.[/p][p]O livro cai das mãos delas, no sofá. – Ele não é mais uma cobra gigante?[/p][p]– Não – digo. – Mas acho que posso estar hiperventilando. É assim que vocês chamam, não é? Respirando muito rápido. Tonta.[/p][p]– Ninguém neste lugar sabe alguma coisa sobre medicina humana, sabe? – Ela se aproxima e começa a trabalhar na minha armadura. – Vamos tirar isso de você e ver se ajuda.[/p][p]– Fale comigo – digo. – Me conte outro conto de fadas. Me conte algo.[/p][p]– Tudo bem – diz ela, tentando descobrir como desfazer a armadura. – Eu segui seu conselho e conversei com Vee. Finalmente. Eu disse a ela que não queria que minhas memórias fossem tiradas e que lamentava ter deixado ela fazer a promessa.[/p][p]– Ela ficou feliz? – Ajudo Heather com um dos fechos.[/p][p]– Tivemos uma briga enorme. Gritamos uma com a outra – diz ela. – Com muito choro também.[/p][p]– Ah – digo.[/p][p]– Se lembra do conto de fadas com a cobra que tem pais corujas e se casa com a princesa?[/p][p]– Corujas? – Repito. Adormeci no final, então talvez eu tenha perdido essa parte.[/p][p]– Quando a pele de cobra do rapaz foi queimada, a princesa teve que recuperá-lo indo em uma missão. Bem, disse a Vee que ela teria que ir em uma missão. Ela vai ter que me encontrar de novo e fazer certo desta vez. Me dizer a verdade desde o início. E me convencer a amá-la.[/p][p]– Droga. – A última peça da armadura sai, batendo no chão, e percebo que a conversa dela me distraiu o suficiente para minha respiração voltar ao normal. – Isso é um caso sério nos conto de fadas. Uma missão.[/p][p]Heather estende a mão para pegar a minha. – Se ela conseguir, todas as minhas memórias voltam. Mas se não, então esta noite é a última vez que vou ver você.[/p][p]– Espero que você beba a adega toda na festa – digo para ela, puxando-a para um abraço apertado. – Mas mais do que isso, espero que Vee seja boa o suficiente para ganhar sua mão novamente.[/p][p]A porta se abre e Oriana entra. Ao me ver, ela parece em pânico. Imediatamente, se curva, pressionando a testa quase no chão.[/p][p]– Você não precisa fazer isso – digo, e ela me olha com um olhar penetrante. Posso ver que ela tem muitas repreensões sobre o meu comportamento como Grande Rainha, e há um momento de grande satisfação que ela não possa me dizer nenhuma sem quebrar suas próprias regras do que é apropriado.[/p][p]Ela se levanta da reverencia. – Espero que você conceda misericórdia ao seu pai. Pelo bem de seu irmão, se não por você.[/p][p]– Eu já fui misericordiosa – digo, e tirando minha armadura, corro para o corredor.[/p][p]Eu não deveria ter deixado os aposentos reais. Foi um impulso antigo, deixar Cardan governar enquanto eu operava nas sombras. E foi um alívio estar longe de todos aqueles olhos fixos. Mas longe de Cardan, tudo assumiu um tom de irrealidade, e me preocupo que de alguma forma a maldição nunca tenha sido quebrada, que tudo isso seja a fantasia de uma mente febril. Corro apressadamente pelo corredor, vestindo apenas o gibão acolchoado e as partes de baixo da armadura.[/p][p]Quando volto, descubro que Cardan se foi, junto com todos os dignitários. A água do banho ainda está quente e ainda há velas acesas, mas o quarto está vazio.[/p][p]– Eu abasteci novamente – diz Tatterfell, saindo de onde eu não sei e me assustando. – Entre. Você está uma bagunça.[/p][p]– Onde está Cardan? – Pergunto, começando a tirar as últimas peças de roupa.[/p][p]– No salão. Onde mais? – diz ela. – Você é quem está atrasada. Mas como o herói da às horas, isso é bom. Vou deixá-la incrivel.[/p][p]– Parece muito trabalho da sua parte – digo a ela, mas entro obedientemente na banheira, mexendo pétalas de prímula flutuando. A água quente faz bem aos meus músculos doloridos. Me deixo afundar embaixo dela. O problema de passar por uma situação terrível e grande é que, depois, você fica sentindo todos os sentimentos que evitou e afastou. Por muitos dias, fiquei aterrorizada e agora, quando deveria estar me sentindo ótima, o que eu quero fazer é me esconder debaixo de uma mesa no palácio com Cardan até que eu possa finalmente me convencer de que ele está bem.[/p][p]E talvez beijando ele, se ele estiver disposto.