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The King's Men - Capítulo Doze


TRADUÇÃO: THIAGO

REVISÃO: THIAGO


Infelizmente, para as Raposas, a Universidade de Binghamton ficava a menos de 800 quilômetros do campus. Sendo considerada muito próxima para desperdiçar dinheiro em passagens aéreas, então todos se levantaram antes das cinco e pegaram a estrada antes das seis. Entre o almoço, as inevitáveis pausas para o banheiro e o tráfego da hora do rush, que certamente os afetariam a caminho da costa, a viagem estava destinada a ser uma longa jornada. Neil nem sequer tinha um dever de casa para distraí-lo, pois acabara de sobreviver à semana de provas. A semana seguinte era feriado de primavera, então nenhum dos professores de Neil o deixou com o dever de casa.

Depois de quatro horas, os veteranos apresentaram razões para equipar o ônibus, na próxima temporada, com uma televisão. Wymack fingiu não ouvi-las, mas não pôde ignorá-las para sempre. Finalmente, prometeu pensar caso vencessem a final. As Raposas conheciam a linguagem de Wymack o suficiente para saber que era um sim, não importava como terminaria essa temporada. Isso não os ajudou com o tédio, mas era algo a esperar no próximo ano.

Seis horas depois, pararam para almoçar, e Dan pediu que Kevin falasse sobre os Binghamton Furões no caminho do estacionamento. Kevin hesitou no corredor, dividido entre discutir os méritos de seus oponentes com seus companheiros ou permanecer dentro do círculo protetor de Andrew. Sua indecisão bloqueou a passagem das Raposas, já que estava em segundo, logo atrás de Andrew. Andrew demorou um minuto para perceber que havia perdido Kevin. Ele fez um gesto desdenhoso, então Kevin sentou no banco atrás de Dan e Matt. Aaron e Nicky sentaram-se no banco logo atrás dele. Neil duvidou de que eles estivessem tão interessados no que Kevin tinha a dizer; era mais provável que estivessem entediados e desesperados para se socializar.

Havia um lugar disponível no banco de Kevin, espaço suficiente para Neil se juntar a eles. Kevin não dizia nada do que não tinham revisado em seus treinos noturnos, mas Neil ainda queria ouvir e receber qualquer conselho que pudesse. Além disso, não levaria muito tempo para Nicky mudar o assunto da conversa, e as Raposas seriam uma boa distração nesta viagem sem fim.

No entanto, ficar com eles significava deixar Andrew sozinho durante a segunda metade da viagem. Neil sabia que, provavelmente, Andrew não notaria ou se importaria se o tivessem deixado, mas, por alguma razão, essa ideia o incomodava. Neil passou toda a sua vida vivendo na margem, sendo ignorado pelos outros. Isso o deixara feliz, ou pelo menos achara, porque ser ignorado significava que estava seguro. Ele não havia percebido o quão solitário era até conhecer as Raposas.

– Neil? – Chamou Dan, ao ver que Neil não se movia.

Kevin franziu o cenho para Neil, como se realmente não entendesse o porquê Neil não estava sentado com ele. Por um momento, Neil se sentiu preso, preso entre o que queria e o que precisava, o que nunca teria ou seria e o que tinha, mas não podia manter. Sentiu um inesperado ataque de pânico no peito e Neil desviou o olhar.

Quando começou a se mover para a parte de trás do ônibus, Kevin tentou fazê-lo voltar com um irritado.

– Volte aqui.

Neil não olhou para ele, e nem parou.

– Não.

O assento amorteceu o forte golpe do sapato de Kevin contra o assoalho. Neil sabia que Kevin estava vindo atrás dele, farto das distrações e impertinências de Neil, mas meio segundo depois, Kevin pediu para alguém soltá-lo. Neil sabia que nem Aaron nem Nicky teriam pensado em intervir. Matt era o defensor mais provável, mas Neil não se importou o suficiente para olhar para trás e confirmá-lo.

Kevin se conteve em incomodar Neil em francês:

– Lembre-se que você me deixou no controle do seu jogo. Você não tem o direito de se afastar de mim quando estou tentando te ensinar.

– Deixei você no controle para que pudéssemos chegar à final –, Neil respondeu, – mas você disse ontem que não espera que cheguemos lá. Você desistiu de nós, então eu assumo o meu jogo. Não te devo mais nada.

– Pare de agir como uma criança mimada. O jogo de hoje depende de quão bem você e eu nos apresentamos. Você precisa ouvir isso mais do que ninguém.

– Já ouvi tudo isso antes –, disse Neil. – Me esquece.

Neil reivindicou o lugar abandonado por Kevin, bem a frente de Andrew. Dan esperou apenas alguns segundos para ver se mais alguma coisa seria dita antes de chamar a atenção de Kevin de volta para a conversa abandonada. Foram necessárias algumas tentativas antes que Kevin parasse de ficar furioso o suficiente para cooperar. Neil esperou até começarem a falar antes de tirar o celular do bolso.

Todas as noites, desde o seu aniversário verdadeiro, ele recebera mensagens com um número. O cruel “0” de hoje chegou durante o almoço. Neil não sabia o que pensar sobre isso ou o que esperar agora. Era tão anticlimático quanto estressante. Ele queria apagar a mensagem, como todas as anteriores, mas quando seu celular pediu para confirmar a ação, ele o fechou. Guardou o celular novamente, virou-se no banco, de joelhos, para olhar Andrew.

Andrew ignorou-o, mas Neil não se importou. Por enquanto, ele estava feliz em olhar, com os braços cruzados sobre as costas do assento e o queixo apoiado no antebraço. Ele não sabia o que estava procurando. Andrew parecia como sempre, e Neil conhecia seu rosto tanto quanto conhecia cada expressão. Apesar disso, algo parecia diferente. Talvez fosse a luz do sol entrando pela janela, fazendo o cabelo pálido de Andrew brilhar mais forte e seus olhos cor de avelã parecerem quase dourados. Fosse o que fosse, era desorientador. A incerteza zumbiu sob a pele de Neil, deixando-o inquieto e fora de si.

– Ei –, disse ele, porque talvez se Andrew o olhasse, iria decifrá-lo.

Demorou um pouco, mas Andrew finalmente deu a ele um olhar calmo. Andrew apenas tolerou seu olhar por um minuto antes de dizer:

– Pare.

– Não estou fazendo nada.

– To dizendo para não me olhar desse jeito.

Neil não entendeu, então deixou passar.

– É cansativo ver tudo como uma briga?

– Não quanto fugir de tudo deve ser.

– Talvez –, admitiu Neil. – Te disse que estou trabalhando nisso.

– Trabalhe mais.

– Não posso, a menos que você me deixe ir –, disse Neil, suavemente, mas firme. – Fique comigo, mas não lute por mim. Me deixe aprender a lutar por mim mesmo.

– Você nunca explicou essa mudança de atitude.

– Talvez eu tenha me cansado de ver Kevin se curvar. Ou talvez tenham sido os zumbis. –Quando Andrew apenas o fitou, Neil deu de ombros e continuou:

– Algumas semanas atrás, você e Renee discutiram planos de contingência para um apocalipse zumbi. Ela disse que se concentraria nos sobreviventes. Você disse que voltaria por alguns de nós. Cinco de nós – disse Neil, ampliando os dedos na frente de Andrew. – Você não estava contando Abby ou o treinador. Já que confiava em Renee para lidar com resto da equipe, acho que o último lugar era para Dobson.

