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The King's Men - Capítulo Nove


TRADUÇÃO POR: THIAGO

Ao nascer do sol, Neil desistiu de fingir estar dormindo e saiu da cama novamente. Correu pela estrada perimetral e apontou seus pés em direção do Foxhole, logo ao terminar sua corrida. Os seguranças habituais faziam suas rondas. Hoje, Neil confiava neles menos do que no dia anterior, agora ele sabia o quão fácil era passar por eles, e os contornou. Ele adentrou com suas chaves e acendeu as luzes enquanto se dirigia ao vestiário.
Ele abriu a porta, já enrolando as mangas de seu moletom, e hesitou no meio do vestiário. A bagunça desaparecera, e o chão estava impecável. Neil olhou sobre o ombro, mas o lugar estava escuro quando entrou. Ele era o único ali. Atravessou a o vestiário até seu armário e puxou a fechadura desatada. Seu armário estava limpo e vazio.
Era sete e maia, significava que Wymack já estava acordado há horas. Neil sentou-se em um dos bancos e ligou para ele.


Wymack respondeu no segundo toque, dizendo:
– Eu não sei o que mais me surpreende: seu telefone ligado ou você acordado tão cedo no sábado.
– Treinador, o vestiário tá limpo.
– Sim, eu sei. Abby e eu cuidamos disso ontem à noite depois que vocês saíram.
– Desculpa –, ofereceu Neil. – Eu ia limpá-lo esta manhã.
– Não disse para não se preocupar? – exigiu Wymack.
– Você disse para eu não lidar com isso ontem –, respondeu Neil.
– Tanto faz –, disse Wymack. – Você pode me compensar mais tarde. Aliás, tá fazendo o que, já que arruinei seu plano matinal? Nada? – Ele esperou afirmação de Neil e disse: – Em vez disso, você pode organizar documentos comigo. Vou levá-los junto com o café da manhã. Ou você já comeu?
– Ainda não –, respondeu Neil. – Vou esperar aqui.
Wymack desligou.
Neil olhou para o seu armário aberto novamente, em seguida, migrou para a sala das Raposas. Ele caminhou pela extensão das paredes, estudando as fotos que Dan colocara ao longo dos anos. Neil nunca a tinha visto adicioná-las ali, mas a coleção crescera para incluir algumas dezenas de fotos deste ano. A maioria era dos veteranos, já que Dan raramente tivera a oportunidade de capturar seus novos companheiros fora de quadra, no entanto Neil avistou várias do Halloween e algumas aleatórias de seus jantares de equipe em novembro e dezembro.
Bem perto do canto estava uma foto que Neil não reconhecera: uma foto de Neil e Andrew em pé, sozinhos. Ambos estavam empacotados em seus casacos combinando e olhando um para o outro em apenas um suspiro de distancia. Levou um momento até Neil identificar o cenário; as pessoas amontoadas no fundo não pareciam com a multidão dos jogos. Com esforço, finalmente adivinhou. Dan havia tirado no Aeroporto Regional, a caminho de sua partida contra o Texas. Neil nem sequer percebera que ela os observara.
Neil aparecia em algumas fotos do grupo dos veteranos, mas esta era a única que tinha sua aparência natural. Dan tinha até capturado Neil do seu lado direito, então o curativo sobre a tatuagem não aparecia. Esta era uma foto de Nathaniel Wesninski; Este fora o momento em que Neil dissera seu nome a Andrew. Neil estendeu a mão até a imagem, mas parou assim que segurou a borda.
Ele viera a Palmetto com o objetivo de jogar, mas também viera porque Kevin era a prova de que uma pessoa real existia por trás de todas as suas mentiras. Em maio, Nathaniel e Neil terão ido embora, mas em junho esta foto ainda permaneceria onde está. Seria uma pequena parte do Estádio Foxhole durante muitos anos. Era reconfortante, ou deveria ser. Neil não achava que esse conforto deveria parecer como um nó apertado em seu estômago.
Felizmente, para ele, Wymack logo apareceu. Trazendo uma sacola de papel marrom pendurada em uma mão e uma caixa recheada de arquivos em seus braços. Neil segurou a porta atrás dele, assim Wymack poderia colocar suas coisas no chão. Wymack olhou ao redor da sala por um momento, em seguida, colocar a TV no chão e empurrou o rack para mais perto dos sofás, como uma mesa improvisada. Neil o observou distribuir pastas em quatro pilhas.
Quando Wymack jogou a caixa vazia de lado, Neil abriu a pasta mais próxima para dar uma olhadinha. Era uma folha de admissão com uma foto desconhecida.
 – Recrutas em potencial –, explicou Wymack.  – Precisamos de seis, no mínimo.
Seis –, Neil ecoou enquanto se ajoelhou em frente a Wymack. – Você vai expandir a equipe?
 – Não foi por opção –, disse Wymack. Pegando sanduíches e suco da sacola marrom e dividindo com Neil. – Foi uma das condições para continuarmos no campeonato, quando Andrew foi internado. O CRE não gostou do tão peto estivemos da eliminação este ano e eles não querem continuar endossando as regras para nós. Prometi que não voltaria a acontecer. Isso significa: novos reservas no próximo ano.
Wymack catalogou cada pilha, em seguida, empurrou uma para Neil.
– As garotas estarão no ultimo ano, então precisamos de pelo menos três para substituí-las. No total, estamos à procura de dois atacantes, dois negociantes, um defensor, e um goleiro. Encontre-me alguns com potencial e vamos peneirá-los mais tarde.
– Kevin não deveria estar fazendo isso com você? – indagou Neil.
 – Você faz o primeiro corte, – respondeu Wymack. – Ele fará o segundo. Farei o último.
Neil olhou para a pilha de arquivos a sua frente. Finalmente, abriu o primeiro e começou a ler as páginas de estatísticas: aptidão, chances de gols, velocidade, e assim por diante. Ele não estava totalmente certo do que estava procurando, mas teve uma base assim que chegou ao terceiro atacante. O terceiro atacante era consistentemente bom, mas o quarto era mais interessante, porque havia uma melhoria mensurável. CDs foram guardados nos envelopes da contracapa de cada pasta, provavelmente contendo gravações dos momentos mais brilhantes dos jogadores.
