Imagem da capa

Imagem da capa

The King's Men - Capítulo Dois [Página 1]


TRADUÇÃO: THIAGO
REVISÃO: THIAGO

Levantar-se da cama na quarta-feira de manhã precisaria de esforço imaginável, Neil conseguiu apenas por estar tão preocupado com sua autopreservação quanto suas mentiras. Era preciso que seus companheiros de equipe pensassem que ele estava bem. Significava passar o dia como se o Natal nunca tivesse acontecido. Ele ganhou tempo suficiente para dispersar seus pensamentos, preparando-se para a corrida matinal mais lenta do mundo pela Perimetral. Cada passo irradiava dor por suas pernas, Neil estava dormente dos pés aos joelhos quando voltou a Fox Tower.

Matt, que havia sumido para a academia antes mesmo de Neil ter acordado, esperava por ele na sala com expressão de incredulidade em seu rosto.

– Você é maluco, tá sabendo disso? Só me diga que você não saiu assim.

– A que horas o voo da Dan chega? – Pergunta Neil.

Por um momento, Neil achou que Matt não entraria no jogo e o deixaria mudar de assunto. Os lábios de Matt se contraíram em desaprovação. No entanto, em vez de dar um sermão, Matt respondeu:

– Vou busca-las ás onze e levá-las direto para o estádio. Você vai de carona com o Andrew?

– Sim –, confirmou Neil. – Treinador quer que eu faça uma consulta com a Abby antes da reunião.

Neil se trancou no banheiro para um banho rápido. Secar-se foi mais doloroso do que sua corrida, apesar de seus melhores esforços para ter cuidado. Vestiu-se a passos de lesma, esboçando dor durante todo o trajeto, e aguardou um minuto para recuperar o fôlego novamente. Deu-lhe mais tempo para colocar um curativo novo sobre sua tatuagem, porem, seu coração pulsava em sua têmpora quando deixou o calor úmido do banheiro.

Matt esperava no sofá com a TV ligada quando Neil saiu do banheiro completamente vestido. Ele nada disse quando Neil saiu da suíte, talvez supondo que Neil estaria indo incomodar os primos. Em vez disso, Neil saiu do dormitório e tomou o caminho sinuoso em direção a Rodovia Perimetral. E, fez uma curta e lenta caminhada pelo campus até a biblioteca.

Ele avistou apenas alguns outros alunos subindo as escadas para o laboratório de informática. Apesar da relativa privacidade, Neil foi até um computador na última fileira. Ele havia parado de acompanhar obsessivamente as notícias em setembro, no entanto, hoje ele não desenterraria seu passado. Primeiramente, ele pesquisou qualquer coisa sobre seu período em Evermore, não encontrou nada, então passou a pesquisar as outras equipes classificadas para o campeonato de primavera. Foi uma ótima maneira de parar de imaginar coisas e perder algumas horas.

Ele não se lembrou de baixar a cabeça, e, definitivamente, não se lembrou de ter adormecido. Dedos cravados atrás de seu crânio assustaram-no, acordando. Ele tentou encontrar uma arma, de preferência uma faca, qualquer coisa perto o suficiente que lhe desse espaço para fugir, e enviou o mouse do computador derrapando sobre a mesa. Neil olhou inexpressivamente para o mouse, depois para a tela à sua frente. Dedos cerrados em um punho sobre seu cabelo, e Neil não resistiu quando Andrew forçadamente inclinou sua cabeça para trás.

– Seu gráfico de aprendizagem é só uma linha reta? – perguntou Andrew. – Eu te disse ontem para parar de dificultar minha vida.

– E, eu não prometi nada.

Andrew saltou-o, observando sem remorsos enquanto Neil esfregava a cabeça. Neil endireitou-se na cadeira e começou a fechar os seus navegadores. Fechou três guias antes de ver as horas. Já passava das onze, significava que Matt havia encontrado Dan e as garotas no terminal de desembarque, e Neil já deveria estar no estádio com Abby. Neil não sabia o que era pior: perder duas horas como esta, ou adormecer em pleno dia. Ele silenciosamente contou até dez em francês e espanhol. Foi pouco para aliviar sua raiva frustrada.

