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Cemetery Boys - Capítulo 1

Tecnicamente, Yadriel não iria invadindo o cemitério, pois viveu nele a vida toda. Mas invadir a igreja definitivamente utrapassava os limites da ambiguidade moral.

Ainda assim, se finalmente estava indo provar que era um brujo, tinha que realizar o rito em frente à Senhora da Morte.

E ela estava esperando por ele dentro da igreja.

A garrafinha preta cheio de sangue de galinha bateu no quadril de Yadriel enquanto atrevessava furtivamente a pequena casa de sua família, em frente ao cemitério. O restante do material para a cerimônia estava escondido dentro de sua mochila. Ele e a prima, Maritza, se abaixaram para passar pelas janelas da frente, com cuidado para não bater com a cabeça na soleira. As silhuetas dos brujx comemorando dançavam pelas cortinas de dentro da casa. Suas risadas e o som de música sendo filtrados pelo cemitério. Yadriel parou, agachando-se nas sombras, verificando se a barra estava limpa antes de pular da varanda e disparar. Maritza seguiu de perto, seus passos ecoando em comjunto com os de Yadriel enquanto corriam descendo o caminho de pedregulhos e poças de água.

[p]O coração do garoto palpitou no peito, dedos roçando ao longo do tijolo molhado de uma parede de columbária enquanto procurava por quaisquer sinais dos brujos de plantão no cemitério esta noite. Patrulhar o cemitério para se certificar de que nenhum espírito dos mortos estava causando problemas era parte das responsabilidades dos homens. Espíritos que se tornavam malignos eram poucos e raros, de modo que as rondas dos brujos consistiam principalmente em garantir que espíritos sem rumo não escapassem para fora dos muros, mantendo os túmulos livres de ervas daninhas e fazendo a manutenção geral.[/p] [p]Ouvindo um violão sendo tocado à frente, Yadriel se abaixou atrás de um sarcófago, arrastando Maritza para baixo com ele. Espiando pelo canto, enxergou Felipe Mendez encostado em uma lápide, tocando sua vihuela e cantando junto. Felipe era o mais recente morador do cemitério de Brujx. O dia de sua morte, há pouco mais de uma semana, estava esculpida na lápide ao lado dele.[/p] [p]Brujx não precisavam ver um espírito para saber que tinha algum por perto. Homens e mulheres de sua comunidade podiam senti-los, através da baixa temperatura do ar ou calafrio na nuca. Era um de seus poderes ecenciais, dado a eles por vossa Senhora. Os poderes da vida e da morte: a capacidade de sentir doenças e ferimentos nos vivos, e de enxergar e se comunicar com os mortos.[/p] [p]Óbvio, essa habilidade não era muito útil em um cemitério cheio de espíritos. Em vez de um frio repentino, vagar pelo cemitério de Brujx deixou um constante gélido arrepio no pescoço de Yadriel.[/p] [p]No escuro, mal conseguia identificar a densidade da transparência do corpo de Felipe. Os dedos de Felipe se moviam em um borrão fantasmagórico enquanto dedilhavam as cordas de sua vihuela – eram as cordas, o bem material mais importante para ele, aquilo que o mantinha desperto no mundo dos vivos. Felipe ainda não estava preparado para ser desatado para o pós-vida.[/p] [p]Ele passava a maior parte do tempo no cemitério, tocando sua música e chamando a atenção das brujas, tanto das vivas quanto das muitas mortas. Sua namorada, Claribel, sempre as enxotava, e os dois passavam horas juntos no cemitério, como se a morte nunca tivesse os separado.[/p] [p]Yadriel revirou os olhos. Era tudo muito dramático, se perguntassem a ele. Seria bom se Felipe já pudesse fazer a passagem, assim Yadriel poderia desfrutar de uma boa noite de descanso sem ser acordado pelas discussões de Felipe e Claribel ou, pior, seus terríveis duetos de “Wonderwall”.[/p] [p]Mas brujx não gostavam de forçar espíritos a fazerem a travessia. Enquanto os espíritos estivessem pacíficos e não se tornassem malignos, os brujos os deixavam soltos. Mas nenhum espírito poderia ficar para sempre. Em algum momento se tornariam violentos, versões distorcidas de si mesmos. Estar preso entre a terra dos vivos e a dos mortos é desgastante para espíritos, degradando sua humanidade. As partes que os tornam humanos acabam desaparecendo até que brujos não tenham escolha a não ser cortar a conexão com suas amarras e libetá-los para o pós-vida.