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The King's Men - Capítulo Onze


TRADUÇÃO: THIAGO

REVISÃO: GABE

As regras mudaram na terceira rodada. Até então, a possibilidade de uma equipe progredir dependia unicamente de sua capacidade de vencer o maior número de jogos possível. Daqui até o final, o foco mudou para pontos. As três universidades que sobreviveram ao mata-mata da divisão se enfrentariam pelas próximas três semanas. As duas equipes que conseguissem mais pontos entre as partidas da divisão iriam para a segunda rodada eliminatória. Tecnicamente, uma equipe podia perder os dois jogos e seguir em frente, mas isso não aconteceu em anos.

Devido ao número ímpar de times, as Raposas jogariam em casa contra o Nevada em 23 de fevereiro, teriam a semana seguinte de folga e enfrentariam Binghamton em uma partida fora de casa no dia 9 de março. A semana entre o jogo da morte e a partida contra o Nevada foi uma semana de descanso, mas as Raposas não estavam dispostas a levar as coisas de vagar. Estavam tão inspirados quanto aterrorizados com a vitória na sexta-feira, e não queriam perder o ímpeto. Felizmente, para eles, não havia maneiras de pegar leve. Wymack manteve-os treinando até quinta-feira.

Uma equipe de televisão foi ao Foxhole, na tarde de quinta-feira, para fazer uma reportagem sobre as Raposas para o programa da NCAA. Neil pensou que Kevin discutiria, já que entrevistas e filmagens transformaram o treino em uma bagunça, mas Kevin sabia que as Raposas realmente precisavam de publicidade. Neil quase esquecera o quão gentil Kevin poderia ser quando havia uma câmera em sua cara. Neil reprimiu a vontade de desmascarar a atuação de Kevin e evitou os microfones o máximo possível.

Neil não pôde escapar dos holofotes para sempre. Wymack e Kevin o observaram sobre a cabeça do jornalista quando Neil foi finalmente escolhido para uma entrevista. Neil respondeu ao olhar de advertência de Kevin com um olhar gentil e tentou ser educado o máximo que pôde. No começo foi fácil, já que a maioria das perguntas era sobre o progresso das Raposas. Era inevitável que concluíssem com alguma pergunta sobre Riko e os Corvos. Neil tentou dizer algo neutro, entretanto, o entrevistador não gostou nada de sua discrição.

– Da última vez que disse algo que ninguém queria ouvir, minha universidade foi vandalizada –, disse Neil. – Estava tentando evitar danos colaterais desta vez. Mas quer saber de uma coisa? Você está certo. Não posso me dar ao luxo de ficar quieto. O silêncio significa que eu tolero o comportamento deles, e isso é uma ilusão perigosa. Eu não vou perdoar ou tolerá-los só porque são talentosos e populares. Deixe-me responder a essa pergunta novamente, ok?

– Sim –, disse Neil. – Estou cem por cento certo de que vamos enfrentar os Corvos na final desta primavera, e sei que é um fato que vamos ganhar desta vez. E quando os melhores do país perderem para um time de nove integrantes que “não sabem nada”. – quando perderem para um time que seu próprio treinador comparou com cachorros vira-latas – Edgar Allan terá que mudar as coisas. Pessoalmente, acho que eles deveriam começar exigindo a renúncia do técnico Moriyama.

O estrondo feito por Kevin não pareceu humano. O entrevistador e seu cinegrafista olharam para ele com um sobressalto por cima dos ombros. Kevin não ficou tempo suficiente para ser questionado, contudo correu para o corredor ficando fora de vista. Wymack, apesar de reclamar em numerosas ocasiões sobre o distúrbio de comportamento de Neil, mostrou os dentes quando sorriu ferozmente. Neil respondeu ao olhar curioso do entrevistador com um olhar vazio e esperou pelo sinal de que tudo estava acabado. Assim que a câmera desligou, voltou para a quadra. Como esperado, Kevin o ignorou durante o resto do dia.

Neil teve a sensação de que esta noite seria apática e silenciosa. Matt chegou à mesma conclusão e desejou boa sorte a Neil antes de ir a um jantar com Dan. Neil fechou a porta atrás de si, olhou para o relógio e passou a próxima meia hora resolvendo problemas de matemática. Ele estava no último quando houve uma única batida em sua porta. Não foi a batida imperiosa de Kevin, e nem o entusiasmado toc, toc, toc de Nicky, entretanto os veteranos não o visitavam quando Matt e Dan estavam fora. Neil deixou de lado sua tarefa e foi investigar.

Andrew estava no corredor, as mãos enfiadas nos bolsos da frente de um moletom preto. Neil abriu mais a porta e saiu do caminho. Andrew olhou para dentro antes de entrar no quarto. Neil supôs que ele estava procurando pelos outros, então explicou:

– Matt saiu com Dan por algumas horas. Você vai com a gente para o estádio?

– Arrume algo para se entreter hoje à noite. – Andrew se convidou para a cozinha e abriu a geladeira. – Kevin tá bêbado demais para te xingar, e muito menos ficar de pé e segurar uma raquete.

– Como? – Neil perguntou, mas Andrew não perdeu o fôlego repetindo.

Neil olhou pelo corredor como se pudesse ver Kevin em sua condição miserável.

– Covarde.

– Não fique tão surpreso –, disse Andrew. –Não é nenhuma novidade.