Ele sabia que Andrew não responderia a isso, então soltou a mão e disse.

– Não disse nada porque sabia que você só cuidaria de mim quando o mundo fosse para o inferno. Não quero ser essa pessoa nunca mais. Eu quero voltar, por você.

– Você não vai voltar –, disse Andrew. – Você é um tipo diferente de suicida. Não percebeu isso em dezembro? Você é uma isca. Você é o mártir que ninguém pediu ou quis.

Neil sabia que não era uma pessoa tão boa, mas tudo o que disse foi:

– Há apenas uma maneira de ter certeza, certo?

–Você vai se arrepender.

– Talvez sim, talvez não.

Andrew desviou o olhar.

– Não venha chorar para mim quando alguém acabar com seu rostinho.

– Obrigado.

Neil inclinou a cabeça para o lado, descansando a bochecha no braço e olhando pela janela. Estavam cruzando a Virgínia, a meio caminho do seu destino. As interestaduais da costa leste ofereciam vistas aborrecidas, obstruídas por carros intermináveis e asfalto irregular. Neil pensou nas estradas costeiras que percorrera pela Califórnia, o mar de um lado, o mundo do outro e cidades pequenas demais para terem semáforos. Neil levantou a mão e verificou as unhas em busca de sangue. Não havia nada, é claro, mas por um momento achou que sentiu o cheiro.

– Já passei por aqui –, disse, porque alguma coisa, qualquer coisa, precisava preencher o silêncio antes de seus pensamentos vagarem.

Andrew olhou para ele novamente, o que Neil tomou como uma permissão silenciosa para continuar. Ele contou a Andrew sobre as cidades por onde passara, suas vielas, pontos turísticos e os desajeitados ônibus da cidade. A maioria de suas lembranças estava tingida de tensão e medo, mas ele não precisava diluir isso com Andrew. Neil só precisava evitar mencionar sua mãe.

Era estranho compartilhar essa história com outra pessoa. Neil cresceu olhando por sobre o ombro, mas sempre procurando por seu pai. Raramente havia uma razão para lembrar-se de seu dia-a-dia. No entanto, o tempo passou e Andrew o deixou vagar. Sem nunca desviar o olhar do rosto de Neil, e nem parecer estar mentalmente ignorando a conversa.

Eventualmente, Neil conseguiu que Andrew se abrisse um pouco sobre sua transição para Columbia. A primeira coisa que Andrew fez depois que sua mãe saiu do caminho foi cuidar dos vícios de Aaron. Ele estocara o banheiro do andar de cima com comida e trancou Aaron até que o estágio de abstinência terminasse. Felizmente, eles tinham uma casa e não um apartamento, então não havia vizinhos próximos o suficiente para ouvir as melhores tentativas de Aaron para escapar.

Quando Nicky se mudou para cuidar deles, começou como recepcionista no Sweetie's. Ele descobrira sobre o Eden's Twilight dos clientes que conversava e, depois de fazer o seu melhor para fazer amizade com os seguranças e Roland, ele conseguiu um emprego lá como assistente de barman. Depois de um tempo, Nicky fez Aaron e Andrew trabalharem meio expediente na cozinha, lavando pratos e preparando comidas básicas. Quanto mais confortável a equipe ficava com os gêmeos estranhos, mais fácil era levá-los para beber. 

O ônibus em desaceleração chamou a atenção de Neil, e ele olhou pela janela enquanto Abby se encaminhava para uma rua movimentada. Havia um centro de viagens passando por dois semáforos, um cheio de bombas de diesel e grandes plataformas, e a outra metade cheia de tráfego regular. Abby encontrou uma vaga de estacionamento ao lado dos caminhões e desligou o motor. Neil ficou confuso de parar de novo tão cedo, mas uma olhada no relógio mostrou que ele havia passado quase três horas conversando com Andrew. Agora, estavam apenas duas horas e meia de Binghamton.

– Última parada antes do campus –, anunciou Wymack, e a metade da frente do ônibus desembarcou. 

Wymack ficou de pé em seu assento até que todos, menos Neil e Andrew, saíssem. Ele olhou para eles como se quisesse dizer alguma coisa, depois levantou a mão num gesto de "esquece" e saiu do ônibus. Neil olhou pela janela enquanto seus companheiros de equipe desapareciam lá fora. Ainda estava cheio de almoço, mas os velhos hábitos diziam para aproveitar qualquer parada.

No entanto, antes de se levantar, disse:

– Eu realmente quero saber quando o Treinador percebeu isso.

– Não existe “isso” –, Andrew o lembrou.

Neil não revirou os olhos, mas foi algo parecido.

– Eu realmente quero saber quando o treinador descobriu que você quer me matar apenas noventa e três por cento do tempo.

– Ele não sabia antes de eu ser internado –, disse Andrew.

Mas sabia assim que Andrew voltou, aparentemente. Neil lembrou-se do truque esperto de Wymack em janeiro, quando usou Neil para controlar Andrew. Neil nem sabia disso, então não era como se ele tivesse contado por acidente quando esteve com Wymack no Ano Novo. Neil tentou lembrar, procurando o primeiro indício de que Wymack suspeitava que algo estava acontecendo entre eles, e se endireitou um pouco assim que percebeu.

– Sim, ele sabia –, disse Neil. Em novembro passado, Neil colocou a mão de Andrew em sua pele arruinada e pediu que Andrew acreditasse nele. De alguma forma, Wymack havia percebido a culpa esmagadora de Neil e a relutante confiança de Andrew. Foi mais do que um pouco inquietante. – Quando te levaram, ele me perguntou quando “isso” aconteceu. Eu só não sabia o que ele queria dizer. Como ele percebeu, sendo que Aaron e Nicky ainda não?

– O treinador não se importa com rumores ou preconceitos –, disse Andrew. – Ele vê o que é, não o que as pessoas querem que ele veja.

Como se tivesse visto através da suposta chateação de Andrew, Neil supôs. Aaron e Nicky, por outro lado, ainda acreditavam que Andrew era um sociopata incapaz de ter relações humanas normais. Nicky optou por Renee e Andrew porque todos os outros fizeram o mesmo, mas até ele admitiu que não queria que funcionasse.

– Você vai contar para eles? – indagou Neil.

– Não vou precisar –, disse Andrew quando saiu de seu assento. Neil teria se movido para detê-lo, querendo ouvir o resto, mas Andrew não estava saindo. Em vez disso, ele se mudou para O assento ao lado de Neil. Neil se virou para ele enquanto Andrew explicava. – Renee disse que os veteranos estão apostando em sua sexualidade. Eles estão divididos meio a meio.

Matt dissera que eles estavam apostando nele, mas não era isso que Neil esperava que investissem seu dinheiro. Ele ficou perplexo por um momento, sem saber como reagir, mas finalmente disse.

– É uma perda de tempo e dinheiro. Todo mundo vai perder. Eu disse o ano todo que eu não curto e foi exatamente o que quis dizer. Beijar você não me faz olhar para qualquer um deles de forma diferente. O único em quem estou interessado é você.

– Não diga besteira.

– Me obrigue –, replicou Neil. Ele enterrou as mãos no cabelo de Andrew e puxou-o para beijá-lo. Foi fácil esquecer essa viagem sem fim e o jogo de hoje à noite com a mão de Andrew em sua coxa e dentes em seu lábio. Andrew se afastou cedo demais e levantou-se. Neil sabia que aquela não era a hora nem o lugar, mas isso não o impedia de se sentir enganado.