[/p][p]Me afasto da água e tiro meus cabelos dos olhos. Tatterfell me entrega um pano. – Esfregue o sangue dos nós dos dedos – ela instrui.[/p][p]Mais uma vez, ela trança meu cabelo em chifres, desta vez com fios de ouro. Ela traz uma túnica de veludo e bronze para mim. Por cima, veste um casaco de couro e bronze com gola alta e um tipo de capa que sopra o mais leve vento. E por último, luvas de bronze com braceletes largos.[/p][p]Vestida com tanta elegância, teria sido difícil passar despercebida, mesmo que as trombetas não soassem na minha entrada.[/p] [p]– A Grande Rainha de Elfhame, Jude Duarte – anuncia uma fada em voz alta.[/p][p]Encontro Cardan, sentado na extremidade da mesa principal. Mesmo do outro lado do salão, posso sentir a intensidade do seu olhar.[/p][p]Longas mesas foram preparadas para um banquete adequado. Cada prato está cheio de comida: grandes globos de frutas, avelãs, pão recheado de tâmaras. Hidromel perfuma o ar.[/p][p]Posso ouvir artistas competindo para conseguir as letras ideais para suas novas composições, muitas delas em homenagem ao rei das serpentes. Contudo, pelo menos uma é em minha homenagem:[/p] [p]Nossa rainha embainhou a espada e fechou os olhos,[/p][p]E disse: "Eu pensei que a cobra fosse maior."[/p] [p]Uma nova leva de criados vem das cozinhas, carregando bandejas amontoadas com carne branca em diferentes preparos – grelhadas e escalfadas em óleo, assadas e cozidas. Demoro um momento para reconhecer o que estou vendo. É carne de serpente. Carne cortada do corpo da enorme serpente que havia sido seu Grande Rei e poderia lhes dar um pouco de sua magia. Olho para a carne e sinto a desorientação avassaladora de ser mortal. Algumas tradições das fadas nunca vão deixar de me horrorizar.[/p][p]Espero que Cardan não se incomode. Certamente, ele parece alegre, rindo enquanto os cortesãos amontoam seus pratos.[/p] [p]– Eu sempre achei que eu seria delicioso – eu o ouço dizer, embora note que ele não pega nada da carne para si.[/p] [p]Mais uma vez, imagino me esgueirando para debaixo da mesa e me escondendo, como fazia quando criança. Como fiz depois da Coroação Sangrenta, com ele.[/p][p]Mas, em vez disso, vou até a mesa principal e encontro meu lugar, que está, é claro, na extremidade oposta. Encaramos um ao outro através da longa mesa de prata, com tecidos e velas.[/p][p]Então ele se levanta e, por toda o salão, feéricos se calam. – Amanhã devemos lidar com tudo o que nos aconteceu – diz ele, erguendo uma taça. – Mas hoje à noite vamos lembrar do nosso triunfo, do nosso truque e do nosso prazer uns pelos outros.[/p] [p]Todos nós brindamos a isso.[/p] [p]Há músicas – uma variedade aparentemente interminável de músicas – e pratos suficientes para que até uma mortal como eu possa comer até me encher. Observo Heather e Vivi caminharem através das mesas para dançar. Vejo Barata e Bomba, sentados nas sombras dos tronos reformados. Ele está jogando uvas na boca dela e nunca erra, nem uma vez. Grima Mog está discutindo algo com lorde Roiben, metade do prato coberto de cobra e outra coberta com outra carne que não reconheço. Nicasia está sentada em um lugar de honra, não muito longe da mesa principal, com seus súditos à sua volta. Vejo Taryn perto dos músicos, contando uma história, gesticulando suas mãos varias vezes. Também vejo Fantasma, observando-a.[/p] [p]– Vosso perdão – alguém diz, e vejo o ministro das Chaves, Randalin, no ombro de Cardan.[/p][p]– Conselheiro – diz Cardan, recostando-se na mesa, sua postura é lânguida, de alguém que já está em seus vários copos. – Estava esperando um desses bolinhos de mel? Eu poderia tê-los passado pela mesa.[/p] [p]– Há o problema dos prisioneiros... Madoc, seu exército, o que resta da Corte dos Dentes – diz Randalin. – E muitos outros assuntos que esperávamos abordar com você.[/p] [p]– Amanhã – insiste Cardan. – Ou depois de amanhã. Ou talvez na próxima semana. – E com isso, se levanta, toma um gole longo do cálice, coloca-o sobre a mesa e caminha até onde estou sentada.[/p][p]– Vai dançar? – ele pergunta, apresentando sua mão.[/p] [p]– Você deve se lembrar que eu não sou particularmente talentosa nisso – digo, levantando-me. A última vez que dançamos foi na noite da coroação do príncipe Dain, pouco antes de tudo dar errado. Ele estava muito, muito bêbado.