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The King's Men - Capítulo Dez


TRADUÇÃO: THIAGO

REVISÃO: GABE

Uma semana sem jogos não diminuiu a intensidade de seus treinos, contudo Wymack abriu mão de um pequeno espaço. Não por consideração, mas por necessidade: ele havia feito sua primeira onda de cortes em sua pilha de Raposas e precisava da ajuda de sua equipe para reduzi-la. As garotas aceitaram a tarefa entusiasmadas, o que Neil não esperava. Ele achava que escolher seus próprios substitutos seria um leve lembrete de que estavam se formando daqui a um ano. Se alguma delas estava ciente de que seu tempo estava acabando, não demonstrava.

Menos surpreendente foi o desprezo de Kevin por todos os arquivos que Wymack lhe oferecia. Ele insistiu que Wymack fizesse uma segunda avaliação, o qual Wymack exigiu que Kevin fosse um pouco menos rígido com atacantes que não haviam sido criados para se tornarem campeões. Neil não tinha a experiência ou discernimento para discutir com Kevin, embora se agarrasse silenciosamente a uma das escolhas que fizera, e se recusava a deixá-lo ser descartado. Kevin tentou arrancá-lo de suas mãos, apenas uma vez, antes de descrever Neil como ignorante e voltou-se a Wymack novamente. Abby interveio quando a discussão ficou alta demais e separou Wymack e Kevin para as extremidades opostas do vestiário.

Na terça-feira, Kengo recebeu alta médica do hospital. Se não fosse o pai de Riko, poderia ter chegado em casa sem questionamentos ou fanfarraS, já que Kengo Moriyama passaria despercebido como apenas mais um magnata. Enquanto estava lá, alguns repórteres esperavam à sua porta. Kengo respondeu suas perguntas com um silêncio mortal e deixou seus assistentes abrirem o caminho. As leis da HIPAA impediram que alguém descobrisse o que estava em seu prontuário, no entanto, ele parecia ter se recuperado, então a imprensa finalmente desistiu e seguiu em frente.

Na tarde de quarta-feira, Andrew teve sua sessão semanal com Betsy, sendo assim, seu grupo pegaria uma carona com Matt. Kevin e Nicky esperavam por eles no corredor quando Neil seguiu Matt para fora de seu quarto. Aaron não estava à vista. Neil fechou a porta e olhou para Nicky.

Nicky meneou a cabeça.

– Ele disse que pegaria uma carona com Andrew hoje.

– Até o estádio? – perguntou Dan.

Neil considerou a expressão dos olhos arregalados de Nicky e adivinhou:

– Até a Dobson. Aaron quis ir junto.

– Não brinca! – disse Matt, assustado. – É sério mesmo?

– Estranho, não é? – Nicky indagou. – Eu disse que não sabia que Andrew tinha concordado, e Aaron disse que Andrew não sabia o que ele estava planejando. Aaron ainda não voltou, então ou ele está morto no estacionamento ou conseguiu. Será que cansou da Katelyn evitando ele? Falando nisso, um dia desses quero saber como você envolveu ela nisso.

– Eu perguntei.

– Lá vem com esse “Pergunte” de novo –, disse Matt. – Significa outra coisa de onde você veio?

– Na maioria das vezes, sim – respondeu ele.

A honestidade inesperada fez Matt rir. Sem o antagonismo de Andrew e Aaron erguendo muros, era fácil para as Raposas se enturmarem. Eles desceram as escadas em um grupo misto. Nicky checou o estacionamento em busca de sinais da trágica morte de Aaron e subiu na caminhonete de Matt com um sorriso selvagem quando não encontrou nenhum cadáver. Apesar dessa alegria, ele foi rápido para indicar Neil como porta-voz quando Wymack precisava de uma explicação para a ausência de Aaron. Wymack retribuiu adicionando voltas extras. Neil esperava que, pelo menos, Nicky resmungasse, no entanto Nicky estava tão abalado com o progresso questionável de seus primos que correu sem reclamar.

Andrew e Aaron tiveram que notar o intenso escrutínio a que foram submetidos quando chegaram, no entanto, nenhum reconheceu a atenção. As raposas não eram suicidas o suficiente para perguntar como tinham ido. Andrew parecia calmo, mas a expressão de Aaron era claramente cruel.

Wymack olhou para eles, de um para o outro.

– Isso vai ser algo rotineiro? Preciso saber como planejar as coisas.

– Não –, respondeu Andrew.

Aaron lançou-lhe um olhar irritado. 

– Sim

– Tudo bem –, disse Wymack, e isso foi tudo.

***

Eles não tiveram um jogo na sexta-feira, contudo o CRE finalmente publicou a programação da semana seguinte. Seis equipes de divisões paralelas procederiam para o mata-mata, em comparação com oito dos superiores. As Raposas enfrentariam a Universidade de Vermont Pumas, em casa. UT ficaria contra Nevada e Washington State enfrentaria Binghamton. Na categoria dos superiores, os Três Grandes haviam milagrosamente evitado uns aos outros. Todos iriam para a terceira rodada, junto com qualquer time que vencesse a partida entre Oregon e Maryland. Haveria outra pausa de uma semana entre as partidas de mata-ma e a terceira rodada.