Finalmente saíram do ônibus e foram procurar bebidas. Wymack deixou sua equipe vagar por alguns minutos antes de guiá-los pelo estacionamento até o ônibus. O resto do grupo de Andrew ficou na frente pelas últimas horas. Neil novamente roubou o assento de Kevin, porém não conseguiu pensar em nada para dizer. O silêncio era surpreendentemente confortável, então inclinou a cabeça contra a janela e tirou um cochilo nas últimas horas.

O campus da Universidade de Binghamton estava decorado em verde e branco para o jogo, e o estacionamento do estádio estava mais cheio de gente do que carros. Se havia fãs das Raposas no meio da multidão, Neil não conseguiu encontrá-los. A polícia estava usando coletes refletivos, direcionando o tráfego e controlando o consumo de álcool. Neil estudou as festas que passaram por eles. Todos pareciam estar de bom humor. Os Furões venceram os Tornados de sete a seis na semana passada e estavam prontos para mais uma vitória esta noite.

Nevada teve catorze pontos na terceira rodada, e as Raposas, atualmente, tinham oito. Para prosseguir para o jogo da próxima rodada, eles teriam que conseguir pelo menos sete pontos hoje à noite. Os Furões eram um time melhor equilibrado que Nevada, mas as Raposas eram cautelosamente otimistas. Eles tiveram um grande jogo contra Nevada e uma semana para descansar, e Nicky estava de volta à quadra com eles.

Os guardas abriram o portão para Abby passar, e ela estacionou ao lado dos ônibus dos Furões. Wymack conduziu seu time, contando-os enquanto desciam e abriu o compartimento de armazenagem. Eles tiraram o equipamento e deixaram a polícia do campus escoltá-los para fora do estacionamento, em direção à porta. Eles tiveram mais de uma hora para passar o tempo antes de poderem entrar no pátio interno para se aquecerem. Neil passou lendo e relendo o a formação dos Furões. Quando Kevin veio até ele, pegou os papéis e fez uma revisão verbal. Ainda podia estar zangado com Neil, mas o jogo era mais importante que sua briguinha.

Neil seguiu seus companheiros de equipe até a quadra para o primeiro saque. Pensou no USC e Edgar Allan e deixou que sua determinação lhe desse velocidade e força. Ele jogou-se de novo e de novo contra a defesa dos Furões, forçando-se para a beira da exaustão e perigosamente se aproximando de receber um cartão mais de uma vez.

No intervalo, Wymack ameaçou estripá-lo vivo se recebesse um cartão vermelho, mas Dan assentiu assim que Wymack saiu. Ela entendeu o que Neil estava fazendo: ninguém podia se dar ao luxo de desacelerar ainda. Eles estavam a dois pontos de desvantagem e enfrentariam uma nova formação. Contanto que marcassem três pontos nesta segunda metade, eles avançariam, mas Neil não queria perder. Ele havia prometido as Raposas que não perderiam nenhum jogo na primavera. Pela primeira vez, Neil não queria estar mentindo.

Uma campainha de aviso os incitou a voltar ao campo, e a formação inicial tomou suas posições ao lado da porta. Aaron e Andrew foram os dois últimos da fila, mas Aaron saiu do caminho quando Neil se aproximou. Neil mal notou. Ele sabia que o último minuto para o segundo tempo passava nos monitores acima, porque as arquibancadas estavam uma bagunça. Ele estava vagamente ciente da quadra à sua esquerda e seus companheiros de equipe, tensos, alinhados atrás dele. A única coisa que realmente importava era Andrew, que não foi afetado por todo esse caos.

Pela primeira vez, Neil apreciou a apatia de Andrew. Em um estádio enlouquecido e com muito a ganhar, ou perder, Neil finalmente enxergou Andrew como outros olhos. Como se Andrew recusa-se a ser envolto nisso, ele era a única pessoa na quadra com a cabeça fria.

– Você bloqueou os Pumas no mês passado –, disse Neil. – Você consegue fazer isso de novo?

– Os Pumas eram estúpidos –, disse Andrew. – Eles mesmos buscaram esse vexame.

– Consegue ou não?

– Não vejo porque eu deveria fazer isso.

Neil ouviu o clique de uma fechadura e soube que os árbitros abriam a porta. Andrew não estava se movendo ainda, mas Neil colocou um braço em seu caminho para mantê-lo onde estava. Ele pressionou a mão enluvada contra a parede e se inclinou o mais perto possível de Andrew com todo o seu equipamento volumoso.

– Estou pedindo que você nos ajude –, disse Neil. – Você vai fazer isso?

Andrew considerou por um momento.

– Não de graça.

– Qualquer coisa –, prometeu Neil, e recuou para tomar seu lugar na fila novamente.

Neil não sabia em que se metera, mas, sinceramente, não se importava, porque Andrew fez exatamente o que Neil queria que ele fizesse. Andrew bloqueou como se sua vida dependesse disso e defendeu cada tiro. Os atacantes dos Furões enfrentaram esse desafio. Eles simularam, mudaram de direção e tentaram todos os truques que tinham em Andrew. Mais de uma vez, Andrew usou sua luva ou seu corpo para bloquear uma bola quando não conseguiu usar sua raquete a tempo.

Poderia ter sido suficiente, exceto que Andrew não parou por aí. Pela primeira vez, começou a dialogar com a linha defensiva. Neil só entendeu fragmentos, já que havia muito espaço e movimento entre eles, mas o que conseguiu foi o suficiente. Andrew estava repreendendo os defensores por deixarem os atacantes passarem muitas vezes e ordenando-lhes que acelerassem o ritmo. Neil se preocupou, por um momento, com eles reagiriam ao trabalho duro de Andrew no fundo, mas na próxima vez que olhou para Matt, Matt sorria como se fosse a coisa mais divertida que tinha em anos.

Demorou todo segundo tempo para as Raposas recuperarem o atraso, e com um minuto restante no relógio Kevin marcou para colocá-los na dianteira. Os últimos sessenta segundos de jogo encaminharam-se para violência e ameaças, enquanto os Furões tentavam empatar. O sinal final soou com a vitória das Raposas, e as equipes estavam lutando antes do som parar. Neil não sabia quem começara; Ele lançou a Andrew um olhar triunfante pelo campo e parou quando viu os atacantes Furões lutando contra Nicky e Matt. Allison e seu marcador negociante correram para a luta, tentando intervir.

Kevin começou a se aproximar deles, mas Neil correu para agarrá-lo. Se Kevin fosse atingido, Andrew se envolveria e a violência subiria para níveis imperdoáveis. Ele arrastou Kevin longe da luta, para que Andrew pudesse ver que ele estava bem. Wymack e os três técnicos dos Furões ajudaram os árbitros a separar seus jogadores. As equipes pularam o aperto de mão habitual no final do jogo em favor de sair da quadra. Como Wymack não perdeu o fôlego gritando, Neil imaginou que as Raposas não haviam desferido o primeiro golpe.

Foi a vez de Neil ajudar Dan com a imprensa pós-partida. Andrew chamou a atenção de Neil e inclinou a cabeça para o vestiário. Ele estava respeitando a decisão de Neil, de ficar sozinho, e não esperaria enquanto Neil fazia sua parte. Neil respondeu a essa confiança com um pequeno sorriso e Andrew se afastou. Neil o teria visto rir, mas Dan redirecionou sua atenção para onde deveria estar agora.