[/p][p]Você me odeia mesmo, não é? ele perguntou.[/p] [p]Quase tanto quanto você me odeia, retruquei.[/p][p]Ele me leva até onde os violinistas estão estimulando todos a dançar cada vez mais rápido, a girar, girar e pular. Suas mãos cobrem as minhas.[/p][p]– Não sei pelo que me desculpar primeiro – digo. – Cortar sua cabeça ou hesitar por tanto tempo. Não queria perder o pouco que restava de você. E não consigo imaginar o quão maravilhoso é que você esteja vivo.[/p] [p]– Você não sabe quanto tempo esperei para ouvir essas palavras. Você não me quer morto.[/p][p]– Se está brincando com isso, eu vou...[/p] [p]– Me matar? – pergunta, erguendo as duas sobrancelhas negras.[/p][p]Acho que posso odiá-lo, afinal.[/p][p]Então Cardan toma minhas mãos nas dele e me afasta dos outros dançarinos, em direção à passagem secreta que ele me mostrou antes, atrás do trono. É como eu me lembro, suas paredes grossas de musgo, um sofá baixo repousando sob cogumelos delicadamente brilhantes.[/p][p]– Só sei ser cruel ou rir quando estou desorientado – diz ele, e se senta no sofá.[/p][p]Eu o solto e continuo de pé. Prometi a mim mesmo que faria isso, se tivesse a chance novamente. Prometi que faria isso no primeiro momento que pudesse.[/p][p]– Eu te amo – digo, as palavras saindo em uma corrida ininteligível.[/p][p]Cardan parece surpreso. Ou possivelmente disse tão rápido que ele nem tenha certeza do que eu disse. – Você não precisa dizer por pena – diz ele finalmente, com grande deliberação. – Ou porque eu estava amaldiçoado. Pedi que você mentisse para mim no passado, nesta mesma sala, mas imploraria para que não mentisse agora.[/p][p]Minhas bochechas esquentam com a lembrança das mentiras.[/p][p]– Não me fiz fácil de amar – diz ele, e ouço o eco das palavras de sua mãe nas dele.[/p][p]Quando imaginei contar a ele, pensei em dizer as palavras, e seria como fazer um curativo – doloroso e rápido. Mas não achei que ele duvidaria de mim. – Comecei a gostar de você quando fomos conversar com os dirigentes das cortes menores – digo. – Você era engraçado, o que era estranho. E quando fomos para Hollow Hall, você foi inteligente. Não parava de me lembrar de que foi você quem nos tirou do salão após a coroação de Dain, logo antes de colocar a faca na sua garganta.[/p][ p]Ele não tenta interromper, então não tenho escolha a não ser continuar.[/p][p]– Depois que eu o induzi a ser o Grande Rei – eu digo. – Pensei que, uma vez que você me odiasse, eu poderia voltar a odiá-lo. Mas eu não consegui. E me senti tão estúpida. Pensei que teria meu coração partido. Pensei que era uma fraqueza que você usaria contra mim. Mas então você me salvou da Corte Submarina, quando teria sido muito mais conveniente me deixar apodrecer. Depois disso, comecei a esperar que meus sentimentos fossem recíprocos. Mas depois houve o exílio… – Respiro irregularmente. – Eu escondi tudo, acho. Pensei que se não o reprimisse, se me deixasse amar você, queimaria como uma faísca. Como toda a caixa de fósforos.[/p][p]– Mas agora você explicou – diz ele. – E você me ama.[/p][p]– Eu te amo – confirmo.[/p][p]– Porque eu sou inteligente e engraçado – diz ele sorrindo. – Você não mencionou minha beleza.[/p][p]– Ou a sua delícia – digo. – Embora essas sejam boas qualidades.[/p][p]Ele me puxa para ele, de modo que nós dois estamos deitados no sofá. Olho para a escuridão de seus olhos e a suavidade de sua boca. Limpo uma mancha de sangue seco da parte superior de uma orelha pontuda. – Como foi? – pergunto. – Ser uma serpente.[/p][p]Ele hesita. – Era como estar preso no escuro – diz ele. – Eu estava sozinho, e meu instinto foi atacar. Talvez eu não fosse inteiramente um animal, mas também não era eu mesmo. Não conseguia raciocinar. Havia apenas sentimentos... ódio, terror e desejo de destruir.[/p][p]Começo a falar, mas ele me para com um gesto. – E você. – Ele olha para mim, seus lábios se curvando em algo que não é um sorriso; é mais ou menos que isso. – Eu sabia pouco, mas sempre reconheça você.[/p][p]E quando ele me beija, sinto como se finalmente pudesse respirar novamente.[/p]


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