Imagem da capa

Imagem da capa

The Queen of Nothing - Capítulo Vinte


Estou no meio do corredor quando uma cavaleira pixie vem até mim, sua armadura polida tem um brilho que reflete sua pele azul. – Vossa Majestade, você deve vir rapidamente – diz ela, pondo a mão no coração.

– Fand? – Quando estávamos na escola do palácio, nós duas sonhávamos em ser cavaleiras. Parece que uma de nós conseguiu.

Ela olha para mim como se estivesse surpresa por ser lembrada, embora não tenha sido há muito tempo. Suponho que ela também acredite que ascendi a alturas estonteantes e talvez alteradoras de memória.

Sir Fand – me corrijo, e ela sorri. Sorrio de volta para ela. Embora nós não fossemos amigas, éramos amigáveis, e para mim, na Grande Corte, era uma raridade. – Por que tenho que ir rapidamente?

Sua expressão fica grave novamente. – Um batalhão da Corte Submarina está na sala do trono.

– Ah – digo, e deixo ela me escoltar pelos corredores. Algumas fadas se curvam quando passo. Outras, claramente, não o fazem. Não sei como me comportar, eu ignoro ambos.

– Você deve ter sua própria guarda – diz Sir Fand, mantendo o ritmo logo atrás de mim.

Todo mundo parece gostar muito de me dizer como devo exercer meu trabalho. Mas, pelo menos nesse caso, meu silêncio é aparentemente uma resposta suficiente para ela se calar.

Quando chegamos ao salão, está quase vazio. Randalin está torcendo as mãos enrugadas enquanto estuda os soldados submarinos – selkies e o povo de pele pálida que me faz pensar naqueles que eles chamavam de afogados. Nicasia está à frente deles, com uma armadura de escamas iridescentes, o cabelo adornado com dentes de tubarão, apertando as mãos de Cardan nas dela. Seus olhos estão vermelhos e inchados, como se estivesse chorando. A cabeça escura de Cardan está inclinada para a dela, e me lembro de que eles já foram amantes.

Ela gira quando me vê, louca de raiva. – Isso foi coisa do seu pai!

Dou um passo para trás, surpresa. – O que?

– Rainha Orlagh – diz Cardan com o que parece uma calma um pouco exagerada. – Aparentemente, ela foi atingida por algo como uma ponta lítica de elfo. Foi enterrada fundo em sua carne, mas parece ter parado antes de atingir o coração. Quando há tentativas de removê-lo, parece resistir à extração mágica e não mágica. Se mexe como se estivesse vivo, mas pode haver ferro nele.

Eu paro, minha mente cambaleando. Fantasma. Foi para onde Madoc o enviou, para o mar. Não para matar a rainha, o que irritaria o povo do mar e os traria com mais firmeza ao lado de Cardan, mas para feri-la de tal maneira que ele pudesse controlar a morte dela. Como o povo dela se arriscaria a lutar contra Madoc quando ele detém Orlagh inerte em suas mãos?

– Eu sinto muito. – É uma coisa totalmente humana de se dizer e totalmente inútil, mas deixo escapar de qualquer maneira.

Nicasia torce o lábio. – Você deveria mesmo. – Depois de um momento, ela solta a mão de Cardan com algum arrependimento aparente. Ela teria casado com ele uma vez. Duvido muito que minha aparição a tenha feito desistir de segurar a mão dele. – Devo ficar ao lado de minha mãe. A Corte Submarina está em caos.

Ceta vez, Nicasia e sua mãe me mantiveram em cativeiro, me trancaram em uma cela e tentaram tirar meu livre-arbítrio. Às vezes, em sonhos, ainda estou lá, ainda flutuando no escuro e no frio.

– Nós somos seus aliados, Nicasia – lembra Cardan. – Se precisa de nós.

– Conto com você para vingar minha mãe, se nada mais – diz ela. Então, com outro olhar hostil em minha direção, ela se vira e sai do salão. Os soldados submarinos vão atrás dela.

Não posso nem me irritar com ela. Estou me recuperando do sucesso da jogada de Madoc – e da pura ambição dele. A morte de Orlagh não seria pouca coisa para se planejar; ela é um dos poderes antigos e estabelecidos do Reino das Fadas, mais velha que Eldred. Mas feri-la de tal maneira parece mais difícil ainda.

– Agora que Orlagh está fraca, é possível que haja desafiantes ao seu trono – diz Randalin com certo arrependimento, como se duvidar de Nicasia estivesse à altura do que lhe era exigido. – O mar é um lugar brutal.