Foram feitas todas as perguntas habituais: como se sentiam, como estavam empolgados para avançar, o que achavam do desempenho dos Furões e assim por diante. Dan estava feliz em se gabar, o que se equilibrava muito bem com as respostas reservadas de Neil, e eles sobreviveram à entrevista. Dan colocou um braço em volta dos ombros de Neil enquanto se encaminhavam para o vestiário, ela inclinou a cabeça de um lado para descansar o capacete contra o de Neil.

Ela não disse nada, nem precisou. Neil praticamente podia sentir a emoção que irradiava dela. Eles tinham feito um retorno incrível hoje à noite e prosseguiram sua sequencia perfeita. Havia apenas um jogo entre eles e as semifinais. Tudo o que eles tinham que fazer era ganhar sua revanche contra os Furões em duas semanas e estariam na próxima rodada.

Os chuveiros corriam quando Neil chegou ao banheiro masculino. Os Furões, como as Raposas, tinham chuveiros divididos em cabines, por isso Neil não precisou esperar que todos terminassem antes de tomar banho. Ele levou suas roupas para uma das cabines abertas e deixou a água quente eliminar a dor de seu corpo exausto. Quando terminou e se vestiu novamente, o vestiário estava vazio. Neil arrumou a bolsa e dependurou-a no ombro.

Estava a meio caminho da porta quando seu celular vibrou. Seu primeiro pensamento foi que era uma mensagem de texto, mas seu aparelho não parava de vibrar. Ele parou para tirá-lo do bolso e abriu-o. A tela se iluminou com o número e o estômago de Neil se revirou. Ele não reconheceu o número, e nem precisava. Mas, conhecia o código de área (443).

Estavam ligando de Baltimore.

– Não fuja.

O som de sua voz o surpreendeu. Ele não queria pronunciar. Seus músculos gritavam com uma tensão mal contida; Ele estava preparado para escapar, mas de alguma forma permaneceu firme. Neil lutou para relaxar, mas seu sangue estava pulsava em suas têmporas.

Ele sabia que não era seu pai quem estava ligando. Não poderia ser; Não seria, era Riko ou um dos lacaios de Riko passando um trote. Agora, Riko sabia que as Raposas haviam passado para a quarta rodada. Sua tentativa de perturbá-lo com essa contagem regressiva havia falhado. Neil sabia que essa era a explicação lógica, mesmo assim demorou até o quarto toque antes de responder.

– Olá?

– Olá, júnior. Se lembra de mim?

O coração de Neil parou por um estante. Não era seu pai ou Riko, no entanto, reconheceria essa voz em qualquer lugar. Era Lola Malcolm, uma das pessoas mais próximas de seu pai, e uma das que tentaram ensinar Neil a manusear uma faca há tantos anos. Ela entrara e saíra de casa tantas vezes que Neil pensara por um tempo que morava com eles. Fingindo ser a assistente pessoal de Nathan, mas seu trabalho era livrar-se dos corpos deixados pelo círculo de Nathan. Ela tratava os corpos como ouro. Nenhum deles era visto novamente.

Neil afastou o telefone da orelha e respirou lentamente e demoradamente. Isso não ajudou. Seus pulmões estavam cheios de fragmentos de gelo, congelando-o até o osso e cortado de dentro para fora. Foi uma eternidade até Neil encontrar sua voz novamente e não pode evitar seu tom denso.

– Não te dei esse número, Lola.

– Então você se lembra de mim –, disse ela. – Agora você percebe, isso é ruim, porque se você lembra de mim, se lembra a quem pertence e onde é o seu lugar.

– Eu escolho meu próprio lugar.

– Você não tem esse direito. – Ela deu-lhe um momento para responder, mas Neil não tinha nada. – Está ouvindo? Está na hora de partir. Se você dificultar as coisas para nós, vai se arrepender pelo resto de sua curta vida. Você entendeu?

Neil queria estar louco. Lola dava fim em corpos; ela geralmente não os caçava. Era para isso que o resto dos lacaios de Nathan serviam. Neil lembrava-se melhor de rostos do que de nomes, mas podia adivinhar quem Lola trouxera consigo. O parceiro de negócios de Lola era seu irmão, Romero, e para onde Romero ia, Jackson nunca ficava para trás.

Os três eram o círculo mais próximo de Nathan. Alem de Nathan, eles obedeciam ordens somente de seu braço direito, Di Maccio.

Neil poderia tentar escapar de um deles, porém não passaria por entre os três. Por um momento, estava com tanto medo que não conseguiu respirar, mas logo após o susto houve uma raiva irracional e selvagem. Ele estava prestes a ganhar a confiança de Andrew, um fim de semana de suas primeiras férias e um mês antes das semifinais. Havia apenas quatro jogos restantes no campeonato. Neil estava tão perto de tudo o que queria e Lola estava lá para roubá-lo.

– Coloque uma pata em mim e você vai se arrepender –, ameaçou Neil.

– Ah, o que é isso? – disse Lola, entretida. – O bebezinho herdou os genes? Seu pai ficará feliz em ouvir isso.

– Meu... – Neil engasgou. – Ele está em Seattle. Você nunca me levará tão longe.

– Ele está em Baltimore –, ela o corrigiu. – Sua audiência de liberdade condicional foi no seu aniversário. Eles tiveram que notificar sua família quando o seu caso foi apresentado. Você deve ter perdido o memorando, estando morto e tudo mais, então eu vou deixar você saber. A decisão final foi tomada na semana passada, e determinaram que ele fosse devolvido a Maryland esta manhã. Eles esperam que o retorno ao território familiar o torne descuidado. – Neil podia ouvir o sorriso selvagem em suas palavras. – Não se preocupe garoto. Eles nunca saberão o que vai acontecer com você aqui. Vou me certificar disso.

Neil piscou e enxergou o zero entre suas pálpebras. Ele não tenha mais tempo. Por um momento, Neil sentiu o peso da boca de Andrew contra a sua. Ele afundou os dedos no lábio inferior, tentando respirar.

– Você honestamente não acha que pode me arrancar daqui –, disse Neil. – Minha equipe saberá que estou desaparecido e eles não voltarão sem mim.

– Eles não terão outra escolha. Não podemos matá-los –, insinuou Lola, – mas podemos machucá-los. Você vai ver.

– Não –, disse Neil, mas Lola desligou.

Neil retornou a ligação, porém, foi diretamente para o correio de voz. Ela já havia desligado. Neil xingou e fechou o celular com os dedos trêmulos. Ele apertou as mãos com força, como se pudesse afastar o tremor, mas esses tremores eram profundos. Sua mente corria a mil e seiscentos quilômetros por hora, pensando em cada estratégia para sair e descartando cada uma que terminasse com ele fugindo.

Ele prometera a Andrew que ficaria firme ali, mas não poderia, isso deixaria seus companheiros no fogo cruzado. A única maneira de salvar sua equipe seria fazendo a última coisa que o pessoal de Nathan esperava dele. Neil havia fugido, mentido e escondido toda a sua vida. Contar a verdade para salvar a si mesmo, salvar sua equipe, estava completamente fora de questão. Neil queria contar quando a temporada terminasse, no entanto, não podia se dar ao luxo de esperar mais. As Raposas poderiam esperar até a policia federal aparecer para levar todos sob custódia.