– Pensei que tinha convencido ele da última vez –, admitiu Neil. Ele fechou a porta e apoiou o ombro no batente da porta da cozinha. – Em uma escala de um a dez, quão ruim você acha que a situação vai ficar?

– Quão ruim pode ficar? – Andrew replicou. – Riko ainda não pode te matar e Moriyama já disse aos fãs dos Covos para não se envolverem.

– Eles ainda podem nos desqualificar, de alguma forma. Eles fizeram uma demonstração em outubro. Como acreditam que não podemos chegar à final, então não há razão para nos tolerarem por mais tempo. Eles não têm outra opção. 

– Se os Corvos intervirem em nosso progresso, sempre haverá espaço para dúvidas e especulações. 

– Os Corvos não vão compartilhar seu trono com qualquer um. Eles têm que ser os vencedores supremos. 

Andrew deu um momento para assimilá-lo antes de dizer:

– Estou em duvida.

– Sobre nossas possibilidades nesta primavera?

Andrew ergueu as mãos espalmadas para cima entre eles.

– A ideia de que você os encurralou involuntariamente é intolerável, já que significa que você é mais burro do que eu mesmo lhe dei crédito. No entanto, se você fez isso conscientemente, você é mais esperto do que me levou a acreditar... Isso significa que os Corvos não são os únicos com quem você está brincando. Um desses é o mal menor.

– Nem tudo é uma farsa –, disse Neil.

Andrew não respondeu, mas Neil entendeu sua expressão calma como incredulidade. Neil pensou em se defender e decidiu que era um desperdício de energia. Andrew não acreditaria nele de qualquer maneira.

– Qual é o mal menor?

– Estou em duvida –, disse Andrew novamente.

– Vai ser de grande ajuda –, Neil murmurou.

– Porque se incomodar? – Andrew perguntou com um leve dar de ombros. – Vou descobrir logo-logo.

Andrew roubou uma cerveja da geladeira e moveu o anel de metal para frente e para trás. Neil observou-o por um momento antes de olhar para o outro lado da sala, em sua mesa. Estava chateado com Kevin por cancelar o treino, mas sabia que uma noite livre era um golpe de sorte. Ele faria uma prova de matemática na semana que vem e um trabalho que deveria ser entregue amanhã, e que ainda não tinha começado. As provas de meio de semestre não estavam longe e as notas de Neil estavam sobre a média instável de sempre. Esta era a noite perfeita para estudar.

Um anel de metal bateu em sua bochecha. Neil olhou para Andrew e de repente percebeu a ausência de Matt. Fazia mais de uma semana desde que Andrew empurrou Neil para o chão e o beijou. Ambos não estiveram sozinhos o suficiente para fazer qualquer coisa desde então.

Ele não sabia se Andrew via essa compreensão em seu rosto ou se Andrew queria apenas sua atenção. Andrew deixou a cerveja de lado, sem tomar um único gole, e fechou a porta da geladeira com o pé. Foram necessários dois passos para diminuir o pequeno espaço entre eles e, Andrew parou o mais perto que pôde, sem de fato encostar-se em Neil. Seus dedos estavam frios, da lata, quando tomou o queixo de Neil.

– Sim ou não? – Indagou Andrew.

– Sim –, respondeu Neil.

Andrew olhou para os braços de Neil, que estavam cruzados sobre o peito. Neil demorou um momento para entender, depois baixou os braços e colocou as mãos nos bolsos da calça jeans. Andrew esperou até que permanecesse antes de beijá-lo. Neil parou de pensar em aulas, Exy e a covardia Kevin, e deixou Andrew beijá-lo. Neil se sentiu tolo e instável, quando Andrew pressionou a outra mão em seu abdômen. Todas as terminações nervosas de seu peito pareciam tremer em resposta. Neil cerrou os punhos como se isso os mantivesse onde estavam e deixou Andrew encostá-lo contra a parede.

Seu celular tocou quando recebeu sua contagem regressiva diária, e pressionado contra a parede, soou desagradavelmente alto. Andrew soltou o queixo de Neil e tirou o celular do bolso de trás da calça. Inclinou-se um pouco para trás enquanto lhe oferecia o celular. Por pouco, Neil esperava que ele o abrisse e ficou aliviado que Andrew não o fez. Neil pegou o celular e jogou fora de alcance sem se preocupar em abrir a mensagem.

Ele sabia que dia era; E sabia o quão pouco tempo tinha. Ele não se importava em ver, especialmente agora.

Andrew observou o celular quicar no sofá e cair no tapete. Havia a possibilidade de que ele perguntasse. Neil beijou seu pescoço, na esperança de distraí-lo e foi recompensado com um arrepio pelo corpo de Andrew. Isso foi motivo suficiente para Neil fazê-lo novamente.

Andrew afastou o rosto, no entanto, estavam perto demais para Neil ver o jeito como ele tremia com os arrepios. Andrew o beijou antes que Neil pudesse dizer alguma coisa sobre isso.

Andrew empurrou-o com mais força contra a parede, tocando-o através de sua camisa, dos ombros até a cintura e vice-versa. Ele tivera as mãos sobre a pele nua de Neil há apenas algumas semanas, quando viu as cicatrizes de Neil, mas isso pareceu completamente diferente. Isso era Andrew conhecendo cada centímetro e canto de seu corpo. Suas mãos nunca pareceram tão pesadas ou quentes antes. Cada toque e cada deslize exigente de seus dedos enviaram calor às veias de Neil. Isso deixou Neil inquieto, o deixou ansioso, fez com que se inclinasse um pouco mais nos beijos de Andrew e o deixasse ciente do jeans que prendia suas mãos em seus quadris. 