Um fim de semana livre significava que eles deveriam ter passado a noite bebendo em Columbia, mas o truque de Aaron, na quarta-feira, arrastou a guerra fria dos gêmeos para um nível totalmente novo. Segundo Nicky, Aaron entrou no quarto no mínimo para dormir ou trocar de roupa. Nicky supôs que Aaron passara o resto do seu tempo livre com Katelyn. Neil esperava que ele estivesse errado. Katelyn poderia estar disposta a falar com Aaron novamente agora que havia colocado os pés no chão, mas Andrew tinha uma promessa a cumprir e tinha mais razões do que nunca para atacá-la. Se Katelyn fosse esperta, mentiria por algumas semanas.

Eles não podiam ir para Columbia sem Aaron, então Nicky arrastou Neil para o seu quarto. Aaron havia desaparecido, entretanto, Nicky e Andrew tomaram as poltronas e se uniram em um jogo de terror. Neil trouxera sua bolsa, embora a trilha assustadora e o grito ocasional na tela fossem desculpas perfeitas para não fazer nenhum dever de casa. Ele olhou para Kevin, que desconectou os fones de ouvido de seu laptop e apontou para o quarto. Kevin pegou o computador, depois Neil foi buscar um bloco de notas e fechou a porta da sala atrás deles.

Kevin estava escrito em um site de streaming de Exy. Ele procurou pelo mais recente jogo de Vermont e girou a tela para que ambos pudessem ver. Neil anotou, Kevin absorveu tudo o que pôde ver e então compararam as ideias. A UVM tinha uma equipe desequilibrada: uma defesa intimidadora apoiando uma linha ofensiva medíocre. Neil e Kevin ficariam bastante ocupados, mas pelo menos sua defesa problemática teria uma situação favorável.

Uma partida tornou-se duas, e teria se tornado três se Nicky não tivesse vindo procurá-los. Nicky levou um segundo para perceber o que eles estavam fazendo e lançou um olhar desanimado entre eles.

– Vocês não estão falando sério. É sexta-feira à noite e é assim que vocês se divertem? Dá um tempo! Pensem em outra coisa por um tempo, fariam isso? Tipo, sorvete. Pensei que íamos para Columbia. Meu corpo está clamando por sorvete o dia todo. Fui enganado e exijo compensação.

– Isso não é problema nosso –, acusou Kevin.

– Estou tornando seu problema –, disse Nicky. – Neil, você vem comigo até a loja. 

– Vá sozinho –, insistiu Kevin.

– É uma ótima ideia. Há um pequeno erro, no entanto: não estou mais na apólice de seguro e não tenho a chave para dirigir.

– Você o que? – Neil perguntou surpreso.

Nicky deu de ombros e não explicou.

– Vamos, Neil. Os jogos vão estar no mesmo lugar amanhã. Estou aqui agora, estou com fome e cansado de você me ignorando no meu próprio quarto.

Kevin abriu outro jogo e fez uma pausa para que pudesse carregar.

– Andrew pode levar você.

– Não estou falando com você – continuou Nicky. – Estou falando com a sua mini cópia.

– Eu... –, Neil começou, mas hesitou quando o telefone tocou.

Podia adivinhar o que era, mas havia uma possibilidade de que não fosse. Tirou o celular do bolso e abriu-o para ler a contribuição do dia a sua contagem regressiva: "35". Neil olhou para baixo em silêncio. Se Neil acreditasse em sinais, isso seria a prova de que deveria ficar com Kevin. Eles poderiam assistir outra partida antes de terem que dormir. Mais um jogo e ele, provavelmente, teria nomes e números memorizados. Eles tinham menos de três meses até as finais. As Raposas não podiam dar um único passo em falso.

Neil olhou para cima, pronto para rejeitar Nicky, mas Andrew se aproximou de Nicky na porta. Neil olhou para ele e pensou no apelo preocupado de Nicky no outono passado, o aviso de que algum dia Exy não seria o suficiente por si só. Poderia ser um refúgio seguro de seus pensamentos, uma razão para se erguer e uma inspiração para lutar mais. Poderia significar o mundo para ele, porém não poderia ser tudo. Ele não podia juntar seus cacos como as Raposas faziam. O Exy não largaria tudo para buscá-lo no aeroporto ou chegaria até ele sem questionamentos, ou o chamaria de “amigo”. Neil construiu sua vida em torno de Exy depois que sua mãe morrera, porque precisava de algo para viver, mas Neil não estava mais sozinho.

Talvez se arrependesse disso na segunda-feira, quando estivesse a mil passos atrás de Kevin, mas não era como se Neil fosse alcançá-lo de qualquer maneira. Neil fechou o celular e olhou para Kevin.

– Qual sabor você quer?

Kevin olhou para ele.

– Você não vai sair –, disse ele, não exatamente perguntando.

– Se ficarmos nessa, isso vai durar até tarde da noite. Escolha um sabor

Kevin não respondeu; Talvez estivesse muito desapontado com Neil para levar a questão a sério. Neil não se importava mais com o que Kevin pensava dele. Como lembrara a Kevin na outra semana, a jornada de Kevin não havia parado em maio. Ele poderia passar todas as noites assistindo replays e táticas intermináveis, porque ele tinha todo o tempo do mundo de sobra.

Neil colocou o celular no bolso e se levantou.

– Envie uma mensagem para Nicky quando se decidir.

Nicky olhou ao redor com alegria por ter vencido o cabo de guerra. Neil deixou a satisfação pessoal triunfar sobre a atitude de Kevin e trouxe Nicky para o carro. Nicky conversou sobre Erik durante a maior parte da viagem ao supermercado. Nicky planejava passar a maior parte de maio na Alemanha. Seu breve encontro com Erik durante o feriado Natalino fez Nicky sentir sua falta mais do que nunca, e estava contando os dias até que eles pudessem se encontrar novamente. Ele estava um pouco preocupado com o que Andrew e Aaron poderiam fazer em sua ausência, no entanto, estava confiante de que Neil os manteria vivos até o dormitório reabrir, em junho.