[/p] [p]Yadriel fez sinal para que Maritza o seguisse por um caminho lateral para não serem vistos por Felipe. Quando a barra estava limpa, puxou a manga da camisa de Maritza e acenou com a cabeça. Ele correu a diante, serpenteando entre estátuas de anjos e santos, com cuidado para não enroscar a mochila nos dedos esticados das estátuas. Sobre a terra havia sarcófagos e alguns mausoléus grandes o suficiente para caber uma família inteira. Tinha percorrido esses caminhos centenas de vezes que podia navegar pelo labirinto de túmulos de olhos fechados.[/p] [p]Teve que parar novamente quando eles se depararam com os espíritos de duas garotinhas brincando de pega-pega. Elas perseguiam uma a outra, os cachos escuros e vestidos combinando ondulando ao redor delas. Riam loucamente enquanto corriam atravessando o pequeno túmulo parecido com casinha de pássarinho que continham os restos cremados. O túmulo fora pintados à mão em cores brilhantes enfileiradas abarrotadas de amarelo-dourado, laranja-reluzente, azul-celeste e verd-mar. Portas de vidro revelavam urnas de argila no interior.[/p] [p]Yadriel saltitou na ponta dos pés enquanto ele e Maritza se escondiam. Ver os espíritos de duas garotinhaas mortas correndo por um cemitério provavelmente assustaria a maioria das pessoas, mas as pequenas Nina e Rosa eram nefastas por outros motivos. Ambas eram tão mexeriqueiras que ele não conseguia confiar que elas não o delatariam para o pai. Se descobrissem uma fofoca sua, colocariam em exposição em cima de sua cabeça e o forçariam a torturinhas como jamais tinha visto.[/p] [p]Como horas brincando de esconde-esconde onde elas sempre usam seus corpos incorpóreos para trapacear, ou propositalmente deixam você esperando ser encontrado atrás de uma lixeira fedida em uma tarde escaldante de Los Angeles. Definitivamente não valia a pena ficar em dívida com aquelas duas.[/p] [p]Quando as meninas finalmente correram, Yadriel não perdeu tempo, disparando para o seu destino final.[/p] [p]Eles dobraram um canto e ficaram cara a cara com o portão da igreja. A cabeça de Yadriel pendeu para trás. O portão de tijolinhos empilhados diante dele, formando um arco. As palavras “El Jardín Eterno” foram delicadamente escritas à mão em tinta preta. O Jardim Eterno. A pintura estava desbotada, mas Yadriel sabia que seu primo Miguel já estava esncarregado de dar uma nova camada antes das festividades de Día de Muertos começarem, em alguns dias. Um cadeado trancado e pesado impedia a entrada de invasores.[/p] [p]Como o líder das famílias brujx, o pai de Yadriel, Enrique, detinha as chaves e só as dava aos brujos de plantão na vigilha do cemitério à noite. Yadriel não tinha uma chave, o que significava que só tinha permissão para entrar durante o dia ou para rituais e comemorações.[/p] [p]– ¡Vámonos! – O sussurro rouco de Maritza e suas unhas bem cuidadas se cravando ao lado de seu corpo fizeram Yadriel estremecer. Seu cabelo curto e grosso era varrido pelo vento. Cachos rosa-pastel e roxos emolduravam seu rosto em forma de coração, batendo contra sua pele marrom escura. – Temos que entrar antes que alguém veja a gente![/p] [p]Yadriel bateu na mão dela.[/p] [p]– Ssh! – chiou.[/p] [p]Apesar de suas palavras de advertência, Maritza não parecia preocupada em se enfiar em problemas. Na verdade, parecia particularmente animada. Olhos escuros vidrados, um sorriso diabólico brincando no lábio que Yadriel conhecia bem.[/p] [p]Yadriel andou agachado para o lado esquerdo do portão. Havia uma abertura entre a última barra de ferro forjado e a parede de tijolinhos. Ele jogou sua mochila por cima do muro antes de virar de lado e se contorcer pela abertura. Mesmo enrrolado em ataduras de poliéster e elastano, a barra raspou dolorosamente contra seu peito. Do outro lado, levou um momento para ajustar a regata tank por baixo da camisa para que os fechos não incomodassem na lateral. Demorou um pouco com o ajuste que masculinizasse seu peito sem coçar ou apertar.[/p] [p]Jogando a mochila sobre o ombro, Yadriel se virou para encontrar Maritza tendo um pouco mais de dificuldade. As costas pressionadas contra os tijolos, as pernas esticadas entre a barra enquanto tentava se arrastar. Yadriel colocou o punho na frente da boca, abafando uma risadinha.[/p] [p]Maritza lançou-lhe um olhar furioso enquanto tentava se livrar remexendo a bunda.[/p] [p]– ¡Cállate! – sussurrou, antes de finalmente cambalear para frente. – Vamos precisar de outro jeito de entrar aqui sem demora.[/p] [p]Limpou as manchas de terra em seu jeans.[/p] [p]– A gente está ficando muito grande.[/p] [p]– A sua bunda que está ficando muito grande – Yadriel brincou. – Talvez devesse largar os pastelitos.