Ele dividiu os arquivos em duas pilhas, os mais promissores e os talvez, e assim terminou ambas as pilhas. Ele achou que a segunda peneira seria mais rápida, agora que tinha visto as informações de todos, mas pensou novamente em cada um. Wymack provavelmente já teria terminado todas as outras posições quando Neil finalmente fizesse a sua escolha, mas quando Neil sorrateiramente lançou um olhar em sua direção, Wymack não estava muito adiantado do que ele. O olhar de Wymack nem sequer se movia. Ele não estava lendo estatísticas; Estava estudando a foto do jogador, como se a imagem pudesse responder tudo o que ele precisava saber.
Neil olhou de volta para o arquivo aberto à sua frente, tentando enxergar o que Wymack via. Talvez Wymack pudesse ver a dor nas pessoas da mesma forma que Neil via a raiva; onde Neil via a calma inabalável de uma garota, talvez Wymack visse um olhar vago e ombros derrotados. Neil indagou-se:
Wymack tinha visto alguma coisa em sua foto ou acabara por confiar na avaliação de Hernandez, de que algo estava errado.
De qualquer forma, ele gostaria de pensar que tinha uma boa cara de paisagem. Mas Wymack raramente era enganado por dissimulações.
 – Problemas? – perguntou Wymack.
– Não –, mentiu, e voltou para a tarefa em mãos.
Demorou parte da manhã para acabar com os possíveis atacantes, mas Neil finalmente tinha uma pilha pronta para Kevin e Wymack completarem o trabalho. Wymack colocou-os no chão e pôs os arquivos rejeitados de volta na caixa.
– Mais alguma coisa? – Neil perguntou.
– Livre para ir –, disse Wymack. –Precisa de carona?
– Estou bem –, respondeu Neil.
– Uh huh –, assentiu Wymack sem levantar o olhar. – Neil deixou o assunto de lado e recolheu seu lixo do café da manhã. Estava quase no cesto de lixo, antes de Wymack começar. – A propósito, vou torná-lo vice-capitão no próximo ano.
O coração do Neil subiu até garganta. Ele virou-se para encarar Wymack, mas levou duas tentativas para encontrar sua voz.
– Você vai o quê?
– Em breve, Dan terá que deixar a equipe –, disse Wymack. – Ela precisa de um substituto.
– Não posso –, protestou Neil.  – Você deveria perguntar ao Matt ou Kevin.
 – São jogadores talentosos e com mais experiência –, admitiu Wymack, – mas eles não têm o que a equipe precisa. Você sabe por que eu fiz da Dan a Capitã?  – Wymack olhou para Neil, esperando que ele negasse com cabeça. – Eu sabia, no momento em que eu a vi, que ela poderia liderar esta equipe. Não importava o que seus colegas pensassem dela; Não importava o que a imprensa pensava dela. Ela se recusou a ser uma fracassada, então se recusou a desistir desta equipe. Era o que eu precisava para tirar as Raposas do chão.
– Você é o único aqui que pode ser o sucessor dela – disse Wymack. – Não percebeu? Eles se juntam ao se redor e correm atrás de você. Isso é algo especial. Você é especial.
– Você nem sabe quem eu sou.
 – Meu rabo que eu não sei –, disse Wymack. – Você é Neil Josten, recruta de dezenove anos de Millport, Arizona. Nascido em 31 de março, 1, 60m, destro, tamanho P. Iniciou como atacante para as minhas Raposas, e melhor calouro atacante da primeira divisão de Exy na NCAA.
 – Não –, cortou Wymack, elevando o tom quando Neil tentou interromper. – Me olhe nos olhos e diga se achas que eu me importo com quem você costumava ser. Hum? – Wymack apontou o dedo em seu rosto, e depois o fisgou na mesa.  – Eu me importo com quem você é agora, e quem poderá ser mais a diante. Não estou pedindo que se esqueça de seu passado, mas peço que o supere.
– Não posso liderá-los –, disse Neil. – Não vou.
 – Isso aqui não funciona como um estado democrático –, disse Wymack.  – Vocês não votam no que vão faze ou deixam de fazer. Eu dito as regras, e vocês acatam. E você vai lidar com isso. Você precisa disso tanto quanto eles precisam de você. Me dê uma boa razão pela qual você recusaria?
– Eu... – Neil tentou, mas não podia dizer – Estou morrendo. – Ele não podia dizer a Wymack que não viveria o suficiente para assumir a posição. – Tenho que ir.
Ele temia que Wymack argumentasse, mas tudo que Wymack disse foi:
– Vejo você segunda-feira.
Neil pensou que ao sair do estádio respiraria mais aliviado, mas seu peito ainda estava muito apertado quando tropeçou na calçada. Olhou para o estacionamento vazio, os batimentos pulsando em sua testa. Pensar em voltar a Fox Tower e encarar seus companheiros fez seu estômago doer, mas não havia outro lugar para ir. Deveria correr para espairecer. Arder em chamas até as cinzas, até que não conseguisse pensar ou sentir mais nada. Mas os pés de Neil enraizaram na calçada. Talvez eles soubessem que ele não pararia se começasse a correr agora.
Ele sentou-se na calçada para ganhar tempo, mas seus pensamentos continuaram se contorcendo em círculos. Neil sentiu-se estar a meio segundo de perder a cabeça, mas, então, Andrew chamou seu nome, e os pensamentos de Neil cessaram assustadoramente. Tardiamente, ficou ciente de sua mão em seu ouvido e os dedos cerrados em torno de seu celular. Ele não se recordou tê-lo puxado de seu bolso ou de ter tomado a decisão de ligar. Ele abaixou o celular e apertou um botão pensando que talvez tivesse imaginado coisas, mas o nome de Andrew aparecia no display e o cronômetro mostrava quase um minuto de ligação.
Neil colocou o telefone de volta ao seu ouvido, mas não conseguiu encontrar palavras para descrever o sentimento infeliz que estava o torturando. Em três meses, o campeonato terminaria. Em quatro, ele estaria morto. Em cinco, as Raposas voltariam aqui para os treinos de verão com seis novos recrutas. Neil podia contar sua vida em apenas uma palma da mão agora. Na outra mão, estava o futuro que não poderia ter: Vice-capitão, Capitão, Astro.
