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The King's Men - Capítulo Catorze



TRADUÇÃO: THIAGO
REVISÃO: THIAGO

Nathaniel esperava ser encaminhado diretamente a delegacia, para prestar depoimento, mas o SUV entrou no estacionamento de um hotel de estrada. O lugar estava cheio de federais. Os agentes fumavam e tentavam parecer casuais. Sua pele arrepiou ao vê-los. As mulheres tomando banho de sol à beira da piscina pareciam igualmente cautelosas, apesar de suas tentativas de passarem despercebidas. A senhora ao lado da máquina de venda automática parecia inquieta. Nathaniel estava propenso a desconfiar de todos ao seu redor.

Assim que o carro parou, Nathaniel olhou ansioso para Browning, que apontou um dedo em seu rosto. 

– Você tem vinte minutos, ou até que eles o expulsem de suas vidas, ou o que vier primeiro. Então você virá conosco e nos dirá tudo o que queremos saber. Fui claro?

– Eles... –, tentou Nathaniel. – Estão aqui? Não vejo o ônibus.

– Não quero que a imprensa o veja aqui e descubra tudo ainda, então fiz o seu treinador estacioná-lo em outro local. Repetindo: Fui claro?

– Cristalino –, respondeu Nathaniel, cobrindo a cabeça novamente com o capuz. – Saía.

– Essa sua personalidade tá me fazendo reconsiderar tudo –, resmungou Browning, mas saiu do carro.

Ele o conduziu pela frágil escada de metal até o segundo andar. Uma mulher se apoiava no para peito da varanda com um celular no ouvido. Jogou o cabelo por cima do ombro e moveu os dedos ao logo da madeixa. Browning guiou Nathaniel até a porta apropriada e bateu. A porta se abriu, apenas uma fenda, e Nathaniel não enxergou nada além do homem atarracado no terno. O agente de guarda franziu cenho para Nathaniel antes de fitar Browning com um olhar irritado.

– Não gosto nada disso.

– Anotado. Fique de olho nele por um estante, Kurt –, disse Browning. Kurt se afastou e abriu a porta. Browning passou por ele, batendo palmas para chamar a atenção de todos. Mesmo da varanda, foi alto o suficiente para Nathaniel ouvir cada palavra. 

– Ouçam pessoas. Vocês têm vinte minutos. Vamos manter a ordem, apenas uma pessoa de cada vez.

Obviamente, Kurt esperava que as Raposas aceitassem sem relutância, pois baixou o braço e deixou Nathaniel passar. Deveria ter esperado um pouco mais, pois os companheiros de equipe de Nathaniel começaram a discutir quase imediatamente.

A voz indignada de Dan foi ouvida com mais facilidade quando disparou: 

– Vinte minutos? Você deve estar brincando. Porque... Oh, meu Deus! – Ela parou assim que Nathaniel entrou na sala. O ímpeto em sua voz não era raiva ou desgosto, e sim alívio alimentado pelo terror. – Ai meu Deus, Neil. Você está bem?

Nathaniel abriu a boca, mas as palavras falharam. Na noite passada soubera que nunca mais veria nenhum deles. Tê-los de volta era uma pomada em cada uma de suas feridas doloridas, porém estava ciente de que sua presença seria uma despedida.

A saudade o mataria no momento em que saísse dali.

Ele lhes devia explicações e um pedido de desculpas, mas não sabia por onde começar. Tudo o que pôde fazer foi olhar de um rosto atordoado para outro. Havia uma expressão vazia no rosto de Kevin, e hematomas escuros em seu queixo. Nicky estava um desastre, desconsolado, próximo à janela. Allison e Renee sentadas na cama mais distante com dois olhos roxos e algumas dúzias de hematomas entre elas. As manchas no braço de Allison foram obviamente deixadas por dedos. Nathaniel esperava que Allison tivesse esmurrado quem fora estúpido o suficiente para agarrá-la com tanta força, mas talvez Renee tivesse cuidado disso. Uma das mãos de Renee estava enfaixada e usava uma pulseira hospitalar na outra. Aaron, sentado na mesma cama, pela primeira vez, pareceu mais perturbado do que bravo ao olhar para Nathaniel.

Matt e Dan estavam na cama mais próxima. Matt tinha um forte aperto no ombro de Dan, como se a impedisse de atacar Browning. Matt havia sido severamente espancado e ainda tinha pacotes de gelo amarrados nas duas mãos. Sua camisa estava suja e rasgada em vários lugares, Nathaniel pôde enxergar os feios hematomas através das aberturas. Abby estava de pé entre as camas, seu kit de primeiros socorros aberto sobre os cobertores, próximo ao quadril direito de Matt, porém, deixou cair o antisséptico de sua mão quando viu Nathaniel.

Os lábios de Abby se moveram, mas Nathaniel não ouviu uma única palavra dita por ela. Browning dissera que as Raposas haviam sofrido apenas ferimentos leves e que nenhum havia acabado na UTI, mas apenas sete deles estavam lá. Wymack estava fora, despistando o ônibus, isso deixou uma pessoa faltando.

O sangue de Nathaniel congelou, e ele não conseguiu evitar o alarde em sua voz quando começou a perguntar:

– Onde está e...?

Houve um estrondo atrás de Nathaniel, o som inconfundível de um corpo batendo contra a madeira. Ele se virou, quando Andrew forçou seu caminho com Wymack em seu calcanhar. Kurt agarrou Andrew, porém o soltou quando Wymack o empurrou ao passar por ele. Nathaniel só teve um segundo para ver as algemas acorrentarem Andrew e Wymack juntos, e então Browning reagiu à entrada violenta pegando sua arma.

Nathaniel agarrou o braço de Browning com as duas mãos e o puxou o mais forte que pôde. Pretendendo unicamente desacelerá-lo e fazê-lo perder o equilíbrio, mas a agonia que disparou dos dedos de Nathaniel até os cotovelos quase o fez cair. Ele o soltou, sem a intenção, e curvou-se, como se de alguma forma fizesse a dor desaparecer. Pressionar as mãos contra o estômago não ajudou, no entanto, Nathaniel precisava protegê-los de alguma forma.

– Não –, pediu entre os dentes cerrados.

Pensou que o pedido fosse sua imaginação, de qualquer forma; ele não conseguia ouvir a si mesmo através do ruído ensurdecedor rugindo em seus ouvidos. O peso de uma mão em sua nuca dizia que havia conseguido tempo suficiente para Andrew alcançá-lo. Nathaniel não se lembrava de fechar os olhos, mas forçou-os a abrir novamente. Ele tentou se aprumar, no entanto, Andrew o agarrou pelo ombro e o empurrou de joelhos. Nathaniel abaixou-se sem discutir e embalou suas mãos destruídas em seu colo. Suas mãos pareciam tão terríveis que esperava ver o sangue ensopando suas ataduras, mas a gaze permaneceu branca e limpa.

– Deixem disso –, disse Wymack.

Ele parecia tão bravo que Nathaniel sabia que não estava falando com ele ou Andrew. Adivinhou que Browning ou Kurt estavam se movendo para tirar Andrew do caminho antes que machucasse Nathaniel ainda mais. Ou os federais confiavam em seu julgamento ou não podiam cercar Wymack para alcançar Andrew, mas Andrew se ajoelhou na frente de Nathaniel sem questionamento. Nathaniel virou as mãos e olhou para cima.

