Imagem da capa

Imagem da capa

The Queen of Nothing - Capítulo Vinte e Dois

Os dois dias seguintes são gastos principalmente na sala de guerra, onde peço a Grima Mog que se junte aos generais de Cardan e aos das cortes menores na criação de planos de batalha. Bomba permanece, também, com o rosto mascarado em tela preta e o resto de seu corpo escondido em uma túnica com capuz do mais profundo preto. Os membros do Conselho manifestam suas preocupações. Cardan e eu nos debruçamos sobre a mesa enquanto os feéricos se revezam esboçando mapas de possíveis planos de ataque e defesa. Pequenas esculturas são movimentadas. Três mensageiros são enviados para Nicasia, mas nenhuma resposta vem da Corte Submarina.

– Madoc quer que os senhores, damas e governantes das cortes menores vejam um espetáculo – diz Grima Mog. – Me deixe lutar com ele. Seria uma honra em ser seu campeão.

– Desafie ele para um jogo de tiddlywinks, e eu serei seu campeão – diz Fala.

Cardan balança a cabeça. – Não, deixe Madoc vir reclamar uma negociação. Nossos cavaleiros estarão apostos. E dentro do palácio, nossos arqueiros também. Vamos ouvi-lo e responderemos. Mas não vamos nos entreter com jogos. Se Madoc deseja agir contra Elfhame, que o faça, e devemos revidar com toda a força que possuímos. – Ele olha para o chão e depois para mim.

– Se ele acha que pode fazê-lo duelar com ele, então se certificará de que não possa recusar – digo.

– Peça a ele que entregue suas armas nos portões – diz Bomba. – E quando ele se recusar, eu o matarei das sombras.

– Iria parecer que eu sou um covarde – diz Cardan. – Sem nem se quer ouvi-lo.

Com essas palavras, meu coração afunda. Porque o orgulho é exatamente o que Madoc espera manipular.

– Você estaria vivo enquanto seu inimigo estaria morto – diz a Bomba. Com o rosto coberto, é impossível ler sua expressão. – E teríamos respondido desonra com desonra.

– Espero que não esteja pensando em concordar com um duelo – diz Randalin. – Seu pai não teria tido um pensamento tão absurdo por um momento sequer.

– Claro que não – diz Cardan. – Não sou um espadachim, mas, além disso, não gosto de dar aos meus inimigos o que querem. Madoc vem para um duelo e, se não por outro motivo, não deveria ter.

– Quando a negociação acabar – diz Yorn, olhando para seus planos, – nos encontraremos no campo de batalha. E mostraremos a ele sua recompensa em ser um traidor de Elfhame. Temos um caminho claro para a vitória.

Um caminho claro e, no entanto, tenho um grande pressentimento. Fala me chama a atenção, fazendo malabarismos com as peças da mesa – um cavaleiro, uma espada, uma coroa.

Então um mensageiro alado corre para dentro da sala. – Eles foram vistos – diz. – Os navios de Madoc estão chegando.

Uma ave marinha chega momentos depois, um pedido de negociação preso à sua perna.

O novo Grande General se move para a porta, chamando suas tropas. – Vou colocar meus soldados em posição. Temos talvez três horas.

– E eu reunirei os meus – diz a Bomba, virando-se para Cardan e eu. – Ao seu sinal, os arqueiros atacarão.

Cardan desliza seus dedos nos meus. – É difícil trabalhar contra alguém que você ama. – Gostaria de saber se ele está pensando em Balekin.

Uma parte de mim, apesar de saber que Madoc é meu inimigo, fica tentada a imaginar convencê-lo a parar com tudo isso. Vivi está aqui, assim como Taryn e até Oak. Oriana desejaria paz, insistiria se houvesse um caminho. Talvez possamos convencê-lo a terminar a guerra antes que comece. Talvez possamos chegar a algum tipo de acordo. Eu sou a Grande Rainha, afinal. Eu não poderia lhe dar um pedaço de terra para governar?

Mas eu sei que é impossível. Se eu concedesse a ele a benefícios por ser um traidor, só estaria encorajando uma traição maior. E, independentemente disso, Madoc não ficaria satisfeito. Ele vem de uma linhagem de guerreiros. Sua mãe o deu à luz em batalha, e ele planeja morrer com uma espada na mão.

Mas não acho que planeje morrer dessa maneira hoje.

Eu acho que ele planeja ganhar.

