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The Queen of Nothing - Capítulo Vinte e Um

Uma batida na porta me leva a buscar um dos roupões de Cardan e colocá-lo desajeitadamente sobre a camisa em que dormi. Antes de eu chegar, ela se abre, e Randalin entra. – Minha senhora – diz, e há um tom frágil e acusador em sua voz. – Temos muito o que discutir.

Puxo o roupão com mais força ao meu corpo. O conselheiro devia saber que Cardan não estava comigo para entrar assim, mas não lhe darei a satisfação de perguntar sobre o paradeiro de Cardan.

Não consigo deixar de lembrar as palavras de bomba: você é a Grande Rainha de Elfhame. Aja como tal.

É difícil, no entanto, não se envergonhar por estar quase despida, com cabelo bagunçado e mau hálito. É difícil projetar dignidade no momento. – Sobre o que possivelmente temos que conversar? – Administro, minha voz o mais fria que consigo.

Bomba provavelmente diria que eu deveria tirá-lo daqui pela orelha.

O duende se ergue, parecendo estufado com sua própria importância. Me olha com os olhos severos de bode por trás dos óculos de aros redondos. Seus chifres de bode são encerados com um grande brilho. Ele vai até o sofá baixo e se senta.

Vou para a porta, abrindo-a para encontrar dois cavaleiros que não conheço. Não é a guarda completa de Cardan, é claro. Estariam com ele. Não, aqueles que estão à frente da porta provavelmente são os menos favorecidos de sua guarda e mal equipados para impedir um membro do Conselho irritado. No entanto, do outro lado do corredor, vejo Fand. Quando me vê, ela vem em alerta.

– Tem outra mensagem para mim? – Pergunto.

Fand balança a cabeça.

Eu me viro para a guarda real. – Quem deixou o conselheiro entrar aqui sem minha permissão? – Exijo. O alarme ilumina seus olhos, e um começa a responder.

– Eu disse a eles para não permitirem – Fand interrompe. – Você precisa de alguém para proteger vossa pessoa e sua porta. Deixe-me ser sua cavaleira. Você me conhece. Você sabe que eu sou capaz. Estive esperando aqui, esperando…

Me lembro de meu próprio desejo de um lugar na casa real, a ser escolhida como parte da guarda pessoal de uma das princesas. E também entendo por que ela provavelmente não seria escolhida antes. Ela é jovem e – todas as evidências sugerem – fraca.

– Sim – digo. – Eu gostaria disso. Fand, considere-se a primeira de minha guarda. – Nunca tendo tido minha própria guarda antes, me encontro um pouco sem saber o que fazer com ela agora.

– Por carvalhos e cinzas, espinhos e sorvas, prometo servi-la lealmente até a minha morte – diz ela, o que parece precipitado. – Agora, gostaria que eu escoltasse o conselheiro para fora de seus apartamentos?

– Isso não será necessário. – Balanço a cabeça, embora imaginar isso me dê uma satisfação real, e não tenho certeza se mantive o sorriso fora do meu rosto ao pensar nisso. – Por favor, envie um mensageiro a meus antigos aposentos e veja se Tatterfell pode trazer algumas das minhas coisas. Enquanto isso, falarei com Randalin.

Fand passa por mim – Sim, Majestade – diz, levando o punho ao coração.

Com a esperança de novas roupas em breve, pelo menos, volto para dentro. Me sento no braço do sofá oposto e observo o conselheiro mais contemplativo. Ele me emboscou aqui para me provocar de alguma maneira. – Muito bem – digo com isso em mente. – Fale.