Neil não enxergava em si mesmo o direito de lamentar essas oportunidades perdidas. Ele havia conseguido mais do que merecia; pedir mais era egoísmo.
Ele deveria ser grato pelo o que tinha; e mais satisfeito ainda, pois sua morte significaria algo. Ele arrastaria seu pai e os Moriyamas para o limbo junto com ele quando partisse, e eles nunca se livrariam das acusações que faria. Seria o justo: por sempre fazê-lo pensar que nunca teria nada, e a vingança pela morte de sua mãe. Ele achava que aceitaria essa dor, mas estava ela de volta em seu peito, onde não tinha o direito de estar. Neil sentiu como se estivesse se afogando.
Finalmente, Neil encontrou sua voz, mas o melhor que conseguiu foi:
– Venha me buscar, aqui do estádio.
Andrew não respondeu, mas o silêncio assumiu um novo Tom. Neil verificou a tela novamente e viu o cronômetro piscando. Andrew havia desligado, no mesmo instante. Neil desligou o celular e esperou. Eram apenas alguns minutos da Fox Tower até o Foxhole, mas demorou quase quinze minutos para Andrew aparecer no estacionamento. Estacionando na vaga a alguns centímetros do pé esquerdo de Neil e não se preocupou em desligar o motor. Kevin estava no banco do passageiro, silenciosamente franzindo a testa julgando Neil através do pára-brisa. Andrew saiu do carro quando Neil não se mexeu e ficou a frente de Neil.
Neil o olhou, estudando a expressão entediada de Andrew e esperando por perguntas que sabia que não viriam. Aquela apatia deveria ser agradável contra seus nervos à flor da pele, mas de alguma forma lhe informava o contrário. Primeiramente, o desinteresse de Andrew em seu bem-estar psicológico era o que lhe atraia; também era perceptivo que Andrew nunca ignoraria qualquer sentimento que estivesse afligindo Neil.
 – Eu não quero ficar aqui hoje –, disse Neil.
 – Estávamos quase na interestadual –, retrucou Andrew.
Foi o convite mais indiferente que Neil já ouvira, mas não se importou. Andrew deu meia volta por ele sem hesitação. Isso foi motivo suficiente para se levantar e ir com ele. Neil sentou-se atrás do banco do passageiro e olhou pela janela. Kevin olhou para ele novamente, mas nada disse, e Andrew fez com que o carro se movesse antes mesmo da porta ser fechada.
Eles não perguntaram o que estava acontecendo de errado, então Neil não perguntou por que eles estavam tomando a rota I-85 em direção a Atlanta. Foram às duas horas mais longas da vida de Neil, mas o silêncio e a ilusão de escapar do campus de Palmetto State ajudou Neil a recuperar a cabeça. No momento em que chegaram a Alpharetta, seu corpo afundou em uma dormência confortável. A insônia da noite passada começou a alcançá-lo e ele se deixou cochilar. Ele acordou ao som do telefone de Andrew tocando, mas Andrew permaneceu na linha tempo suficiente para dizer:
– Não.
 Alguns minutos depois, eles chegaram a uma concessionária. Kevin saiu assim que Andrew estacionou. Andrew desligou o motor e jogou suas chaves no banco de passageiro, agora-vazio.
 – Saía ou fique ai –, disse Andrew. – São suas únicas opções.
Correr não era uma opção, ele quis dizer.
Andrew sabia o motivo de Neil ter ligado.
 – Vou ficar.
 Andrew saiu e bateu a porta logo atrás. Neil assistiu-o desaparecer na porta de entrada em busca de um representante de vendas, em seguida, fechou os olhos e adormeceu novamente. Quando acordou, havia um monstro preto metálico estacionado ao lado do carro alugado. Em relação a carros, Neil não era tão esperto agora do que tinha sido no início do ano, mas cada curva sinuosa daquele carro custava uma fortuna. Neil supôs que Andrew fizera esta compra como fizera com o último: simplesmente procurou por qualquer carro que torrasse seu orçamento o mais rápido. Era um capricho desconcertante para alguém que alegava não ter apego às seus bens materiais.
Andrew abriu a porta de trás e cruzou o olhar com Neil. 
– Kevin?
Neil limpou o sono dos olhos e tirou o cinto de segurança.
– Deixe ele ir com você. Não tenho nada para dizer a ele.
Andrew fechou a porta novamente, e Neil mudou-se para o banco do motorista. Andrew saiu do estacionamento primeiro e Neil o seguiu até a interestadual. Eles pararam em um posto de gasolina com um fast food anexado.
Neil não sentia fome, mas encheu o maior copo disponível com café, enquanto os outros comiam. Ele sentou-se a mesa ao lado para saboreá-lo e olhar o estabelecimento. Kevin olhava para ele ocasionalmente enquanto comia, mas não disse nada, provavelmente atribuindo seu humor ao fiasco da noite passada. Andrew olhou para fora, admirando do chão ao teto de seu carro novo.
A viagem de volta pareceu mais curta do que a viagem para Geórgia tinha sido, mesmo tendo que passar por Palmetto State e deixar o carro alugado em Greenville. O representante verificou o carro para novos aluguéis, ligou o motor por um tempinho, verificou o quanto de gasolina tinha no tanque, e pediu a Andrew para assinar alguns formulários. Então, não havia mais nada a fazer senão retornar ao campus. Neil pensou ter estado longe tempo o suficiente para ficar bem, mas a primeira visão da Fox Tower pela janela o deixou cansado.
Os três subiram as escadas, e Neil não parou no terceiro andar. A batida de passos suaves dizia que Andrew estava o seguindo, uma porta soou no corredor quando Kevin se dirigiu a seu quarto. Andrew o alcançou assim que Neil parou para lutar contra a porta de acesso ao telhado. Ele tinha dois cigarros e os acendeu antes mesmo de estarem do lado de fora. Neil pegou o seu e levou-o até a frente do telhado. Sentou-se o mais perto da borda possível, esperando que aquele choque de medo o distraísse de seus pensamentos terríveis, e olhou para a amplitude do campus.