Neil não se lembrava da última vez que colocara as mãos em alguém. Não na garota canadense – talvez a anterior. Pela primeira vez, ele considerou tocar Andrew dessa maneira e conhecer o corpo de Andrew da mesma maneira que Andrew estava memorizando o seu. Queria encontrar os lugares que fariam Andrew derreter.

Ele não disse isso em voz alta, mas como se tivesse, Andrew deslizou as mãos sobre os braços de Neil até os pulsos e enfiou os dedos nos bolsos de Neil. Ele estava certificando-se de que as mãos de Neil ainda estavam lá, Neil supôs, então enterrou as mãos mais fundo em resposta. Andrew segurou seus pulsos e apertou para detê-lo. Depois de um momento de consideração, puxou as mãos de Neil e segurou-as na altura de sua cabeça.

Ele beijou Neil como se quisesse machucar seus lábios e se inclinou para olhá-lo.

– Só aqui.

– Tudo bem –, concordou Neil, e entrelaçou os dedos no cabelo de Andrew, assim que o mesmo afrouxou o aperto.

Não era muito, mas era um alívio desesperador ter algo em que tocar. Talvez o pequeno frio em seu estômago fosse a estranheza de ter algo confiável o suficiente para tocá-lo. Neil resolveria isso mais tarde. Tudo o que importava agora era o quão fácil foi puxar Andrew para outro beijo.

Andrew soltou lentamente os pulsos e colocou a mão no peito de Neil. Eles ficaram assim por um momento, Andrew testando o controle de Neil, e Neil feliz em beijá-lo até que seus lábios estivessem entorpecidos. A mão de Andrew no meio de suas pernas foi um peso inesperado. Neil não percebeu que estava puxando o cabelo de Andrew com os dedos até Andrew morder seu lábio inferior em advertência. Neil rosnou algo inteligível e afrouxou o aperto firme. Pensou sentir o gosto de sangue, mas era um sabor efêmero, esquecido rapidamente quando Andrew desabotoou o botão e abriu o zíper de sua calça.

Andrew não foi delicado, porém Neil não queria que ele fosse. Nenhum deles tinha vocação para ternura. O ato foi implacável, quase com raiva, a mão de Andrew percorreu todo o comprimento de Neil o mais rápido que pode. Neil tentou puxar Andrew para mais perto, no entanto, Andrew manteve a mão em seu peito, mantendo o espaço entre seus corpos. Neil mal conseguiu pronunciar seu o nome, antes de Andrew continuar a empurrar ao longo de seu comprimento. Andrew reprimiu seu suspiro frenético com um último beijo intenso e finalmente o soltou.

Eles ficaram de rosto colado, um minuto, uma hora, um dia, o coração de Neil bateu em suas têmporas e seus nervos sobrecarregados estremeceram.

Seus pensamentos coerentes retornaram em pedaços lentos e vagos, e a primeira coisa que Neil realmente notou foi o quão apertado os dedos de Andrew estavam cravados em seu peito. Neil tentou olhar para baixo, mas Andrew deu-lhe um pequeno empurrão em resposta.

– O que há de…? – Neil começou.

Andrew interrompeu-o com um murmúrio

– Não.

– Você não pode voltar para Kevin e Nicky assim.

– Eu disse cale a boca.

– Você disse “não” – Neil o refutou.

Neil flexionou os dedos no cabelo de Andrew, arrumando as mãos para poder atrair Andrew num breve beijo. Andrew tolerou-o por um momento antes de se inclinar para trás. Ele limpou a mão na camisa de Neil antes de agarrar os pulsos de Neil. Neil obedientemente soltou-o e não desviou da maneira como Andrew o observou abaixar as mãos. Neil não sabia se poderia colocá-las de volta nos bolsos sem esfregar-se contra Andrew, então as colocou atrás das costas. Andrew se afastou de Neil e baixou as mãos.

– Vá –, disse Andrew.

– Para onde? – Perguntou Neil.

– Para qualquer lugar em que não possa te ver.

Neil não viveria o suficiente para entender todas as camadas falhas da sexualidade de Andrew, mas, pelo menos, sabia que não deveria se sentir ofendido com essa despedida. Esperou até que Andrew estivesse longe o suficiente para conseguir se afastar da parede sem tocá-lo. A sala estava arrumada para que a mesa ficasse parcialmente fora da vista da porta, mas Neil foi para o quarto. Ele pressionou o nó do polegar no lábio inferior inchado e estremeceu um pouco com a dor. Tirou a camisa por cima da cabeça, enrolou-a para esconder a lambança e colocou no cesto de roupa suja. Trocou o jeans por um moletom, procurou uma camisa velha para vestir e se debruçou na cama para esperar.