[p]– Os governantes das Cortes Menores começaram a chegar. Alegam terem vindo para testemunhado o desafio de seu pai e fornecer ajuda ao Grande Rei, mas esse não é todo o motivo de estarem aqui. – Ele parece amargo. – Vieram para farejar fraqueza.[/p] [p]Franzo a testa. – Eles juraram pela coroa. A lealdade deles está ligada a Cardan, quer queiram ou não.[/p] [p]– Mesmo assim – continua Randalin, – com a Corte Submarina incapaz de enviar suas forças, estamos mais dependentes deles do que nunca. Não gostaríamos que as cortes menores concedessem sua lealdade apenas de má vontade. E quando Madoc chegar – em poucos dias – ele tentará explorar quaisquer dúvidas. Você criou essas dúvidas.[/p][p]Ah. Agora sei do que se trata.[/p] [p]Ele continua. – Elfhame nunca teve uma Rainha Mortal. E não deveria haver um agora.[/p] [p]– Realmente espera que eu desista de um poder tão grande quanto você diz? – Pergunto.[/p] [p]– Você era uma boa senescal – diz Randalin, me surpreendendo. – Você se importa com Elfhame. Por isso imploro que renuncie ao seu título.[/p][p]É nesse momento que a porta se abre.[/p] [p]– Nós não chamamos por você e não precisamos de você! – Randalin começa, claramente pretendendo dar a algum servo – provavelmente Fand – insultos que deseja direcionar à minha pessoa. Então ele empalidece e se levanta.[/p] [p]O Grande Rei está na porta. As sobrancelhas dele se erguem e um sorriso malicioso puxa o canto da boca. – Muitos pensam isso, mas poucos são ousados o suficiente para dizer na minha cara.[/p] [p]Grima Mog está atrás dele. A barrete vermelho está carregando uma terrina fumegante. O cheiro vem até mim, fazendo meu estômago roncar.[/p][p]Randalin engasga. – Vossa Majestade! Grande vergonha é a minha. Meus comentários inapropriados nunca foram direcionados a você. Pensei que você... – Ele se interrompe e recomeça. – Eu fui tolo. Se você deseja me castigar...[/p] [p]Cardan interrompe. – Por que não me diz o que estavam discutindo? Não tenho dúvida de que você prefere as respostas sensatas de Jude às minhas bobagens, mas me diverte ouvir sobre questões de estado.[/p] [p]– Eu estava apenas pedindo que ela considerasse a guerra que seu pai está trazendo. Todos devem fazer sacrifícios. – Randalin olha para Grima Mog, que pousa a terrina em uma mesa próxima e depois para Cardan novamente.[/p] [p]Eu poderia avisar Randalin que ele deveria ter medo da maneira que Cardan está lhe olhando.[/p] [p]Cardan se vira para mim, e um pouco do calor de sua raiva ainda está em seus olhos. – Jude, poderia dar a mim e ao conselheiro um momento a sós? Tenho algumas coisas que eu gostaria que ele considerasse. E Grima Mog trouxe sopa para você.[/p] [p]– Não preciso que ninguém me ajude a dizer a Randalin que esta é minha casa e minha terra e que não vou a lugar nenhum e não abdico nada.[/p][p]– E, no entanto – diz Cardan, apertando a mão na nuca do conselheiro – ainda há algumas coisas que direi a ele.[/p] [p]Randalin permite que Cardan o leve a um dos outros espaços reais. A voz de Cardan fica baixa o suficiente para eu não entender as palavras, mas a ameaça sedosa de seu tom é inconfundível.[/p][p]– Venha comer – diz Grima Mog, colocando uma sopa em uma tigela. – Isso a ajudará a se curar.[/p] [p]Cogumelos flutuam ao longo da parte superior, quando empurro a colher, alguns flutuam, junto com o que pode ser carne. – O que é isso, exatamente?[/p][p]A barrete vermelho bufa. – Sabia que deixou sua faca no meu beco? Decidi devolvê-la. A procurei pela vizinhança. – Ela me dá um sorriso malicioso. – Mas você não estava em casa. Somente sua adorável gêmea, que tem boas maneiras e me convidou para tomar chá e bolo, me contou muitas coisas interessantes. Você deveria ter me contado mais. Talvez pudéssemos ter chegado a um acordo mais cedo.