A expressão de Andrew era enganosamente calma, no entanto, seu aperto foi forte quando agarrou o queixo de Nathaniel. Nathaniel deixou-o vê-lo, pois isso lhe dava tempo para estudar os hematomas que cobriam o rosto de Andrew. O pior deles era um golpe roxo e estreito que ia da maçã do rosto até o canto do olho direito. A força do impacto deixou metade do olho de Andrew vermelho de sangue.

Um cotovelo, pensou Nathaniel, que chegara perto demais.

– Poderiam ter cegado você –, disse Nathaniel. – Todo esse tempo brigando e nunca aprendeu a se esquivar?

Um olhar gélido foi sua única resposta. Andrew o soltou, assim pôde remover o capuz de Nathaniel fora do caminho. Passou um dedo pelas linhas de esparadrapo que seguravam as numerosas bandagens no lugar, como se estivesse procurando o melhor lugar para começar. Primeiro puxou a gaze da bochecha direita de Nathaniel, expondo os cortes em forma de linha deixados pela faca de Lola. Ele deu um olhar superficial aos pontos antes de continuar. O esparadrapo no outro lado de Nathaniel doía como o inferno, repuxando a pele em torno de suas queimaduras, e a mão de Andrew congelou a poucos centímetros do rosto de Nathaniel.

A expressão de Andrew não mudou, mas havia uma nova tensão em seus ombros, o que não foi um bom presságio para ninguém na sala. Andrew largou as primeiras ataduras como se não tivessem importância, colocando-as lentamente no chão, ao lado do joelho, sem desviar o olhar de Nathaniel. Enquanto Nathaniel permanecia ajoelhado e de costas para o resto do quarto, Wymack foi o único a ver o desastre que Lola fizera em seu rosto. Nathaniel não se atreveu a olhá-lo, porém o violento: – Jesus Cristo, Neil –, de Wymack disse que as queimaduras pareciam tão ruins quanto ele sentia.

Uma cama rangeu quando uma das Raposas se levantou. Wymack sacudiu a mão livre em uma ordem enfática para mantê-los calados e disse.

– Não.

– Um de cada vez –, lembrou Browning.

Andrew pressionou dois dedos abaixo do queixo de Nathaniel, virando o rosto. Nathaniel deixou-se guiar, sem dizer nada enquanto Andrew o observava. Quando Andrew soltou a mão e agarrou o seu moletom, Nathaniel arriscou um olhar. Havia violência nos olhos de Andrew, mas, pelo menos, ainda não havia o empurrado para longe. Isso tinha que contar alguma coisa.

– Sinto muito – disse Nathaniel.

O punho de Andrew se afastou com a intenção de atingi-lo, mas não o fez. Nathaniel sabia que não fora por sua mão estar algemada junto a Wymack; O braço de Andrew, realmente, tremeu com o esforço necessário para não atingi-lo no rosto. Nathaniel nada disse para equilibrar a balança, de forma alguma. Finalmente, Andrew desatou os dedos e deixou a mão cair, suspensa pelo o punho.

– Repita isso de novo e eu vou te matar –, disse ele.

– Está é a última vez que vou repetir –, disse Kurt, aproximando-se de Wymack com um olhar sombrio no rosto. – Se você não conseguir acalmar essa atitude e se comportar...

Nathaniel deu-lhe um olhar de aviso e cortou-o com um: 

– O que você vai fazer, babaca?

– O mesmo vale para você, Nathaniel –, salientou Browning. – Essa é a sua segunda chance. Um terceiro passo em falso e isso "ele virou o dedo para indicar as Raposas" acaba. Lembre-se de que você está aqui apenas porque permitimos.

Andrew se remexeu, como se quisesse se levantar, Nathaniel sabia que ele faria Browning calar a boca para seu próprio bem. Nathaniel sabia que não deveria tocar em Andrew ainda, mas chegou o mais perto que pôde e segurou o rosto de Andrew entre as mãos enfaixadas. Andrew poderia tê-lo empurrado para o lado com facilidade, mas, depois de uma breve pausa, ele se recompôs novamente. Nathaniel olhou para ele rapidamente, agradecido por sua renúncia, antes de virar outro olhar para Browning.

– Não minta para um mentiroso –, rosnou Nathaniel. – Nós dois sabemos que estou aqui porque vocês não vão conseguir nada sem mim. Uma pilha de cadáveres não vai concluir o caso ou rastrear o dinheiro. Lhe disse o que essas respostas custariam e você concordou em pagá-las. Então tire essas algemas de Andrew, tire seu homem do caminho e pare de desperdiçar meus vinte minutos com sua atitude inútil.

O silêncio que se seguiu foi instável.

Browning estava considerando suas opções, ou pelo menos agindo como se estivesse. 

Nathaniel sabia que isso só poderia terminar de uma única maneira.

Se o FBI permitira a entrada dos Hartford no país sem oposição, então teriam de estar desesperados por uma solução. Ninguém poderia provar – ainda – que Nathan havia matado Mary Hartford, mas o ódio dos Hartford por Nathan não era um segredo e eles reagiram à sua liberdade condicional reservando passagens para atravessar o Atlântico. Era óbvio que o FBI sabia que sua visitinha não seria amigável.

Finalmente, Browning fez um gesto. O rosto de Kurt ficou enfurecido quando tirou as chaves do bolso. Wymack se virou para facilitar. Andrew não olhou quando as algemas foram removidas, porém flexionou os dedos várias vezes, testando sua liberdade e deixando a mão cair sobre a coxa. Browning levou Kurt com ele para esperar perto da porta. Ambos irradiavam descontentamento e desconfiança, o olhar que Browning enviou para o relógio foi contundente, mas Nathaniel não se importou. Satisfeito por finalmente estarem fora do caminho, ele voltou toda sua atenção para Andrew.

– Então, o transtorno de personalidade não foi fingimento, pelo menos –, disse Andrew.

– Eu ia contar a você.

– Pare de mentir para mim.

– Não estou mentindo. Teria dito a você na noite passada, mas eles estavam no nosso vestiário.

– Eles quem? – Browning perguntou.

Nathaniel mudou para alemão sem perder tempo. Tinha certeza de que Browning enviara um olhar rude por aquele truque, mas não desviou o foco de Andrew.

– Eles não eram guardas, os que vieram nos escoltar. Eles estavam lá para mim, e eles teriam machucado todos vocês para me tirar de lá. Pensei que, ficando de boca fechada, poderia mantê-los seguros. – Nathaniel ainda tinha as mãos no rosto de Andrew, então tocou levemente o hematoma no olho de Andrew com o polegar. – Não sabia que eles haviam armado o tumulto.

– O que te disse sobre ser um mártir? – indagou Andrew.

– Que ninguém quer isso –, respondeu Nathaniel. – Você não me disse para parar.

– Estava implícito.

– Eu sou um idiota, lembra? Preciso que as coisas sejam soletradas.

– Cale a boca

– Já cheguei a noventa e quatro?

– Você está em cem –, respondeu Andrew. – O que aconteceu com o seu rosto?

Nathaniel engoliu em seco contra uma onda de náusea.

– Um isqueiro.