Kevin ainda não mandara a mensagem para Nicky quando chegaram ao corredor de sorvetes, então Nicky cedeu e ligou para ele. Por um estante, Neil esperou que Kevin ignorasse a ligação de Nicky, no entanto, Kevin não estava tão zangado a ponto de recusar um lanche grátis. Nicky pagou pelos potes antes que Neil pudesse se oferecer para comprar o seu, e ambos voltaram ao dormitório com o seu carregamento.

Kevin não estava à vista, contudo a porta do quarto estava trancada novamente. Neil supôs que ele havia voltado a assistir os jogos, sozinho. Por um momento, Neil se incomodou por Kevin não estar disposto a esperá-lo, mas se recusou a se arrepender de sua decisão. Nicky pegou colheres na cozinha e distribuiu os potes para seus donos famintos. Neil verificou sua expressão quando Nicky voltou depois de ter entregue a Kevin, mas Nicky apenas revirou os olhos para Neil e sorriu novamente. Ele jogou o saco plástico vazio na lata de lixo e examinou sua prateleira de DVD com os punhos nos quadris.

Depois de um minuto verificando seriamente Nicky reclamou:

– Não tem nada para assistir aqui, Vou vasculhar a coleção de Matt.

Definitivamente havia dito isso, mas esperou um pouco no caso de Andrew rejeitar essa ideia. Neil olhou para Andrew, rolando o sorvete entre as mãos para amolecer. Quando Andrew não disse nada, Nicky desapareceu. Neil trancou a porta atrás de si e levou seu sorvete até Andrew. Ajoelhou-se no chão perto ao pufe de Andrew e escutou. Ele não ouviu o som de jogo vindo do quarto, contudo, os fones de Kevin não estavam mais na mesa. Neil deixou o sorvete e a colher de lado e olhou para Andrew.

– Quando disse que não gosta de ser tocado, é porque você não gosta de nada ou porque não confia em ninguém o suficiente para deixar tocar em você?

Andrew olhou para ele.

– Não importa.

– Se não importasse, não perguntaria.

– Não importa para um cara que não gosta da fruta – esclareceu Andrew.

Neil deu de ombros.

– Nunca experimentei porque nunca foi permitido. A única coisa que pensava em quanto crescia era em sobreviver.

Talvez fosse por isso que estava naquela área cinza do que era aceitável. Não importava se Andrew era um sociopata ou homem; a ideia de Andrew era tão entrelaçada com a ideia da segurança de Neil que isso também era um meio de autopreservação.

– Me relacionar com alguém significava confiar que eles não me apunhalariam pelas costas quando pessoas terríveis me procurassem. Estava com muito medo de me arriscar, então era mais fácil ficar sozinho e não pensar nisso. Mas confio em você.

– Não deveria.

– Disse o carinha que decidiu parar. – Neil deu a Andrew alguns segundos para responder antes de dizer: – Não entendo, e não sei o que estou fazendo, não quero ignorá-lo só por ser novidade. Então, você, está completamente fora dos limites ou há alguma parte segura?

– Tá esperando o que, coordenadas?

– Esperando saber onde estão os limites antes de cruzá-los –, esclareceu Neil, – mas estou disposto a desenhar um mapa em você, se quiser me emprestar um marcador. Não é uma má ideia.

– Tudo relacionado a você é uma má ideia –, disse Andrew, como se Neil já não soubesse disso. 

– Ainda estou esperando por uma resposta.

– Eu ainda estou esperando por um sim ou um não que possa realmente acreditar –, Andrew respondeu.

– Sim.

Neil pegou o pote de sorvete dos dedos de Andrew, que não resistiu, colocou-o sobre o seu e inclinou-se sobre ele. Ele parou, timidamente beijando Andrew, não se atrevendo a tocá-lo até que Andrew lhe deu a luz verde. A expressão de Andrew não mudou, mas houve uma mudança sutil na tensão em seu corpo que disse a Neil que ele havia chamado a atenção de Andrew. Neil ergueu a mão, embora tenha sido detido por uma diferença segura do rosto de Andrew. Andrew agarrou seu pulso e apertou-o como um aviso.

– Tudo bem se você me odeia –, disse Neil.

Era a verdade, embora um pouco de eufemismo. Enquanto Andrew estivesse apenas fisicamente atraído por Neil, era seguro experimentar. A morte de Neil não seria mais do que um leve inconveniente para Andrew.

– Ótimo –, disse Andrew, – porque eu vou continuar.

Por um segundo Neil pensou que Andrew o afastaria e terminaria com isso. Andrew o empurrou, mas seguiu Neil para o assoalho. O tapete curto era áspero contra os nós dos dedos de Neil, onde Andrew colocou a mão sobre sua cabeça. Neil não podia reclamar quando Andrew era um peso firme em cima dele. Sua mão começou a procurar Andrew novamente, mas parou no meio do caminho. Andrew pegou sua mão também e manteve-a fora do caminho.

– Fique ai –, disse Andrew, e inclinou-se para beijá-lo.