[/p] [p]Ele riu.[/p] [p]– E perder essas curvas? – perguntou ela, alisando as mãos descendo pela cintura e quadris. Maritza deu-lhe um sorriso sarcástico. – Valeu, mas prefiro morrer.[/p] [p]Ela o socou no braço antes de caminhar em direção à igreja.[/p] [p]Yadriel correu para alcançá-la.[/p] [p]Fileiras de cempasúchil – flores de muertos – se alinhavam pelo caminho de pedra. As altas flores laranjas e amarelas se apoiavam umas nas outras como amigos bêbados. Desabrocharam no mês que antecede o Día de Muertos. Pétalas caídas cobriam o chão como confete.[/p] [p]A igreja era pintada de branco e tinha telhado de terracota. Janelas coloniais flanqueavam os dois lados das grandes portas de carvalho. Acima, uma pequena alcova foi construída em uma parede semicircular, encaixando outra cruz. De cada lado, duas imagens seguravam sinos de ferro.[/p] [p]– Está pronto? – Não havia nenhuma expressão de apreensão no rosto de Maritza enquanto o observava. Ela sorriu, praticamente dançando na pontinha dos pés.[/p] [p]O coração de Yadriel pulsava em suas veias. Os nervos se agitaram em seu estômago.[/p] [p]Ele e Maritza andavam furtivamente à noite pelo cemitério desde que eram crianças. O cemitério era um bom lugar para se esconder e brincar quando eram pequenos. Perto o suficiente da casa para ouvir Lita quando ela os chamava para jantar. Mas nunca tinham entrado na igreja antes. Se fizessem isso, estariam quebrando cerca de uma dúzia de regras e tradições brujx.[/p] [p]Se ele iria entrar, não haveria mais como volta atrás.[/p] [p]Yadriel assentiu rigidamente, suas mãos cerradas em punhos ao lado do corpo.[/p] [p]– Vamos terminar logo com isso.[/p] [p]Os cabelos da nuca se arrepiaram ao mesmo tempo que Maritza estremeceu ao lado dele.[/p] [p]– Terminar o que?[/p] [p]A pergunta estrondosa como trovão fez os dois saltarem. Maritza saltou para trás e Yadriel teve que segurá-la pelos braços para evitar que ela o derrubasse.[/p] [p]À esquerda deles, um homem estava ao lado de uma pequena tumba cor-de-pêssego.[/p] [p]– Santa mãe, Tito. – Yadriel soltou o ar, uma mão ainda agarrada à frente do moletom. – Você espantou noassa alma do corpo![/p] [p]Maritza fungou indignada.[/p] [p]Às vezes, até mesmo para Yadriel e Maritza, um fantasma pode passar despercebido.[/p] [p]Tito era um homem quase corcunda, vestindo uniforme de futebol cor de vinho da Venezuela e shorts. Um grande chapéu de palha usado estava em sua cabeça. Ele olhou para Yadriel e Maritza por debaixo da aba enquanto se curvava sobre as cempasúchil. Tito era o jardineiro de longa data do cemitério.[/p] [p]Ou melho, estava sendo. Tito estava morto há quatro anos.[/p] [p]Quando vivo, Tito tinha sido um jardineiro incrivelmente talentoso. Costumava fornecer todas as flores das festividades brujx, como casamentos, feriados e funerais dos não-mágicos do leste de Los Angeles. O que começara como venda de flores em vasinhos no mercado de pulgas local, se transformou em sua própria lojinha.[/p] [p]Depois de falescer durante o sono e ter o corpo enterrado, Tito reasurgiu no cemitério determinado a cuidar das flores que cuidara carinhosamente durante grande parte de sua vida. Dissera ao pai de Yadriel que ainda tinha serviço a fazer e não confiava em ninguém para assumi-lo.[/p] [p]Enrique respondera a Tito que poderia ficar, enquanto fosse Tito. Yadriel se perguntou, se essa teimosia do fantasma impediria seu pai de liberar o espírito, mesmo se tentasse.[/p] [p]– Terminar o que? – Repetiu Tito. Sob a luz alaranjada da igreja, parecendo materializado o suficiente, embora fosse um pouco transparente em comparação com a tesoura de jardinagem bastante corpórea em sua mão.[/p] [p]Espíritos possuem contornos embaçados, sendo um pouco menos vibrantes do que o ambiente ao redor. Semelhantes a uma fotografia tirada fora de foco e com saturação reduzida. Se Yadriel virasse um pouco o rosto, a forma de Tito virava um borrão desbotado no fundo.[/p] [p]Yadriel se socou mentalmente. O nervosismo tinha levando a melhor, distraindo-o de sentir Tito antes.[/p] [p]– Por que os dois não voltaram para casa com todo mundo? – pressionou Tito.[/p] [p]– Uh, a gente estava só passando para ir à igreja – disse Yadriel, a voz falhando no meio da frase e limpando a garganta.[/p] [p]O levantar de uma sobrancelha irritadiça significava que Tito não estava caindo nessa.[/p] [p]– Só para verificar alguns suprimentos, sabe. – Yadriel deu de ombros. – Verificar se as coisas estão... no lugar.