Andrew sentou-se ao seu lado segurando algo. Neil olhou, mas demorou um minuto até entender o que Andrew estava lhe oferecendo. A concessionária lhe dera duas chaves, e Andrew a estava dando a outra para Neil. Quando Neil demorou a tirá-la de sua mão, Andrew a deixou cair no concreto entre eles.
– Problemático –, disse Andrew.  – É só uma chave.
– Você já foi uma criança para adoção. Você sabe que não é apenas isso –, disse Neil. Ele não pegou a chave, mas pressionou dois dedos em torno, buscando entender a afeição e a sensação deste novo presente.  – Eu sempre tive dinheiro suficiente para viver confortavelmente, mas todos os lugares decentes fazem muitas perguntas. Há verificações de antecedentes, verificação de crédito e referências, coisas que eu não posso fornecer por conta própria sem deixar muitos rastros. Então me estabeleci em Millport. Antes disso, eu ficava em hotéis baratos, invadia carros de pessoa ou encontrava lugares que aceitavam dinheiro por debaixo dos panos.
– Tudo sempre significou “partir” –, disse Neil. Ele virou a palma da mão para cima e desenhou uma chave com a ponta do dedo. Havia brincado com a chave da casa de Andrew tantas vezes que conhecia o contorno de cor.  – Sempre foi “mentir” e “se esconder” e “desaparecer”. Eu nunca pertenci a lugar algum, ou tive o direito de chamar qualquer coisa minha. Mas o treinador me deu as chaves do estádio, e você me disse para ficar. Você me deu uma chave e a intitulou de lar.  – Neil cerrou o punho, imaginando a mordida da chave contra sua palma, e ergueu o olhar para o rosto de Andrew.  – Não tive um lar desde que meus pais morreram.
Andrew posicionou um dedo no rosto de Neil, o forçando virar a cabeça para longe.
– Não me olhe com essa cara. Não sou a sua resposta, e você com certeza não será porra nenhuma para mim.
 – Não estou procurando uma resposta. Eu só quero...
Neil apenas gesticulou, impotente, incapaz de terminar esse apelo. Ele não sabia o que queria; Não sabia o que precisava. Nas últimas vinte e quatro horas tinha apenas chutado seus pés por ai e ainda não havia conseguido encontrar seu equilíbrio. Ele não sabia como fazer essa dor ir embora ou como silenciar a voz sussurrando “tão injusto” em seus ouvidos.
 – Eu estou cansado de ser um nada.
Neil já vira esse olhar no rosto de Andrew uma vez, quando ele e Andrew fizeram uma trégua na sala de Wymack no verão passado. Neil lhe alimentou com meias verdades para comprar sua aceitação, mas não fora a morte e as descrições vagas dos crimes de seus pais que atingiram Andrew. Fora sua inveja profunda por Kevin, sua solidão e desespero. Depois de tudo o que tinham passado nestes últimos meses, Neil finalmente soube o que este olhar significava. A escuridão no olhar de Andrew não era censura; era sua perfeita compreensão. Andrew tinha encontrado uma barreira e a destruído há tempos.
 Neil estava pendurado por um fio desgastado, e havia se agarrando a qualquer coisa que pudesse mantê-lo à tona.
 – Você é uma Raposa. Você sempre será um nada.  – Andrew arrancou seu cigarro. – Eu te odeio.
– E nove por cento do tempo você não me odeia.
– Nove por cento do tempo eu não quero esganá-lo. Eu sempre te odiei.
– Cada vez que você repete, eu acredito um pouco menos.
– Ninguém te perguntou. – Com isso, Andrew segurou o rosto de Neil em suas mãos e se inclinou até ele.
Tirando aquela investida de Nicky, enquanto estava drogado, Neil não beijara ninguém há quatro anos. A última garota fora uma franco-canadense magricela que o segurara apenas com as pontas dos dedos e o beijara como se temesse borrar seu gloss brilhante ridículo. Neil não conseguia mais lembrar seu nome ou feição. Ele lembrou-se apenas o quão insatisfatório o encontro ilícito tivera sido, e quão furiosa sua mãe ficara ao flagrá-los. Aquele selinho constrangedor não valera a punição que viera em seguida.
Esse beijo, não era nada do que aquele havia sido.
Andrew o beijou como se estivesse em uma briga e suas vidas estivessem em jogo, como se seu mundo parasse e recomeçasse na boca de Neil. O coração de Neil explodiu na primeira pressão brusca dos lábios de Andrew contra o seu, e ele estendeu a mão sem pensar. Sua mão foi até o maxilar de Andrew, antes de lembrar que Andrew detestava ser tocado. Neil agarrou a manga do casaco de Andrew e enganchou os dedos na lã com força.
O toque foi um gatilho.
Andrew se inclinou um pouco para trás, apenas o suficiente, para dizer:
– Me diga que não.
Os lábios de Neil estavam doloridos; sua pele estava arrepiada. Sentia-se sem fôlego, como se tivesse sobrevivido a uma meia maratona. Sentia-se forte, como se pudesse correr mais cinco. O pânico ameaçou destroçar seu estômago em pedaços. O bom senso dizia para recusar essa atração e recuar antes que ambos fizessem algo de que se arrependeriam. Mas Renee dissera que Andrew não sentia arrependimentos, e Neil não viveria tempo suficiente para se importar com arrependimentos. Ele ainda estava inclinado quando Andrew tirou a mão de Neil de seu casaco.
 – Deixa pra lá –, disse Andrew.  – Eu não fiz isso.
Ele praticamente empurrou o braço de Neil para longe de si e se inclinou para fora do espaço de Neil. Segurou o filtro do cigarro amassado, decidiu rapidamente de que não prestava, e procurou o maço em seu bolso novamente. Neil observou-o até acender, observando a nova tensão nos ombros de Andrew, e a violência em seus movimentos curtos. Ele pensou que deveria dizer alguma coisa, mas não sabia por onde começar. O beijo de Andrew e o recuo abrupto foram igualmente desconcertantes.