O tempo não era nada. Os segundos eram dias, eram anos, eram as respirações que ficaram presas entre suas bocas e a mordida das unhas de Neil contra as palmas das mãos, o roçar de dentes contra o lábio inferior e o quente deslize de uma língua contra a sua. Ele podia sentir o batimento cardíaco de Andrew contra seus pulsos em um ritmo ecoando nas veias de Neil. Como alguém que via o mundo com tal desconexão estudada podia beijar desta forma, Neil não sabia, mas não reclamou.

Neil esquecera como era ser tocado sem intenção maliciosa. Tinha esquecido como era o calor do corpo. Tudo sobre Andrew estava quente, das mãos que o seguravam até a boca, constantemente afastando Neil. Neil finalmente entendeu o porquê sua mãe achava isso tão perigoso. Era distração e indiscrição, algo a ser evitado e negado. Era baixar aguarda, deixar alguém ocupar espaço, e se reconfortar em algo que não deveria ter e não poderia manter. Agora, Neil precisava de mais dessa sensação calorosa para se importar.

Mas isso não poderia demorar, porque Kevin estava na sala ao lado e Nicky estava a apenas duas portas de distância, porém a boca de Neil estava dormente e os seus pensamentos passaram zunindo pela incoerência quando um golpe lhes advertiu que Nicky tinha aberto a porta. Neil reprimiu um lampejo de irritação quando Andrew se levantou e se afastou dele. Neil tentou dizer a Nicky para esperar um momento, mas não teve fôlego para falar.

Andrew estudou a expressão de Neil por alguns segundos, depois se levantou e foi para a porta. Neil levantou-se com as mãos trêmulas e retirou-se para a mesa de Kevin com o sorvete. Tirar o lacre de segurança foi a coisa mais difícil que fez durante todo o ano, mas pelo menos lhe deu uma desculpa para não olhar para Nicky. Nicky resmungou sobre ter sido trancado para fora de seu próprio quarto assim que atravessou a porta, mas quando chegou ao pufe, já havia esquecido em favor dos filmes que tinha emprestado.

– Olhem, vocês vão votar desta vez – disse Nicky, como se estivesse fazendo um grande favor a eles.

Ele citou títulos e atores principais. Neil deixou a lista entrar por um ouvido e sair pelo outro. Depois de conviver com as Raposas por tanto tempo, ele reconheceu a maioria dos nomes dos atores, mas não conhecia nenhum filme. Ele havia deixado de se importar, de qualquer forma, e não demorou mito para Nicky notar.

– Olá, terra para Neil. Você me ouve?

Neil olhou para as marcas de meia-lua que deixara na palma da sua mão. 

– Você escolhe.

– Vocês dois são as pessoas menos úteis em todo o universo –, reclamou Nicky, apesar de ter levado apenas um segundo para tomar uma decisão.

A entrada abriu e fechou quando puxou o DVD. Neil ouviu o assento ranger quando Nicky se acomodou no pufe. Neil não ouviu Andrew se sentar novamente, entretanto ele não confiava em si mesmo o suficiente para olhar e ver onde ele estava.

– Vamos, Neil!

Neil já não podia inventar uma desculpa para mais tempo.

– Já vou.

Então, as luzes do teto se apagaram o que significava que Andrew ficara na porta depois de deixar Nicky entrar. Pensar que Andrew precisava de espaço e tempo para se recompor, da mesma maneira que Neil, quase destruiu as tentativas de Neil de recuperar seu rosto neutro. O sorvete frio foi um pouco mais útil para sugar o calor de sua pele, então Neil segurou firme e se levantou da mesa. Não havia espaço para se sentar entre os pufe e ele não queria parecer estar evitando Andrew, então se sentou no chão à esquerda do pufe de Andrew.

Nicky iniciou o filme assim que Andrew se juntou a eles. Neil assistiu para que não pudesse olhar Andrew, mas se alguém lhe perguntasse mais tarde sobre o que se tratava, ele não seria capaz de dizer. Ele tinha certeza de que ainda sentia o batimento cardíaco de Andrew em sua pele quando foi dormir algumas horas depois.

***

Neil sobrevivera a mais do que algumas semanas agitadas enquanto se desenvolvia, mas a semana que antecedia o primeiro jogo da morte das Raposas foi quase o suficiente para abalá-lo. Os níveis de estresse de seus companheiros estavam nas alturas, e Neil não pôde deixar de ser afetado por seu pânico silencioso. Dan tentou soar tranquila, embora Neil pudesse ouvir a tensão em sua voz enquanto liderava sua equipe no treino.

Allison gritou com alinha defensiva deficiente sempre que teve uma oportunidade, e Kevin foi horrível com todos eles. Matt era ligeiramente o melhor em manter as aparências, mas quanto mais à semana se passava todos ficavam mais inquietos e ansiosos do que ele.

Até mesmo Renée estava sentindo isso, embora disfarçasse bem. Quando suas amigas estavam por perto, ela era o refúgio perfeito para se apoiar, tão encorajadora e agradável como sempre. Porém, era uma história completamente diferente quando corria com Andrew e Neil, nos intervalos. Ela não admitiu nada, no entanto, parecia um pouco mais cansada a cada dia. Ela também se sentia obrigada a sorrir para ele, quando o que realmente precisava era tempo para recuperar o fôlego e acalmar seus próprios nervos.

Demorou alguns dias para Neil perceber que não eram as Raposas que consumiam a maior parte de sua energia. Renee raramente disse alguma coisa em suas caminhadas, muito atenta ao que acontecia em seu celular. A ocasional contração triste no canto da boca dizia que suas trocas de mensagens com Jean não estavam indo bem.