Neil saiu correndo do vestiário, cortando o corredor. Um oficial de segurança estava em pé no final do corredor, olhando para as Raposas que comemoravam na sala. Neil chegou à metade do caminho antes do homem perceber que mais um integrante se aproximava. Neil congelou quando o oficial lhe fitou, Neil retribuiu o olhar também. Jackson Plank estava no vestiário com sua equipe. Um segundo depois, Romero Malcolm apareceu em uma roupa similar. Recuar deles foi instintivo, contudo, Neil segurou-se a parede antes de ir muito longe.

Romero pousou a mão casualmente na arma presa ao cinto. Neil estremeceu e meneou a cabeça ferozmente. Romero se afastou dele para olhar as Raposas. Neil não teve dificuldade em interpretar esse aviso e estendeu as mãos em um apelo desesperado para se afastar. Jackson deu a Neil apenas um olhar superficial antes de voltar sua atenção para o time inconsciente do que acontecia no corredor.

– Se todos estiverem prontos, podemos sair –, disse Jackson.

– Ainda estamos esperando por Neil –, informou Nicky, e Jackson apontou para o corredor, em direção a Neil. Neil engoliu o nó na garganta e tentou mudar sua expressão para algo calmo. Prosseguiu pelo corredor com os pés que queriam levá-lo a qualquer lugar, exceto este. Nicky deu um pulo quando Neil entrou na sala, sorrindo de orelha a orelha. – Ei, Neil! Tínhamos começando a achar que você havia se afogado.

– Sinto muito.

Nicky acenou com a mão, ao pensar que Neil se desculpava por fazê-los esperar, em seguida, buscou sua bolsa. Neil observou-os recolherem seus pertences, olhando para cada rosto e tentando saborear esses últimos duros segundos. Wymack os observou do canto, um cigarro apagado pendurado no canto da boca e um sorriso triunfante ainda nos lábios. Abby arrumava sua bolsa; provavelmente fizera curativos nos arranhões pós briga que seu time se envolvera.

Os cinco passos entre Neil e sua equipe poderiam ter sido cinco mil milhas. Olhando para todos eles, Neil sentiu-se tão triste quanto orgulhoso. Ele estava destruindo suas chances de prosseguir na temporada, mas as garotas ainda teriam mais um ano. Eles ficariam amargamente desapontados com o quase trunfo, entretanto, eles eram lutadores. Eles retornariam no próximo ano e não deixariam nada impedi-los.

Era lamentável deixá-los com todas as suas mentiras, lamentável que teriam que arrancar a verdade de Kevin depois que fosse embora. Todos ainda estavam juntos, mas Neil já sentia saudades de todos com uma ferocidade, ameaçando rasgá-lo de dentro para fora.

Somente Andrew percebeu a tensão em sua máscara. Ele Atravessou a sala, ficando a frente de Neil, exigindo silenciosamente seus olhos. Neil queria responder, mas não sabia como. Alemão seria a resposta óbvia, pois lhes daria alguma privacidade, mas Romero e Jackson não entendiam alemão. Eles não saberiam o que Neil diria, assim sendo obrigados a reagir, como se Neil houvesse confessado cada segredo sombrio. Neil não podia permitir isso. Não podia deixar Andrew para trás sem nada, mas o que poderia dizer?

– Obrigado –, ele finalmente ofereceu. – Nem sei como agradecer por tudo: as chaves, a confiança, a honestidade e os beijos. – Com sorte, Andrew acabaria por entender. – Você foi incrível.

Disse apenas para os ouvidos de Andrew, no entanto, Allison estava perto o suficiente para ouvir. Ela enviou a Matt um olhar significativo. Neil a viu com sua visão periférica, contudo, não desviou o olhar de Andrew para ver a reação de Matt. Ele não queria desviar o olhar, como se manter o olhar de Andrew pudesse, de alguma forma, salvar esse momento. Então, Wymack gesticulou para que eles saíssem e Neil não teve escolha a não ser virar as costas para seus companheiros de equipe.

Eles deixaram o estádio em fila, Romero na frente e Jackson atrás. Neil estava mais perto da saída, então estava bem atrás de Romero. Ele odiava estar tão perto do capanga de seu pai, mas gostava de pensar em seu corpo com um escudo entre a crueldade de Romero e seu time desavisado. Ele atentou os olhos nas costas de Romero, embora continuasse a procurar por Lola em meio à multidão. Apenas metade dos torcedores tinha ido embora. O restante fazia uma festa pós-jogo no gramado do estádio. O cheiro de álcool foi tão forte que Neil quase pode sentir o gosto.

A torcida das Raposas alinhava-se em um dos lados da passarela e aplaudiram a chegada da equipe. Eles foram rapidamente afogados por insultos do outro lado, onde a torcida dos Furões estavam. As Raposas ignoraram ambos e continuaram em seu caminho. Até mesmo Nicky foi esperto o suficiente para manter a boca fechada, já que não queria irritar ainda mais os torcedores exaltados, embora não importasse no final. Estavam a meio caminho do estacionamento quando uma garrafa voou do nada. O alto xingamento de Aaron, alguns metros atrás, disse que havia acertado nele, e Andrew lançou um olhar feroz para a multidão. Então, jogaram um sapato e depois outra garrafa de cerveja vazia.

Mais policiais foram até a equipe, gritando por ordem e apontando com os dedos. Eles poderiam ter conseguido restaurar a ordem, exceto que a próxima a próxima coisa a ser jogada foi um cooler. Dan se esquivou bem a tempo, colidiu contra um torcedor bêbado do lado das Raposas. Houve um protesto furioso dos amigos do homem que foi rapidamente imobilizado pela multidão atrás dele.

Romero segurou o pulso de Neil em um forte aperto. Neil, com a mão livre, tirou o celular do bolso da calça e o enfiou no ultimo bolso de sua bolsa. Fez na hora certa, quando a tensão da multidão atingiu um ponto de ruptura. Estudantes e torcedores atacaram uns aos outros, com as Raposas presas no meio. Corpos colidiram com Neil, o suficiente para derrubá-lo, mas Romero o pegou e o puxou para longe o mais rápido que pôde. Neil deixou a raquete e bolsa caírem de seu ombro. Andrew e Kevin sabiam que ele nunca abandonaria tais coisas de bom grado. Ele não lhes havia contado para aonde iria, no entanto, todos saberiam que Neil não os deixara por vontade própria.

Em algum lugar, entre o motim e o estacionamento, Romero largou seu colete brilhante. Assim que os sapatos de Neil tocaram o asfalto, Neil começou a lutar, mas Jackson estava bem atrás deles. Ele puxou o braço de Neil tão abruptamente que quase deslocou seu ombro. Neil engasgou com a fisgada que perfurou suas costas.

– Vocês não vão se safar –, disse Neil, com a voz tensa. – Meus companheiros de equipe saberão que estou desaparecido. Eles não vão sair de Nova York sem mim.

– Eles estarão ocupados por um tempo –, replicou Romero. – Seu treinador vai passar parte da noite tentando adivinhar para qual hospital você foi levado. Quando perceberem que você se foi, será tarde demais.