– Pegaram o suposto assassino? – Pergunto.

Randalin franze a testa para mim, como costuma fazer quando faço uma pergunta para a qual ele não sabe a resposta, mas não deseja admitir. – Acredito que não. Se tivessem, tenho certeza de que eles teriam nos contado.

O que significa que ele pode vir aqui, afinal. O que significa que o Cardan ainda está em perigo. E temos muito menos aliados do que antes. Esse é o problema de se jogar na defensiva – você nunca tem certeza de onde seu inimigo atacará, então, gasta mais recursos tentando cobrir todas as eventualidades.

– Os generais desejam ajustar seus planos – diz Randalin, com um olhar significativo na direção de Cardan. – Talvez devêssemos convocá-los.

– Sim – diz Cardan. – Sim, acho que deveríamos.

Vamos a salas de estratégia e somos recebidos por um jantar frio de ovos de pato, pão de passas e fatias finas de javali assado. A mestre dos servos, uma grande mulher aracnídea, espera por nós, junto com os generais. A discussão rapidamente assume um ar de festivo, com metade se voltando para entreter os senhores e damas das pequenas cortes e outra metade planejando uma guerra.

O novo Grande General acaba por ser um ogro chamado Yorn. Nomeado durante o meu exílio. Não sei nada em detrimento dele, mas que tem um comportamento nervoso. Ele chega com três de seus generais e muitas perguntas sobre os mapas e materiais que o Conselho conseguiu de mim. Timidamente, ele começa a reimaginar nossa estratégia naval.

Mais uma vez, tento adivinhar qual será o próximo passo de Madoc. Sinto como se tivesse tantas peças do quebra-cabeça, mas não consigo ver como elas se encaixam. O que eu sei é que ele está cortando as saídas, podando as variáveis, reduzindo nossa capacidade de surpreendê-lo, para que seus planos tenham mais chances de sucesso.

Só espero que possamos surpreendê-lo.

– Devemos atacar no momento em que seus navios aparecerem no horizonte – diz Yorn. – Não dar a ele a chance do desafiar o trono. Vai ser mais difícil sem a ajuda da Corte Submarina, mas não impossível. Ainda temos a força maior.

Devido aos costumes de hospitalidade dos feéricos, se Madoc solicitar, ele e um pequeno grupo serão recebidos em Elfhame com o objetivo de discutir alternativas à guerra. Contanto que não levante uma arma, ele pode comer, beber e conversar conosco por quanto tempo quiser. Quando estiver pronto para partir, o conflito começará exatamente de onde parou.

– Ele mandará um pássaro na frente – diz Baphen. – E seus navios podem muito bem estar envoltos em névoa ou sombras. Não sabemos qual magia ele tem à sua disposição.

– Ele quer duelar – digo. – Assim que ele sacar uma arma, ele quebrará os termos da negociação. E ele não pode estar trazendo um grande exercito para a terra com o objetivo de discutir a paz.

– Melhor se cercarmos as ilhas em navios – diz Yorn, movendo novamente as peças de estratégia em torno de um mapa lindamente desenhado de Insweal, Insmire, Insmoor e Insear que está sobre a mesa. – Podemos impedir que os soldados de Madoc aterrissem. Abater todos os pássaros que surgirem em nosso caminho. Temos aliados das Cortes Menores para adicionar à nossa força.

– E se Madoc receber ajuda da Submarina? – Pergunto. Os outros olham para mim com espanto.

– Mas temos um tratado – diz Randalin. – Talvez você não tenha ouvido, porque...

– Sim, você tem um tratado agora – digo, não querendo ser lembrada do meu exílio novamente. – Mas Orlagh poderia passar a coroa para Nicasia. Se o fizesse, rainha Nicasia estaria livre para fazer uma nova aliança com Madoc, assim como quando a Corte dos Dentes colocou uma criança trocada em seu trono, eles estavam livres para marchar contra Elfhame. E Nicasia pode se aliar a Madoc se ele ajudar sua mãe.

– Acha provável que isso aconteça? – Yorn pergunta a Cardan, franzindo a testa sobre seus planos.

O Grande Rei faz um gesto indiferente. – Jude gosta de supor o pior de seus inimigos e aliados. A recompensa dela é estar ocasionalmente errada sobre nós.

– Difícil lembrar uma ocasião assim – digo para ele baixinho.

Ele levanta uma única sobrancelha.