Ele estremeceu com o som horrível feito por Nicky. O ruído de um colchão rapidamente sufocou o tom violento de Aaron. Nathaniel olhou para trás sem pensar, precisando ver quem estava se movendo, e viu que Aaron tinha saído da cama para ficar ao lado de Nicky. Ao virar-se, os outros puderam ver sua bochecha queimada. Kevin recuou tanto que atingiu a parede atrás dele. Ele levou a mão protetoramente em sua própria tatuagem, e Nathaniel soube que ele imaginava a reação de Riko a essa atrocidade.

Desta vez foi Dan quem impediu que Matt se levantasse, com os nós dos dedos brancos contra a camisa escura, e virou o rosto. Matt começou a lutar para se soltar, porém, contentou-se com um grunhido: 

– Jesus, Neil. O que diabos fizeram com você?

Abby manteve distância, por tempo suficiente, aparentemente. Ela circulou a cama, os olhos arregalados e frenéticos, no entanto só alcançou a esquina antes de Andrew perceber suas intenções. Ele agarrou Nathaniel, voltando seu rosto para frente e deu a Abby um olhar tão cruel que ela parou de repente.

– Afaste-se de nós –, disse Andrew.

– Andrew –, começou Abby, calma e cuidadosa. – Ele está ferido. Deixe me ver...

– Se me fizer repetir, você não vai viver para se arrepender.

Nathaniel nunca o ouvira falar com aquele tom assassino. Fez seu cabelo se arrepiar, no entanto, de alguma forma, aliviou um pouco da preocupação em seu peito. Era culpa de Nathaniel, o autocontrole de Andrew estar em pedaços, mas também era de seu interesse. A fúria sem fundo de Andrew nunca o machucaria, e isso fazia toda a diferença no mundo. Nathaniel puxou cautelosamente o cabelo de Andrew.

Andrew resistiu às duas primeiras tentativas, mas finalmente permitiu que Nathaniel voltasse sua atenção para onde precisava.

– Abby, acabei de sair do hospital –, lhe disse Nathaniel sem tirar os olhos de Andrew. – Estou tão bem quanto poderia estar.

– Neil –, tentou Abby.

– Por favor –, insistiu Nathaniel. 

Ele não a ouviu recuar um passo, mas soube que o fazia, por causa da maneira como o aperto na mandíbula de Andrew relaxou. Nathaniel manteve uma mão enterrada no cabelo de Andrew, finalmente a outra caiu. Em um alemão silencioso, ele disse:

– Eles te disseram quem eu sou?

– Eles não precisaram. Arranquei as respostas de Kevin a caminho daqui. – Andrew ignorou o modo como Nathaniel ficou boquiaberto e continuou: – Parece que você não era órfão, afinal. Onde está seu pai agora?

– Meu tio executou ele –, disse, imaginando. Ele cruzou uma linha irregular e pressionou dois dedos no peito de Andrew, sobre seu coração. A lembrança o arrepiou até os ossos, e não pôde deixar de tremer. – Passei toda a minha vida desejando que ele morresse, cheguei a pensei que ele nunca morreria. Achava que ele fosse invencível. Mal posso acreditar que foi tão fácil.

– Fácil? – indagou Andrew. – Kevin nos contou para quem ele trabalhava.

Nathaniel acreditava que nenhum dos agentes pudesse entendê-los, entretanto, nomes eram difíceis de esconder em qualquer idioma. Ele estava feliz por Andrew ser inteligente o suficiente para não dizer o nome dos Moriyamas em voz alta.

– Meu tio disse que tentaria negociar um cessar-fogo. Não sei se ele é forte o suficiente para negociar com eles, mas gostaria de pensar que ele não se arriscaria. Prometa-me que ninguém contou ao FBI sobre eles.

– Ninguém disse uma única palavra desde que disseram que não poderíamos ver você.

O coração de Nathaniel pulou em uma batida.

O calor em seu peito era uma feia mistura de gratidão e vergonha.

Ele tentou falar, mas teve que limpar a garganta antes de tentar novamente. 

– Mas, por quê? Não fiz nada além de mentir para eles. Inconsequentemente, coloquei-os em perigo apenas para poder jogar um pouco mais. Eles foram feridos ontem à noite por minha causa. Por que me protegeram agora?

– Você é uma Raposa –, respondeu Andrew, como se fosse tão simples, e talvez fosse. Nathaniel baixou o olhar e moveu o queixo, lutando por uma estabilidade que rapidamente estava perdendo. Mal reconheceu sua própria voz quando disse: 

– Andrew, eles querem me levar para longe daqui. Eles querem me colocar no Programa de Proteção a Testemunhas, para que as pessoas de meu pai não possam me encontrar. Eu não quero... – ele começou, mas não era justo. – Se você me disser para ir, eu vou.

Ele omitiu que queriam matá-lo, no entanto, nem precisava. Andrew enfiou os dedos no colarinho do moletom de Nathaniel e apertou, o suficiente para que ele sentisse. Por um momento, Nathaniel estava a meses de distância daquele momento, de pé no corredor escuro da casa de Andrew, pela primeira vez, com uma chave quente grudada na palma da mão. Parecia à volta para casa, e foi o suficiente para aliviar seu medo.

– Você não vai a lugar nenhum –, prometeu Andrew, as mesmas palavras, a mesma promessa. Ele estava falando em inglês novamente, e Nathaniel entendeu o motivo quando ouviu as próximas palavras de Andrew. Ele estava instigando e convidando as Raposas à luta. – Você vai ficar com a gente. Se eles tentarem te levar, vão perder.

– Levar você –, ecoou Dan. – Para onde?

– Estamos falando de ser “levado para um interrogatório” ou “levado para sempre”? – exigiu Matt.

– Ambos –, respondeu Browning.

– Vocês não podem levá-lo –, disse Nicky. – Ele pertence a nós.

– Quando descobrirem que ele ainda está vivo, virão buscá-lo –, disse Browning. – Já não é seguro para ele e, claro, não é seguro para vocês. Vai ser melhor para todos se ele desaparecer.

As Raposas o entendiam melhor do que ele, já que Kevin contara sobre a aliança Wesninski-Moriyama. Eles estavam lidando com a loucura de Riko há um ano, graças a Kevin, e não pareciam impressionados com os avisos de Browning.

– Que parte do “vá para o inferno” precisamos explicar a você? – indagou Allison.

– Somos todos adultos aqui –, acrescentou Matt. – Nós tomamos nossas próprias decisões. A menos que ele queira ficar com você, é melhor trazer Neil de volta para nós quando você terminar com todas as suas perguntas.

– Neil não existe –, disse Browning, cansado de suas ignorâncias voluntárias. – É apenas um disfarce que permitiu a Nathaniel escapar das autoridades. É hora de deixá-lo ir.

– Neil ou Nathaniel, ou quem quer que seja –, disse Nicky. – É nosso e não vamos deixá-lo. Quer que nós votemos ou algo assim? Aposto que será unânime.

– Treinador Wymack, coloque algum senso ao seu time –, pediu Browning.