Andrew começou a descer as escadas, supondo que Neil o seguisse. O carro estava no meio-fio, o alerta piscando. Os outros três do grupo estavam agrupados no banco de trás. Neil não sabia o que haviam dito para que Kevin abrisse mão do banco do passageiro ou o por quê, mas não valia a pena perguntar. Ele entrou e apertou o cinto.

– Não contei a ninguém que estava indo para a biblioteca –, disse ele quando Andrew pegou estrada.

– Você tem poucos esconderijos –, disse Nicky. – O treinador disse que você não estava no estádio. Você não atendeu o celular quando ligamos.

Neil apalpou seus bolsos e tirou o celular. Quando abriu a tela, estava escuro. Ele havia carregado ontem, mas não o suficiente. Fechou o celular e colocou no porta-copo entre os bancos da frente. Andrew estendeu a mão abrindo o porta-luvas. Tinha um carregador. Por um momento, Neil achou que Andrew tinha mexido em suas coisas, mas o adesivo vermelho no cabo não era familiar. Deveria ser de Andrew, então; eles tinham o mesmo modelo de celular. Neil puxou o carregador e fechou o porta-luvas novamente.

Uma chave foi presa no adaptador com um elástico. Neil usara a chave do carro de Andrew com frequência suficiente nos últimos dois meses para reconhecer a forma dela. Neil olhou a chave na ignição. Ou Andrew havia confiscado a cópia de Nicky ou saíra e conseguira uma para Neil. Nenhuma das opções fazia muito sentido para Neil. Ele só usou o carro de Andrew porque o mesmo precisava de um segundo motorista na sua ausência.

Foi uma curta viagem até o Foxhole e Andrew não os seguiu para dentro. Neil digitou o código para deixá-los entrar e precedeu os outros para o vestiário. Wymack e Abby esperavam por ele no salão. Abby pareceu muito abatida ao perceber o estado deplorável de Neil, mas não o censurou pelo o que fizera ou perguntou um motivo. Talvez ela já tivesse obtido respostas satisfatórias de Wymack, ou talvez Wymack estivesse ali para ter certeza de que ela não se intrometia. De qualquer maneira, Neil estava agradecido.

– Não posso acreditar que você confiou em David para cuidar disso –, disse Abby.  – O homem mal consegue lavar um prato, muito menos limpar ferimentos.

– Shush, mulher –, advertiu Wymack. – Eu tomei cuidado com ele.

Abby acenou com as duas mãos para Neil segui-la.

– Vamos lá, vamos dar uma olhada em você.

Ela abriu o caminho para o escritório e fechou a porta assim que ele entrou. Subir na maca não foi tão doloroso quanto subir a escada de sua cama, Neil sentou-se na beira do estofado fino. Abby coletou gaze e antisséptico enquanto Neil tentava levantar o suéter sobre a cabeça. Ele rangeu os dentes com o ardume que desceu de seus ombros para suas costas e tentou respirar superficialmente através da dor.

Abby ajudou-o com as mangas e cuidadosamente colocou o suéter de lado. Neil escolheu um ponto na parede oposta para focar o olhar, e ficou em silêncio enquanto ela trabalhava. Ela começou de cima, esfregando suavemente os dedos no cabelo dele, procurando por protuberâncias escondidas, e desceu. Wymack tinha acabado de checar Neil na manhã de ontem, mas Abby tirou todos os curativos de Neil, exceto a que estava em sua bochecha.

– Ele contou sobre a minha tatuagem –, disse Neil.

– E eles. – Abby deslizou seus polegares ao longo das pálpebras inferiores.

– Não vai perguntar? – indagou Neil.