Fand entra na sala naquele momento, parecendo muito consciente de que ela não pertence ali. – Peço perdão, mas eu... eu tenho uma mensagem para a Rainha – diz ela com um gaguejo nervoso em sua voz. – Da irmã dela.

– Como você pode ver, a rainha... – Randalin começa.

– Qual irmã? – Exijo, atravessando a sala até ela.

– Taryn – diz ela, parecendo muito mais calma agora que está falando apenas comigo. Sua voz baixa. – Ela disse para encontrá-la na antiga casa do Grande Rei.

– Quando? – Pergunto, meu coração batendo duas vezes. Taryn é uma pessoa cuidadosa, consciente de suas exatidões. Ela não gosta de mensagens enigmáticas nem de locais de encontro sinistros. Se ela quer que eu vá para Hollow Hall, algo está muito errado.

– Assim que você puder – diz Fand.

– Eu irei agora – digo, e depois volto para os conselheiros, os generais e o Grande Rei. – Houve um problema familiar. Me deem licença.

– Vou acompanhá-la – diz Cardan, levantando-se. Abro a boca para explicar todas as razões pelas quais ele não pode ir. O problema é que, quando olho para seus olhos com bordas douradas e ele pisca de forma inocente para mim, não consigo pensar em uma única que realmente o pare.

– Bom – diz ele, passando por mim. – Estamos decididos.

Yorn parece um pouco aliviado por estarmos saindo. Randalin, previsivelmente, parece irritado. Baphen está ocupada comendo um ovo de pato, enquanto vários outros generais conversam sobre quantos das cortes menores trarão barcos e o que isso significa para seus mapas.

No corredor, sou forçada a andar mais rápido para encontrar Cardan. – Você nem sabe para onde estamos indo.

Ele afasta os cachos negros do rosto. – Fand, para onde vamos?

A cavaleira parece infeliz, mas responde. – Para Hollow Hall.

– Ah – diz ele. – Então eu já me provei útil. Você vai precisar de mim para convencer a porta.

Hollow Hall pertencia ao irmão mais velho de Cardan, Balekin. Considerado o mais influente dos Grackles – uma facção da Grande Corte mais interessada em festas, devassidão e ostentação – Balekin era famoso pela loucura de seus prazeres. Ele enganou os mortais para servi-lo, os encantou para que se lembrassem de apenas do que ele queria que se lembrassem. Ele era horrível, e isso foi antes de liderar um golpe sangrento contra o resto de sua família em uma disputa pelo trono.

Ele também é a pessoa que criou o Cardan.

Como considero tudo isso, Cardan envia Fand para trazer a carruagem real. Quero protestar que posso montar, mas ainda não estou tão curada a ponto de ter certeza. Alguns minutos depois, estou sendo entregue a uma carruagem real lindamente equipada, com assentos bordados em estampas de videiras e besouros. Cardan se senta à minha frente, apoiando a cabeça na moldura da janela enquanto os cavalos começam a correr.

Quando deixamos o palácio, percebo que é mais tarde do que pensei. O amanhecer está ameaçando no horizonte. Meu longo sono me deu uma visão distorcida do tempo.

Me pergunto sobre a mensagem de Taryn. Que possível motivo ela poderia ter para me levar à propriedade de Balekin? Poderia ter algo a ver com a morte de Locke?

Poderia ser outra traição?

Finalmente, os cavalos param. Eu saio da carruagem quando um dos guardas pula da frente para me ajudar adequadamente. Parece confuso ao me encontrar já de pé ao lado dos cavalos, mas não pensei em esperar. Não estou acostumado a ser realeza e temo que não me acostume.

Cardan surge, seu olhar não vai para mim nem para o guarda, mas para o próprio Hollow Hall. Seu rabo chicoteia o ar atrás dele, mostrando toda a emoção que não está em seu rosto.

Coberto por uma pesada camada de hera, com uma torre torta e raízes pálidas e peludas penduradas em suas varandas, este já foi seu lar. Testemunhei Cardan sendo açoitado por um servo humano por ordens de Balekin. Tenho certeza de que coisas muito piores aconteceram lá, embora ele nunca tenha contado.

Esfrego o polegar sobre a ponta do dedo que falta, mordido por um dos guardas de Madoc e percebo abruptamente que, se eu contasse a Cardan, ele poderia entender. Talvez mais do que ninguém, ele compreenderia a estranha mistura de medo e vergonha que sinto – mesmo agora – quando penso nisso. Para todos os nossos conflitos, há momentos em que nos entendemos muito bem.