– Neil –, chamou Wymack, e Nathaniel ergueu o rosto olhando entre Andrew e Wymack. Nathaniel tinha visto essa expressão em seu rosto apenas uma vez, quando Wymack tentara acalmá-lo depois do Natal. Era a aparência de um homem envelhecido pelas tragédias de seus jogadores; Era a aparência de um homem que iria ajudá-los, sem se importar com o que lhe custaria. Nathaniel se sentiu infeliz por causar aquela expressão novamente, mas infinitamente consolado pelo apoio incondicional de Wymack. – Fale comigo. O que você quer?

Nathaniel engoliu em seco contra o inesperado nó em sua garganta. Suas palavras saíram tão irregulares que todos tiveram que ficar calados para entendê-lo.

– Eu quero... Eu sei que não devo ficar, mas não posso... Não quero perder isso. Eu não quero perder nenhum de vocês. Não quero continuar sendo Nathaniel. Eu quero ser Neil o maior tempo possível.

– Bom –, disse Wymack. – Seria um inferno ajustar Wesninski em sua camiseta.

Browning esfregou as têmporas.

– Eu gostaria de falar com você.

– Sobre?

– Sua disposição em colocar seus jogadores em perigo considerável, por exemplo.

– Renunciar a Neil neste momento vai contra tudo o que somos –, replicou Wymack. – Estou pronto para discutir isso durante o tempo que for necessário, mas não se for gastar o tempo previsto de Neil. Não será justo para nenhum deles.

Andrew puxou o moletom de Nathaniel e disse em alemão.

– Livre-se deles antes que eu os mate.

– Eles estão esperando por respostas –, disse Nathaniel. – Eles nunca foram capazes de incriminar meu pai enquanto ele estava vivo. Eles esperam que eu saiba o suficiente para começar a prejudicar seu círculo em sua ausência. Vou lhes contar a verdade, ou o quanto puder sem dizer a eles que meu pai estava agindo sob ordens de alguém. Você quer estar lá para isso? É a história que eu deveria ter dado a você, meses atrás.

– Vou ter que ir –, disse Andrew. – Não confio que devolveram você.

Andrew soltou-o e levantou-se. Nathaniel se levantou sem ajuda e olhou para Andrew e Wymack.

– Sinto muito –, disse ele em inglês. – Eu deveria ter contado, mas não consegui.

– Não se preocupe com isso agora –, replicou Wymack. – Vinte minutos não são longos o suficiente para essa conversa. Podemos conversar sobre isso no caminho de volta para o campus, certo? 

– Sim –, disse Nathaniel. – Eu prometo. Só tenho que falar com eles primeiro.

– Então vá, disse Dan. – Quando Nathaniel a olhou, ela enfatizou: – Mas volte para nós assim que eles terminarem com você, ok? Nós vamos resolver isso como um time. Como uma família.

Nicky tentou sorrir. Foi fraco, mas encorajador.

Tinha que ser um sonho cruel. Seu perdão ameaçou queimar Nathaniel de dentro para fora, curando-o e amaldiçoando-o. Ele não merecia sua amizade ou sua confiança. Ele nunca poderia recompensá-los por apoiá-lo dessa maneira. Ele poderia tentar pelo resto de sua vida, enquanto durasse, agora que Stuart estava em cena e Nathan fora, e sempre seria curto.

– Obrigado –, disse.

Allison rejeitou seu agradecimento, dispensando-o com a mão, e uma leveza que não combinava com sua expressão tensa.

– Não agradeça. Você acabou de fechar três apostas pendentes e me garantiu quinhentos dólares –, disse ela quando Nathaniel a fitou. – Eu prefiro descobrir exatamente o porquê e quando vocês dois ficaram do que pensar sobre este horror aqui por mais tempo, então vamos conversar sobre isso na viagem de volta.

O olhar de Aaron mudou de Allison para Nathaniel e Andrew. Ele esperava por eles para negar essa insinuação, Nathaniel pensou, e sua expressão foi de choque quando nenhum deles o fez. Nicky abriu a boca, depois fechou-a novamente sem dizer uma palavra e olhou para Nathaniel. Kevin, surpreendentemente, não reagiu.

Nathaniel não tinha energia para confirmar ou negar nada naquele momento, então simplesmente olhou para Andrew e perguntou a ele.

– Pronto?

– Estou esperando por você –, Andrew o lembrou.

– Eu não o convidei –, disse Browning.

– Confie em mim –, aconselhou Wymack. – Será muito melhor se você levar os dois.

 Browning lançou um olhar calculista entre eles e se rendeu, impaciente:

– Vamos agora.

Wymack se afastou para deixá-los passar, mas quando Nathaniel chegou à porta, ele disse:

– Vamos esperar por você, tudo bem? O tempo que for necessário, Neil.

Nathaniel assentiu ao saiu para a varanda. Ele e Andrew desceram as escadas atrás de Browning e entraram no banco traseiro do SUV. Browning se sentou na frente deles e bateu a porta. Nathaniel ficou olhando, até o hotel desaparecer pela janela, depois olhou para Andrew e perguntou em alemão.

– Posso mesmo ser o Neil novamente?

– Disse ao Neil que poderia ficar –, respondeu Andrew. – Deixe Nathaniel enterrado em Baltimore com seu pai.

Nathaniel olhou pela janela novamente, indagando-se se isso seria possível. Ele sabia, em certo sentido, que nunca poderia deixar Nathaniel para trás. Mesmo que Stuart pudesse falar com os Moriyamas, todos saberiam que o filho de Nathan estava vivo. Nathaniel seria sempre um risco a segurança para eles. Mas a ideia era emocionante e arrepiante, às vezes, e Nathaniel virou a mão para estudar a palma. Traçou a chave de Andrew em sua pele com o dedo enfaixado.

– Neil Abram Josten –, murmurou ele, e pareceu estar despertando de um pesadelo.

Neil estava ciente que conversar com o FBI não seria fácil, mas não esperava que fosse tão cansativo. Ele passou o resto do sábado e todo o domingo confinado com eles em seus departamentos. A única vez que Andrew e Neil deixaram a linha de visão um do outro foi quando alguém apareceu para cuidar dos ferimentos de Neil, e os dois nunca foram deixados sozinhos. Os agentes trouxeram comida, para que não precisasse sair do prédio, o escoltaram ao banheiro e colocar uma cama para que ele e Andrew pudessem dormir no local, sob vigilância.

Em troca de sua hospitalidade questionável, Neil lhes contou tudo. Começaram com o telefonema de Lola e passaram pelo tiroteio, onde Neil deu tantos nomes aos rostos quanto pôde. Quase tão importante quanto quem morrera, foi quem sobrevivera. Nem Romero, nem Jackson estavam na casa. Do ocorrido, passaram por toda a infância de Neil e todas as coisas terríveis que isso implicava.

Depois de rebuscar sua memória sobre o povo de seu pai e aos roubos conhecidos, eles continuaram com o paradeiro de Neil durante os sete anos entre Baltimore e Millport. Neil levou-os passo a passo para cada pseudônimo e residência, embora recusasse a revelar os contatos de sua mãe. Alegando desconhecimento com base em sua idade naquela época, e depois de fazerem a pergunta de vinte maneiras diferentes, os agentes finalmente desistiram. Neil contou-lhes onde o povo de seu pai havia os encontrado, os lugares onde o próprio Nathan havia seguido-os e culminando na morte de sua mãe.