Eles o empurraram para o banco de trás de uma viatura da patrulha rodoviária. Lola esperava por ele no assento ao lado. Neil a olhou estupefato, para um rosto que envelhecera, porém sempre seria familiar. O sorriso que curvou sua boca demais, ameaçando dividir seu rosto em dois, foi o mesmo de sempre, e Neil instintivamente se afastou. Ele não tinha para onde ir com uma porta trancada atrás dele e uma grade protetora entre ele e os bancos da frente.

– Junior, você cresceu –, disse Lola quando Romero e Jackson sentaram no banco da frente. Havia tráfego congestionado ao redor do campus de Binghamton, mas Jackson acendeu os faróis e dirigiu. – Que inesperado. Existem rumores de que você é uma espécie de estrela em ascensão? Esse mundinho é bem estranho, mas não precisa se preocupar com isso por mais tempo.

Romero virou-se no banco do passageiro e olhou pela grade.

– Você contou a eles?

– Pareço idiota? – perguntou Neil. – Claro que não.

Lola pressionou a unha do polegar em sua tatuagem, na bochecha. 

– Mas, pelo menos um deles sabe, hum? Você não é o único marcado.

– Kevin se lembra de mim, mas ele é um mascote dos Corvos. Ele sabe que é melhor ficar calado.

– Espero que seja a verdade –, ponderou Lola. – Você sabe o que faremos com eles se estiver mentindo.

– Passei oito meses com uma câmera na cara. Se tivesse contado a alguém, vocês já saberiam. Vocês não precisaram disso para me rastrear. – Neil apontou para seu rosto. – Deram alguma compensação a Riko?

Romero bufou com desprezo.

– Fizemos um telefonema ao tio dele, uma cortesia de que estaríamos levando você.

Essa simples rejeição só fez Neil se sentir pior. Afinal, tinha a suspeita de que Riko não estava por trás da sangrenta surpresa de aniversário, ou da contagem regressiva. Lola dissera que a audiência de liberdade condicional de Nathan foi naquele mesmo dia. Seu círculo sabia que sairia. Agora Neil se perguntava: se sua ausência faria Riko ficar longe das Raposas nesta primavera. Teria Tetsuji avisara Riko para não chamar atenção enquanto os capangas de Nathan estavam à espreita? Tetsuji e Riko eram Moriyamas, e essa não era a família que os Wesninski serviam e protegiam.

Lola sorriu.

– Ele estava muito bravo, mas o que poderia fazer? Neste momento, Kengo não está dando mínima.

– Porque está doente –, concluiu Neil, sem ser uma pergunta.

– Doente –, repetiu Lola, e bateu na grade para se certificar de que seu irmão tinha ouvido aquilo. – “Doente” é um resfriado ou uma DST, criança. Não é doença; É o pé na cova. Os rins estão falhando. Dou uma semana, no máximo, antes de Ichirou ser coroado o novo rei. Vou repassar suas condolências e parabéns. Já que você não estará vivo para entregá-los você mesmo.

– Falando nisso, é uma tradição dizer aos caras o que eu pretendo fazer com suas partes –disse Lola, e começou a contar em detalhes como desmontaria seu corpo.

Neil tentou não ouvi-la, mas não pôde ignorar suas palavras cruéis. Colocou toda a força que lhe restava evitando que seu medo transparecesse em seu rosto. Ele não conseguia manter as mãos quietas, mas pelo menos podia escondê-las nos bolsos. Ele não queria que ela soubesse que estava conseguindo assustá-lo. De jeito algum, fingir parecesse valente o salvaria, eles esperavam por esse momento por nove anos. O mínimo que Neil podia fazer era privá-los da maior satisfação possível.

Restavam apenas alguns quilômetros para chegar à Interstate 81, o carro comprado para esse serviço permitiu que chegassem à interestadual a noventa milhas por hora. Jackson desligou e ligou as luzes da viatura, independentemente de ter ou não carros no caminho. Mesmo com a tal velocidade, foram quase três horas da Universidade de Binghamton até Baltimore.

Duas milhas depois de chegar em Maryland, estacionaram atrás de um carro abandonado. Jackson ficou com a patrulha, enquanto Romero e Lola levaram Neil para o Cadillac. Neil foi empurrado para o banco do passageiro. Romero colocou a arma no rosto de Neil, antes que pudesse pensar em escapar. Ele tinha certeza de que deveria ser entregue vivo a Nathan, mas a mãe de Neil lhe ensinara quantos lugares poderia atirar sem matar. Neil observou Lola algemar os tornozelos ao trilho de deslizamento do assento, e quase não se absteve de acertá-la com uma joelhada no rosto.

Lola subiu no assento atrás dele e puxou os braços de Neil ao redor de sua cadeira. Ela algema as mãos e as fechou o mais forte que pôde. Assim que fechou a porta, Romero os trouxe de volta à estrada. Neil chutou as pernas um pouco, testando sua amplitude de movimento, no entanto, foi rapidamente distraído pela pressão do metal frio e afiado contra a ponta de seus dedos.

Neil, reflexivamente, tentou apertar as mãos em punhos. Lola riu e pressionou o polegar em seu pulso. Quando seus dedos se soltaram, ela deslizou sua lâmina entre os dedos e a palma da mão. O roçar da ponta contra seus dedos foi um incentivo para abrir a mão novamente. Lola posicionou a lamina entre os dedos, forte o suficiente para ser uma ameaça, mas não forte o suficiente para abrir a pele. Logo, ela se cansou da brincadeira e traçou uma linha superficial ao longo da base de seus dedos.

Neil puxou as algemas com força, tentando manter as mãos longe de seu alcance, porém o metal não se soltou. Por um momento sufocante, isso o lembrou das férias Natalinas em Evermore, e o controle hesitante de Neil se desfez um pouco mais. 

– Pare com isso.

– Me faça parar –, respondeu Lola, e cortou uma linha na base do dedo até a pele grossa do polegar. Ela deixou sua mão dilacerada, queimando em chamas, antes de passar para a próxima. Quando terminou, se inclinou entre os bancos da frente. E, traçou a tatuagem de Neil com a ponta da faca. 

– Nós lemos sobre sua rivalidade com Riko. Que atuação convincente! Em outra vida você poderia ter sido um ator. Diga-me, você realmente achou que a coleira dele te protegeria de nós?

– Não importa.

– Realmente. Não posso levá-lo ao seu pai com essa mancha no rosto. Rô?

Romero alcançou o painel. Algo estalou quando ele apertou, e Neil examinou o grupo de botões para uma sugestão do que ele tinha feito. Não era o rádio, e nenhuma das luzes indicava o aquecedor. Isso só deixou uma opção possível, mas Neil se recusou a acreditar. Negar não mudaria a realidade, logo o isqueiro do painel se soltou da fechadura com um som metálico. Romero o pegou.

Neil se afastou dele com um caloroso:

– Tá louco?

Lola envolveu o braço nas costas da cadeira, pousando o gume da faca no lado direito do rosto. A lâmina cortou uma linha fina da boca até o canto do olho. Neil ficou imóvel, com esse aviso, e observou Lola pegar o isqueiro de seu irmão. Virou-o experimentalmente e inclinou-o para que ela e Neil pudessem ver as bobinas em brasa. Lola assentiu com aprovação e deu a Neil um dos seus largos sorrisos.

– O que acha?

Neil pensou estar a dois segundos de perder a paciência.

– Vai se foder.

– Não se mexa –, disse ela, pressionando o isqueiro na bochecha.