– Porque estamos aqui? – ele pergunta.

– É aqui que Taryn queria se encontrar – digo. – Acho que ela nem conhecia o lugar.

– Ela não conhecia – diz Cardan.

A porta de madeira polida ainda é esculpida com um rosto enorme e sinistro, ainda ladeada por lanternas, mas as sprites não voam mais em círculos desesperadas por dentro delas. Um brilho suave de magia emana.

– Meu rei – diz a porta com carinho, abrindo os olhos.

Cardan sorri em troca. – Minha porta – diz ele com um ligeiro percalço em sua voz, como se talvez tudo sobre voltar aqui parecesse estranho.

– Salve e bem-vindo – diz a porta, e se abre.

– Existe uma garota como esta aqui dentro? – ele pergunta, me indicando.

– Sim – diz a porta. – Muito parecido. Ela está lá embaixo, com a outra.

– Embaixo? – Digo enquanto entramos na sala ecoando.

– Existem masmorras – diz Cardan. – A maioria das pessoas achava que eram meramente decorativas. Infelizmente, eles não eram.

– Por que Taryn estaria lá em baixo? – Pergunto, mas para isso, ele não tem resposta. Nós descemos, a guarda real à minha frente. O porão cheira fortemente a terra. A sala em que entramos contém pouco, apenas alguns móveis que parecem inadequados para sentar e correntes. Grandes braseiros queimam com brilho suficiente para aquecer minhas bochechas.

Taryn está sentada ao lado de uma masmorra. Está vestida com simplicidade, uma capa sobre o ombro e, sem a grandeza de roupas e cabelos, ela parece jovem. Me assusta pensar que eu possa parecer tão jovem também.

Quando vê Cardan, ela se levanta, uma mão se movendo para a barriga de forma protetora. Ela afunda em uma reverência baixa.

– Taryn? – diz ele.

– Ele veio procurá-la – ela me diz. – Quando ele me viu em seus quartos, ele disse que eu tinha que contê-lo porque Madoc havia lhe dado mais comandos. Ele me contou sobre as masmorras e eu o trouxe aqui. Parecia um lugar que ninguém iria procurar.

Andando até o buraco, espio dentro do poço. Fantasma está sentado talvez uns três metros abaixo, suas costas contra a curva da parede, seus pulsos e tornozelos amarrados. Ele parece pálido e doente, olhando com olhos assombrados.

Quero perguntar se ele está bem, mas ele obviamente não está.

Cardan está olhando para minha irmã como se estivesse tentando entender alguma coisa. – Você o conhece, não é? – ele pergunta.

Ela assente, cruzando os braços sobre o peito. –Ele visitava Locke algumas vezes. Mas não teve nada a ver com a morte de Locke, se é isso que você está pensando.

– Eu não estava pensando isso – diz Cardan. – De modo nenhum.

Não, ele já era prisioneiro de Madoc na época. Mas não gosto do jeito que essa conversa está indo. Ainda não tenho certeza do que Cardan faria se soubesse a verdade da morte de Locke.

– Você pode nos contar sobre a rainha Orlagh? – Pergunto a Fantasma, tentando redirecionar a conversa de volta para o que é mais importante. – O que você fez?

– Madoc me deu uma flecha – diz ele. – Era pesada na minha mão e se contorcia como se fosse uma coisa viva. Lorde Jarel me pôs uma magia que permitia respirar debaixo d'água, mas fez minha pele queimar como se estivesse sempre coberta de gelo. Madoc ordenou que eu atirasse em Orlagh em qualquer lugar, exceto no coração ou na cabeça, e me disse que a flecha faria o resto.

– Como você escapou? – Eu pergunto.

– Eu matei um tubarão que me perseguia e me escondi dentro do cadáver até que o perigo passasse. Então nadei até a praia.

– Madoc lhe deu outras ordens? – Cardan pergunta, franzindo a testa.

– Sim – Responde fantasma, uma expressão estranha em seu rosto. E esse é o único aviso que temos antes de ele se levantar do meio da masmorra. Percebo que ele se soltou de quaisquer correntes que Taryn o prendeu, provavelmente muito antes de agora. Pânico gelado corre através de mim. Estou muito dura para lutar com ele, muito dolorida. Pego a porta pesada da cela e começo a arrastá-la, esperando prendê-lo antes que chegue a lateral. Cardan chama o guarda e tira uma faca de má aparência de dentro do gibão, me surpreendendo. Deve ter sido a influência de Barata.