[/p] [p]– Talvez – digo. – Mas e a sopa...[/p] [p]– Meu paladar é exigente, mas tenho uma grande variedade de gostos culinários. Não seja tão mimada – ela me diz. – Beba. Você precisa de um pouco de força emprestada.[/p] [p]Tomo um gole e tento não pensar muito no que estou comendo. É um caldo fino, bem temperado e aparentemente inofensivo. Levanto a tigela, bebendo tudo. Tem um gosto bom e quente e me faz sentir muito melhor do que tenho me sentido desde que acordei em Elfhame. Me encontro cutucando no fundo os pedaços sólidos. Se for feito de algo horrível, estou melhor não sabendo.[/p][p]Enquanto ainda estou procurando por restos, a porta se abre novamente e Tatterfell entra, carregando um monte de vestidos. Fand e mais dois cavaleiros seguem com mais das minhas roupas. Atrás deles está Heather, de chinelos, carregando uma pilha de joias.[/p] [p]– Taryn me disse que se eu viesse, teria um vislumbre dos aposentos reais. – Então, chegando mais perto, Heather abaixa a voz. – Estou contente por você estar bem. Vee quer que a gente vá embora antes que o pai de vocês chegue aqui, então vamos em breve. Mas não íamos embora enquanto você estivesse em coma.[/p] [p]– Ir é uma boa ideia – digo. – Estou surpresa que você tenha vindo.[/p][p]– Sua irmã me ofereceu uma barganha – diz ela, um pouco arrependida. – E eu aceitei.[/p] [p]Antes que ela possa me contar mais, Randalin corre para a porta, quase esbarrando em Heather com a pressa. Ele pisca para ela com espanto, claramente não preparado para a presença de uma segunda mortal. Então parte, evitando um olhar na minha direção.[/p] [p]– Chifres grandes – Heather murmura, o observando. – Cara pequeno.[/p] [p]Cardan se apoia no batente da porta, parecendo muito satisfeito consigo mesmo. – Hoje haverá um baile para receber convidados de algumas das minhas cortes. Heather, espero que você e Vivienne venham. A última vez que você esteve aqui, éramos meros anfitriões. Mas há muitas delícias que poderíamos mostrar a você.[/p] [p]– Incluindo uma guerra – coloca Grima Mog. – O que poderia ser mais delicioso do que isso?[/p] [p]
***
[/p] [p]Depois que Heather e Grima Mog saem, Tatterfell permaneceu, me preparando para a noite seguinte. Ela enrola meu cabelo e pinta minhas bochechas. Estou vestindo um vestido de ouro essa noite, um vestido reto com sobreposições de tecido fino que lembra cota de malha dourada. Placas de couro nos ombros prendem finas correntes brilhantes, mostrando mais do meu decote do que estou acostumada a exibir.[/p][p]Cardan se acomoda em uma cadeira almofadada feita de raízes, em seguida, estica as pernas. Está vestindo uma roupa azul-meia-noite com bordados metálicos de besouros e joias nos ombros. Na sua cabeça está a coroa dourada de Elfhame, as folhas de carvalho brilhando sobre ela. Ele inclina a cabeça para o lado, olhando para mim de uma maneira avaliativa.[/p] [p]– Hoje à noite você terá que falar com todos os governantes – me diz.[/p] [p]– Eu sei – eu digo, olhando para Tatterfell. Ela parece perfeitamente satisfeita em ouvi-lo me dar orientações não solicitadas.[/p][p]– Porque só um de nós pode contar mentiras a eles – continua ele, me surpreendendo. – E eles precisam acreditar que nossa vitória é inevitável.[/p][p]– E não é? – Pergunto.[/p][p]Ele sorri. – Me diga você.[/p [p]– Madoc não tem chance – minto obedientemente.[/p] [p]Me lembro de ter ido aos acampamentos das cortes menores depois do golpe de Balekin e Madoc, tentando convencer senhores, damas e membros do reino das fadas a se aliarem a mim. Foi Cardan quem me disse qual deles abordar, Cardan quem me deu informações suficientes sobre cada um para eu adivinhar a melhor forma de convencê-los. Se há alguém pode me fazer passar essa noite, este alguém é ele.[/p][p]Ele é bom em deixar as pessoas à sua volta calmas, mesmo quando sabem que não há motivo.