***

É quase pôr do sol quando estou pronta para andar sobro o palco. Uso um vestido verde e dourado, e uma auréola de galhos dourados brilha em minha testa. Meu cabelo foi trançado e modelado em algo como dois chifres de carneiro, e minha boca foi manchada da cor de bagas no inverno. A única coisa no meu traje que parece normal é o peso de Cair da Noite em uma nova e glamourosa bainha.

Cardan, ao meu lado, repassa os planos finais com Bomba. Está vestido de um verde musgo tão escuro que é quase como o preto de seus cachos.

Me viro para Oak, de pé com Taryn, Vivi e Heather. Eles estarão presentes, mas escondidos na mesma área em que Taryn e eu costumávamos observar as fadas sem sermos vistas.

– Você não precisa fazer isso – digo a Oak.

– Quero ver minha mãe – diz ele, com voz firme.  – E eu quero ver o que acontece.

Se vai ser o Grande Rei algum dia, ele tem o direito de saber, mas eu gostaria que ele escolhesse uma maneira diferente de descobrir. Aconteça o que acontecer hoje, duvido que haja uma maneira de evitar que seja um pesadelo para Oak.

– Aqui está o seu anel de volta – diz ele, pescando-o no bolso e colocando-o na minha palma.  – Eu mantive seguro como você me disse.

– Eu aprecio isso – digo suavemente, deslizando-o no meu dedo. O metal está quente por ter ficado tão perto de seu corpo.

– Vamos sair antes que as coisas piorem – promete Taryn, mas ela não estava lá durante a coroação do príncipe Dain. Ela não entende a rapidez com que tudo pode mudar.

Vivi olha para Heather. – E então voltamos ao mundo mortal. Não deveríamos ter ficado tanto tempo. – Mas também vejo o desejo em seu rosto. Ela nunca quis ficar no Reino das Fadas antes, mas foi fácil convencê-la a ficar mais um pouco.

– Eu sei – digo. Heather evita encontrar nossos olhos.

Quando se eles vão, Bomba vem até mim e pega minhas mãos nas dela. – Aconteça o que acontecer – me diz ela, – lembre-se, eu estarei vigiando você das sombras.

– Eu nunca esquecerei – digo em troca, pensando em Barata, que dorme por causa do meu pai. Em fantasma, que era seu prisioneiro. Em mim, que quase sangrou até a morte na neve. Eu tenho muito a vingar.

Então ela também se vai, e somos Cardan e eu, sozinhos por um momento.

– Madoc disse que você duelará por amor – digo.

– De quem? – ele pergunta, franzindo a testa.

Não existe banquete farto para um homem faminto.

Balanço a cabeça.

– É você quem eu amo – diz ele. – Passei boa parte da minha vida guardando meu coração. O guardei tão bem que me comportei como se não tivesse um. Mesmo agora, é uma coisa surrada, devorada por verme e áspero. Mas é seu. – Ele caminha até a porta dos aposentos reais, como se quisesse terminar a conversa. – Você provavelmente já tinha adivinhado – diz ele. – Mas só para o caso de não.

Ele abre a porta para me impedir de responder. Abruptamente, não estamos mais sozinhos. Fand e o resto da nossa guarda estão prontos no corredor, com o Conselho esperando impacientemente ao lado deles.

Não acredito que ele disse isso e depois saiu, me deixando cambaleando. Eu vou estrangulá-lo.

– O traidor e sua facção adentraram o palácio –, diz Randalin. – Esperando o seu prazer.

– Quantos? – Cardan pergunta.

– Doze –, diz ele. – Madoc, Oriana, Grimsen, alguns da Corte dos Dentes e vários dos melhores generais de Madoc.