Eles tiveram que reconhecer os Hartfords em algum momento, mas foi uma conversa cautelosa. O FBI não podia admitir qualquer acordo que fizessem, e Neil não pôde provar nada. Em vez disso, eles se concentraram no que Neil sabia sobre Stuart desde a juventude. Neil não tinha muito a oferecer, no entanto, o pouco que tinha se tornou um ponto de virada em como alguns dos agentes o viam. Até aquela conversa, eles o olhavam e apenas enxergavam o filho de Nathan. Descobrir que ele havia escolhido uma vida em fuga ao invés de uma vida sedentária com outra família criminosa lhe rendeu pontos com mais de um federal.

Duas vezes, no domingo, eles mencionaram novamente o Programa de Proteção a Testemunhas, entretanto, Neil recusou ambas às vezes. Ele estava lhes dando tudo o que precisavam para construir um caso, e se dispôs a depor se conseguissem colocar qualquer pessoa de Nathan no banco do réls. Até então, ele queria ficar como estava. Se eles o colocassem contra sua vontade, ele simplesmente soltaria sua coleira e retornaria a Palmetto. Andrew dissera que as Raposas nunca o deixariam desaparecer em silêncio. Eles criariam uma comoção e pressionariam através da mídia até que alguém o devolvesse. Os agentes os chamavam de egoístas e imprudentes, mas Neil e Andrew resistiram.

Neil não sabia que haviam vencido a discussão até que Browning soltou algumas aplicações na mesa à sua frente. O primeiro foi um pedido oficial para mudar de nome, o segundo e o terceiro um passaporte e uma carteira de motorista, e o último foi para o cartão da previdência social reemitido por causa do primeiro. Uma foto que Neil reconheceu vagamente foi integrada a segunda página com um clipe; Era uma fotografia que Wymack tirara dele no verão passado, para o histórico escolar. Ele ainda tinha cabelos e olhos castanhos, e seu rosto sem a tatuagem de Riko. Apesar da foto, sua aparência já indicava que a cor natural de seus olhos era azul. Neil imaginou que a foto seria diminuída até ninguém notar a discrepância.

Ficou tão distraído com a foto que levou um momento para entender o significado do que lhe fora dado. No topo de cada página estava o nome Neil Josten. Tudo o que Neil tinha que fazer era assinar as linhas pontilhadas.

– Considere isso um contrato conosco –, informou Browning, parecendo tão irritado quanto antes. Ele esperou que Neil o olhasse antes de continuar. Depois de assinar, iniciaremos o processo para instaura o Neil Josten como um membro válido e funcional a sociedade. – Isso significa que você não terá mais que fugir e não haverá mais identidades falsas. Você será Neil a partir de agora até a sua morte. Você não tem permissão para mudar de ideia. Até se você pedir um café decorado sob um pseudônimo, teremos um problema sério.

– Caneta –, disse Neil, estendendo a mão. Quando Browning não se moveu rapidamente, ele disse: – Entendi. Só me dê uma caneta para que eu possa assinar.

Browning jogou-a sobre a mesa. Andrew a pegou antes que pudesse cair e entregou-a. Neil rabiscou seu nome ao longo de cada linha pontilhada e devolveu a pilha. Browning os conduziu a outra pessoa e considerou a mesa cheia de arquivos.

– Terminamos aqui –, disse Browning. – Se pensarmos em mais outra coisa, nós iremos informá-lo.

– Tenho certeza que vão.

Neil se levantou e espreguiçou, fazendo seu alongamento diário. A sala de depoimentos que ocupavam não tinha janelas, mas o relógio na parede dizia que eram nove e meia. Eles estavam ali há quase treze horas. O dia pareceu longo enquanto se arrastava, mas, o fato de saber quantas horas havia perdido o levou de cansado para totalmente exausto. Ele cuidadosamente roçou as palmas das mãos contra os olhos e abafou um bocejo.

– Stetson vai te dar uma carona –, avisou Browning, quando Neil baixou as mãos.

Stetson era um homem sem senso de humor que tinham visto ocasionalmente durante o dia. Neil não se importou com ele tanto quanto com Browning, porque Stetson não direcionara uma única palavra a eles. O fim do interrogatório não foi motivo suficiente para quebrar esse silêncio, aparentemente. Ele os pegou com um olhar e levou-os para o carro. Neil sentou-se no banco de trás com Andrew e brincou com as bandagens em seu rosto. Andrew deu um tapinha em sua cabeça ao perceber o que estava fazendo e ignorou a carranca feita por Neil.

Stetson acompanhou-os até o quarto do hotel. As Raposas haviam se separado na ausência. Passar a noite necessitaria de camas suficientes para todos. Este quarto com suas duas camas King Size agora abrigava apenas Abby e Wymack. Wymack olhou para Neil e depois para Andrew, depois voltou sua atenção para Stetson.

– Você me leva até o ônibus? – Ele perguntou. E esperou um aceno de cabeça, em seguida, sinalizou para que Andrew e Neil se sentissem em casa. – Volto já. Vou descobrir se ficamos ou vamos embora.

Ele fechou a porta atrás de si.

Neil ouviu o som fraco de passos nas escadas através da madeira, depois trancou a porta e puxou o trinco de corrente. Abby sentou-se no meio de uma das camas e estendeu as duas mãos para Neil quando se afastou da porta.

– Deixe-me dar uma olhada em você.

Neil não conseguiu se arrastar pela cama em direção a ela, ou se empurrar com as mãos, então tirou os sapatos e subiu na cama. Deu alguns passos instáveis em direção a ela e sentou-se antes que pudesse cair. O colchão se remexeu quando Andrew se moveu por trás dele. Neil deixou sua sacola de remédios onde Abby poderia pegar os antibióticos, se necessário, mas ela tinha o kit de primeiros socorros excepcionalmente bem abastecido em sua mesa de cabeceira. Ela se inclinou para pegá-lo, colocou-o de lado e tirou as bandagens do rosto.

Ela trabalhou em silêncio. Nem precisou falar, quando sua expressão disse o suficiente. Quando terminou, começou a desembrulhar as ataduras da mão direita de Neil. Andrew se aproximou um pouco mais, pois ainda não tinha visto as mãos nuas de Neil, no entanto, Neil manteve os olhos em Abby. O pesar e indignação lutaram para dominar o rosto de Abby, mas ela mordeu a língua até alcançar o braço de Neil.

Ela engoliu em seco.

– Oh meu Deus, Neil.

Neil finalmente arriscou um olhar em seu braço. Sua pele fora cortada com linhas paralelas, negras e com cicatrizes sangrentas, mas não profundas o suficiente para exigir pontos. Lola enchera os espaços entre eles com queimaduras superficiais, círculos perfeitos que iam do cotovelo até o pulso. Ele havia ferido seus pulsos nas algemas, de uma maneira que não podia ser costurada; a pele estava esculpida em uma linha rasa ao longo das cicatrizes que Riko lhe dera alguns meses atrás. Hematomas escuros formavam uma faixa grossa ao redor de seu pulso e se estendia ao polegar. Seus dedos estavam tão queimados que Neil teve que flexioná-los para garantir que funcionavam.