[/p][p]Infelizmente, o que eu sou boa é irritar as pessoas. Mas pelo menos também sou boa em mentir.[/p] [p]– A Corte dos Cupins chegou? – Pergunto, nervosa por ter que enfrentar lorde Roiben.[/p] [p]– Acho que sim – responde Cardan. Ele se levanta e me oferece seu braço. – Venha, vamos encantar e confundir nossos súditos.[/p] [p]Tatterfell arruma mais alguns fios de meus cabelos, alisa uma trança, depois cede e me deixa levantar.[/p] [p]Juntos, entramos no grande salão, Fand e o restante dos guardas nos cercando com grande esplendor e particularidade.[/p] [p]À medida que avançamos e somos anunciados, um silêncio cai sobre os risos. Ouço as palavras como vindas de grande distância: – O Grande Rei e a Grande Rainha de Elfhame.[/p] [p]Goblins e grigs, duendes e sprites, trolls e hags – todo o bonito, glorioso e terrível povo de Elfhame olham em nossa direção. Todos os seus olhos negros brilham. Todas as suas asas, caudas e bigodes se contraem. O choque deles com o que estão vendo – uma mortal ao lado de seu rei, uma mortal sendo anunciada como sua governante – parece crepitar no ar.[/p][p]E então se apressam para nos cumprimentar.[/p] [p]Minha mão é beijada. Sou elogiada de forma extravagante e seca. Tento lembrar quem são cada um dos senhores, senhoras e donos de posses. Tento tranquilizá-los de que a derrota de Madoc é inevitável, que estamos felizes em recebê-los e igualmente satisfeitos por eles terem enviado adiante uma parte de sua corte, pronta para uma batalha. Eu digo a eles que acredito que o conflito será curto. Não menciono a perda de nossos aliados da Corte Submarina ou o fato de o exército de Madoc estar carregando as armas de guerra de Grimsen. Não menciono a enorme espada com a qual Madoc planeja desafiar Cardan.[/p] [p]Eu minto, minto e minto.[/p] [p]– Seu pai parece um inimigo excessivamente atencioso, convocando todos nós aqui, assim – diz Lord Roiben, da Corte dos Cupins, com os olhos como lascas de gelo. Para pagar uma dívida com ele, matei Balekin. Mas isso não significa que está feliz comigo. Tampouco significa que acredita nas bobagens que venho vendendo. – Nem mesmo os meus amigos são sempre tão atenciosos a ponto de reunir os meus aliados antes da batalha.[/p] [p]– É uma demonstração de força, certamente – digo. – Ele procura nos abalar.[/p][p]Roiben considera isso. – Ele procura destruir você – responde ele.[/p] [p]Sua consorte pixie, Kaye, coloca a mão no quadril e estica o pescoço para ver melhor a sala. – Nicasia está aqui?[/p][p]– Receio que não – digo, certa de que nada de civilizado poderia vir da conversa delas. A Corte Submarina foi responsável por um ataque a Corte dos Cupins, que deixou Kaye gravemente ferida. – Ela teve que voltar para casa.[/p] [p]– Que pena – responde Kaye, fechando o punho. – Tenho algo para ela.[/p][p]Do outro lado da sala, vejo Heather e Vivi entrarem. Heather está em uma cor marfim pálida que destaca o rico e belo marrom de sua pele. Seu cabelo está torcido e puxado para trás em tranças. Ao lado dela, Vivi está com um profundo escarlate – muito parecido com a cor do sangue seco que Madoc gostava tanto de usar.[/p] [p]Um grig aparece, oferecendo pequenas bolotas minúsculas cheias de leite de cardo fermentado. Kaye joga a cabeça para trás e toma como um shot e estremece. Eu evito.[/p] [p]– Com licença – digo, atravessando a sala em direção a minha irmã. Passo pela rainha Annet da Corte de Mariposas, pelo Alderking e seu consorte, e dezenas de outros.[/p] [p]– Não é divertido dançar? – pergunta Fala, o bobo da corte, interrompendo meu caminho. – Vamos dançar nas cinzas da tradição.[/p] [p]Como sempre, tenho pouca ideia do que dizer a ele. Não tenho certeza se está me criticando ou falando com absoluta sinceridade. Eu me afasto.