[/p] [p]Com um sch, a tesoura de Tito cortou uma cempasúchil murcha do talo.[/p] [p]Maritza deu uma cotovelada em Yadriel, na lateral do corpo, inclinando a cabeça indicando insistidamente.[/p] [p]– Ah! – Yadriel batalhou para tirar sua mochila e remexeu dentro, puxando um pano de prato branco embrulhado. – Peguei uma coisa para você![/p] [p]Felipe estava muito distraido com a namorada para se atentar com o que Yadriel e Maritza estavam aprontando, e passar por Nina e Rosa foi fácil de mais, mas Tito era um pouco inprevisível. Era grande amigo do pai de Yadriel, e tinha muito pouca paciência para baboseiras.[/p] [p]Mas ofertas de comida pareciam fazê-lo fingir-se de cego.[/p] [p]– Lita acabou de fazer... ainda estão quentinhos! – Yadriel desembrulhou o pano de prato revelando as conchas. O delicioso pão doce tinha cobertura parecida a uma concha do mar. – Peguei os verdes, o seu favorito![/p] [p]Se Tito não tinha se convencido da mentira mal contda, talvez o pan dulce pudesse convencê-lo.[/p] [p]Tito acenou com a mão em desdém.[/p] [p]– Não dou a mínima com o que os dois buscapleitos estão fazendo – resmungou.[/p] [p]Maritza arquejou apertando a mão no peito dramaticamente.[/p] [p]– A gente? A gente nunca...![/p] [p]Yadriel deu um empurrão em Maritza para fazê-la se calar. Não era que ele os achasse arruaceiros, principalmente em comparação com alguns dos outros brujx mais jovens, mas também sabia que fingir inocencia de forma tão exagerada não funcionaria com Tito.[/p] [p]Felizmente, Tito parecia querer se livrar deles.[/p] [p]– Pa' fuera – disse ele com desdém. – Sem tocar nas minhas cempasúchil.[/p] [p]Yadriel não precisou ser avisado outra vez. Agarrou o braço de Maritza e foi para a igreja.[/p] [p]– Deixe as conchas – acrescentou Tito.[/p] [p]Yadriel as deixou em cima da tumba cor-de-pêssego enquanto Tito voltou a aparar suas flores.[/p] [p]Subiu correndo os degraus da igreja, Maritza logo atrás dele. Com um forte empurrão, as portas pesadas se abriram com um gemido.[/p] [p]Yadriel e Maritza se esgueiraram pelo corredor. O interior era simples. Diferente de uma igreja padrão, não havia muitas fileiras de bancos e não havia assentos na parte de trás. Quando brujx se reuniam para cerimônias e rituais, todos ficavam de pé em grandes círculos no espaço aberto. Três janelas altas formavam a abside da igreja. Durante o dia, a luz do sol da Califórnia fluía através dos vitrais coloridos e detalhados. Dezenas de velas apagadas lotavam o altar principal.[/p] [p]Sobre uma elevação no meio da parede estava a estátua de sua deusa sagrada, a diosa que concedeu aos brujx seus poderes milhares de anos atrás, quando deuses e monstros vagavam pelas terras da América Latina e do Caribe: a Senhora da Morte.[/p] [p]O esqueleto era esculpido em pedra branca. Tinta preta acentuando os vãos entre os dedos ossudos, sorriso com dentes e olhos vazios. A Senhora da Morte vestia um huipil tradicional com acabamento e camadas de saia em renda branca. Um manto colocado sobre a cabeça, descendo e descansando nos ombros. A gola do vestido e a bainha do manto bordadas com delicadas flores de fios de ouro. Um buquê das cempasúchil de Tito recém-colhidas em suas mãos esqueléticas.[/p] [p]Ela tinha muitos nomes e invocações – Santa Muerte, la Huesuda, Senhora das Sombras, Mictecacihuatl. Dependia da cultura e da língua, mas cada representação e imagem se resumia na mesma coisa. Receber a abenção da Senhora da Morte, ter seu próprio portaje e servi-la, era o que Yadriel mais queria no mundo. Queria ser como os outros brujos, encontrar espíritos perdidos e ajudá-los a passar para o pós-vida. Queria ficar acordado a noite toda no tedioso cemitério exercendo sua função. Inferno, até mesmo passaria horas arrancando ervas daninhas e pintando tumbas se isso significasse ser aceito como um brujo por seu povo.[/p] [p]Enquanto Yadriel se aproximava dela, impulsionado pelo desejo de serví-la, pensou em todas as gerações de brujx que tiveram suas cerimônias de quinces bem alí. Homens e mulheres que emigraram de todas as partes – México e Cuba, Porto Rico e Colômbia, Honduras e Haiti, até mesmo os antigos incas, astecas e maias – todos dotados de poderes dos deuses antigos. Uma mistura linda e vibrante com nuances de culturas que se uniram para criar toda sua comunidade.