Por meio segundo, estava de volta, no carro com a faca de Lola em sua pele e nenhum lugar para ir exceto três metros abaixo do solo. Neil não se atentou ao som que fez, pois os dedos de Andrew foram um peso súbito e implacável em sua nuca. Andrew o empurrou para frente e o segurou. Neil tentou respirar, embora seu peito estivesse tão apertado quanto um elástico prestes a arrebentar.

– Acabou –, disse Abby, passando os dedos levemente pelo cabelo dele. – Acabou. Você vai ficar bem. Nós estamos com você.

Neil respirou, inspirou e expirou, muito superficial para alcançar seus pulmões, rápido demais para lhe ajudar. Flexionou os dedos novamente, em seguida, apertou-os, sabendo que abriria as feridas, sabendo que estava repuxando a carne queimada, que estava tentando com todas as suas forças curar-se, mas era necessário saber que ainda estava no controle. Precisava saber que seu pai e Riko haviam perdido, que ele poderia fugir disso e voltar para a quadra como Neil Josten. Por um momento, essa determinação foi suficiente para lhe dar alguma clareza, e Neil ficou desesperadamente grato por não ter fôlego para rir. Ele sabia o quão assustado soaria.

– Chega –, irrompeu Andrew, como se fosse tão simples assim.

Não conseguiu, o emaranhada de raiva e exasperação foi suficiente para causar soluços em sua respiração ofegante. Isso interrompeu o ritmo frenético o suficiente para Neil respirar fundo. Ele inspirou uma segunda vez, o mais profundamente, depois uma terceira tão lentamente quanto pôde aguentar. Suas entranhas ainda tremiam até o sexto suspiro, estava absorto de tudo e seguro nas mãos de Andrew. Neil já não se importava em estar a dois segundos de ficar violentamente em crise. Ele perdeu as forças e deixou Andrew levantá-lo novamente. Olhá-lo era mais seguro do que encarar os danos novamente, então Neil estudou o perfil de Andrew e deixou Abby trabalhar.

Abby estava prestes a terminar com o braço esquerdo quando Wymack retornou. Andrew teve de se levantar para deixá-lo entrar, e voltou. Wymack ficou entre as camas, examinando o desastre. Sua expressão era ilegível, embora seus olhos semicerrados fossem sombrios, e Neil sabia como ler a raiva em cada centímetro do corpo de um homem mais velho. Neil fechou a mão em um punho, uma promessa silenciosa de que suas mãos ainda estavam em boas condições. O gesto nada fez para aliviar a tensão nos ombros de Wymack.

– Vamos passar a noite aqui? – perguntou Wymack.

– Odeio Baltimore –, rasgou Neil.  – Podemos ir embora?

Wymack assentiu e olhou para Abby.

– Quanto tempo vai precisar?

– Dez minutos, talvez –, respondeu ela. – Quando todos estiverem prontos e no ônibus já teremos terminado.

– Vou avisá-los –, disse Wymack. – Eles não vão incomodá-lo até estarmos de volta ao campus.

– Eu prometi respostas a eles –, disse Neil.

– O ônibus não está preparado para uma conversa como essa. Vai ser muito difícil para todos ouvi-lo facilmente. O vestiário tem uma acústica melhor. Tire uma soneca no caminho para o estádio e lide com eles em um lugar familiar.

– A chave do quarto tá na cômoda –, disse Abby a Wymack.

Wymack recolheu sua papelada e foi procurar as Raposas. Abby terminou de limpar e re-enfaixar os braços de Neil, que, junto a Andrew, esperou enquanto ela arrumava sua bolsa. Neil engoliu alguns analgésicos a seco antes de lhe entregar o remédio, para a viagem de volta. A equipe não chegara a Baltimore com muita bagagem, apenas o necessário para a partida em Nova York, mas Neil checou cada gaveta para se certificar de que nada seria deixado para trás.

O ônibus esperava por eles abaixo, com a porta aberta e as luzes acesas. Matt colocava a última bolsa de equipamento no compartimento de armazenamento quando se aproximaram.

– Perdi meu equipamento em Nova York –, disse Neil.

– Andrew o encontrou enquanto procurava por você –, disse Abby. – Sua bolsa estava a poucos metros quando a polícia resolveu à revolta. Tudo parece um pouco pior por causa do desgaste, mas pelo menos tudo é justificável.

Matt bateu as portas, puxou as alças, certificando de que as fechaduras estavam seguras e deu uma olhada em Neil.

– Ei – disse ele. – O treinador nos fez prometer que iríamos te deixar em paz, mas você está bem?

Não –, respondeu Neil, – mas acho que ficarei.

Ele entrou no ônibus e encontrou as Raposas sentadas uma em cada assento. Geralmente, deixavam espaço entre os veteranos e o grupo de Andrew, mas naquela noite, Nicky, Aaron e Kevin haviam se acomodado atrás de seus colegas veteranos. Neil teria pegado o assento atrás de Kevin, exceto que Andrew foi para seu lugar habitual, no fundo. Neil seguiu-o e sentou-se à sua frente, deixando um espaço de dois lugares entre ele e o resto das Raposas.

Sentir-se confortável era quase impossível, graças às feridas no rosto. Ele teve que dormir de costas, embora o assento não fosse longo o suficiente para se esticar completamente. Seus pensamentos o mantiveram acordado a maior parte da noite, porém conseguiu cochilar ocasionalmente. Esses trechos roubados de descanso faziam quase mais mal do que bem, mas era algo melhor que nada.

Neil soube que se aproximavam assim que Wymack estacionou em frente a um posto de gasolina. Foram necessárias três Raposas para trazer cafés suficientes para todos, e não houve incomodo ao distribuí-lo. Alguns minutos depois, o Foxhole surgiu em frente à janela de Neil.

Vê-lo foi um choque de adrenalina necessário.

E Neil arrastou suas juntas enfaixadas pela vidraça gelada da janela.

Neil Josten –, murmurou, – Número dez, atacante titular, estádio do Foxhole.

Mesmo que os Moriyamas rejeitassem a trégua de Stuart e viessem atrás dele, o processo havia dado inicio. Neil Josten estava no sistema para se tornar uma pessoa real. Ele não morreria como uma fraude.

Wymack desligou o motor, e Neil sentou-se cuidadosamente. As Raposas desceram do ônibus e recolheram seus pertences. Neil procurou por sua bolsa, encontrou-a dependurada sobre o ombro de Matt. Tentou pegar uma bandeja de café, porém Dan lançou-lhe um olhar penetrante em suas mãos, ignorando sua oferta silenciosa.

Eles entraram e se acomodaram na sala. Dan, Renee e Allison distribuíram bebidas. Wymack tinha uma sacola cheia de petiscos, tudo, desde rosquinhas com açúcar de confeiteiro a batatas fritas, e colocou sobre a mesa para que todos pudessem pegar. Nicky pegou uma barra de proteína da mistura e entregou a Neil. Neil tentou abrir a embalagem e sibilou entre os dentes cerrados, com a queimação nos nós dos dedos. Andrew pegou a barra, abriu-a rapidamente e colocou-a nas mãos de Neil.

Kevin inclinou-se para frente, olhando além de Andrew, em direção a Neil. Ele falou em um francês calmo, mas urgentemente disse:

– Temos que conversar.

– Nós vamos.

– Sobre isso –, disse Kevin, enfaticamente tocando sua tatuagem.