[/p][p]Heather balança a cabeça quando eu chego perto. – Droga. Que vestido incrível.[/p] [p]– Ah, ótimo. Eu queria pegar algumas bebidas – diz Vivi. – Bebidas seguras. Jude, pode ficar até eu voltar, ou vai ser arrastada para a diplomacia?[/p] [p]– Eu posso esperar – digo, feliz por ter a chance de conversar com Heather sozinha. No momento em que minha irmã se afasta, me viro para ela. – Com o que exatamente você concordou?[/p] [p]– Por quê? – Heather pergunta. – Você não acha que sua irmã me enganaria, acha?[/p] [p]– Não intencionalmente – acoberto. As barganhas das fadas têm uma reputação merecidamente ruim. Raramente são coisas diretas. Claro, parecem boas. Como, lhe prometer viver o resto de seus dias em êxtase, mas então tens uma ótima noite e morre de manhã. Ou lhe prometer perda de peso, e então alguém aparece e corta uma das suas pernas. Não que eu ache que Vivi faria algo parecido com Heather, mas com a lição do meu próprio exílio na cabeça, eu ainda gostaria de me atentar aos detalhes.[/p] [p]– Ela me disse que Oak precisava de alguém para ficar com ele em Elfhame enquanto ela ia buscar você. E me fez essa oferta – quando estivermos no Reino das Fadas, poderíamos ficar juntas. Quando voltamos, me faria esquecer Faerie e esquecê-la também.[/p] [p]Respiro fundo. É isso que Heather quer? Ou Vivi ofereceu e Heather concordou porque parecia melhor do que continuar do jeito que as coisas eram? – Então, quando voltar para casa...[/p] [p]– Acabou. – O desespero passa em suas feições. – Existem coisas que as pessoas não devem provar. Acho que magia é uma delas.[/p] [p]– Heather, você não precisa...[/p][p]– Eu amo Vee – diz ela. – Acho que cometi um erro. A última vez que estive aqui, este lugar parecia um filme de terror lindamente filmado, e eu só queria isso tudo fora da minha cabeça. Mas não quero esquecê-la.[/p] [p]– Você não pode simplesmente dizer isso a ela? – Pergunto, olhando através da sala em direção a minha irmã, que está voltando. – Cancelar a barganha.[/p] [p]Heather balança a cabeça. – Eu perguntei se ela tentaria me convencer a mudar de ideia. Acho que eu estava meio em duvida se seria capaz de continuar com a parte da separação. Acho que esperava que ela me tranquilizasse, que quisesse que eu mudasse de ideia. Mas Vee ficou muito séria e disse que poderia fazer parte do acordo que, não importaria o que eu dissesse depois, ela continuaria com ele.[/p] [p]– Ela é uma idiota – deixo escapar.[/p] [p]– Eu sou a idiota – diz Heather. – Se eu não estivesse com tanto medo... – Ela se interrompe quando Vivi chega até nós, com três cálices equilibrados em suas mãos.[/p] [p]– O que está acontecendo? – minha irmã pergunta, me entregando minha bebida. – Vocês duas parecem estranhas.[/p] [p]Nem Heather nem eu respondemos.[/p] [p]– Bem? – Vivi exige.[/p] [p]– Jude nos pediu para ficar mais alguns dias – diz Heather, me surpreendendo enormemente. – Ela precisa da nossa ajuda.[/p] [p]Vivi olha para mim acusadoramente.[/p] [p]Abro a boca para protestar, mas não posso negar nada sem expor Heather. Quando Vivi usou a magia para fazê-la esquecer o que aconteceu no casamento de Taryn, fiquei furiosa com ela. Eu não pude deixar de estar ciente de como ela era fada e eu não. E agora, não posso deixar de estar ciente de todas as maneiras que Heather é humana.[/p] [p]– Só mais alguns dias – concordo, certa de que estou sendo uma irmã má, mas talvez também uma boa.[/p][p]Do outro lado do salão, Cardan levanta um cálice. – Sejam bem-vindos a ilha de Insmire – diz ele. – Seelie e Unseelie, feéricos selvagens e feéricos solitários, fico feliz por marcharem sob minha bandeira, feliz por vossa lealdade, grato por vossa honra. – Seu olhar se dirige a mim. – A vocês, ofereço hidromel e a hospitalidade da minha mesa. Mas para traidores e quebradores de juramentos, ofereço a hospitalidade da minha rainha. A hospitalidade das facas.