Andrew conseguiu apenas uma tragada antes de esmagar o segundo cigarro ao lado do primeiro. Acendeu um terceiro mesmo assim, mas Neil estendeu a mão e o tomou. Era um bom sinal, talvez, Andrew não reagir ao roubo. Neil colocou o cigarro ao lado de seu, caído no chão, e olhou para Andrew. Andrew atirou o maço para um lado e juntou os joelhos ao peito.
Neil deveria deixar isso passar, mas ele precisava entender.
– Por que não?
– Você é tão burro que não consegue me dizer não –, disse Andrew.
– E você não quer que eu diga sim?
– O que aconteceu não foi um sim. Foi só um ataque de nervos. Eu sei a diferença, mesmo que você não saiba. – Andrew enfiou o polegar em seu lábio inferior, como se pudesse apagar pressão dos lábios de Neil, e fixou seu olhar no horizonte.  – Eu não vou ser como eles. Não vou deixar você me influenciar.
Neil abriu a boca, fechou-a e tentou de novo. 
– Da próxima vez que um deles disser que você é desalmado, eu vou te defender.
 – Noventa e dois por cento –, disse Andrew, – indo para noventa e três.
Não era engraçado — nada disso era — mas essa resposta foi tão desagradável e tão tipicamente Andrew que Neil não pôde deixar de sorrir. Ele se forçou a tirar o sorriso antes que Andrew o notasse e voltou seu olhr para o campus novamente.
Pela primeira vez naquele dia, talvez pela primeira vez naquela dura semana, ele pode respirar sem sentir seu peito repuxar de tanto aperto. Quando a tensão se dissipou, o peso da exaustão de Neil voltou, mas, desta vez, foi um cansaço genuíno. Ele não havia dormido na noite anterior, só conseguira uma hora de descanso dentro do carro. Dormir agora jogaria o resto do fim de semana no lixo, mas Neil não se importava. Ele pegou a chave de Andrew e se levantou.
– Ei –, disse ele, mas Andrew não o olhou.  – Obrigado.
– Vá embora antes que eu te empurre daqui de cima –, ameaçou Andrew.
­­­– Faça isso. Vou te arrastar comigo –, Neil o lembrou, e deixou Andrew com seus pensamentos.
Por algum milagre, seu quarto estava vazio. Neil ainda fechou a porta do quarto antes de trocar a roupa suada. Ajustou o despertador para acordá-lo por volta da hora do jantar, em seguida, o empurrou de volta quando seus pensamentos o mantiveram acordado por mais uma hora. Ele tirou a mão de baixo do cobertor e abriu-a para inspecionar sua mais nova posse. Os dentes da chave haviam deixado marcas ao longo do polegar. Neil colocou a chave no chaveiro, ao lado da chave do antigo carro de Andrew e as observou balançarem sem realmente se atentar.
Neil desistia de fantasiar com seus interesses amorosos logo após a sua mãe surrá-lo. Ele ainda mantinha o interesse, mas lidava sem dar mais atenção do que passar fome e sede. Talvez, se recusar a querer coisa a mais fosse um mecanismo a ser enfrentado. Neil não podia ter alguém, então não sentia pena pela a ausência. A paranoia o ajudou a reforçar essa mentalidade ao longo dos anos, até que manter as pessoas à distância fosse a única coisa lógica a se fazer.
Tornar-se amigo das Raposas era desaconselhável, mas inevitável. Beijar um deles era impensável e ia contra tudo o que sabia. Neil não tinha a intenção de atravessar um dedo nesse limite, ou convidar Andrew a atravessá-lo. Provavelmente não teria que se preocupar com isso, considerando a sonora aversão de Andrew por ele e seus sérios problemas de limites. Andrew não era como Nicky, que o bajularia, discutiria ou protestaria se Neil dissesse que era uma má ideia. Se Neil recusasse essa possibilidade, Andrew nunca perguntaria por motivos ou traria o assunto novamente. Seria como se nada tivesse acontecido e Neil poderia viver os últimos meses de sua vida em paz.
Mas essa tal “paz”, ou covardia, era instintos de sobrevivência ou ele só estava evitando? Neil poderia repetir para si mesmo o dia todo, a coisa mais inteligente a se fazer, mas se ele realmente se importasse com isso, não teria vindo para Palmetto em primeiro lugar. Teria fugido quando descoberto que os Moriyamas eram mafiosos, ou quando Riko o chamou pelo seu verdadeiro nome, ou quando Riko o desafiou a negociar sua segurança pela a de Andrew. Neil tinha feito uma estupidez atrás da outra durante todo o ano, e esse tinha se transformado no melhor ano de sua vida.
Isso não era motivo suficiente para aceitar as possibilidades, mas Neil também não estava disposto a rejeitá-la, no entanto. Tempo não era algo que tinha de sobra, precisaria mais do que esses momentos esfarrapados para decidir-ser. Neil sabia que não estava no estado de espírito exato para decidir de uma forma ou de outra. Ele enfiou as chaves debaixo do travesseiro e rolou para o outro lado, como se mudaria o que acabara de acontecer. Ele disse a si mesmo para não pensar nisso agora, mas sua boca ainda lembrava o peso dos lábios de Andrew, isso fazia seus cabelos arrepiarem.
Neil se distraiu da única maneira que sabia, contando o máximo que podia em todas as línguas que conhecia. Ele não se lembrou de ter adormecido, e não sabia há quanto tempo estivera apagado antes de seu telefone tocar. Sua nova mensagem era de um número desconhecido, e tudo o que dizia era "48". Neil apagou, ele teria desmaiado novamente se não fosse pelo som abafado da TV na sala ao lado. Neil buscou forças para enfrentar os veteranos, conseguiu o mais perto disso, naquela manhã. Com um suspiro silencioso, chutou os cobertores, desligou o despertador e desceu de sua cama.
Dan sentou-se encostada ao lado de Matt no sofá. Pegou o controle remoto e desligou a TV assim que avistou Neil na porta.
– Nós te acordamos? – Ela perguntou, e apesar de Neil negar com a cabeça, disse: – Desculpa.
– Eu não deveria dormir tão tarde de qualquer maneira.