O treino árduo da tarde fez com que todos saíssem doloridos. Kevin e Neil fizeram todo o possível para evitar seus companheiros de equipe, e os defensores recuaram o quanto puderam. A pesar das dores que Neil levava para casa, a única coisa que conseguiu pensar durante o jantar foi em voltar para quadra naquela noite.

Quando Neil levou Kevin ao estádio na noite de quarta-feira, ele disse:

– Deveríamos ter trazido Andrew com a gente.

– Não –, Kevin o refutou. – Já lhe disse: ele deve vir por livre e espontânea vontade. Não vai significar nada se vier por nossa causa.

– Eu sei o que você disse, mas precisamos de mais treinos contra o gol vigiado.

– Isso não nos ajudaria. Seu objetivo não é o goleiro: é o gol em si. Os goleiros mudam a cada semana. Nenhum tem a mesma força ou destreza. Por que ficar obcecado em superar um único quando não terá nenhum efeito no resto? Aperfeiçoe seu próprio desempenho e não se importe com quem está no gol.

– Estou apenas dizendo que...

– Continue discutindo e você vai treinar sozinho esta noite.

Neil fechou a cara para o para-brisa e ficou em silêncio. Apesar de seu aborrecimento, Neil pensou nas palavras de Kevin pelo resto da viagem. Não conseguia entendê-las, mas se recusou a pedir explicações a Kevin. Goleiros não eram obstáculos invisíveis. Eram a última linha de defesa em suas equipes e, geralmente, os jogadores mais ágeis na quadra.

Pontuar não era simplesmente lançar a bola dentro do gol; era levar a bola até certo ponto de forma que o goleiro não pudesse prever ou desviar.

O assunto ainda incomodava Neil no dia seguinte, então perguntou para os goleiros do time durante o intervalo, na quinta-feira à tarde. Renee virou o celular nas mãos enquanto considerava. Andrew nem sequer deu ouvidos.

É interessante – disse ela. – e parece estar funcionando para ele. No entanto, pedir a alguém para mudar sua mentalidade e abordagem é uma tarefa difícil, especialmente no final da temporada. – Então, novamente, ela disse depois de um momento – você trocou de raquete no meio da temporada.

– A raquete é outra coisa –, disse Neil. – Acho que não posso fazer isso.

– Se não quiser, não faça –, disse Renee, como se rejeitar Kevin fosse tão simples. – Se você quiser tentar, nós ajudaremos da melhor forma que pudermos.

– Não – Andrew cortou antes que Neil pudesse responder. – Pare de copiar ele.

– Estou tentando melhorar – explicou Neil. – Não consigo melhorar sozinho.

Andrew deu-lhe um olhar entediado e não disse mais nada. Neil deu-lhe um minuto e depois ficou em sua frente quando percebeu que realmente Andrew não planejava elaborar uma explicação. Renee silenciosamente guardou o celular e olhou para os dois. Seu olhar permaneceu em Neil, mas Neil não retribuiu. Ele procurou pela expressão calma de Andrew em busca de respostas.

– Por que eu não deveria copiá-lo? – indagou Neil.

– Você nunca vai jogar como ele –, disse Andrew. Antes que Neil pudesse entender isso como um insulto ao seu potencial, Andrew continuou. – Ele é um idiota, o estilo dele é baseado em números e ângulos. Fórmulas e estatísticas, tentativas e erros, repetições e loucura. A única coisa que importa é encontrar a jogabilidade perfeita.

– Isso é tão ruim?

– Não faça perguntas estúpidas.

– Não me faça...

– Um viciado como você não pode ser tão frio –, disse Andrew.

– Não sou viciado.

Andrew apenas olhou para ele, então Renee interveio com delicadeza:

– Acho que isso significa que Kevin é muito analítico, enquanto você é apaixonado. Ambos se preocupam em ganhar, mas não da mesma maneira.

Andrew nada disse para confirmar ou negar essa interpretação, então Neil saiu do seu caminho. Andrew continuou andando, terminando esta conversa. Renee ficou com Neil, no entanto, não disse mais nada. Neil olhou para Andrew enquanto considerava sua opinião sobre ele. Se Andrew estivesse certo, Kevin não se importava com os goleiros, porque era um jogador técnico. Seu foco estava em aperfeiçoar tacadas impossíveis e ângulos difíceis. Ele jogava contra si mesmo, não contra o goleiro, então o goleiro sempre era uma ideia de última hora.

Andrew estava certo. Neil não podia jogar desta forma. Aprender os truques de Kevin eram necessários para o seu desenvolvimento como jogador, e Neil nunca poderia implementá-los da mesma maneira em quadra. Neil estava bastante consciente dos obstáculos e emoções impostos à sua posição.

Ele gostava de ser o melhor jogador, o mais rápido. Gostava de jogadas frenéticas, contato físico e comemorar os gols. As jogadas não precisavam ser bonitas ou perfeitas, contanto que ganhassem no final.

A compreensão diminuiu a tensão persistente da noite passada. Enquanto relaxava, Neil percebeu que Renee ainda estava o olhando. Ela sorriu quando retribuiu o olhar e inclinou a cabeça para acenar. Eles continuaram atrás de Andrew, caminhando a última volta em silêncio confortável.

***

Quando as Raposas entraram em quadra no dia 9 de fevereiro, ninguém esperava a batalha que trariam. 45 minutos de jogo, os Pumas perdiam por três pontos de diferença. Na televisão do vestiário das Raposas, os comentaristas balançavam a cabeça, surpresos.

– Estou com você nesta, Marie. Não tenho certeza quem estamos assistindo agora ou o que fizeram com as Raposas no ano passado, mas eles me impressionaram completamente.