Minha irmã limpa a garganta.

– Larkin Gorm Garrett – diz ela. – Esqueça todos os outros comandos, exceto os meus.

Respiro fundo. Eu nunca testemunhei alguém sendo chamado pelo seu verdadeiro nome antes. No reino das fadas, conhecer uma coisa dessas coloca alguém inteiramente no poder dessa pessoa. Ouvi falar de pessoas que cortaram suas próprias orelhas para evitar serem comandadas  – e que tiveram a língua de outra pessoa cortada para impedir que seu nome fosse pronunciado.

Taryn parece um pouco chocada consigo mesma.

Fantasma desliza de volta para o fundo da masmorra. Parece ceder de alívio, apesar do poder que ela tem sobre ele. Suponho que seja muito melhor ser comandado por minha irmã do que meu pai.

– Você sabe o nome verdadeiro dele – diz Cardan a Taryn, guardando a faca e alisando a jaqueta sobre ela. – Como conseguiu esse pequeno detalhe fascinante?

– Locke foi descuidado com muitas coisas que dizia na minha frente – diz Taryn, um certo desafio em seu tom.

Estou relutantemente impressionada com ela.

E aliviada. Ela poderia ter usado o nome verdadeiro de fantasma para seu próprio benefício. Poderia tê-lo escondido. Talvez não continuemos mentindo uma para a outra.

– Suba o resto do caminho – digo a Fantasma.

Ele faz, com cuidado e devagar desta vez. Alguns minutos depois, está se mexendo no chão. Ele recusa a ajuda de Cardan e fica por conta própria, mas não posso deixar de notar seu estado enfraquecido.

Ele me olha como se estivesse percebendo a mesma coisa.

– Você precisa ser comandado ainda mais? – Pergunto. – Ou pode me dar sua palavra de que não vai atacar ninguém nesta sala?

Ele se encolhe. – Você tem minha palavra. – Tenho certeza de que ele não está satisfeito por eu saber agora seu nome verdadeiro. Se eu fosse ele, também não gostaria que eu o tivesse.

E isso sem mencionar Cardan.

– Por que não voltamos a uma parte mais confortável de Hollow Hall para continuar essa discussão, agora que o drama terminou – diz o Grande Rei.

Fantasma se levanta e Cardan agarra seu braço, apoiando-o pelas escadas. Na sala, um dos guardas traz cobertores. Começo a acender o fogo. Taryn parece que quer me dizer para parar, mas não ousa.

– Então suponho que você recebeu ordens de... o quê? Me assassinar assim que uma oportunidade apresentasse? – Cardan anda inquieto.

O Fantasma assente, puxando os cobertores para mais perto. Seus olhos castanhos são opacos e seu cabelo loiro escuro está bagunçado. – Eu esperava que nossos caminhos não se cruzassem e temia o que aconteceria se acontecesse.

– Sim, bem, acho que temos sorte de Taryn estar prestando atenção no palácio – diz Cardan.

– Não voltarei para casa do meu marido até ter certeza de que Jude não corre perigo – diz ela.

– Jude e eu tivemos um mal-entendido – diz Cardan cuidadosamente. – Mas não somos inimigos. E eu também não sou seu inimigo, Taryn.

– Você acha que tudo é um jogo – diz ela. – Você e Locke.

– Ao contrário de Locke, nunca pensei que o amor fosse um jogo – diz ele. –Você pode me acusar de muitas coisas, mas não disso.

– Garrett – interrompo, desesperada, porque não tenho certeza se quero ouvir mais. – Existe algo que você possa nos dizer? O que quer que Madoc esteja planejando, precisamos saber.

Ele balança a cabeça. – A última vez que o vi, ele ficou furioso. Com você. Com ele mesmo. Comigo, uma vez que soube que você descobriu que eu estava lá. Ele me deu meus comandos e me mandou embora, mas não acho que pretendia me enviar tão cedo.

Concordo. – Certo. Ele teve que mudar o cronograma. – Quando saí, a espada estava longe de estar pronta. Isso deve ter sido frustrante, ser forçado a agir antes que estivesse completamente pronta.

Não acredito que Madoc saiba que sou a rainha. Acho que nem sabe que estou viva. Isso tem que valer alguma coisa.