Ele foi buscar um copo de água. Esperava que eles voltassem para seja lá o que estavam fazendo antes de interrompê-los, mas quando voltou para a sala, a TV ainda estava desligada. Houve uma discussão silenciosa entre os olhares que Matt e Dan enviaram um ao outro. Neil não sabia qual deles havia vencido, mas Matt sacudiu a cabeça e olhou para Neil.
– Queríamos te dar uma festa de aniversário –, disse Matt. – Não parece certo ter um aniversário e não fazermos nada. No entanto, Renee achou uma má ideia, a ponto de ligar para Andrew apoiá-la. Ele ficou do lado dela.
Neil lembrou-se de um telefonema o acordando enquanto iam trocar de carro em Alpharetta. Andrew só ouvira por um momento antes de dizer “não”. Neil calmamente retomou todos os pensamentos suspeitos que tinha sobre Renee. Sua mascara serena provavelmente sempre o faria duvidar dela, mas ela entendia os mais ínfimos dos detalhes quando isso importava.
– Obrigado, mas eles estão certos –, disse Neil. – Prefiro fingir que nada aconteceu.
– E se pulássemos a festa e partíssemos para a entrega dos presentes?
Dan suspirou quando Neil balançou a cabeça.
– Tudo bem, mas se não vamos organizar nada, então vamos fazer algo bem louco no dia 31 de março. Combinado?
– Defina louco –, disse Neil.
Dan sorriu como se ele não tivesse dito nada.
– Combinado?
– Combinado – respondeu Neil.
– Bom –, disse ela. – Agora vamos nessa.
Neil se juntou aos dois no sofá e eles ligaram TV novamente.
Ele teria esquecido a mensagem que o acordou se não tivesse recebido uma nova mensagem com “47” de outro número na noite seguinte. Consternado, Neil fitou seu celular ao perceber que alguém estava lhe enviando uma contagem regressiva. Ele empurrou seu trabalho escolar de lado, em favor do calendário pendurado na geladeira. Contou os dias com os dedos, virando as páginas até encontrar março. Por um momento, ele pensou que chegaria ao aniversário de Neil Josten, mas havia parado na sexta-feira, 9 de março. Era um dia estranho para tudo acabar. Seria o ultimo dia antes das férias de primavera da universidade. Haveria um jogo naquela noite, mas não era umas das partidas eliminatórias.
Neil verificou seu celular, pensando se deveria ou não responder. Por fim, apagou a mensagem e voltou a conjugar os verbos em espanhol.
* * * *
O restante das Raposas só descobriu que Andrew havia substituído seu carro destruído na segunda-feira de manhã. Nicky seguiu Neil pelo estacionamento, tagarelando sobre um trabalho que deveria ter terminado até hoje, mas que estava pela metade. Quando Andrew parou de caminha, Nicky também parou, mas como Nicky não enxergou o carro alugado, continuou tagarelando. Ele calou-se quando Andrew abriu a porta do motorista. Nicky olhou, esfregou os olhos e quase caiu quando saltou para trás.
– Fala sério!
Seu grito chamou a atenção dos outros, e Matt previsivelmente foi o próximo a reagir. Ele passou por Neil para olhar o carro.
– O que você vai fazer com um Maserati?
– Dirigir – respondeu Andrew, obviamente, e sentou no banco do motorista.
Matt passou ambas as mãos sobre o capô, sem tocar, como se suas digitais pudessem estragar o exterior perfeito. 
A surpresa ostensiva de Andrew fez Neil fitá-lo. Andrew encontrou seu olhar através do para-brisa, porem não o manteve por muito tempo. Ele puxou a porta, para fechá-la, mas Matt havia dado a volta e posto à mão no caminho. Inclinando-se para olhar dentro, com olhos arregalados em fascínio. Nicky tinha menos restrições em por a mão em sua nova carona e deu a volta de queixo caído.
– Mas quando...? – Perguntou Matt. – E como...?
Allison foi menos sutil.
– É roubado?
Dan sussurrou para que ela mantivesse o tom de voz baixo, no entanto Allison deu de ombros.
Matt acenou para Andrew.
– Vai! Eu quero ouvir.
 Andrew girou a chave na ignição e o carro ganhou vida em um rugido silencioso. Matt jogou as mãos para o alto e se virou, como se estivesse orquestrando uma sinfonia. Andrew fechou a porta, então Matt voltou-se para Dan cuspindo fatos e estatísticas que passaram pela mente de Neil.
Neil olhou para Aaron, avaliando sua reação. Aaron parecia dividido, como se realmente quisesse se impressionar com a prestigiosa viagem, porem sem deixar de sentir ressentimento suficiente para se animar-se.
Kevin raramente se impressionava com luxos, graças à sua criação, foi ele quem acompanhou Andrew durante a compra do carro. E não teve a paciência de aturar as reações de seus companheiros, os varrendo com irritação no olhar.
– Não façam a gente se atrasar ​​para o treino.
– Grande coisa! – disse Nicky, subindo no banco de trás.
Nicky se acomodou no assento do meio, mantendo Aaron e Neil longe um do outro. Ele não perdeu tempo afivelando o cinto de seguranças, logo se inclinou entre os bancos da frente para olhar o painel e gemeu – ooohhh e aaahhh – quando Neil e Aaron entraram. Andrew o tolerou por alguns segundos antes de empurrá-lo para seu lugar com uma mão em seu rosto. Nicky estava animado de mais para incomodar-se. Em vez de reclamar, disse:
– Mas, sério, Andrew. Onde conseguiu isso?
– Geórgia –, respondeu Andrew.
Nicky suspirou pesadamente, porem não perguntou novamente.
Andrew e Aaron ainda não se falavam, Aaron e Neil ficavam fora do caminho um do outro sempre que possível, entretanto o restante das Raposas preenchia as lacunas da melhor forma possível.
Aquela pegadinha cruel armada por Riko, na última sexta-feira, trouxe uma tendência protecionista desnecessária, mas bem-intencionada, dos veteranos. Até mesmo Kevin se esforçou em ser mais tolerante, talvez depois de ver o quanto Neil estava abalado no sábado.