Neil olhou para a televisão enquanto se espreguiçava. Os dois estavam relatando ao vivo de dentro do Estádio Foxhole, a poucos metros dos bancos vazios das Raposas. Era difícil ouvi-los pelo barulho das arquibancadas, especialmente quando a Raposa Rocky, a mascote, passava por ali.

– Honestamente, eu nunca esperei que eles terminassem a temporada –, disse Marie. – A quantidade de contratempos que tiveram este ano foi inacreditável, eu tinha certeza que eles se aposentariam em novembro. É uma verdadeira honra para a formação atual chegar até aqui. Esse é o primeiro grupo de Raposas que realmente leva trabalho em equipe a sério.

– De fato –, concordou sua contraparte masculina. – Este é o tipo de sincrônica que você espera das escolas da primeira divisão. Algumas semanas atrás, todos nós rimos quando o novato Neil Josten disse que as Raposas estavam ansiosos para ter uma revanche contra os Corvos. Ninguém está rindo agora. Se eles conseguirem manter esse ímpeto e continuar jogando como estão fazendo hoje, terão uma chance real de passar para as semifinais.

– Dez minutos de intervalo –, disse Marie. – O placar está em seis a três. Será necessário um bom trabalho para os Pumas se recuperarem. Estamos a menos de uma hora de ver se as Raposas conseguirão sua primeira vitória na fase mata-mata.  Vamos ver alguns destaques do primeiro tempo e depois...

Dan desligou a televisão e ficou em frente à tela escura. Matt deu-lhe um minuto, depois tocou seu ombro para chamar sua atenção. Ela respondeu seu olhar interrogativo com um sorriso irônico.

– É estranho ouvi-los dizer coisas boas sobre nós –, disse ela.

– Pôs demorou muito – bufou Allison.

– Demoramos o suficiente para ganharmos a consideração deles – salientou Renée, sem indelicadeza.

Os veteranos trocaram olhares longamente, exaustos e triunfantes. A primeira formação das Raposas passou um vexame com os dois pés no portão de saída, no meio da temporada eles haviam se tornado a piada no esporte. As meninas chegaram à Palmetto sabendo que seria preciso trabalho duro para resgatar essa amarga reputação e que Wymack era seu único aliado.

Exy era um esporte misto, mas as mulheres estavam amplamente em desvantagem na NCAA. Poucas chegaram às ligas principais e equipes profissionais. A reitoria da universidade aprovara as três sugeridas por Wymack, mas seus próprios companheiros de equipe transformaram suas vidas em um inferno. Apesar de todas as perdas e obstáculos, eles conseguiram, e agora finalmente conseguiram a aprovação que mereciam.

– Muito bem – disse Dan, afastando-se da televisão.

Seu olhar permaneceu por um momento na última adição ao vestiário: uma mesa de mogno no canto, próxima da foto de Andrew e Neil. Ela dissera no mês passado que queria uma posição para seu eventual troféu. Neil pensou que ela estava falando mais para inspirar a equipe, mas aparentemente não. Allison encontrara a posição perfeita na noite passada, depois do jantar. Quando Neil e Kevin chegaram ao estádio para treinar, na noite passada, descobriram que os veteranos finalmente haviam encontrado um lugarzinho.

Dan sorriu, baixo e feroz, e olhou para seus companheiros.

– Estou morrendo de vontade de arruinar completamente a noite de alguns Pumas.  Alguém comigo nessa?

– Vamos nessa –, disse Matt com um sorriso cheio de dentes. – O que você tem para nós, treinador?

Wymack correu contra o tempo, entre a pausa do primeiro tempo, o mais rápido que pôde e levou-os de volta à quadra quando o sinal de alerta tocou. O UVM saiu o mais forte que pôde nos passes, irritados com o resultado do primeiro tempo e estimulados pelas reclamações de seu técnico. Eles eram um time inteiramente novo, mas Neil reprimiu sua pontada de pânico. Perder sua calma agora só destruiria as chances das Raposas. Se concentrou apenas no que ele e Kevin podiam controlar e confiou em seus companheiros de equipe para lidar com o seu lado da quadra.

Vinte minutos antes do segundo tempo, o placar ainda não havia mudado. Neil e Kevin não puderam evitar suas marcações relutantes, e os atacantes da UVM não conseguiram furar o bloqueio de Andrew. O jogo não tinha sido amigável antes, mas quando os ânimos se acenderam e a paciência diminuiu, o jogo ficou um pouco mais bruto. Neil estava acostumado a correr de um lado para o outro enquanto esperava que a bola viesse em sua direção, no entanto, esses empurrões agressivos o fizeram deslizar pelo chão. Neil cerrou os dentes e empurrou de volta, mas seu marcador tinha meio metro e quarenta quilos a mais; ele não conseguiria nada sem violência.

Uma briga estava por vir; todos sabiam. Era aleatório qual dos jogadores entraria nisso por primeiro. Surpreendentemente – ou não – foi Andrew.

Depois de arremessar outra bola na quadra, Andrew bateu a raquete na parede e chamou por Nicky. Neil só teve meio segundo para ver Nicky avançar em direção ao gol; A bola estava a caminho de Kevin, e isso era mais importante do que estava acontecendo na outra extremidade da quadra. Kevin não conseguiu passar por entre os defensores e estava em um ângulo ruim para passar a Neil, então jogou a bola para Dan. Dan tirou a marcação de seu encalço e correu pela quadra, para a linha ofensiva. Ela lançou a bola na parede de trás, para atingir a perde e saltar para a frente. Neil e Kevin correram, mas o goleiro deu um pulo para pegar a bola primeiro. Ele a arremessou em direção ao teto, em um ângulo íngreme, e caiu no meio da quadra entre os negociantes e a defesa das Raposas.