Ela dissera que não se mexesse, mas não havia como obedecer. A agonia explodiu em seu rosto, passando de sua mandíbula para a garganta e percorrendo seu olho. O cheiro de pele queimada só piorou a dor cegamente, e, Neil não conseguiu manter as aparências na frente dela. Ele sentiu o ardor em sua outra bochecha enquanto recuava para a faca de Lola esperando por ele. Sentiu a dor como uma memória distante, um formigamento insignificante contra o inferno. Lola o seguiu quando ele se afastou, segurando o isqueiro no lugar, mas se afastou depois de um segundo para inspecionar seu trabalho. Neil sabia que o isqueiro já estava desligado, porque ele a viu fazer isso, mas ainda sentia o metal e fogo em sua pele. Cada segundo que passava piorava, até o estômago de Neil revirar.

– Bem melhor –, disse Lola, e cravou as unhas em sua pele machucada, só para fazê-lo gritar novamente. – Não acha?

Neil já não tinha fôlego para responder. Cada respiração era frenética e superficial, curta demais para alcançar seus pulmões, suficientemente pesada e rápida para se engasgar. Ele virou a cabeça para fora de seu alcance e, tardiamente, lembrou-se da faca. Isso ocasionou em uma segunda linha na bochecha, e se inclinou para frente rapidamente. Não podia ir longe com as mãos algemadas atrás do assento, embora tivesse que tentar. O sangue escorria lento e constantemente pelo rosto, quente, contra os lábios antes de escorrer do queixo e da boca para as coxas.  Quando ofegou por ar, sentiu o sabor.

O isqueiro foi acionado novamente. Neil o ouviu como um tiro, e estremeceu.

– Eu sei que seu pai vai perguntar, mas tenho que saber agora –, disse Lola. – Tá ouvindo, Junior? Ei. – Ela o bateu de volta com o cabo de sua faca.

– Onde está o passarinho? Humm? Tivemos um tempinho para investigar desde que descobrimos onde você estava, mas não há nenhum vestígio dela em lugar algum. Tetsuji ouviu de você que ela estava morta. Ele estava certo de que você disse a verdade. Já eu não sou tão otimista.

– Ela está morta. – Neil engasgou.

Lola pegou um punhado de cabelo, puxando para cima. Deixou a faca de lado para poder segurá-lo com as duas mãos, sua mão livre se fechou ao redor de sua garganta com tanta força que ele mal conseguiu respirar. Ela empurrou-o de volta contra o assento, fixando a cabeça no encosto de cabeça. Romero puxou o isqueiro de novo e Neil lutou desesperadamente.

– Ela tá morta –, disse ele, quase ofegando através do aperto brutal de Lola. – Ela morreu há dois anos, depois que ele a espancou em Seattle. Acha que ela teria me deixado ir para Palmetto se ainda estivesse viva? Entrei em um time porque não tinha mais nada.

– Acreditamos nele? – Lola perguntou a Romero.

– Temos que ter certeza –, disse Romero.

– Certo –, disse Lola, e segurou Neil para que Romero pudesse esmagar o isqueiro contra seu rosto mais uma vez. O estrangulamento de Lola significava que o máximo que Neil conseguiria era um gemido de dor. Ele se debateu violentamente, sem pensar em suas restrições. Lola falava novamente, mas não consegui entendê-la sobre o rugido em seus ouvidos. Seu mundo reduziu-se a fogo em seu rosto.

Romero afastou o isqueiro, mas o empurrou para frente, novamente, para que esquentasse. Lola afrouxou o aperto suficiente para Neil respirar, sem o soltou completamente.

– Tente de novo, júnior –, continuou Lola. – Me responda e me faça acreditar em você. Onde está Mary?

– Ela tá morta –, respondeu, sua voz rouca de dor. – Ela tá morta, ela tá morta, ela tá morta.

Lola olhou para o irmão.

– Acredita agora?

Romero levantou o ombro, em um dar de ombros evasivo. Lola considerou Neil novamente, depois bateu no rosto queimado o mais forte que pôde. Ela se inclinou para frente, entre os assentos, pegando o isqueiro e voltou para seu assento. Ter o isqueiro atrás dele, fora de vista, era pior do que a dor que eles já haviam lhe causado, Neil lutou para libertar suas mãos. Isso feriu seus pulsos com o metal inflexível, mas não conseguiu parar.

– Não faça isso –, ele implorou. – Lola, não faça isso.

– Tenho perguntas –, disse Lola, com a voz estranhamente abafada. Neil supôs que segurava a alça do isqueiro entre os lábios, porque usava as duas mãos para arregaçar as mangas. Suas mãos passaram por seus antebraços nus, as unhas levemente arranhando sua pele. Ela a retirou um momento depois, e, sua voz soou normal quando falou. – Vamos começar com seus companheiros de equipe novamente. Diga-me tudo o que você disse a eles.

O tempo parou quando Lola o queimou, abrindo caminho pelos braços de Neil. Neil agarrou-se a uma versão que protegesse as Raposas, mas não importava quantas vezes dissesse, ela não parava. Eventualmente, ele parou de responder completamente, temendo liberar a verdade por causa da dor e pânico, economizando sua energia para respirar. Cada expressão de dor e grito silencioso repuxou as queimaduras em seu rosto, e as lágrimas salgadas estavam ácidas em suas bochechas arruinadas.

Ele não queria pensar na dor, não queria sentir, então, ao invés disso, pensou nas Raposas. Ele se agarrou firmemente à memória de sua amizade incondicional e sorriu. Fingiu que o batimento cardíaco pulsando forte em suas têmporas era uma bola batendo nas paredes da quadra. Pensou em Wymack agarrando-o em dezembro, e em Andrew empurrando-o contra o chão do quarto. As lembranças enfraqueceram-no com dor e perda, no entanto, também o fortaleceram. Ele tinha ido ao Estádio Foxhole com cada centímetro de seu corpo revestido de mentiras, mas seus amigos o tornaram em algo real.

Ele havia chegado ao fim de sua caminhada mais cedo do que queria, e não havia conseguido tudo o que esperava este ano, mas fizera de sua vida mais do que jamais imaginara possível. Tinha que ser o suficiente. Ele traçou o contorno de uma chave com um dedo trêmulo na palma sangrenta e queimada, fechou os olhos e se despediu de Neil Josten.

Lola finalmente parou e o deixou com suas restrições. Ela disse algo, mas ele não conseguia entendê-la através do zumbido nos ouvidos e, de qualquer forma, não se importava. Em seu estado, suas escolhas racionais colidiram tão fortes contra uma parede de tijolos que quebrara todos seus ossos. Restava apenas uma opção, então Nathaniel Wesninski deixou os últimos quilômetros passarem despercebidamente.  Ele catalogou cada ponto latejante de seu corpo e mentalmente os organizou por gravidade. Os piores ferimentos foram os de seu rosto, mas a bagunça que Lola fizera em suas mãos eram as mais inconveniente. Seria difícil se defender quando até o menor movimento de seus dedos fazia suas mãos doerem.

Eles adentraram o estacionamento de um hotel suspeito. Apenas metade das lâmpadas externas funcionava. Nathaniel estava disposto a apostar que as câmeras de segurança estavam igualmente desativadas. Ele olhou pela janela e esperou para ver o que viria a seguir.