Logo depois ouviu o som da pia. Neil esperou até que parasse e saiu em busca de Andrew. Andrew estava de costas contra a geladeira enquanto bebia a cerveja que roubara. Ele não ergueu o olhar quando Neil apareceu na porta, e se quer notou o olhar que Neil lhe deu. Bebeu a cerveja em silêncio, parecendo calmo e imaculado, como se nada tivesse acontecido, e Neil observou-o, até que esmagou a lata vazia em suas mãos. Andrew deixou a lata no balcão para Neil e virou-se para a porta. Neil se afastou para deixá-lo sair, e Andrew saiu sem dizer uma única palavra. Neil fechou a porta atrás dele e colocou a pequena lata na lixeira de Matt.

Ele voltou para sua mesa, mas não conseguiu fazer mais nada naquela noite.

***

Neil passou a noite de sexta-feira no quarto de Andrew, embora tenha assistido apenas a uma partida com Kevin. O resto da noite foi gasto jogado sobre um pufe e um controle nas mãos. Nicky era um professor surpreendentemente paciente enquanto ensinava a Neil seu jogo favorito, no entanto, a grande quantidade de álcool que bebia deixava suas instruções cada vez mais confusas. Neil estava pronto para terminar a noite perto das duas da manhã, mas Nicky estava energizado com bebidas açucaradas e outro pote de sorvete comprado na loja.

Andrew passou a maior parte da noite fumando em sua mesa e olhando para o espaço. Ele desapareceu no quarto por volta das três horas e puxou Kevin para que pudessem dormir. Kevin colocou o laptop de volta na mesa, desligou a televisão e foi para a cama. Nicky esperou até a porta se fechar atrás dele, antes de ligar a televisão e aumentar o som novamente. Ele reclamou em voz alta enquanto se acomodava novamente. Apesar de seus protestos, ficou cansado nem meia hora depois. Deixou cair o controle para um lado e olhou para Neil.

– Espere.

Nicky precisou de duas tentativas, em uma tontura bêbada, antes de sair do pufe e se levantar. Ele cambaleou para o quarto, remexendo em coisas tão alto que Neil sabia que deveria ter acordado Andrew e Kevin, então voltou com um cobertor. Deixou-o cair sem cerimônia em cima de Neil e ergueu as mãos ao dar de ombros exageradamente.

– É melhor se você dormir aqui! Dan e Matt provavelmente estão fazendo coisas heterossexuais desagradáveis. Nós vamos tomar café da manhã amanhã de manhã.

Ele apontou para Neil, moveu o dedo algumas vezes com ênfase silenciosa e afastou-se novamente. Neil esperou até a sala ficar em silêncio antes de se levantar. Ele parou por um momento ao lado do pufe, debatendo, depois apagou a luz e voltou. Era fácil arrumar o cobertor, mais fácil ainda era ficar confortável, e dormiu em minutos.

Uma campainha o acordou na manhã seguinte, mas o cérebro cansado de Neil demorou um período para reconhecer o som como um telefonema. Seu celular vibrou no bolso um segundo depois. Neil esfregou os olhos com a mão cansada e abafou o bocejo com o punho. O barulho estridente na sala ao lado era o som do celular de Nicky. Significava que o som vinha do celular de Kevin, que havia deixado lá na noite anterior porque Andrew, provavelmente assim como Neil, tinha o som desativado em seu aparelho.

Mensagens em massa como essas tinham que ser de Wymack. Neil gemeu um pouco em protesto, apesar de tirar o celular do bolso. A mensagem matinal de Wymack foi breve, no entanto, mais do que suficiente para acordá-lo: 

Kengo Moriyama foi hospitalizado novamente.

Neil sentou-se e chutou o cobertor para o lado. Ele ligou a televisão, baixou o volume para um sussurro o mais rápido que pôde, e mudou os canais. Kengo não era importante o suficiente para ser notícia regular, mas certamente seria mencionado na estação de notícias esportivas que Wymack assistia todas as manhãs.

Andrew saiu do quarto assim que Neil finalmente encontrou o canal certo. Ele olhou para Neil brevemente a caminho da cozinha. Neil teve que aumentar um pouco o volume da televisão quando Andrew abriu a pia para fazer o café, mas o esforço não valeu muito a pena uma vez que chegou ao final da matéria.

Ainda não havia notícias novas, mas Neil sabia que haveria uma atualização assim que alguém chegasse ao Castelo Evermore para assediar Riko por uma notícia. Neil se perguntou se algum dos capangas de Kengo contaria a Tetsuji e Riko, ou se nem sequer ocorreria à família principal informá-los. Talvez, Riko descobriria quando alguém enfiasse um microfone a sua frente novamente. Isso divertiu Neil, embora o momento levasse seus pensamentos de volta para seu pai.

Nathan estava encarcerado, porém, ele era o braço direito de Kengo. Alguém teria dito a ele que Kengo estava doente. Era questionável se Nathan daria importância ou não. Neil não conseguia imaginá-lo, mas se Nathan fosse um pouco tão leal a Kengo quanto seu povo era a ele, estaria dando voltas em sua cela neste momento. Talvez Nathan nunca mais voltasse a ver Kengo vivo; talvez fosse libertado e se encontraria servindo Ichirou no lugar de Kengo. Neil se perguntou qual impacto a morte de Kengo teria sobre a família Moriyama, exceto que não conseguiria sequer começar a imaginar. Ele realmente não tinha ideia do que a família principal era capaz de orquestrar. Riko tinha uma quantidade alarmante de energia e só estava trabalhando com as sobras.