O atacante adversário correu, porém, Nicky, que o marcava, lhe deu uma rasteira. Uma falta em flagrante parou completamente a partida, pelo menos até o atacante de Nicky se levantar novamente. Ele veio para Nicky com os punhos voando, mas Andrew já estava lá. Ele empurrou a raquete entre eles e usou-a para afastar o atacante furioso de seu primo. O atacante foi estúpido o suficiente para errar o golpe e acertar em Andrew, mas Matt e seu marcador intervieram.

Até então, os árbitros entraram em quadra e Nicky mandou beijos quando lhe entregaram seu cartão vermelho. Ele deixou a quadra como um campeão triunfante, com os punhos no ar e sorrindo de orelha a orelha. Aaron veio para substituí-lo, e as equipes se prepararam para um tiro de falta. Neil sorriu ao tomar o sua posição. Ele olhou para Kevin. Kevin estava pronto para correr, confiando na capacidade de Andrew defender o tiro.

Andrew defendeu, e, como sempre, disparou o rebote, onde Neil conseguiria pegar. Neil correu pela quadra como se seu pai estivesse o perseguindo, e não havia nada que sua marcação pudesse fazer para detê-lo. Uma olhada para Kevin mostrou que seu marcador estava perto de mais para ele fazer um passe seguro. Então, Neil roubou a bola e lançou, ela certou o chão, atingindo a parede a poucos metros do gol. O goleiro tentou um rebote, entretanto, Neil foi rápido o suficiente. Ele pegou a bola, manobrou a raquete para fora do caminho e atirou no gol.

Ele estava indo rápido demais, e perto demais da parede, para conseguir parar, mas tinha espaço suficiente para se virar. Ele bateu a omoplata primeira, as costas e depois o capacete, e grunhiu quando a respiração foi arrancada de seus pulmões.

Neil não se importou com a dor; o gol estava em vermelho e a gritaria era ensurdecedora em seus ouvidos. Ele cambaleou para longe da parede, usando sua raquete como bengala até que encontrou seu equilíbrio novamente e respirou o ar de volta em seu corpo dolorido. O goleiro rosnou algo rude para ele, no entanto, Neil ignorou-o com a calma de longa experiência. Seus companheiros o alcançaram na quadra. Neil bateu raquetes e aceitou seus parabéns, mas tudo que importava era passar por eles até o gol. Neil não tinha muito tempo antes que os árbitros pudessem atrapalhar o jogo, então correu o resto do caminho até Andrew.

– Nicky não parte para agressão –, disse Neil. – Você mandou ele dar a rasteira.

– Tava tão entediante – disse Andrew.

Neil sorriu. 

– Agora está se divertindo?

– Essa parte foi vagamente interessante – disse Andrew. – Posso ignorá-la e deixar o resto.

– Foi um começo – disse Neil, e foi para a meia-área.

Dez minutos depois, Kevin explorou os nervos aflorados dos Pumas e marcou. Os Pumas não voltaram a pontuar, apesar de terem tentado com a ferocidade nascida do desespero. Andrew interceptou cada tiro no gol e fez alguns rebotes nos capacetes dos atacantes apenas para irritá-los ainda mais. As arquibancadas estavam em alvoroço durante todo o último minuto. Com cinco segundos restantes, Dan jogou sua raquete de lado e deu um pulo correndo nos braços de Matt.

A campainha soou em uma vitória de oito a três. Eles dominaram o primeiro jogo da morte e estavam na terceira rodada pela primeira vez. Dan tirou o capacete de Matt no momento em que as Raposas os alcançaram, e o beijou no meio da multidão. Kevin e Aaron bateram raquetes e trocaram olhares triunfantes.

Neil estava vagamente ciente dos substitutos atravessando a quadra em direção a eles, mas olhou por entre eles para onde Andrew estava sozinho no gol. Ele já tinha deixado a raquete de lado e se ocupava em desfazer as luvas. Ele tinha de saber que está era uma noite histórica para as Raposas, e Neil sabia que ele podia ouvir a multidão perdendo a cabeça, mas Andrew estava sem pressa e desinteressado. O que quer que o tenha inspirado a intervir antes, desapareceu. Neil, sinceramente, não esperava que esse fosse o jogo que finalmente tocaria Andrew no final, mas não tornava mais fácil vê-lo regredir.

Nicky era uma distração perfeitamente sincronizada, atirando-se em Aaron e Neil quase com força suficiente para tirá-los do chão. Colocou os braços ao redor dos ombros e deu-lhes um aperto de novo.

– Você acredita nisso? – ele perguntou, espantado. – Às vezes nós somos bons pra porra!

Allison deu uma batida no ombro de Neil passando por eles em direção a Dan e Matt. Renee agarrou Kevin para um abraço rápido antes de cruzar os braços com Allison e Dan. Dan estava rindo, tonta com o sucesso inacreditável. Matt deixou-as e atirou um braço pelos ombros do Kevin. Neil olhou de um rosto feliz para outro, saboreando e memorizando este momento.