[p]Um pequeno número e uma mistura de guerreiros formidáveis com cortesãos. Não consigo entender nada disso, exceto o óbvio. Ele pretende diplomacia e guerra.[/p][p]Enquanto andamos pelos corredores, olho para Cardan. Ele me dá um sorriso preocupado, como se seus pensamentos estivessem em Madoc e o conflito que se aproxima.[/p][p]Você o ama também, eu penso. Você o amava desde antes de ser prisioneira da Corte Submarina. Você o amava quando concordou em se casar com ele.[/p][p]Quando isso acabar, encontrarei coragem para contar a ele.[/p] [p]E então somos levados ao palco, como atores prestes a começar uma apresentação.[/p][p]Olho para os governantes das cortes Seelie e Unseelie, para os feéricos selvagens que estão sob juramento, para os cortesãos, artistas e criados. Meu olhar se depara com Oak, meio escondido no alto de uma formação rochosa. Minha irmã gêmea me dá um sorriso tranquilizador. Lorde Roiben fica de lado, seu comportamento ameaçador. No outro extremo da sala, vejo a multidão começar a se separar para permitir que Madoc e sua facção avancem.[/p][p]Flexiono meus dedos, sentindo um calafrio.[/p] [p]À medida que atravessa o salão, a armadura de meu pai brilha com o polimento recém-feito, mas de outra forma não é digno de nota – a armadura de alguém interessado na confiança dos outros ao invés de nova impressão. A capa pendurada nos ombros é de lã, bordada com seu símbolo da lua em prata e forrada em vermelho. Sobre ela, a espada pesada, pendurada nas costas, para que ele possa puxá-la em um único movimento. E na cabeça, um capuz familiar, rígido com sangue escuro e seco.[/p] [p]Olhando para esse capuz, sei que ele não veio apenas para conversar.[/p] [p]Atrás dele estão Lady Nore e Lorde Jarel da Corte dos Dentes, com a pequena rainha Suren ao lado deles. E os generais mais confiáveis de Madoc – Calidore, Brimstone e Vavindra. Mas de ambos os lados estão Grimsen e Oriana. Grimsen foi vestido de maneira elaborada, com uma jaqueta, todas as peças articuladas em ouro. Oriana está mais pálida do que nunca, vestida de um azul profundo adornado com pêlo branco, sua única decoração é um fascinator prateado que brilha em seu cabelo como gelo.[/p] [p]– Lord Madoc – diz Cardan. – Traidor do trono, assassino do meu irmão, o que traz você aqui? Veio para se jogar sobre a misericórdia da coroa? Talvez espere que a Rainha de Elfhame demonstre clemência.[/p][p]Madoc solta uma risada, seu olhar indo para mim. – Filha, toda vez que penso que você não pode ir mais alto, você me prova o contrário – diz ele. – E eu sou um tolo por me perguntar se ainda estava viva.[/p] [p]– Estou viva – respondo. – Mas não graças a você.[/p][p]Tenho alguma satisfação em ver o completo desconcerto no rosto de Oriana e, em seguida, o choque que o substitui ao ver que minha presença ao lado do Grande Rei não é uma piada armada. Estou de alguma forma casada com Cardan.[/p] [p]– Esta é sua última chance de se render – digo. – Dobre o joelho, pai.[/p] [p]Ele ri de novo, balançando a cabeça. – Eu nunca me rendi na minha vida. Em todos os anos em que lutei, nunca dei isso a ninguém. E não vou dar a você.[/p][p]– Então você será lembrado como um traidor, e quando eles fizerem canções sobre você, essas músicas esquecerão todas as suas ações valentes em favor deste desprezível.[/p] [p]– Ah, Jude – diz. – Você acha que eu me importo com as músicas?[/p] [p]– Você veio para uma negociação e não vai se render – diz Cardan. – Então diga. Não acredito que trouxe tantas tropas para ficarem parados.[/p] [p]Madoc coloca a mão no punho da espada. – Eu vim para desafiá-lo por sua coroa.[/p][p]Cardan ri. – Esta é a Coroa de Sangue, forjada para Mab, a primeira da linhagem Greenbriar. Você não pode usá-la.[/p][p]– Forjado por Grimsen – diz Madoc. – Aqui ao meu lado. Ele encontrará uma solução assim que eu vencer. Então, vai ouvir o meu desafio?[/p][p]Não, eu quero dizer. Pare de falar. Mas esse é o objetivo da negociação. Eu não posso parar sem uma razão.