[/p] [p]Quando brujx completam quinze anos, são apresentados a Senhora da Morte, que lhes dá sua bênção atando sua magia através de seu canal de escolha, o portaje. Para as mulheres, os portajes costumam ter a forma de um rosário (um símbolo que começou como um colar cerimonial e foi alterado com o surgimento do catolicismo na América Latina). Uma joia que poderia passar despercebida e findava com um amuleto que poderia conter uma pequena quantidade do sangue de um animal sacrifícado. Embora crucifixos fossem símbolos mais comuns, às vezes o rosário de um bruja findava em um coração sagrado ou em uma estatueta da Senhoras da Morte.[/p] [p]Portajes masculinos costumam ser algum punhal, cuja a lâmina é necessária para cortar o fio dourado que prende um espírito à sua amarra terrestre. Ao cortar esse vínculo, brujos são capazes de liberar espíritos para o pós-vida.[/p] [p]Ser presenteado com seu próprio portaje era um importante rito de passagem para todo brujx.[/p] [p]Todos, exceto Yadriel.[/p] [p]Seus quinces tinham sido adiados por tempo indeterminado. Tinha completado dezesseis anos julho passado, e estava cansado de esperar.[/p] [p]Para mostrar a sua família o que era, quem ele era, Yadriel precisava realizar sua própria cerimônia dos quinces – com ou sem suas bênçãos. Seu pai e o resto dos brujx não lhe deixaram escolha.[/p] [p]Suor escorreu pela espinha de Yadriel, provocando arrepio por seu corpo. O ar parecia carregado, como se o chão zumbisse com energia sob seus pés. Era agora ou nunca.[/p] [p]Ajoelhando-se diante da Senhora, descarregou os suprimentos que precisava para o ritual. Posicionou quatro velas de oração no chão em um diamante, representando os quatro ventos. Uma tigela de barro no centro, representando a terra. Yadriel havia furtado uma mini garrafa de tequila Cabrito de uma das caixas recolhidas para ofrendas do Día de Muertos. Se atrapalhou com a garrafa antes de estourar a tampa e despejá-lo na tigela. O cheiro atingiu o nariz. Ao lado, posicionou um potinho de sal.[/p] [p]Tirou uma caixa de fósforos do bolso da calça jeans. A chama tremeu enquanto acendia as velas. As luzes bruxuleantes deram brilho ao bordado durado no manto da Senhora da Morte, destacando as dobras e aberturas.[/p] [p]Ar, terra, vento e fogo. Norte, sul, leste e oeste. Todos os elementos necessários para invocá-la.[/p] [p]Sangue era o último ingrediente.[/p] [p]Invocar a Senhora da Morte exigia uma oferenda de sangue. A coisa mais poderosa para oferecer, pois mantinha a vida. Oferecer seu sangue a Senhora era dar uma parte de seu corpo terreno e de seu espírito. Era tão poderoso que o sangue humano oferecido em sacrifício não podia ser mais do que algumas gotas; caso contrário, a oferta era suficiente para drenar a força vital de qualquer brujx, levando à morte certa.[/p] [p]Apenas dois rituais exigiam que brujx fizessem uma oferenda de seu próprio sangue. Ao nascerem, suas orelhas eram furadas, liberando uma gotícula ínfima de sangue. O ato permitia-lhes ouvir o espírito dos que se foram. Agora as orelhas de Yadriel possuiam plugs preto de plástico. Gostava de homenagear a antiga prática dos brujx, alongando os lóbulos das orelhas com discos cada vez maiores feitos de pedras sagradas, como obsidiana ou jade. Com o passar dos anos, os deixou do tamanho de uma moeda de dez centavos.[/p] [p]A única outra vez que brujx usavam seu próprio sangue como sacrifício era durante a cerimônia dos quinces. A oferta tirada de suas línguas para permití-los falar com a diosa, para pedir à Senhora da Morte sua bênção e proteção.[/p] [p]E o corte era feito com seus portaje.[/p] [p]Maritza puxou um embrulho de pano de sua própria mochila e estendeu-o para ele pegar.[/p] [p]– Levei semanas fazendo – disse enquanto Yadriel desamarrava o barbante. – Me queimei umas oito vezes e quase cortei meu dedo, acho que meu pai vem desistindo de tentar me manter loge da forja.[/p] [p]O encolher de ombros dela foi casual, então se aprumou, um sorriso orgulhoso puxando os cantos dos lábios. Yadriel sabia que era um grande feito para ela.[/p] [p]A família de Maritza vinha forjando armas para os homens durante décadas, um negócio que seu pai trouxera do Haiti. Ela tinha grande interesse em aprender a fabricar lâminas com ele. Desde que sangue não fosse derramado pelas lâminas antes da cerimônia dos quinces de um garoto, era uma maneira de ela ainda fazer parte da comunidade sem comprometer sua ética. Sua mãe não achava uma escolha de carreira adequada para uma garota, mas quando Maritza batia o pé com alguma coisa, era impossível de fazê-lá mudar de ideia.