[/p] [p]Há uma onda de barulho, alegres assobios e uivos. Muitos olhos se voltam para mim. Vejo Lady Asha, olhando com raiva na minha direção.[/p] [p]Todos feéricos sabem que fui eu quem matou Balekin. Sabem que eu até passei algum tempo no exílio por isso. Sabem que eu sou a filha adotiva de Madoc. Eles não duvidam das palavras de Cardan.[/p][p]Bem, ele certamente os fez me verem mais do que apenas a rainha mortal. Agora eles me veem como a rainha assassina. Não tenho certeza de como me sinto, mas vendo a intensidade do interesse em seus olhares agora, não posso negar que é eficaz.[/p] [p]Eu levanto meu cálice alto e bebo.[/p][p]E quando a festa diminui, quando passo por cortesãos, todos se curvam para mim. Até o último deles.[/p] [p]
***
[/p][p]Estou exausta quando saímos do salão, mas mantenho a cabeça erguida e os ombros jogados para trás. Estou determinada a não deixar ninguém saber o quanto estou cansada.[/p][p]É só quando estou de volta aos aposentos reais que me permito relaxar um pouco, encostando-me ao batente da porta da câmara interna.[/p][p]– Você foi muito formidável esta noite, minha rainha – diz Cardan, cruzando a sala até mim.[/p] [p]– Depois do discurso que você fez, não precisei de muito. – Apesar do meu cansaço, estou consciente da presença dele, do calor de sua pele e da maneira como seu sorriso lento e conspiratório faz meu estômago revirar com um desejo estúpido.[/p] [p]– Não podia ser outra coisa senão a verdade – diz ele. – Ou nunca poderia ter saído da minha boca.[/p][p]Encontro meu olhar atraído por seus lábios macios, o preto de seus olhos, as protuberância de suas maçãs do rosto.[/p][p]– Você não veio dormir ontem à noite – sussurro.[/p] [p]Me ocorre abruptamente que, enquanto eu estava inconsciente, ele teria passado suas noites em outro lugar. Talvez não sozinho. Faz muito tempo que não estive na corte. Não tenho ideia de quem possa estar sob sua preferência.[/p][p]Mas se houver mais alguém, seus pensamentos parecem longe dela. – Estou aqui agora – diz ele, como se pensasse que possivelmente tenha entendido mal.[/p][p]Não há problema em querer algo que vá doer, me lembro. Eu me aproximo dele, então estamos perto o suficiente para nos tocar.[/p][p]Ele toma minha mão na dele, entrelaçando os dedos e se inclina para mim.[/p][p]Há tempo suficiente para eu me desvencilhar do beijo, mas não o faço. Eu quero que ele me beije. Meu cansaço evapora quando seus lábios pressionam nos meus. Uma e outra vez, um beijo deslizando para o próximo.[/p][p]– Você parecia uma cavaleira em uma história essa à noite – diz suavemente contra o meu pescoço. – Possivelmente uma história imunda.[/p][p]Chuto a perna dele, e ele me beija de novo, mais forte.[/p][p]Nós cambaleamos contra a parede, e eu puxo seu corpo para o meu. Meus dedos deslizam por baixo de sua camisa, traçando as costelas até as asas das omoplatas.[/p][p]Seu rabo chicoteia para frente e para trás, a ponta peluda acariciando a parte de trás da minha panturrilha.[/p] [p]Ele estremece e pressiona mais forte contra mim, aprofundando o beijo. Seus dedos empurram meu cabelo, úmido de suor. Meu corpo inteiro está tenso de desejo, esforçando-se para ele. Estou queimando. Todo beijo parece tornar meus pensamentos mais dopados, minha pele mais corada. Sua boca está contra o meu pescoço, sua língua na minha pele. Sua mão se move para os meus quadris, me levantando.[/p][p]Me sinto superaquecida e fora de controle.[/p] [p]Esse pensamento atropela todo o resto, e eu congelo.[/p][p]Ele me solta imediatamente, me decepcionando e depois recua como se tivesse se queimando. – Nós não precisamos... – ele começa, mas isso é ainda pior. Não quero que ele adivinhe o quão vulnerável me sinto.