Andrew voltou e atravessou a sala em sua direção. Neil observou-o aproximar-se e sentiu-se tonto de culpa. O acordo que tinha com Andrew agora parecia tão implacável quanto desesperado. Ele não tinha se convencido de que Andrew conseguiria enfrentar um monstro como Nathan, mas se dispôs a deixar Andrew tentar. Não havia se importado com o que custaria a Andrew, contanto que desse ter tempo para jogar com as Raposas.

Andrew desligou a televisão a caminho.

– É cedo demais para ficar obcecado.

– Isso é importante.

– Para quem? – Andrew perguntou enquanto afundava no segundo pufe.

– Isso não muda nossa temporada e Riko é burro demais para acumular pontos de compaixão. Então, quem se importa?

Neil abriu a boca para argumentar e descobriu que não tinha uma boa resposta. Andrew apontou como se o silêncio de Neil comprovasse seu ponto de vista, e Neil fechou a boca novamente sem dizer uma palavra. Andrew se moveu um pouco até ficar mais confortável e fechou os olhos. Neil olhou para a tela escura, depois se acomodou no pufe desajeitado, de modo que ficou de frente para Andrew. Andrew abriu um olho pelo o barulho, mas fechou quando Neil se acalmou. Neil se contentou em olhar para Andrew de seu lugar.

Andrew não estava olhando, mas talvez sentindo o peso dos olhos de Neil, porque depois de alguns minutos disse:

– Algum problema?

– Não –, respondeu Neil, mas até ele sentiu a mentira. – Andrew? No verão passado você me fez uma promessa. Eu te peço para quebrar.

– Não –, disse Andrew sem hesitação.

– Você disse que ficaria comigo se eu mantivesse Kevin interessado, no entanto, Kevin não precisa mais de mim. Ele nos escolheu ao invés dos Corvos porque juntos finalmente valemos cada segundo de seu tempo. Não há mais nada que eu possa lhe dar em troca de sua proteção.

– Vou pensar em alguma coisa.

– Não quero que você faça isso –, disse Neil. – Preciso de você para me deixar ir.

– Me dê uma boa razão.

– Me esconder atrás de você, ainda é fugir –, argumentou Neil. – Não quero terminar o ano assim. Eu quero ficar sobre os meus dois pés. Deixe-me fazer isso. Nada disso significa nada se não o fizer.

Andrew o olhou silenciosamente. Neil não sabia se estava avaliando a verdade em suas palavras ou silenciosamente rejeitando-as.

Ele Queria pressioná-lo para obter uma resposta objetiva, no entanto, sabia que o tiro sairia pela culatra. Andrew levava suas promessas e palavra muito a sério. Convencê-lo a dar o braço a torcer levaria mais de uma tentativa, e se Neil insistisse demais, Andrew saberia que algo estava errado. Neil fechou os olhos e afundou ainda mais no pufe. Esperando que Andrew entendesse sua vontade de esperar por sua decisão.

O quarto ficou confortavelmente silencioso. Kevin e Nicky dormiram com as mensagens, então o único ruído real era o gorgolejo suave da cafeteira. Ela alertou quando terminou o preparo. Neil pensou em se levantar para pegar uma caneca, porém decidiu que poderia esperar mais um pouco.

Ele não queria cochilar, mas, em seguida, a única coisa que percebeu foi: acordar ao som do despertador de Nicky. O toque desagradável continuou intermitentemente antes de Nicky finalmente se mover o suficiente para desligá-lo. As molas da cama rangeram quando Nicky rolou e a sala ficou em silêncio novamente. Neil olhou para o relógio da televisão, que marcava a hora por volta das nove e meia. Era definitivamente hora de levantar se quisesse ter uma dia normal, mas Neil estava confortável.

Andrew permanecia encolhido no outro, mas o barulho também o acordara. Ele encontrou o olhar sonolento de Neil, por um momento, antes de voltar a dormir. Foi uma permissão implícita para permanecer dormindo, então Neil fechou os olhos e adormeceu novamente.

A semana antes da partida contra o Nevada foi um borrão exaustivo, mas Neil adorou quase todos os momentos. Nas manhãs, houve treinos com seus colegas de equipe, seus dias eram desperdiçados no mal necessário chamado escola, e suas tardes eram gastas na quadra. As Raposas não mais o olhavam com suspeita de correr com os goleiros no intervalo. Depois do jantar com os veteranos, Neil e Kevin voltaram ao estádio para fazer exercícios.

Era a rotina que estavam acostumados, com um complemento crítico. Neil voltou para o quarto com Kevin e caminhou pelo corredor como se estivesse indo para seu quarto, mas assim que a porta se fechou atrás de Kevin, Neil se virou e voltou para a escadaria. Andrew estava a sua espera no telhado, geralmente com um cigarro em uma mão e uma garrafa entre os joelhos. As noites ainda eram frias o suficiente para precisar das jaquetas, embora o calor do corpo de Andrew consumisse a maior parte do frio.

Eles não conversavam à noite, talvez porque tivessem conversado durante o treino ou talvez por ser tarde e ambos estarem apenas roubando alguns minutos antes do tão necessário sono, contudo, era de noite quando Neil tinha mais perguntas. Ambos se perderam quando Andrew o imobilizou contra o concreto frio e pôs suas mãos quentes sob sua camisa. Ser curioso sobre Andrew não era algo novo, mas a importância dessas respostas era. Beijar Andrew mudou as coisas, mesmo Neil sabendo que não deveria.