[/p] [p]– Não é nada extravagante e ridículo igual à de Diego – disse revirando os olhos, referindo-se ao irmão mais velho de Yadriel.[/p] [p]Yadriel puxou o resto do pano revelando um punhal embrulhada dentro.[/p] [p]– Uau – tomou folego.[/p] [p]– É simples – explicou Maritza, pairando por cima do ombro dele.[/p] [p]– É incrivel – corrigiu Yadriel, um largo sorriso pressionando suas bochechas.[/p] [p]Maritza sorriu.[/p] [p]O punhal tinha o comprimento de seu antebraço com lâmina reta e guarda cruzada curvada em forma de S na horizontal. A imagem da Senhora da Morte tinha sido delicadamente pintada no cabo de madeira polida. Yadriel segurou o punhal nas mãos, sólido e reconfortante. Traçou o polegar ao longo das finas listras dourada da imagem pintada, sentindo cada pincelada meticulosa.[/p] [p]Aquele era seu punhal. Seu portaje.[/p] [p]Yadriel tinha tudo de que precisava. Agora tudo o que restava era terminar o ritual.[/p] [p]Estava pronto para isso. Estava determinado a se apresentar a Senhora da Morte, independentemente de qualquer aprovação. Ainda assim, hesitou. Apertando o portaje enquanto fitava a Senhora da Morte, sugando lábio inferior. A dúvida rastejou sobre sua pele.[/p] [p]– Ei.[/p] [p]Yadriel saltou quando Maritza pôs a mão com firmeza em seu ombro. Os olhos castanhos intensos enquanto estudava o rosto do garoto.[/p] [p]– É só que... – Yadriel limpou a garganta, com os olhos varrendo o salão.[/p] [p]As sobrancelhas de Maritza se ergueram com preocupação.[/p] [p]Os quinces de um brujx eram o dia mais importante de suas vidas. O pai, irmão e abuela de Yadriel deveriam estar ao lado dele. Enquanto se ajoelhava no piso de pedra maciça, apenas o vazio estava ao seu redor. No silêncio, podia ouvir a estática das inquietantes chamas das velas. Sob os olhos vazios da Senhora da Morte, Yadriel se sentiu pequeno e sozinho.[/p] [p]– E se... e se não funcionar? – perguntou. Mesmo em um quase sussurro, sua voz ecoou por toda igreja vazia. Seu coração se apertou. – E se ela me rejeitar?[/p] [p]– Escúchame. – Maritza apertou seus ombros com força. – Você faz parte disso, entendeu?[/p] [p]Yadriel acenou com a cabeça, umedecendo os lábios secos.[/p] [p]– Você sabe quem você é, eu sei quem você é, e Vossa Senhora também. – disse ela com forte convicção. – Então, que se dane os outros![/p] [p]Maritza sorriu para ele.[/p] [p]– Se lembre do porquê estamos fazendo isso.[/p] [p]Yadriel se recompôs e falou com toda coragem que conseguiu reunir.[/p] [p]– Para que vejam que sou um brujo.[/p] [p]– Bem, sim, mas além disso.[/p] [p]– Provocação?[/p] [p]– Provocação! – Maritza concordou entusiasmada. – Eles vão ficar com cara de idiotas quando você mostrar para eles. E eu quero que você saboreie esse momento, cara! Mesmo – ela tomou uma profunda respiração pelo nariz juntando as mãos no peito – saboreie esse sabor doce, de ser docemente reconhecido![/p] [p]Uma risada saltou da garganta de Yadriel.[/p] [p]Maritza sorriu.[/p] [p]– Vamos terminar isso, brujo.[/p] [p]Yadriel pode sentir o sorriso abobalhado que voltou de seu rosto.[/p] [p]– Só não estrague tudo fazendo a diosa atirar um raio em você ou algo assim, tá bem? – disse ela, recuando alguns passos. – Não posso carregar sozinha o fardo de ovelha negra da família.[/p] [p]Ser transgênero e gay rendeu a Yadriel o título de O Cabeça das Ovelhas Negras entre os brujx. Embora, na realidade, ser gay tivesse sido muito mais fácil para aceitarem, mas apenas porque enxergavam o gosto de Yadriel por garotos como sendo heterossexual.[/p] [p]Mas Maritza certamente ganhou o título por mérito próprio, sendo a única brujx vegana na comunidade. Um ano mais jovem que Yadriel, ela tinha passado por seu próprio quinces quando completou os quinze no início daquele ano, mas se recusara a cura, pois exigia o uso de sangue animal. Uma das primeiras lembranças que Yadriel tinha de Maritza, era a de seu choro inconsolável quando sua mãe usara o sangue de um porco para curar a perna quebrada de uma criança. Logo no início, Maritza decidiu que não queria participar da cura se aquilo significasse prejudicar outro ser vivo.[/p] [p]Na penumbra da igreja, Yadriel podia ver o portaje dela pendurado no pescoço – um rosário de quartzo rosa que findava em uma cruz de prata, mas o recipiente escondido permanecia vazio. Maritza explicou que, embora se recusasse a usar seus poderes, ainda respeitava a diosa e seus ancestrais.