O que chegou foi uma viatura da policia, e estacionou ao lado deles. Nathaniel não reconheceu o oficial de feição jovem que saiu do lado do passageiro, ou o policial mais velho que rodeou o capô alguns segundos depois. O mais velho fez um gesto, e o policial mais novo foi abrir o porta-malas. Romero desceu do carro e foi trocar algumas palavras silenciosas com eles. Ele assentiu com satisfação e abriu a porta do passageiro. Ele destrancou as algemas nos tornozelos de Nathaniel, tempo o suficiente para tirá-lo dos trilhos. Assim que o metal fechou novamente, Lola soltou as algemas de seus pulsos. Romero puxou-o para fora do carro pela camisa e, novamente, algemou suas mãos.

Nathaniel fitou os policiais com um olhar frio, estudando-os com interesse evidente e zero arrependimentos.

– Quanto o povo de meu pai paga para quebrarem seus juramentos?

– Mais do que o governo –, disse o oficial mais velho. – Não leve isso para o lado pessoal.

– Eu tenho –, replicou Nathaniel, sua voz rouca de dor e ódio. – É minha vida.

A única coisa no porta-malas era uma pequena caixa de ferramentas, então havia muito espaço para ele a li. Ele não conseguia se colocar no porta-malas algemado, mas os policiais ajudaram Romero a trancá-lo. Lola pegou a arma oferecida por Romero e entrou juto a ele. Ela se acomodou em torno de seu corpo machucado, abraçou-o e moveu a arma em aviso. Nathaniel respondeu seu sorriso com um olhar vazio.

– Estamos bem, aqui –, sinalizou Lola, e Romero fechou o porta-malas.

Nathaniel fechou os olhos contra o buraco negro que ameaçava engoli-lo por inteiro. Lola sorriu contra sua bochecha e mordeu suas queimaduras. Ela colocou uma perna sobre a dele e enfiou o salto de seu sapato entre os tornozelos dele. 

– Você poderia ser meu tipo se não fosse tão jovem, humm? Você se parece com seu pai.

O movimento convidativo de seus quadris contra os dele fez sua pele arrepiar.

– E você parece uma prostituta drogada.

– Ainda esperneando. – Ela estava grata, não insultada, e arranhou linhas duras em seus braços feridos. – Mas, não por muito tempo.

As portas se fecharam quando os policiais voltaram para dentro. O mundo tremeu embaixo deles quando saíram do estacionamento. Ele contou oito paradas antes dos policiais começarem a falar. Não conseguia entender suas vozes através da espessa almofada do banco de trás, mas, momentos depois, ouviu-se sirenes e os policiais aceleraram.

– Oops –, murmurou Lola contra sua orelha. – Parece que houve um incidente na casa do seu pai. Talvez alguns vândalos que não querem tê-lo de volta na vizinhança, tolos que acreditam na teoria da conspiração de que ele matou sua amada esposa e filho.

– Pessoas que você pagou para criar uma distração –, Nathaniel adivinhou, – para que a polícia pudesse parar sem ser questionada.

– Dez pontos para Junior –, disse Lola.

A casa da infância de Nathaniel tinha cinco quartos, no bairro de Windsor Hills, a alguns quilômetros a noroeste do centro de Baltimore. No que diz respeito à comunidade, Nathan era um ex-comerciante de sucesso que desistira das ações em favor de investir em negócios na cidade. Suas taxas de juros eram altas, mas nunca recusara um pedido. Não importava quem perguntasse ou qual a quantia. Se uma empresa não pudesse pagá-lo no tempo estipulado, ele a comprava e seguia em frente.

De acordo com a última contagem, ele possuía uma dúzia de empresas de vários ofícios e tinha relações com uma dúzia de outras. Essa imagem o deixou ir e vir na cidade, em qualquer lugar que precisasse, mas também explicava o porquê ficava em casa por semanas. Os federais investigaram a propriedade de Nathan mais de uma vez, entretanto Nathan era esperto demais para fazer negócios reais com empresas em seu próprio nome.

Nathaniel sabia que estavam se aproximando, por causa do barulho. As luzes da polícia sempre atraíam uma multidão interessada. Isso dizia duas coisas: o que acontecesse com a casa era grande o suficiente para chamar a atenção e eles não eram os primeiros oficiais no local. Se os federais estivessem vigiando Nathan, teriam muitos corpos para ver esta noite.

O carro balançou um pouco enquanto se movia pela estrada curva até a casa. Quanto mais prosseguiam, mais silenciosos ficavam quando deixavam para trás os espectadores em favor do trabalho policial. A tensão fez a entrada na garagem parecer interminável, mas finalmente o carro parou. As portas se fecharam atrás dos dois policiais enquanto eles iam investigar. Nathaniel esperou que Lola fizesse um movimento, mas aparentemente estava contente em ficar parada por mais algum tempo.

Finalmente, o celular de Lola tocou. Ela passou a mão sobre Nathaniel para procurar por algo. A caixa de ferramentas, ele adivinhou quando ouviu o clique do metal. Rasgou um plástico e se apoiou em seu cotovelo na frente dele. 

– Se você luta comigo, eu vou cortar seus joelhos.

O sarcasmo só traria a pior resposta, então Nathaniel rangeu os dentes.

– Apenas faça isso.

O cheiro doce e doentio que encheu o carro rasgou seu estômago, e tudo dentro de si ordenou que lutasse. Ele ficou parado e deixou-a colocar um pano encharcado no nariz e na boca. O entorpecimento começou na ponta dos dedos e rapidamente passou para o resto do corpo. Ouviu a porta de um carro se abrir e achou que alguém estava no banco de trás, mas não conseguiu manter a consciência por tempo suficiente para ter certeza.

– Vá –, disse Lola, a voz anasalada quando tampou o nariz, e tudo desapareceu.

10 Comentários

  1. Anônimo03 março

    Meu deus eu só fiz sofrer nesse capítulo. Coitado do meu Neil :(

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  2. Anônimo04 março

    Zeus do céu. Eu estou chocado. E sedento por mais. Pobre Neil

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  3. É claro que tudo tinha que dar errado agora que Andreil tava vingando... MDS EU PRECISO DE MAAAAIS!!!!!
    Mto obrigada por traduzir essa obra!!!<3

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  4. Anônimo04 março

    Estava esperando por isso! Coitado do Neil

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  5. Anônimo06 março

    Que história boa! A cada capítulo fica melhor

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  6. eu preciso de mais capítulosss

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    1. Tá quase saindo, os capítulos agora estão cada vez maiores. Antes eram de 9 a 10 páginas agora são quase 30 páginas de capítulo. Mais vai sair. :)

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  7. pqp man meu filho só sofre aaaaaaaaa </3 vou atacar todo mundo mds

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  8. Aff, não acredito nisso. Eu n queria chorar cara :( tô mt na bad agr na moral. Claro que eu já esperava por isso, ainda mais pq eu vi muitas fanarts representando os ferimentos de tortura do Neil, mas dps q ele "deixou Neil" para trás e começou a ser narrado como Nathan, foi o meu limite, puta merda. Mano, obg de verdade por traduzir, eu tenho uma paixão tão forte por esses livros q mds do céu, só conheci eles por conta de uma fanart perdida no pinterest, cacei alguma palavra chave e pedi para minha amiga pesquisar algo relacionado, ela achou seu blog e desde janeiro eu venho acompanhando.... eu sei la só to mt triste agr

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