Ele queria saber onde estavam todos os limites e por que era a exceção. Queria saber como Andrew concordara com isso, depois de tudo o que acontecera, e quanto tempo levara para chegar a um consenso com sua sexualidade após os abusos de Drake. “Por que, quando e como” apenas complicavam as coisas, perguntar sobre esse progresso fazia com que ele se perguntasse sobre todo o resto. Ele poderia ter usado seu joguinho dos segredos para justificar sua intromissão, mas Neil não queria lutar por cada pedacinho e fragmentado. Levaria uma eternidade e ele estava ficando sem segredos seguros para trocar. Era melhor manter a boca fechada e não pensar nisso.

Seu controle durou apenas até quinta-feira. A mãe adotiva de Renee acabara de comprar uma casa, e era a única coisa que os veteranos conseguiam falar no jantar. Renee queria ir para casa e ajudá-la a se mudar naquele fim de semana. Matt estava disposto a conseguir ingressos para ele e Dan, caso ela não precisasse de ajuda. Neil não entendeu seu entusiasmo até que se lembrou de como a infância deles fora sedentária. Dan morava no mesmo lugar há quinze anos e Matt ficou com o pai até o ensino médio. Allison tinha casas de verão e de inverno e sempre viajava com os pais, mas nunca se mudara.

Aquilo martelou na cabeça de Neil durante o treino da tarde e, depois, no banho: não tanto porque era estranho, mas porque era a desculpa perfeita para seu joguinho com Andrew. Assim que Neil deixou Kevin em seu quarto naquela noite, subiu as escadas até o teto. Andrew estava no mesmo lugar de todas as noites, sentado de pernas cruzadas perto da borda da frente. Seu cigarro era um clarão brilhante contra o resto das sombras, e pareceu pulsar quando Andrew deu uma tragada. Neil roubou o cigarro quando se sentou ao seu lado e torceu-o entre as mãos. Andrew soprou fumaça em seu rosto em resposta, então Neil jogou as cinzas nele e se preparou para apagar o cigarro. Andrew beliscou seu pulso e pegou o cigarro.

– Os veteranos estão deixando a cidade neste fim de semana –, disse Neil. – A mãe de Renee está se mudando e, aparentemente, é a coisa mais interessante que vai acontecer por aqui em meses. Mal consigo imaginar como será quando todos se formarem e tiverem que se mudar. – Ele esperou por um momento, embora soubesse que não receberia uma resposta.

– Eu sei que Nicky vai voltar para a Alemanha quando se formar, mas o que vai acontecer com a casa dele? Vai vender ou dar para um de vocês?

– Pergunte a ele –, disse Andrew. 

Neil ignorou isso.

– Você quer ficar na Carolina do Sul?

Andrew deu de ombros.

– Planejar algo com tanta antecedência é uma perda de tempo.

Neil abraçou o joelho contra o peito e seguiu o olhar de Andrew para o campus. As árvores que faziam fronteira com a colina, entre a Fox Tower e a rodovia perimetral, escondiam a maior parte das luzes da rua, mas havia postes de luz a cada seis metros nas calçadas do campus. Já passava da meia-noite, no entanto, Neil viu pelo menos uma dúzia de alunos do lado de fora.

– Talvez eu vá para o Colorado –, continuou ele. – Seria uma mudança de ritmo interessante. Normalmente tenho ficado nos estados costeiros.

– Califórnia não –, disse Andrew, realmente não era uma pergunta.

Neil não sabia se Andrew estava lhe dando a melhor tentativa de conversar sobre algo diferente de Exy ou se estava curioso. Neil realmente não se importava. O desinteresse de Andrew – aprendido ou forçado – provavelmente correspondia ao mesmo em sua mente. O fato de Andrew ter respondido e explicado sua resposta foi uma vitória suficiente.

– Passei pela Califórnia enquanto ia para o Arizona, mas não fiquei. Gostei de Seattle, eu acho, embora... – Neil lembrou-se do ruído de um cano contra o corpo de sua mãe. – Jamais poderei viver lá novamente. Não conseguiria refazer meus passos em nenhum desses lugares.

– Quantos são?

– Vinte e duas cidades –, respondeu Neil, mas não disse que estas estavam espalhadas por dezesseis países. 

Andrew ainda achava que Neil vagara sozinho pela estrada todos esses anos. Mas, uma criança não poderia ir e vir pelo mundo sem ajuda.

– A estadia mais longa foi naquele ano, em Millport. A mais curta foi uma semana com meu tio.

– Eu deveria acreditar que isso é verdade? – indagou Andrew. – Você disse a Nicky que veria ele no Natal. Você mentiu.

– O tio Stuart é verdade –, disse Neil. – Ele foi a primeira pessoa com quem eu fugi, exceto que ele também é um gangster. Não me sentia mais seguro com ele do que em casa, então saí de novo. Eu ainda tenho o seu número, mas nunca fiquei tão desesperado a ponto ligar. Não sei quanto custaria sua ajuda. – Neil olhou para Andrew. – Você se mudou muito?

– Doze casas antes de Cass –, disse Andrew. – Todas na Califórnia.

– Algum deles foi legal? – perguntou Neil.

Andrew olhou para Neil por um minuto, depois apagou o cigarro e tomou a bebida.

– Nenhum dos que eu me lembro foram.