Neil dissera a todos que estava bem para não sacudir o barco, pois eles estavam jogando unidos e melhores do que nunca. As Raposas teriam mais um jogo para passa pela primeira rodada. Suas vitórias consecutivas garantiram um lugar nas eliminatórias, contudo eles não estavam dispostos a pegar leve essa semana.
Neil tentou preencher Exy em cada espaço de tempo livre que tinha. Trouxera táticas e escalações da USA para a aula com ele, escondidos sob seus livros, e encontrou-se com Kevin no refeitório, para o almoço, e discutiram jogadas. Apesar de todo esforço feito para se concentrar no jogo de sexta-feira, seus pensamentos continuaram descarrilando sem aviso prévio. Sempre que Andrew cruzava a sala, o olhar de Neil seguia.
Sempre que Neil tirava as chaves do bolso e via a sua mais nova adição, se lembrava do beijo de Andrew. Ele olhou de Matt para Nicky, verificando se ele os via de forma diferente, mas nada havia mudado. Neil não sabia o significado disso, porém sabia que ainda não era o momento de descobrir. Esperaria até a próxima semana, quando as Raposas teriam uma semana de folga antes do jogo da morte.
A completa distração de si mesmo veio na quarta-feira, quando Kengo Moriyama desmaiou em uma reunião de conselho e foi levado para o hospital em uma ambulância. Wymack sempre mantinha seu time informado de notícias de fundo, então mandou uma mensagem para sua equipe no momento em que ouviu sobre o ocorrido. Neil estava certo de que teriam microfones apontados no rosto de Riko antes mesmo de Kengo ser avaliado, e se não odiasse tanto Riko, ficaria enojado com o entusiasmo desumano dos repórteres.
Ele encontrou a entrevista online nos computadores da biblioteca entre as aulas. Riko tolerou a maioria de suas perguntas indiscretas com elegância e um comportamento calmo, no entanto mostrou desagrado assim que perguntado se estaria a caminho do hospital. Os repórteres sabiam muito bem que Kengo e Riko estavam separados; eles simplesmente não entendiam a seriedade da separação. Kevin dissera uma vez as Raposas que Riko nunca conhecera seu pai ou irmão. A família Moriyama não tinha tempo a perder com os filhos não primogênitos, sendo assim Riko foi enviada para Tetsuji o mais rápido possível após o nascimento.
O olhar que Riko enviou à mulher poderia derreter o microfone que ela segurava.
– Você está ciente de que temos um jogo amanhã. Meu lugar é aqui com a minha equipe. Se os médicos honrarem seus diplomas, lhe devolveram toda saúde, eu estando ou não lá para ver isso acontecer.
Neil pegou seu celular e enviou uma mensagem para Kevin.
– Acha que é grave?
– É melhor não ser –, foi a primeira resposta de Kevin, e então, – Riko ainda acredita que pode conseguir a atenção de seu pai com sua fama. Se ele não se recuperar, Riko descontará sua raiva e tristeza em tomo mundo.
Neil refletiu, então disse:
– Ainda bem que você não está mais lá.
 – Jean ainda está – Kevin respondeu, e Neil soube que não deveria ter comentado.
O equipamento de reposição de Neil chegou na quinta. A partida fora de casa contra o Arkansas, na sexta-feira, significava uma viagem durante todo o dia. Eles já estavam no ônibus das Raposas antes do sol nascer, fizeram paradas a cada quatro horas em pontos de parada e descanso na rodovia. Com tanto tempo de sobra, Neil terminou seu dever de casa, estudou e enjoou de seu livro no meio do caminho. Ele conhecia o time do Arkansas de dentro para fora, então não fazia sentido ficar revendo sua formação. Estava exausto de tédio, mas não exausto o suficiente para dormir.
Kevin e Nicky dormiam e Andrew olhava pela janela, para o nada. Aaron os ignorava, como de costume. Neil desistiu deles como fonte de entretenimento e se dirigiu para frente do ônibus, onde os veteranos faziam uma conversa animada.
Eles não perguntaram o porquê ele tinha saído de seu lugar habitual, porém o entregaram no grupo sem hesitação. Não fez a viagem parecer mais curta, mas era significativamente menos entediante. Neil não fazia ideia de como Wymack conseguia dormir com o barulho deles. Força de vontade, ele supôs, porque Wymack ainda se recusava a contratar um motorista e não queria que suas raposas ficassem no Arkansas durante a noite. Ele os traria à Carolina do Sul logo após o jogo.
Eles chegaram à cidade por volta das seis horas, horário regional, duas horas antes da partida. O jantar foi em um bufê local, onde desesperadamente inalaram calorias suficientes para mantê-los durante todo o jogo, e depois, tiveram tempo suficiente para andar lentamente em volta da quadra do SUA. Quando os portões finalmente se abriram para deixar a multidão entrar, Wymack mandou suas Raposas se aprontarem.
A SUA não jogou com a velocidade ou a agressividade que a UT e Belmonte trouxeram para a quadra, mas eles eram o time mais comunicativo que Neil já havia enfrentado. Eles constantemente gritavam de cima para baixo, um para o outro, informando aberturas e rastreando as marcações um dos outros. Eles resistiram, mas não ofereceram resistência o suficiente. A SUA já havia perdido para a UT e Belmonte; vencer contra as raposas não salvaria eles ou a sua dignidade.
Durante o intervalo, o resultado da outra partida naquela noite foi: UT havia derrotado Belmonte e assim seguido para o jogo da morte. Ter os rivais eliminados deu as Raposas o segundo fôlego que precisavam, e dominaram a quadra no segundo tempo.
As raposas ganharam por uma margem confortável, posteriormente, lavaram-se antes de voltar ao ônibus às onze. Neil encontrou uma mensagem lhe esperando assim que ligou o celular novamente: “42”.
Ele digitou um “Não enche”, mas apagou imediatamente. Reconhecendo as mensagens, a última coisa que ele queria fazer era encorajar quem quer que estivesse provocando-o. Neil desligou o telefone novamente e comemorou com os veteranos.