[/p] [p]Yadriel a admirava por suas convicções, mas também estava desapontado por elas. Tudo o que ele queria era ser aceito – queria ter recebido seu Portaje, tratado como qualquer outro brujo, e recebido às mesmas responsabilidades. Maritza, por outro lado, recebera todos os direitos brujx, mas decidiu rejeitá-lo.[/p] [p]– Agora, prisa! – disee Maritza, acenando para ele com impaciência.[/p] [p]Yadriel puxou uma firme e profunda respiração.[/p] [p]Ele apertou o corpo da garrafinha, o metal frio contra a palma suada, enquanto soltava o ar entre os lábios franzidos.[/p] [p]Com uma determinação mais firme, Yadriel desatarraxou a tampa e derramou o sangue de galinha na tigela. Para confortá-lo, Maritza fez o possível para esconder o olhar de desgosto.[/p] [p]Enquanto o líquido vermelho escuro se misturava com a tequila, uma rajada de vento soprou pela igreja. As chamas das velas tremeluziram. O ar no salão parecia pesado, como se estivesse cheio de pessoas, embora estivesse vazio, exceto por ele e Maritza.[/p] [p]Adrenalina correu pelas veias de Yadriel, e calafrios de excitação percorreram seus braços. Quando falou, fez o seu melhor para manter a voz firme e profunda.[/p] [p]– Santísima Santa Muerte, te pido tu bendición – disse Yadriel, apelando à Senhora da Morte sua bênção.[/p] [p]Uma rajada de vento atingiu seu rosto se arrastando como dedos por seu cabelo. As chamas tremeram, e a estátua da Senhora da Morte de repente parecia viva. Ela não se moveu ou ficou diferente, mas Yadriel podia sentir certa pressão em sua direção.[/p] [p]Acendeu um fósforo e o jogou na tigela. O líquido inflamou-se, explodindo em chamas.[/p] [p]– Prometo proteger a los vivos y guiar a los muertos – disse Yadriel, prometendo manter as responsabilidades dos brujos. Suas mãos tremiam e ele agarrou seu portaje com mais força.[/p] [p]– Esta es mi sangre, derramada por ti. – Segurando a adaga, Yadriel abriu a boca e pressionou a ponta da lâmina em sua língua até que o ferisse. Estremeceu e segurou o portaje em frente a ele. Uma fina linha de vermelho brilhou na ponta da lâmina sob a luz ardente das velas.[/p] [p]Segurou o punhal sobre a tigela em chamas. Assim que as chamas lamberam o aço, o sangue chiou e as velas arderam como tochas, chamas altas e fortes. Yadriel semicerrou os olhos quando uma onda de calor atingiu seu rosto.[/p] [p]Tirou seu portaje do fogo e disse as últimas palavras.[/p] [p]– Con un beso, te prometo mi devoción – murmurou antes de passar a língua sobre os lábios. Equilibrando o cabo do punhal na palma da mão, beijou a imagem da Senhora da Morte.[/p] [p]A chama dourada faiscou na ponta da lâmina e correu rapidamente pelo cabo até sua mão. Sua pele brilhou quando a chama desceu por seus dedos e subiu por seu braço. Desceu por suas pernas e se enrolou nos dedos dos pés. Yadriel estremeceu, a sensação emocionante roubando-lhe o fôlego.[/p] [p]Tão rapidamente quanto tinha aparecido, a forte onda de magia na igreja se dissipou. As chamas das velas se extinguiram no mesmo pulsar. O ar no salão cessou. Yadriel levantou a manga do moletom olhando para seu braço com admiração enquanto a chama dourada desaparecia, deixando sua pele morena sem adornos.[/p] [p]Olhou para a Senhora.[/p] [p]– Santa mãe – Yadriel respirou, pressionando as mãos nas bochechas. – Santa mãe! – repetiu. – Deu certo![/p] [p]Podia sentiu através do peito as batidas estrondosas de seu coração pulsando contra a palma da mão. Ele se voltou olhando para Maritza, buscando confirmação.[/p] [p]– Deu certo... deu certo?[/p] [p]O fogo na tigela refletiu em seus olhos e um sorriso enorme no rosto.[/p] [p]– Só tem um jeito de descobrir.[/p] [p]A risada borbulhou na garganta de Yadriel, o alívio e a adrenalina o deixando meio delirante.[/p] [p]– Tudo bem.[/p] [p]Se a Senhora da Morte tinha o abençoado, concedendo-lhe poderes dos brujx, significava que ele poderia invocar um espírito perdido. Se pudesse invocar um espírito e liberá-lo para o pós-vida, então finalmente provaria seu valor para todos – os brujx, sua família e seu pai. Eles o veriam como ele era. Um garoto e um brujo.[/p] [p]Yadriel se levantou, segurando seu portaje cuidadosamente contra o peito. Sugou os lábios, sentindo o gosto dos últimos vestígios de sangue. A língua doia, mas o corte era pequeno. Doeu tanto como quando queimou a língua tentando tomar café de olla recém-saído do fogo.