[/p][p]– Você veio até aqui – diz Cardan. – E chamou tantas pessoas aqui para testemunhar. Como eu não poderia?[/p] [p]– Quando a rainha Mab morreu – diz Madoc, puxando a espada das costas. Brilha com a luz refletida das velas. – O palácio foi construído em seu leito de morte. E enquanto seus restos se foram, seu poder vive nas rochas e na terra lá. Esta espada foi resfriada naquela terra, o punho cravado com suas pedras. Grimsen diz que pode abalar o firmamento das ilhas.[/p][p]Cardan olha para as sombras, onde os arqueiros estão posicionados. – Você foi meu convidado até puxar sua bela espada. Solte-a e seja meu convidado novamente.[/p][p]– Soltar? – diz Madoc. – Tudo bem. – Ele a joga no chão do salão. Um som estrondoso sacode o palácio, um tremor que parece atravessar o chão abaixo de nós. Feéricos gritam. Grimsen gargalha, claramente encantado com seu próprio trabalho.[/p] [p]Uma rachadura se forma no chão, começando onde a lâmina perfurou o chão, a fissura se alargando enquanto se move em direção ao palco, partindo a pedra. Um momento antes de chegar ao trono, percebo o que está prestes a acontecer e cubro minha boca. Então o antigo trono de Elfhame se parte ao meio, seus galhos floridos se transformam em lascas, seu assento é obliterado. A seiva vaza da ruptura como sangue de uma ferida.[/p] [p]– Eu vim aqui para dar essa lâmina para você – Madoc diz sobre os gritos.[/p] [p]Cardan olha horrorizado a destruição do trono. – Por quê?[/p] [p]– É provável que você perca o desafio que proponho, então, será sua para empunhá-la contra mim. Teremos um duelo adequado, mas sua espada será de longe a melhor. E se você ganhar, será sua de qualquer maneira, assim como minha rendição.[/p] [p]Apesar de tudo, Cardan parece intrigado. O medo rói meu intestino.[/p][p]– Grande Rei Cardan, filho de Eldred, bisneto de Mab. Você, que nasceu sob uma estrela desfavorável, cuja mãe o deixou comer as migalhas da mesa real como se fosse um dos cães de caça, dado ao luxo e à comodidade, cujo pai o desprezava, cuja esposa mantém sob controle... Consegue inspirar alguma lealdade a seu povo?[/p] [p]– Cardan... – Começo, então mordo a língua. Madoc me pegou. Se eu falar agora e Cardan ouvir, parecerá que meu pai está certo.[/p] [p]– Não estou sob o controle de ninguém – responde Cardan. – E sua traição começou com o planejamento da morte de meu pai, então você mal pode se importar com a boa opinião dele. Volte para suas montanhas desoladas. O povo daqui são meus súditos por juramento, e seus insultos são tediosos.[/p] [p]Madoc sorri. – Sim, mas seus súditos lhe amam? Meu exército é leal, Grande Rei Cardan, porque conquistei a lealdade deles. Você conquistou uma única coisa que possui? Lutei com aqueles que me seguem e sangrei com eles. Eu dei minha vida a Elfhame. Se eu fosse o Grande Rei, daria a todos aqueles que me seguiram domínio sobre o mundo. Se eu tivesse a Coroa de Sangue sobre minha cabeça, em vez deste capuz, traria vitórias nunca sonhadas. Que os súditos escolham entre nós, e quem eles escolherem, que este tenha o domínio de Elfhame. Que este fique com a coroa. Se Elfhame lhe amar, eu cederei. Mas como alguém pode escolher ser seu súdito se você nunca lhes dá a oportunidade de fazer outra escolha? Que essa seja a maneira da disputa entre nós. Os corações e mentes da corte. Se é covarde demais para duelar com lâminas, que este seja o nosso duelo.[/p][p]Cardan olha para o trono. Algo em sua expressão está vivo, algo aceso. – Um rei não é sua coroa. – Sua voz soa distante, como se estivesse falando principalmente para si mesmo.[/p] [p]A mandíbula de Madoc se move. Seu corpo está tenso, pronto para lutar. – Há mais alguma coisa. Há o problema da rainha Orlagh.[/p] [p]– A quem seu assassino atirou – acuso. Um murmúrio atravessa a multidão.[/p] [p]– Ela é sua aliada – diz Madoc, não negando nada. – A filha dela, uma das suas boas companheiras no palácio.[/p] [p]Cardan faz uma careta.