[/p] [p]– Não, apenas me dê um segundo – digo, então mordo meu lábio. Seus olhos são muito escuros, as pupilas dilatadas. Ele é tão bonito, tão perfeitamente, horrivelmente, desumanamente bonito que eu mal consigo respirar. – Eu volto já.[/p] [p]Fujo para o guarda-roupa. Ainda sinto o tambor do meu pulso trovejante por todo o meu corpo.[/p][p]Quando eu era criança, o sexo era um mistério, algo bizarro que as pessoas faziam para criar bebês quando se casavam. Certa vez, uma amiga e eu colocamos chapéu nas bonecas e sacudimos o chapéu para indicar que estavam fazendo isso.[/p] [p]Isso mudou no Reino das Fadas, é claro. Feéricos ficam nus para se divertir, podem aninhar em montes para se divertir, especialmente à medida que as noites passam. Mas embora eu entenda o que é sexo agora e como é realizado, não previ o quanto seria me perder. Quando as mãos de Cardan estão em mim, sou traída pelo prazer. E ele pode notar. Ele tem pratica na arte do amor. Ele pode obter qualquer resposta que quiser de mim. Eu odeio isso, e ainda quero, de uma só vez.[/p][p]Mas talvez eu não precise ser a única a sentir as coisas.[/p] [p]Tiro o vestido, tiro os sapatos. Eu até desfaço meu cabelo, deixando-o cair sobre meus ombros. No espelho, vejo minhas curvas – os músculos dos meus braços e peito, definidos pelos treinos de espadas; o peso dos meus seios pálidos; e o inchaço dos meus quadris. Nua, não há disfarce para a minha mortalidade.[/p][p]Nua, volto para o quarto.[/p][p]Cardan está de pé ao lado da cama. Quando se vira, parece tão surpreso que eu quase solto uma risada. Raramente o vejo inseguro, mesmo bêbado, mesmo ferido; é raro vê-lo exagerado. Um calor selvagem salta em seus olhos, uma expressão não muito diferente de medo. Sinto uma onda de poder, inebriante como o vinho.[/p][p]Agora, este é um jogo que não me importo de jogar.[/p] [p]– Venha aqui – diz ele, a voz rouca. Eu vou, atravessando o quarto obedientemente.[/p][p]Posso ser inexperiente no amor, mas sei muito sobre provocação. Deslizo de joelhos na frente dele. – Foi assim que imaginou que eu estaria, quando voltou a seu quarto em Hollow Hall, quando pensou em mim e odiou? Foi assim que você imaginou minha eventual rendição?[/p][p]Ele parece absolutamente mortificado, mas não há como disfarçar o rubor de suas bochechas, o brilho dos olhos. – Sim – diz ele, soando como se a palavra tivesse sido arrancada dele, sua voz rouca de desejo.[/p] [p]– Então o que eu fazia? – Pergunto, minha voz baixa.[/p] [p]Estendo as mãos pressionadas contra suas coxas.[/p] [p]Seu olhar brilha com um forte pico de calor. No entanto, Há certa cautela em seu rosto, e percebo que ele acredita que eu possa estar perguntando tudo isso porque estou com raiva. Porque eu quero vê-lo humilhado. Mas ele continua falando assim mesmo. – Eu imaginei você me dizendo para fazer com você o que eu quisesse.[/p] [p]– Sério? – Pergunto, e a risada surpresa em minha voz o faz encontrar meu olhar.[/p][p]– Junto com algumas suplicas de sua parte. Um pouco de bajulação. – Ele me dá um sorriso envergonhado. – Minhas fantasias estavam repletas de ambições exageradas.[/p] [p]De joelhos, é coisa pequena me deitar na pedra fria. Estendo minhas mãos, como em suplica. – Você pode fazer comigo o que quiser – ofereço. – Por favor, oh, por favor. Tudo o que eu quero é você.[/p] [p]Ele puxa uma respiração e se abaixa, então nós dois estamos no chão e ele está apoiado sobre as mãos e joelhos, formando uma prisão de seu corpo ao redor do meu. Ele pressiona sua boca no pulso do meu punho, acelerando o ritmo do meu coração. – Zombe de mim como quiser. Depois de tudo o que imaginei, agora sou eu quem implora e rasteja por uma palavra gentil de seus lábios. – Seus olhos estão pretos de desejo. – Por você, estou para sempre a disposição.