[/p] [p]Enquanto Maritza recolhia as velas, claramente evitando a tigela de sangue em chamas, Yadriel se aproximou da estátua da Senhora da Morte. Com pouco mais de um metro e meio, teve que esticar o pescoço para trás para olhá-la em sua alcova.[/p] [p]Ele gostaria de poder falar com ela. Podia ela vê-lo como realmente era? Por que sua própria família não? Yadriel passou anos se sentindo incompreendido por todos, exceto por Maritza. Quando contou a ela que era trans, três anos atrás, ela nem piscara. eh, até que enfim! Disse ela, parecendo irritada, mas sorrindo. Achei que tinha algo acontecendo, só estava esperando você soltar a língua.[/p] [p]Depois disso, Maritza tinha sido sua guardiã secreta de confiança, soltando leves escorregadinhas entre pronomes quando estavam sozinhos, versus quando perto de todos os outros, até que ele se sentisse preparado.[/p] [p]Levou um ano, quando tinha quatorze, para tomar a coragem de se assumir para a família. Não tinha ido tão bem, e ainda era uma luta constante fazer com que eles e outros brujx usassem os pronomes corretos e o chamassem pelo nome certo.[/p] [p]Além de Maritza, sua mãe, Camila, foi a que mais o apoiou. Demorou para reaprender velhos hábitos, mas ela os pegou surpreendentemente rápido. A mãe de Yadriel até assumiu a tarefa de corrigir gentilmente as pessoas para que ele não precisasse. Era um fardo pesado, pequenas ocasiões se acumulando, mas sua mãe o ajudou a carregar parte do peso.[/p] [p]Quando se sentia especialmente cansado, pela luta constante para ser quem ele era – seja na escola ou dentro de sua própria comunidade – sua mãe o sentava no sofá. Ela o puxava para perto e ele descansava a cabeça em seu ombro. Ela sempre cheirava a cravo e canela, como se tivesse acabado de fazer torta bejarana. Enquanto gentilmente corria os dedos pelos cabelos dele, murmurava, Mijo, meu Yadriel, lentamente transformando a dor em uma dor cega que nunca desaparecia completamente.[/p] [p]Mas ela havia partido há pouco mais de um ano.[/p] [p]Yadriel fungou, arrastando o punho pelo nariz, o fundo da garganta queimando.[/p] [p]Este seria o primeiro Día de Muertos desde que ela morrera. À meia-noite de primeiro de novembro, os sinos da igreja tocariam, dando boas-vindas a espíritos de brujx que passariam pelo cemitério. Então, por dois dias, Yadriel seria capaz de vê-la novamente.[/p] [p]Ele iria mostrar a ela que era um brujo de verdade. Um filho do qual ela poderia se orgulhar. Realizaria as tarefas que seu pai e o pai de seu pai tiveram como filhos da Senhora da Morte. Yadriel provaria seu valor a todos.[/p] [p]– Vamos, brujo – chamou Maritza gentilmente, acenando para ele. – Precisamos sair daqui antes que alguém nos encontre.[/p] [p]Yadriel se virou e sorriu.[/p][p]Brujo.[/p] [p]Estava prestes a se abaixar e pegar a tigela do chão quando os cabelos de sua nuca se arrepiaram. Yadriel congelou e olhou para Maritza, que também havia parado no meio do caminho.[/p] [p]Algo estava errado.[/p][p]– Sentiu isso? – perguntou ele. Mesmo sussurrado, sua voz parecia muito alta.[/p] [p]Maritza assentiu.[/p][p]– O que foi isso?[/p] [p]Yadriel deu uma leve sacudida de sua cabeça. Era quase como sentir um espírito próximo, mas diferente. Mais forte do que qualquer coisa que Yadriel tinha sentido antes. Uma sensação de pavor inexplicável invadiu seu estômago.[/p] [p]Ele viu Maritza estremecer assim que sentiu um arrepio percorrer sua espinha.[/p] [p]Uma palpitação do nada.[/p][p]Então, uma dor lancinante atingiu o peito de Yadriel.[/p] [p]Ele gritou, a força o jogando de joelhos.[/p][p]Maritza cedeu, um grito estrangulado alojado na garganta.[/p][p]A dor era insuportável. A respiração de Yadriel veio em rajadas agudas enquanto segurava o peito. Seus olhos lacrimejaram, turvando a visão da Senhora da Morte parada acima dele.[/p][p]Bem quando pensou que não aguentaria mais, que, com certeza, a dor iria matá-lo, a dor parou.[/p] [p]A tensão afrouxando os músculos, seus braços e pernas ficaram moles, pesados de exaustão. O suor grudou em sua pele. Seu corpo tremia enquanto engolia o ar. A mão de Yadriel agarrou seu peito, logo acima do coração, onde a dor latejante lentamente se transformou em uma dor cega. Maritza ajoelhou-se no chão, uma das mãos pressionada no mesmo lugar. A pele da garota estava pálida e coberta de suor.[/p][p]Eles se encararam, tentando recuperar o fôlego. Não disseram uma palavra. Eles sabiam o que aquilo significava. Podiam sentir em seus ossos.[/p] [p]Miguel se fora. Um dos seus havia morrido.[/p]

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