Andrew perdeu a comemoração na meia-área, mas apareceu a tempo de seguir seus companheiros de time atravessando a formação dos Pumas. Wymack, Abby e dois câmeras esperavam por eles quando saíram da quadra. Dan mostrou aos câmeras um sorriso cheio de dentes antes de abraçar Wymack e Abby. Neil se juntou a seus companheiros para acenar nas arquibancadas, mas foi rápido em deixar as meninas com os microfones e perguntas dos repórteres.

Wymack esperou por eles no salão quando todos foram tomar banho e se trocar. Ele fez uma contagem rápida, e assentiu quando encontrou todos os nove.

– Lembram quando disse para não fazer planos para hoje à noite? – E apontou o polegar para Abby. – Nós estamos indo para a casa dela. Isso foi um “nós”, ou seja, todo mundo. – Ele enviou um olhar significativo ao grupo de Andrew. – Considerem isso um evento de equipe obrigatório. Abby já concordou em cozinhar para nós, e eu passei a maior parte da manhã abastecendo seu armário com bebidas.

– Isso é um voto de confiança ou planos para uma festa de consolação? – perguntou Dan.

– Não importa –, disse Wymack. – Vamos. Estou morrendo de fome e preciso de um cigarro urgente.

Guardas os ajudaram a chegar a seus carros. O tráfego fez a viagem para casa de Abby ser cinco vezes mais longa do que deveria, mas as Raposas estavam com muito bom animo para realmente se importar.

A geladeira de Abby estava cheia de pratos cobertos que havia preparado no início do dia. Ela colocou algumas panelas no forno enquanto Wymack e Dan serviram bebidas. Kevin ficou na cozinha enquanto Wymack e Dan começaram a conversar sobre o jogo da noite. Matt comandou o aparelho de som na outra sala. Nicky e Allison discutiam com todas as suas opções e entre si, mas não pareciam sérios, por isso Neil não interveio.

 Aaron sentou-se em uma cadeira perto da janela e olhava para eles com um olhar vazio no rosto. Ele enviou a Neil um olhar ameaçador ao perceber que Neil estava o olhando, mas Neil o ignorou e foi em busca dos goleiros ausentes. Ele não perdeu tempo no corredor, já que os únicos cômodos daquele lado eram quartos, mas foi para a varanda da frente.

Andrew estava sentado no capô do carro com Renee a sua frente. Renee olhou para a casa ao som da porta e fez sinal para que Neil se juntasse a eles. Quando Neil estava na metade do caminho, Renee se afastou de Andrew e se dirigiu para a calçada. Deu um sorriso a Neil, mas não disse nada. Neil se perguntou o que havia interrompido, e se deveria, ou não, pedir desculpas. Ele não teve tempo de decidir antes que Renee desaparecesse lá dentro. Neil tomou o lugar que acabara de deixar e estudou o rosto inexpressivo de Andrew.

– Nós vencemos – disse Neil.

Ele esperou, mas era óbvio que Andrew não responderia a isso. Neil tentou acabar com sua frustração, porém não conseguiu parar de suspirar.

– Te mataria admitir isso?

– Quase aconteceu da última vez –, disse Andrew.

Ele disse naturalmente, mesmo assim Neil estremeceu quando percebeu seu passo em falso. Ele estendera a mão, mas a parou a uma distância segura do braço de Andrew. As mangas compridas e braçadeiras de Andrew escondiam suas cicatrizes, mas Neil lembrava a sensação sob os seus dedos.

– Isso foi diferente –, disse Neil. – O único em seu caminho agora é você. Você pode realmente ser um profissional um dia, mas não vai chegar lá sem tentar.

Neil esperou, mas Andrew olhou para ele sem dizer uma palavra. Neil poderia ganhar um jogo de olhares com quase qualquer outra pessoa, entretanto, não teve paciência para lutar com Andrew.

– Andrew, fale comigo.

– Você parece uma boneca de corda com um único tema –, disse Andrew. – Não tenho nada a lhe dizer.

– Se eu falar de outro assunto, você vai falar comigo?

Andrew arqueou uma sobrancelha para ele.

– Consegue falar sobre outro assunto?

Isso doeu. Neil abriu a boca para responder alguma coisa, no entanto, as palavras falharam. A conversa fiada que mantinha seus companheiros entretidos com facilidade não significaria nada para nenhum dos dois.

Neil não queria falar sobre filmes e aulas com Andrew. Queria falar sobre a vitória sem precedentes de hoje à noite. Queria falar sobre suas chances de chegar à terceira rodada para outra partida eliminatória. Queria falar sobre a expressão no rosto de Riko quando as Raposas voltassem para enfrentá-los, em maio. Queria saborear essa vitória, não descartá-la como algo trivial e desinteressante.

A porta da frente se abriu. Nicky segurou o batente, mas inclinou-se para chamá-los: 

– As bebidas estão prontas! Vão vir ou o quê?

Andrew empurrou Neil para fora do caminho e deslizou do carro. 

– Tarde de mais.

Neil estava muito infeliz para detê-lo. Ele ficou ao lado do carro até que Andrew alcançou Nicky e finalmente se dirigiu para a casa. No meio do gramado, seu telefone tocou.

Neil estava irritado o suficiente que responder ao “28” em sua caixa de mensagens com um: – Já chega.

Ninguém respondeu.

4 Comentários

  1. Mds esse livro vai me matar de agonia. Eu quero logo ver eles disputando contra os corvos

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  2. Anônimo21 fevereiro

    Esse livro só melhora ❤️

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  3. EU OS AMO. Thiago você é um anjo por estar traduzindo

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  4. QUANTAS BEIJOCAS N TO ACOSTUMADA

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