[/p] [p]– Se você não arriscar a Coroa de Sangue, a ponta da flecha penetrará o coração e ela morrerá. Será como se você tivesse a matado, Grande Rei de Elfhame. E tudo porque acreditava que seu próprio povo lhe negaria.[/p] [p]Não concorde com isso, quero gritar, mas se gritar, Cardan pode achar que tem de aceitar o ridículo desafio de Madoc apenas para provar que não tenho controle sobre ele. Estou furiosa, mas finalmente entendo por que Madoc acredita que pode manipular Cardan a aceitar o desafio. Tarde demais, vejo.[/p][p]Cardan não era uma criança fácil de amar e só piorou com o tempo, Lady Asha me dissera. Eldred era cauteloso com a profecia e não se importava com ele. E estando em desvantagem com seu pai, de quem todo o poder fluía, colocou-o em desvantagem com o resto de seus irmãos.[/p][p]Sendo rejeitado por sua família, como poderia se tornar Grande Rei sem parecer finalmente pertencente a algum lugar? Como finalmente ser abraçado?[/p] [p]Não existe banquete farto para um homem faminto.[/p][p]E como alguém poderia não querer provar que esse sentimento era real?[/p] [p]Elfhame escolheria Cardan para governá-los? Olho para a multidão. Para rainha Annet, quem pode valorizar a experiência e brutalidade de Madoc. Para Lord Roiben, dado à violência. Para Alderking, Severin de Fairfold, que foi exilado por Eldred e pode não querer seguir o filho de Eldred.[/p][p]Cardan tira a coroa da cabeça.[/p][p]A multidão ofega.[/p] [p]– O que você está fazendo? – Sussurro. Mas ele nem sequer olha para mim. É para a coroa que ele está olhando.[/p] [p]A espada permanece presa, enterrada no chão. O palácio está em silêncio.[/p] [p]– Um rei não é seu trono nem sua coroa – diz ele. – Você tem razão em que nem lealdade nem amor devem ser obrigados. Mas o domínio de Elfhame também não deve ser ganho ou perdido em uma aposta, como se fosse um salário de uma semana, ou, um odre de vinho. Eu sou o Grande Rei, e não perderei esse título para você, nem por uma espada, um espetáculo ou meu orgulho. Vale mais do que qualquer uma dessas coisas. – Cardan olha para mim e sorri. – Além disso, dois governantes estão diante de você. E mesmo que você me derrubasse, um ficaria.[/p] [p]Meus ombros cedem de alívio e fixo um olhar de triunfo em Madoc. Vejo dúvidas em seu rosto pela primeira vez, o medo de que tenha planejado errado.[/p] [p]Mas Cardan ainda não terminou de falar. – Você quer exatamente o que você é contra... a Coroa de Sangue. Quer que meus súditos estejam ligados a você com tanta certeza quanto agora estão ligados a mim. Quer tanto isso que arrisca que a Coroa de Sangue seja o preço que você mesmo pôs pela cabeça da rainha Orlagh. – Então sorri. – Quando eu nasci, havia a profecia de que se eu governasse, seria a destruição da coroa e a ruína do trono.[/p] [p]O olhar de Madoc muda de Cardan para mim e depois de volta para Cardan novamente. Ele está pensando em suas opções. Elas não são boas, mas ele ainda tem uma espada muito grande. Minha mão vai automaticamente para o punho de Cair da Noite.[/p][p]Cardan estende uma mão de dedos longos em direção ao trono de Elfhame e a grande rachadura que corre pelo chão. – Eis que metade disso aconteceu. – Ele ri. – Nunca pensei que fosse para ser interpretado literalmente. E nunca pensei que desejaria sua realização.[/p][p]Não gosto de onde isso está indo.[/p] [p]– A rainha Mab criou esta coroa para manter seus descendentes no poder – diz Cardan. – Mas votos nunca devem ser para uma coroa. Eles devem ser para um governante. E eles devem ser de livre vontade. Eu sou seu Rei, e ao meu lado está minha Rainha. Mas é sua escolha seguir-nos ou não. Sua vontade será sua.[/p] [p]E com as próprias mãos, ele quebra a Coroa de Sangue em duas. Ele a parte como um brinquedo de criança, como se em suas mãos nunca fosse feito de metal, quebradiço como um osso da sorte.[/p] [p]Acho que suspiro, mas é possível que eu grite. Muitas vozes surgem em algo que é horror e alegria misturados.