– Então, Califórnia e Carolina do Sul. Você realmente nunca esteve em nenhum outro lugar, exceto quando viaja para os jogos? 

Andrew apenas deu de ombros em resposta. Neil pensou um pouco e depois disse:

– As férias de primavera estão chegando. Nós poderíamos ir a algum lugar.

– "Ir a algum lugar" –, Andrew repetiu, como se fosse um conceito estranho. – Onde e porquê?

– Para qualquer lugar – disse Neil e se corrigiu. – Para qualquer lugar, pelo menos a três horas do campus. Não faz sentido ir a um lugar próximo. Não vai parecer como férias. O único problema é descobrir como tirar Kevin da quadra.

– Tenho facas, – Andrew o lembrou. – Isso não responde ao "porquê".

Neil não conseguia explicar de onde vinha essa ideia, então disse:

– Porque não? Nunca viajei sozinho por isso. Eu quero saber como é.

– Você tem algum problema –, replicou Andrew, – Você só investe seu tempo e energia em atividades que não valem a pena.

– Isso. – Neil sacudiu o dedo para indicar a ambos. – é algo que vale a pena.

– Não existe “isso”. Isso não é nada.

– E eu não sou nada –, disse Neil. Quando Andrew fez um gesto de confirmação,

Neil continuou:

– É como você sempre diz, você não quer nada.

Andrew o olhou sem demonstrar qualquer emoção. Neil teria suposto ser uma rejeição silenciosa de sua acusação velada, exceto pela mão de Andrew que congelara no ar entre eles. Neil pegou a garrafa da outra mão de Andrew e colocou-a de lado, onde eles não a derrubariam.

– É a primeira vez –, começou Neil. – Recebo um prêmio por te calar?

– Uma morte rápida –, responde Andrew. – Eu já decidi onde esconder seu corpo.

– Seis metros abaixo? – Neil adivinhou.

– Pare de falar –, exigiu Andrew e o beijou.

Neil foi para a cama tarde demais naquela noite, e a manhã chegou cedo demais. Estava meio adormecido em todas suas aulas e tirou uma soneca rápida antes do jogo. Era uma coisa boa a se fazer, isso porque Nevada era um adversário brutal e uma chamada dura de despertar.

 Nesta rodada, as Raposas enfrentariam as outras duas escolas que sobreviveram ao mata-mata do distrito. A súbita mudança de habilidade e dificuldade quase derrubou as Raposas. Foi infinitamente mais difícil por causa da ausência de Nicky. Seu cartão vermelho contra o UVM significava que ficaria no banco durante todo o jogo. Felizmente, Renee estava disposta a repetir seu papel como substituta defensiva, e Andrew protegeu o gol como se cada ponto marcado fosse uma ofensa pessoal.

Foi o suficiente, mas com dificuldade. O jogo terminou com um empate de seis, no entanto, o campeonato não permitia prorrogação. O empate foi resolvido por penalidades. Nevada tinha sete atacantes para tentar, enquanto Neil e Kevin teriam que continuar revezando. O coração de Neil batia em seus ouvidos enquanto seguia Kevin até o final da quadra. Ele inspirou o mais profundamente que pôde e soltou o ar lentamente, desejando que seus nervos esperassem até mais tarde.

– Não é o jogo que deveríamos ter jogado, mas foi um resultado aceitável –, disse Kevin quando viu o olhar severo no rosto de Neil. Neil maneou a cabeça, sem entender. – Vamos terminar com quase o mesmo número de pontos e o Nevada voltará a jogar antes de nós. Antes de enfrentarmos Binghamton, saberemos quantos pontos devemos marcar para avançar.

Os Tornados tiveram o primeiro tiro e marcaram. Kevin marcou em sua primeira tentativa, e o próximo atacante dos Tornados também marcou. Neil enterrou a bola contra o gol e olhou para Andrew. Andrew bloqueou a bola do próximo atacante, que saltou para o final da quadra, e Neil pôde respirar novamente. Ele olhou para Kevin, que sorriu com um triunfo feroz quando se aproximou da linha. Seu próximo tiro acertou o canto inferior do gol, e as Raposas venceram o jogo por um ponto de diferença.

***

O treino da noite de quinta-feira foi cancelado devido aos jogos noturnos. Os grandes teriam seus últimos jogos essa à noite, Edgar Allan contra Maryland e Penn State contra a USC. Apenas duas equipes de cada grupo iriam para a quarta rodada, significava que uma das três grandes seria eliminada hoje à noite. Era a primeira vez em seis anos que um deles voltaria para casa antes das semifinais, e Kevin precisava ver isso acontecer. De alguma forma, todo o time se reuniu e todos ficaram no estádio depois que Wymack os dispensou pelo resto do dia.

Algum organizador esperto certificou-se de que os Corvos e Troianos fossem as universidades mandantes. A diferença de fuso horário fez com que as Raposas puderam assistir ambos os jogos, seguidos. Wymack pediu pizzas, embora não tenha ficado para assistir. Ele havia encontrado os seis jogadores que queria recrutar e estava ocupado organizando a viagem. Ele esperava tê-los todos contratados no momento em que as Raposas retornassem das férias de primavera. Neil estava contente por sua escolha ter sido selecionada, embora sentisse silenciosamente culpado por não persuadir Wymack a conseguir um terceiro atacante.