[/p] [p]Parece impossível que ele esteja dizendo essas palavras e que sejam verdadeiras. Mas quando ele se inclina e me beija novamente, esse pensamento se transforma em sensação. Ele arqueia contra mim, estremecendo. Começo a desfazer os botões do gibão. Ele joga a camisa depois dela.[/p] [p]– Eu não estou zombando – sussurro contra sua pele.[/p] [p]Quando olha para mim, seu rosto está perturbado.[/p] [p]– Vivemos em nossa armadura há tanto tempo, você e eu. E agora não tenho certeza se algum de nós sabe como removê-la.[/p][p]– Isso é outro enigma? – Pergunto. – E se eu responder, vai voltar a me beijar?[/p][p]– Se é o que você quer. – Sua voz soa áspera, instável. Ele se move para estar deitado ao meu lado.[/p][p]– Eu lhe disse o que queria – digo em desafio. – Para fazer comigo o que...[/p][p]– Não – ele interrompe. – O que você quer.[/p][p]Me movo para que eu esteja montada sobre seu corpo. Olhando para ele, estudo os planos de seu peito, os voluptuosos cachos pretos úmidos contra sua testa, seus lábios levemente separados, o comprimento peludo de sua cauda.[/p][p]– Eu quero... – digo, mas sou muito tímida para dizer as palavras.[/p][p]Eu o beijo em vez de dizer. Beijei-o até que ele entenda.[/p][p]Ele desabotoa a calça, me olhando como se estivesse esperando eu mudar de ideia. Sinto o toque suave de sua cauda no meu tornozelo, enrolando em torno da minha panturrilha. Então me atrapalho no que acho que é a posição certa. Ofego enquanto nossos corpos deslizam juntos. Ele me segura firme através da forte e aguda faísca de dor. Mordo a palma de sua mão. Tudo é rápido e quente, e eu estou meio que no controle e fora de controle ao mesmo tempo.[/p][p]Seu rosto está totalmente desprotegido.[/p] [p]Quando terminamos, ele me beija, doce e bruto.[/p][p]– Senti sua falta – sussurro contra sua pele e me sinto tonta com a intimidade da admissão, me sinto mais nua do que quando ele podia ver cada centímetro de mim. – No mundo mortal, quando eu pensava que você era meu inimigo, eu ainda sentia sua falta.[/p] [p]– Minha doce inimiga, como estou feliz que tenha voltado. – Ele puxa meu corpo contra o dele, embalando minha cabeça contra seu peito. Ainda estamos deitados no chão, embora uma cama perfeitamente boa esteja ao nosso lado.[/p][p]Penso no seu enigma. Como pessoas como nós tiram as nossas armaduras?[/p][p]Uma peça de cada vez.[/p]
Próximo Capítulo ⏭

8 Comentários

  1. Anônimo03 agosto

    Nossa que capítulo maravilhoso , amando essa tradução

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  2. Anônimo03 agosto

    AMEI!!! obrigada pela tradução

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  3. Anônimo03 agosto

    ansiosa pros próximos capítulos

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  4. Anônimo03 agosto

    capítulo CALIENTE!!!

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  5. Rafaella03 agosto

    Que capítulo!

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  6. Eu tô mundo decepcionada com esse final (não com a tradução, você arrasa), fizeram toda aquela preliminar me dando esperança de um hot pra pular dos melhores momentos pra quando tudo terminou. Já dizia Geralt de rivia é como comprar um torta e descobrir que não tem recheio kkkkkkkkk ainda tô tentando entender o q estavam pensando, não precisava ser 50 tons de cinza, mas podia ter algo né kkkkkkkkkk
    Nunca houve tanto féerico falso por metro quadrado, msm que não possam mentir kkkk e muita audácia do Radalin , já chegou sentando no sofá.


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    1. Quando eu li pela primeira vez também tava esperando um pouco mais de descrição e quando acabou a cena fique tipo ???!! Mas já?

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  7. Meu Deeeeeeus 🗣️🗣️🗣️🗣️🗣️
    Amei

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