[/p] [p]Madoc parece horrorizado. Ele veio por essa coroa, e agora não é nada mais do que um pedaço rachado de escória. Mas é no rosto de Grimsen que meu olhar para. Está balançando a cabeça violentamente para um lado e para o outro. Não, não, não, não.[/p] [p]– Povo de Elfhame, vocês me aceitam como seu Grande Rei? – grita Cardan.[/p][p]São as palavras do ritual de coroação. Me lembro de algo como isso dito por Eldred neste mesmo salão. E um por um, ao redor do salão, vejo feéricos inclinarem a cabeça. O movimento ondula como uma onda exultante.[/p][p]Eles o escolheram. Estão dando a ele sua lealdade. Nós ganhamos.[/p][p]Olho para Cardan e vejo que seus olhos ficaram completamente pretos.[/p][p]– Não, não, não, não, não, não! – Grimsen chora. – Meu trabalho. Meu lindo trabalho. Deveria durar para sempre.[/p][p]No trono, as flores restantes ficam com a mesma tinta preta que os olhos de Cardan. Então o preto sangra em seu rosto. Ele se vira para mim, abrindo a boca, mas sua mandíbula está mudando. Todo o seu corpo inteiro está mudando – se alongando e ondulando.[/p][p]E me lembro abruptamente que Grimsen amaldiçoou tudo o que já fez.[/p] [p]Quando ela veio até mim para forjar a Coroa de Sangue, ela me confiou uma grande honra. E eu amaldiçoei a coroa para proteger sua linhagem para sempre.[/p][p]Quero que meu trabalho persista, assim como a rainha Mab queria que sua linhagem persistisse.[/p] [p]A coisa monstruosa parece ter engolido tudo de Cardan. Sua boca se abre e, em seguida, estica a mandíbula, enquanto longas presas brotam. Escamas lhe cobrem a pele. O terror me enraíza no lugar.[/p] [p]Gritos enchem o ar. Algumas das Cortes começam a correr em direção às portas. Eu empunho Cair da Noite. Os guardas olham horrorizado para Cardan, com armas nas mãos. Vejo Grima Mog correndo em direção ao palco.[/p] [p]No lugar onde o Grande Rei estava, há uma serpente enorme, coberta de escamas pretas e presas curvas. Um brilho dourado percorre em espiral o corpo enorme. Olho nos olhos negros dele, esperando ver reconhecimento lá, mas estão frios e vazios.[/p][p]– Vai envenenar a terra – grita o ferreiro. – O beijo de nenhum amor verdadeiro vai impedi-lo. Nenhum enigma irá consertar isso. Apenas a morte.[/p][p]– O Rei de Elfhame não existe mais – diz Madoc, agarrando o punho de sua enorme espada, com a intenção de conquistar a vitória do que havia sido uma derrota quase certa. – Devo matar a serpente e assumir o trono.[/p][p]– Vocês se esqueceram do juramento – grito, minha voz carregada através do grande salão. Feéricos param de correr. Os governantes das Cortes menores me encaram, juntamente com o Conselho e o Povo de Elfhame. Isso não é nada como ser senescal de Cardan. Não é nada como governar ao lado dele. Isto é horrível. Eles nunca vão me ouvir.[/p][p]A língua da serpente tremula para fora, saboreando o ar. Estou tremendo, mas me recuso a deixar transparecer o medo que sinto. – Elfhame tem uma Rainha e ela está diante de vocês. Guardas, prendam Madoc. Junto de toda sua facção. Eles quebraram a hospitalidade do Grande Corte gravemente. Eu os quero presos. Eu os quero mortos.[/p][p]Madoc ri. – Você quer Jude? A coroa se foi. Por que eles deveriam obedecê-la quando podem me seguir tão facilmente?[/p] [p]– Porque eu sou a Rainha de Elfhame, a verdadeira rainha, escolhida pelo rei e pela terra. – Minha voz falha nessa última parte. – E você não passa de um traidor.[/p][p]Pareço convincente? Não sei. Provavelmente não.[/p] [p]Randalin se aproxima de mim. – Vocês a ouviram – ele late, me surpreendendo. – Peguem eles.[/p] [p]E isso, mais do que qualquer coisa que eu disse, parece trazer os cavaleiros de volta à sua tarefa. Eles se movem para cercar a companhia de Madoc, com as espadas sacadas.[/p][p]Então a serpente se move mais rápido do que eu poderia esperar. Ele desliza do palco para a multidão, espalhando o povo que foge dele com medo. Parece que já se tornou maior. O brilho dourado em suas escamas é mais pronunciado. E no rastro de seu caminho, a terra racha e desmorona, como se parte essencial dela estivesse sendo arrastada.