– Agora não –, esquivou-se Neil. – Mais tarde.

– Neil.

– Disse que não.

Andrew não conseguia entendê-los, mas decifrou a calorosidade na voz de Neil. Ele pôs a mão sobre ombro de Kevin e o empurrou de volta a seu encosto. Kevin abriu os lábios, para argumentar, no entanto, se conteve. Pressionou uma mão cuidadosamente em sua garganta manchada e desviou o olhar. Wymack foi o último a sentar-se e, de repente, Neil voltou a ser o centro das atenções.

Ele olhou ao redor da sala e disse, incerto:

– Não sei por onde começar.

– Do início? – sugerido Dan.

Eles não tinham tanto interesse em seu pai quanto no próprio Neil, e ainda não precisavam ou queriam o nível de detalhe que ele havia dado ao FBI. Kevin compartilhara algumas da verdades durante a viagem de Nova York a Maryland, mas Neil não sabia tudo o que lhes havia dito. Era provável que estivesse repetindo um ou dois detalhes, entretanto ninguém o interrompeu.

Contou-lhes quem eram seus pais na realidade. Admitiu que havia jogado na liga infantil de Exy por alguns anos sob um nome e em uma posição diferente. Contou-lhes sobre a decisão abrupta de sua mãe de fugir, os terríveis oito anos em fuga e o confronto que terminara com a sua morte. Contou como acabara em Millport e por que entrara no time de Exy local.

Contou-lhes o porquê arriscara tudo para estar ali, o que sentiu ao descobrir sobre os Moriyamas e quantas vezes pensara em fugir antes de estragar as coisas tão perto. Ele jurou que, até o banquete de outono, não tinha conhecimento do que seu pai realmente era para os Moriyamas e que, mesmo agora, entendida apenas vagamente a complexa hierarquia entre as ramificações dos Moriyama e o circulo dos Wesninski. E sabia menos como seu tio se encaixava.

Contou sua intenção de terminar o ano letivo, como esperava, pelo menos, passar o campeonato e ter uma revanche com Riko, mas percebera, meses atrás, que não voltaria no ano seguinte. Foi a resposta que eles provavelmente mereciam. Aquelas decisões fatalista havia colorido todas as outras interações com o grupo, anteriormente, e alimentado sua determinação de não deixá-los se aproximarem.

Eles ouviram tudo, sem interrompê-lo, e ficaram em silêncio por um longo tempo.  Possíveis perguntas eram inevitáveis e Neil respondeu a tudo. Eles pareciam, inicialmente, assustados com a honestidade, não importando qual história tivesse sido contada, e foram encorajados por suas respostas sem hesitação. Renee nada disse até que a curiosidade de todos diminuísse temporariamente, e, então, de algum modo, ela fez um som urgente, quase gentil.

– Você disse que seu tio está negociando uma trégua com Kengo. O que acontece se ele não conseguir? 

Neil não perdeu tempo suavizando sua resposta.

– Eles vão se livrar de mim.

– Você não está falando sério –, disse Matt, alarmado.

– Sou uma ponta solta –, disse Neil. – Perigoso o suficiente em um dia bom e imperdoável quando Kengo está morrendo. Os Moriyamas não vão aceitar vazamentos estando prestes a mudar tanto poder de mãos.

– O quanto você sabe? – perguntou Dan.

– Tio Stuart disse que entraria em contato comigo quando terminasse de consertar as coisas.

– Não se preocupe –, Nicky o tranquilizou, com uma tentativa fracassada de alegrá-lo. – Andrew vai proteger você.

Kevin o fitou horrorizado.

– São os Moriyamas, Nicky. Não é Riko e o Mestre; Eles não são o pai de Neil. Andrew não pode...

– Eu sei –, Nicky o interrompeu irritado. – Só cale a boca.

Eles caíram em um silêncio desconfortável.

Wymack olhou os considerou, e depois disse:

– Mais uma coisa: se a imprensa ainda não veio até nós agora, é inevitável que o faça. Browning me contou as medidas que estavam tomando para esconder seu nome, mas se alguém os segui do hospital para o hotel, vão descobrir. Não importa se o ônibus não estivesse no local; Se viram algum de nós trocando de quarto, então nos seguiriam até você.

– Esta aparência –, ele apontou para o próprio rosto, – será toda a resposta que terão. O FBI pode pedir-lhes que levem sua segurança em consideração antes de começarem a publicar artigos, mas, como você rejeitou sua proteção, não tem como eles saberem quanto peso suas palavras terão. Resolva o mais depressa possível até que ponto pode suportar para estipularmos um limite.

– Geralmente, é melhor dar as respostas que eles querem –, disse Allison. – Se você satisfazer a curiosidade, eles não terão que recorrer a métodos mais vigorosos. Além disso, a imprensa serve a mente volúvel do interesse público. Eles não vão se concentrar em você por muito tempo. Algo mais irá distraí-los.

– O público em geral, talvez –, disse Dan, – mas os fãs de Exy vão se lembrar dele muito depois de todos terem se esquecido. Eles vão envolver as outras equipes e permitirão que digam o que quiserem sobre você. Vai ser como nosso primeiro ano, só que pior.

– A menos que encontremos alguma coisa, eles vão sempre querer mais –, disse Neil.

– Tipo o que? – indagou Matt. – É uma história difícil de mascarar.

Neil se inclinou para frente, fitando Kevin. 

Ele respondeu em francês:

– A imprensa não vai se importar nem um pouco com meu pai quando descobrirem quem é o seu. Para eles, você sempre será uma notícia mais importante do que eu.

Os lábios de Kevin comprimiram-se em uma linha de desaprovação.

– Não é o momento.

– Torne o momento. Eu preciso da sua ajuda, e você deveria ter dito há eles anos atrás –, Neil o acusou. Quando Kevin não respondeu, Neil interpretou como o acordo relutante que ele queria. Ele se aprumou e voltou para o inglês. – Vamos dividir atenção da mídia entre nós. Kevin vai contar quem é o pai dele.

– Espera, você sabe quem é? – Nicky perguntou a Kevin, surpreso.

– Descobri –, respondeu Kevin, com uma rouquidão em suas palavras. – Minha mãe escreveu uma carta ao Mestre quando descobriu que estava grávida. Peguei a carta da casa dele, e a escondi no estádio há alguns anos.

– E eu a encontrei em Evermore –, disse Neil. E deu de ombros ao olhar surpreso que Kevin o lançou. – Jean me mostrou onde ela estava. Eu a roubei, para que você pudesse fazer algo sobre isso.

– Então, quem é? – indagou Dan.

– Vou contatar a vocês antes de qualquer outra pessoa –, disse Kevin. – A pessoa merece um aviso prévio.

Renee olhou para Neil e disse:

– O que vai precisar de nós, Neil?

Não demorou muito para pensar nisso.

– Tudo o que eu precisei, vocês já deram a mim. Vocês me deixaram ficar.

O sorriso de Renee foi lento e doce.