12 Comentários

  1. Anônimo15 janeiro

    THIAGO EU TE AMO

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    1. Ain, obrigado pelo carinho saiu até uma lágrima aqui. 💖💗💕

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  2. Anônimo15 janeiro

    Muito obrigada pela atualização,estava ansiosa

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  3. aaaaaaaaaaa mano mano eu só estou chorando.... apenas sério, puts!
    eu tentei ler em inglês mas fiquei parada na parte em q o Andrew compra o carro lá e man o beijo aaaaaaaaaaaaaaaaaa
    cara muito obg eu estava esperando muito a continuação dessa belezura q é essa trilogia <3 <3
    já tô esperando o próximo! caraca e vc postou 1 dia antes do meu niver muito thanks <3

    (dscp tô alterada)

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  4. Anônimo22 janeiro

    obrigada por traduzir <3

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  5. Anônimo22 janeiro

    Esperando o proximo capítulo \o/

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  6. “Beijar um deles era impensável...”

    Velho, finalmente o shippe está tomando forma pqp. Obg pela tradição, você é d+.

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  7. Primeiro,obrigada mesmo por essas traduções.Não consegui encontrar os livros traduzidos em nenhum outro lugar e eu já sabia que amaria essa história,só não sabia o quanto ficaria completamente cativada por ela.Não sei se você pretende traduzir o restante do livro,mas mantenho as esperanças.Muito obrigada mais uma vez.

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    1. Si, vou continuar a tradução. Como já tá no finalzinho, então estou traduzindo dois capítulos de uma vez. logo logo sai os próximos.

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  8. essas contagens estão me deixando nervosa aaaaaaaaa

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  9. MDS Será se é o pai dele? to nervosa com essas msg SOCORRO

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