[/p] [p]Os cavaleiros recuam e Madoc saca sua enorme espada da terra. A serpente desliza em sua direção.[/p] [p]– Mãe! – grita Oak, e sai em disparada na direção dela. Vivi tenta agarrá-lo. Heather chama seu nome, mas os cascos de Oak já estão disparando pelo chão. Oriana se vira horrorizada quando ele corre na direção dela e no caminho da cobra.[/p][p]Oak para, lendo o aviso em sua linguagem corporal. Mas tudo o que ele faz é puxar a espada de criança de um punho ao seu lado. A espada que eu insisti que ele aprendesse usar durante todas aquelas tardes preguiçosas no mundo mortal. Segurando-a alto, ele se coloca entre sua mãe e a serpente.[/p][p]Isto é culpa minha. Tudo culpa minha.[/p] [p]Com um grito, pulo do tablado e corro em direção ao meu irmão.[/p][p]Madoc golpeia a serpente enquanto ela se ergue. Sua espada atinge o lado, arrancando para fora suas escamas. Ela ataca de volta, derrubando-o e deslizando em cima de seu corpo na pressa de perseguir sua verdadeira presa: Grimsen.[/p] [p]A criatura se enrola em torno do ferreiro em fuga, as presas entrando em suas costas. Um grito fino e seco enche o ar quando Grimsen cai em uma pilha murcha. Em estantes, ele se torna uma casca, como se o veneno das presas da serpente devorasse sua essência por dentro.[/p] [p]Me pergunto quando ele sonhou com tal maldição, se pensou em ter medo de si mesmo.[/p] [p]Quando olho a frente, vejo que a maior parte do salão está vazia. Os cavaleiros recuaram. Os arqueiros de Bomba tornaram-se visíveis no alto das paredes, com as cordas dos arcos esticadas. Grima Mog chega ao meu lado, com a lâmina pronta. Madoc está cambaleando, mas a perna que a serpente passou por cima não parece sustentá-lo. Agarro Oriana pelo ombro e a empurro para onde Fand está parada. Então fico entre Oak e a serpente.[/p] [p]– Vá com ela – eu grito com ele, apontando para sua mãe. – A leve em segurança.[/p][p]Oak olha para mim, com os olhos molhados de lágrimas. Suas mãos tremem na espada, apertando-a com muita força.[/p] [p]– Você foi muito corajoso – digo a ele. – Você só tem que ser corajoso um pouco mais.[/p][p]Ele me dá um leve aceno de cabeça e, com um olhar agonizado para Madoc, corre atrás de sua mãe.[/p] [p]A serpente gira, sua língua tremulando em minha direção. A serpente, que já foi Cardan.[/p][p]– Você quer ser a Rainha das Fadas, Jude? – grita Madoc enquanto se move com o andar manco. – Então mate-o. Mate a fera. Vamos ver se você tem coragem de fazer o que precisa ser feito.[/p][p]– Venha, minha senhora – implora Fand, guiando-me para uma saída enquanto a serpente se move de volta para a plataforma. A língua da serpente tremula novamente, sentindo o gosto do ar, e sou tomada pelo medo e por um horror tão vasto que receio ser engolida por ela.[/p] [p]Quando a serpente se enrola em torno dos restos despedaçados do trono, eu me deixo ser levada em direção às portas, e assim que o restante dos feéricos passa, ordeno que fechem e tranquem atrás de nós.[/p]

Próximo Capítulo ⏭

6 Comentários

  1. Estou mais que chocada, eu estou surtando; que capitulo foi esse minha gente. Por favor continua, nao me deixe no vaco e quase tendo uma parrada cardiaca. E sua sua traducao e incrivel, parabens

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Quando eu li, tava esperando uma batalha real, mas então... veio ochoque!

      Excluir
  2. Rafaella04 agosto

    Eis que surge a serpente da capa, rs

    ResponderExcluir
  3. Uma coisa boa teve, o ferreiro pagou pelas brincadeiras com maldições. Nossa, esperei uma mega luta, sla a Jude caindo na peia foi meio éééé né.
    Achei nada haver o Madok sair trazendo gente pra nada, se eu fosse dos caras que ficaram perambulando pelas florestas comendo, dormindo e me higienizando mal pelo Madok e a guerra dele ia ficar meio puta.
    Preciso de respostas sobre o q acontecerá kkkkkkkkkkkk obrigada pela tradução

    ResponderExcluir
  4. É O QUE QUE TA ACONTECENDO SOS

    ResponderExcluir

Ativador Formulário de Contato