Dan se levantou, atravessou a sala e abraçou Neil cuidadosamente. Ela não o abraçou como Abby, achando que ele poderia cair sem um apoio. Havia uma ferocidade silenciosa em seus dedos enquanto ela segurava seus braços, ele podia sentir a tensão em seu corpo onde ela se inclinou contra ele. Não era consolo; era algo pouco mais que protetor e desafiador. Ela estava reivindicando-o como parte de seu time. De alguma forma, foi o suficiente para aliviar o estresse do último dia. Essa paz tão necessária só fez Neil perceber o quão exausto ele ainda estava, e mal conseguiu reprimir um bocejo.

Dan soltou-o e recuou quando Neil finalmente relaxou.

– Vamos. Tem sido um dia longo e estou pronta para acabar com isso. Vamos dormir e descobrir de manhã como proceder a partir daqui. Talvez todos nós nos juntemos para o café da manhã ou algo do tipo. Tudo bem?

– Tudo bem –, concordou Neil, e as Raposas se levantaram.

Abby entregou-lhe o remédio.

– Deixe-me vê-lo novamente amanhã, mas tenha cuidado quando tomar banho, tá bem? Cubra seus braços se puder. Se o sabão tocar essas queimaduras, vai doer.

Neil assentiu, olhou para Wymack uma última vez antes de seguir seus companheiros de equipe. Seus carros ainda estavam no estacionamento, onde os haviam deixado alguns dias atrás. Andrew destrancou o carro e Nicky abriu a porta do passageiro para Neil. Neil subiu e não se incomodou em lutar com o cinto. Assim que seus membros ficaram fora do caminho, Nicky fechou a porta e entrou. Os veteranos se amontoaram na caminhonete de Matt, que saiu logo trás de Andrew.

Era meia noite, no entanto, geralmente, algo sempre acontecia no campus. O terreno estava morto, Neil demorou um instante para lembrar que eram as férias de primavera. A compreensão foi rapidamente seguida por um lampejo de culpa; os outros haviam planejado viajar no domingo de manhã. Eles haviam perdido seus voos para ficar em Baltimore com ele. Ele perguntou a Dan sobre isso, quando se encontraram novamente na Torre da Raposa, mas ela rejeitou como se fosse algo sem importância.

Ninguém tocou no assunto, contudo, de alguma forma, todos acabaram no quarto de Neil e Matt. Matt e Aaron empurraram o sofá para fora do caminho, e as meninas apareceram minutos depois com cobertores. A sala de estar não caberia nove pessoas dormindo, mas, de alguma forma, eles fizeram caber. As Raposas entraram e saíram enquanto pegavam os travesseiros e vestiram seus pijamas. Todavia, por um momento, Neil e Matt estavam sozinhos. Matt cuidadosamente apertou o ombro de Neil.

– As coisas poderiam ter ido muito pior –, tranquilizou Matt suavemente. – Fico feliz por eles terem cedido. Se quiser algo, se precisar de algo, avise-nos. Tudo certo?

– Tudo –, assentiu Neil.

– Estou falando sério –, enfatizou Matt.

– Eu sei –, replicou Neil. – Estou cansado de mentir para vocês, Matt. Eu juro.

Matt suspirou, parecendo mais cansado que cético.

– Gostaria que não precisasse de tudo isso para você chegar a essa conclusão, mas acho que entendi. Na real, muitas coisas sobre você fazem sentido agora. Com uma exceção notável, –, acrescentou Matt, secamente –, mas vou deixar Allison lidar com essa conversa. Ela vai me esganar se eu tirar o mérito dela.

– Ótimo –, disse Neil. Matt sorriu ao seu tom indiferente. Neil pensou que, talvez, fosse melhor não saber, mas perguntou: – Então, significa que você foi contra em ambas as apostas?

– Apostei no que sabia sobre você, mas sem ele –, esclareceu Matt, e deu de ombros ao olhar surpreso de Neil. – Sou seu colega de quarto, você nunca falou sobre garotas, nem mesmo quando Seth e eu costumávamos falar sem parar. Notei, mas achei que você diria algo se quisesse que soubéssemos. Só para você saber, eu não me importo nem um pouco, – disse Matt, – exceto que só tive certeza sobre seu gosto alguns dias atrás.

Neil adivinhou que a tendência territorial de Andrew em Baltimore tivera muito a ver com a mudança de opinião de Matt.

– Ele realmente enforcou o Kevin?

– Precisou três de nós para livrar o Kevin –, assentiu Matt.

Neil não soube o que dizer.

Matt deu-lhe um minuto, e, depois um tapinha no ombro antes de ir trocar de roupa. Neil pensou em se despir, decidiu que exigiria muito esforço e se sentou em seus cobertores para esperar pelo resto das Raposas. Ele acabou no centro da sala, com Andrew de um lado e Matt do outro. Seus pensamentos deveriam tê-lo mantido acordado a noite toda, entretanto, com seus amigos tão próximos, Neil não conseguiu se preocupar com nada. Neil estudou o rosto de Andrew até não poder mais manter os olhos abertos.

Ele sonhou que encarava seu pai em uma quadra de Exy, e, em seu sonho, as Raposas foram vitoriosas.

9 Comentários

  1. A raposa volta ao lar. Muito obrigada pelo capituca. Obrigada pelo seu trabalho e esforço em traduzir. Estou amando acompanhar essa estória. Ansiosa pra saber como tudo vai terminar. E pela conversa da Alisson kkkk bjs até 😘

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  2. Jesus, mano do céu não sabendo lidar... e esse Andrew mds não tô bem...
    TÔ TREMENDO AQUI SCR
    COMO EU AMO UMA TRILOGIA N É POSSÍVEL! <3



    ~eu vou ter que comprar esse livro :,) Quando que alguma editora vai enxergar ele? aaaaaaaa

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    1. Também me pergunto o mesmo. Tem tanta bomba toxica sendo publicada, tipo Inesquecivel da Jessica Brody. All for the game segue sem relevância para as editoras.=(

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    2. Triste... mesmo sendo um livro tão INCRÍVEL!
      Aposto como geral ia comprar puts esse box na minha estante... que tentação :,)

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  3. Anônimo30 março

    Mais uma tradução maravilhosa, obrigada pelo esforço em traduzir a obra.
    Andrew e Neil ❤️

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    1. Obrigado pelo incentivo, sério eu só continuo porque tem um grupo fiel de pessoas que sempre estão aqui lendo. ❤️❤️❤️

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  4. Ah meu Deeuussssssssssssssss
    Demorei pra ler, mas finalmente li e desde o começo eu já tava com o coração acelerado :'D
    Ai gente, eu cada vez amo mais o Andrew e as raposas ❤
    Tipo, sério, pqp, lindos demais
    Andrew e Neil estão tão maravilhosos juntos... ;--;; quase chorei putamerda

    Enfim, obg pelo trabalho duro Thiago, vc é a nossa luz cara <3 ❤ <3

    Ah e uma perguntinha, vc tinha dito q ia partir o capitulo em duas partes, vai fazer isso msm ou esse capitulo quatorze está completo...?

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    1. Na verdade, eu me confundi! É o capítulo 15 que vou dividir, pois ele é quase a metade do livro de tão grande. kkkk

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  5. Muito obrigado por mais um capítulo traduzido, não consigo descrever o quão incrível é essa trilogia, e graças a você nós estamos tendo acesso a esse conteúdo maravilhoso, não consigo descrever em palavras aptas, o quão grato eu sou pelas suas traduções Thiago, Muito obrigado!!

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