– Se o Conselho descobrir que temos o agressor de Orlagh sob custódia, as coisas não correrão bem – diz Cardan com decisão repentina. – Eles vão pedir que eu o entregue a Corte Submarina em troca de um favor a Elfhame. Será apenas questão de tempo até Nicasia saber que você está em nossas mãos. Vamos levá-lo de volta ao palácio e colocá-lo sob custódia de Bomba. Ela pode decidir o que fazer com você.

– Muito bem – Fantasma diz com alguma combinação de resignação e alívio.

Cardan pede sua carruagem novamente. Taryn boceja enquanto entra, sentada ao lado de Fantasma.

Inclino minha cabeça contra a janela, apenas ouvindo, enquanto Cardan consegue convencer minha irmã a contar um pouco sobre o mundo mortal. Ele parece encantado com a descrição dela de máquinas de raspadinha, com suas cores violentamente brilhantes e estranheza açucarada. Está no meio de uma explicação sobre jujubas de minhocas quando estamos de volta ao palácio e descendo da carruagem.

– Vou escoltar Fantasma para onde ele vai morar – diz Cardan. – Jude, você deveria descansar.

Parece impossível que foi só hoje que acordei de um sono depois de estar dopada, só hoje que Bomba tirou meus pontos.

– Vou levá-la de volta para seus quartos – diz Taryn com algo conspiratório, me levando na direção dos aposentos real.

Vou com ela pelo corredor, dois guardas nos seguindo a uma distância discreta.

– Confia nele? – ela sussurra quando Cardan não está mais por perto.

– Às vezes – admito.

Ela me dá um olhar de simpatia. – Ele foi legal na carruagem. Não sabia que ele sabia ser legal.

Isso me faz rir. Na porta dos meus aposentos, ela coloca a mão no meu braço. – Ele estava tentando impressioná-la, você sabe. Falando comigo.

Franzo a testa. – Eu acho que ele só queria ouvir sobre doces estranhos.

Ela balança a cabeça. – Ele quer que você goste dele. Mas só porque ele quer, não signifique que você deveria. – Então ela me deixa entrar nos enormes aposentos reais sozinha.

Tiro o vestido e o penduro em um biombo. Pego emprestada outra das ridículas camisas de babados de Cardan e coloco-a, depois subo na grande cama. Meu coração bate nervosamente no meu peito enquanto eu puxo para os meus ombros uma colcha bordada com um veado de caça.

Nosso casamento é uma aliança. Uma barganha. Digo a mim mesma que não precisa ser mais do que isso. Tento dizer a mim mesma que o desejo de Cardan por mim sempre foi confundido com nojo e que estou melhor sem ele.

Adormeço esperando o som da porta se abrindo, por seu passo no chão de madeira.

Mas quando acordo, ainda estou sozinha. Nenhuma lâmpada está acesa. Nenhum travesseiro se moveu. Nada mudou. Me sento.

Talvez ele tenha passado o resto da manhã e tarde na Corte das Sombras, jogando dardos com Fantasma e verificando a cura de Barata. Mas posso imaginá-lo mais facilmente no grande salão, supervisionando os últimos resquícios de folia da noite e bebendo litros de vinho, tudo para evitar deitar ao meu lado na cama.


Próximo Capítulo ⏭

12 Comentários

  1. Rafaella01 agosto

    Que venha o próximo capítulo :D

    ResponderExcluir
  2. a próximo capítulo é somente sonhos bons or nah?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Quem tem que dizer é vc depois que ler, não posso dar spoiler. 😆😆😆😆

      Excluir
  3. Quem diria que a Taryn ia ficar no comando. É impressão minha ou o hobby da glr é culpar a Jude. Tipo: seu pai tentou matar minha mãe, logo você é a culpada. A Nycasia tbm precisa parar com essa mania de perseguição 🙄
    Grata pelo capítulo e ansiosa pelo próximo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Mas no caso da Nycasia é só recalque mesmo, porque a Jude ficou com um e a Taryn ficou com o outro e ela sem nenhum. kkkk

      Excluir
  4. Anônimo02 agosto

    maravilhosooooooo como sempre!!!!! Animada pelos próximos cap

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ahhh esse próximo capítulo 🔥🔥🔥🔥

      Excluir
  5. Anônimo02 agosto

    continua por favor!!!

    ResponderExcluir
  6. Anônimo03 agosto

    Esse capítulo foi quente..Muito quente!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Anônimo03 agosto

      comentei errado desculpa kkk

      Excluir
  7. Graziele08 agosto

    pelo amor de Deus eu só quero eles juntos

    ResponderExcluir

Ativador Formulário de Contato