Dan tirou Wymack do computador por tempo suficiente para usar sua impressora. Ela voltou com quatro placas e um rolo de fita e pregou os papéis em cima da televisão. Eram os pontos acumulados de cada equipe nos jogos desta noite. Kevin mal olhou para eles enquanto o jogo dos Corvos estava em andamento, mas assim que o jogo da USC contra Penn State começou, olhou para eles rapidamente. Neil sabia que Kevin era fã dos Troianos, mas não havia percebido o quanto Kevin estava empolgado com isso. Kevin assistiu ao jogo como se um resultado ruim causasse sua morte. Neil quase desejou que Penn State ganhasse apenas para que pudesse ver Kevin fazer birra.

Quando Troianos e Leões chegaram ao intervalo, Neil se esquecera de Kevin. Estava tão envolvido na temporada das Raposas e dos Corvos que esquecera o quão espetacular eram os Três Grandes. Essas equipes jogavam como se fossem profissionais. Eles não tinham o histórico impecável dos Corvos, mas estavam um passo atrás de Edgar Allan. Kevin avisou-os há algumas semanas que as Raposas não estavam prontas para enfrentar essas equipes. Pela primeira vez, seu comentário insensível pareceu um leve eufemismo.

E, não foi o único a entender a realidade. Dan silenciou os comerciais, bateu o controle remoto contra a coxa em um ritmo nervoso e disse:

– Então, definitivamente temos que treinar duro, pessoal.

Kevin franziu o cenho para ela.

– Mesmo se tivessem treinado mais quando eu disse, há um ano atrás, vocês ainda não teria a chance de vencê-los. Não há nada que possam fazer no final do ano. Eles são melhores que nós e sempre serão.

– Ser amargo faz você se sentir melhor? – Perguntou Nicky.

– Negar não fará bem a ninguém –, replicou Kevin. – Foi difícil contra Nevada. Honestamente, vocês esperam que ganhemos dos Três Grandes?

– A Califórnia está em risco de um grande terremoto –, apontou Nicky. – Isso daria um jeito na USC, pelo menos.

– Isso é um pouco extremo, não acha? – indagou Renee.

– Precisamos de algo extremo neste momento –, insinuou Allison.

A expressão de Renee era calma e seu tom estável, mas não pareceu ficar desapontada por entenderem a mensagem.

– Os Troianos nos apoiaram quando mais precisávamos deles. Vocês realmente querem que eles sofram apenas para que possamos aproveitar?

– Não é justo –, disse Nicky, afastando-se do olhar dela. – Quero dizer, nós chegamos aqui, aguentamos tanto e vamos morrer na praia.

– Ainda não perdemos – disse Dan – mas perderemos se desistirem agora.

Kevin começou a dizer algo que Neil sabia que seria negativo e sem esperança. Neil se esgueirou por trás de Andrew e acertou a nuca de Kevin, para silenciá-lo.

Matt reprimiu uma risada e tentou, sem sucesso, fingir ser uma tosse. Kevin não se moveu por um segundo, pela surpresa, depois deu a Neil um olhar mordaz.

– Ninguém quer ouvir isso agora –, sinalizou Neil.

– Se você me bater de novo... – Kevin começou.

Andrew interveio com um tom casual:

– Vai fazer o que?

Kevin ficou quieto, mas não parecia feliz com isso. Allison fez um gesto para Dan. Neil a viu pelo canto do olho, não o suficiente para saber o que ela fez, mas quando olhou, Dan fazia uma careta para a amiga. Matt colocou um braço em volta do ombro de Dan e deu-lhe um pequeno aperto. Poderia não ter sido relacionado, no entanto, o sorriso que Matt não pôde conter foi mais presunçoso do que compreensivo. Neil olhou para Renee, para ver se ela entendia, embora não conseguisse nenhuma pista de sua expressão serena.

– Você sabe... – começou Matt, mas Dan aumentou o tom antes que Matt pudesse concluir.

Ele sorriu para ela, divertido em vez de ofendido, e deixou passar.

O intervalo terminou alguns minutos depois, e os Troianos e Leões voltaram com novas escalações e habilidades aterrorizantes. Outro gol da USC tirou um pouco da pressão dos ombros de Kevin, mas sem relaxar até que o USC finalmente vencesse. Com surpreendentes trinta e sete gols entre suas três rodadas de três jogos, os Troianos seguiram os Corvos para a rodada seguinte.

– Poderia parecer menos feliz com isso? – indagou Nicky, ao ver o sorriso de satisfação de Kevin. –Nós vamos ter que enfrentá-los.

– Eles lutaram por isso – disse Kevin, com um olhar duro na direção de Neil.

Dan revirou os olhos e desligou a televisão, e as Raposas finalmente terminaram a noite.

6 Comentários

  1. Anônimo19 fevereiro

    Que capítulo maravilhoso! Obrigada pela atualização

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  2. Anônimo23 fevereiro

    Andreil maior e melhor. Obrigado por continuar traduzindo.

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  3. Anônimo24 fevereiro

    Esse casal acaba cmg

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  4. Mano eu apenas não tenho estrutura! Jesus
    esse casal é muito minha religião sem condições <3
    aaaaaaa o Andrew me mata aff <3
    obg pela tradução ^^

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  5. Amo forte <3
    Obrigada por esse trabalho tão legal de tradução!

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  6. Aposto que eles estavam apostando sobre Neil e Andreii

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