– Eu vi suas cicatrizes, Neil. Eu não estou tão surpresa como deveria para descobrir que elas não são as únicas coisas que você esconde. Eu quero perguntar, mas você me disse uma vez já para não me intrometer.

Ela voltou a fazer os curativos, mas demorou muito para terminar. Quando terminou com a parte superior, ainda tinha que cuidar das pernas. Os hematomas listrados em suas coxas, deixadas por raquetadas, a fizeram contrair os lábios em indignação. Havia varias camada, roxo vibrante sobre o verde e amarelo fosco. Os joelhos de Neil não estavam em melhor situação, consequência de cair varias vezes.

– O treinador não vai me deixar jogar até que você me libere –, disse Neil. – Quanto tempo você pode dar?

Abby lhe olhou como se ele estivesse falando uma língua estrangeira.

– Vai poder se preparar quando não parece que foi pisoteado por uma manada.

– Estou quase curado –, insistiu. – Além disso, eu joguei em pior estado no Evermore.

– Aqui não é Evermore. Eu sei que a temporada é importante para você, mas não vou deixá-lo arriscar sua segurança e saúde ainda mais. Você precisa repousar por um tempo. Por uma semana –, disse ela, levantando a voz quando Neil começou a reclamar. – Na próxima terça-feira vou decidir se você vai joga ou não. Se fizer esforço físico agora ou depois, então vou dar mais uma semana de reposo. Entendeu? Use essa semana para descansar. E quando puder, tire as ataduras para. Isso ai precisa arejar.

– Uma semana –, repetiu Neil. – Não é justo.

– Não –, disse Abby, segurando o rosto dele em sua mão. – Não é justo. Nada disso é.

A dor na voz dela matou os argumentos na garganta de Neil. Abby olhou para ele, traçando suas cicatrizes e novas feridas com um olhar desolado.

– Às vezes eu acho que esse trabalho vai me matar –, disse Abby. – Vendo o que as pessoas fizeram, o que as pessoas continuam a fazer, para as minhas Raposas. Eu gostaria de poder protegê-las, mas estou sempre atrasada. Tudo o que posso fazer é tratar vocês e depois esperar o melhor. Eu sinto muito, Neil. Nós deveríamos ter resolvido por você.

– Eu não os deixaria fazer nada –, disse ele.

Abby cruzou os braços ao redor dele, o puxando para um abraço. Ela tentou ser cuidadosa, mas doeu de qualquer maneira. Não foi a dor que fez Neil ir além, mas a incerteza. As únicas pessoas que já o abraçaram foram seus companheiros de equipe, e esses eram apertos rápidos durante uma excelente jogada. Sua mãe o havia puxado para perto antes, mas geralmente quando eles estavam cercados de olhos curiosos e ela queria protegê-lo com seu corpo. Ela nunca o segurou como se ele fosse algo para cuidar. Ela sempre fora dura. Ela tinha sido feroz e inquebrável até o final.

Neil lembrou-se dela arranhando o ar e engasgando por um último suspiro. Lembrou-se das lágrimas, do corpo dela onde o sangue tinha colado sua pele ao vinil. Os dedos de Neil se contraíram com a necessidade de um cigarro, ansiando o cheiro de fumaça que era tão horrível quanto reconfortante. O fogo era tudo o que ele tinha dela. Não havia sequer uma sugestão dela em seu reflexo; ele era todo o seu pai.

Ela se foi. Mesmo se estivesse ali, não teria o confortado por isso. Ela não teria o agarrado nem se tivessem prestes a se separar. Ela teria limpado suas feridas, porque eles não poderiam se arriscar a ser retardados por uma infecção, mas ela teria o esmurrado por escolher as Raposas ao invés de sua própria segurança. Neil quase podia senti-la puxando sua orelha. Ele não sobreviveria tempo suficiente para esquecer a voz de sua mãe. Era ao mesmo tempo reconfortante e deprimente, e uma súbita onda de pesar ameaçou engoli-lo por inteiro.

– Preciso ir –, disse Neil. – Nós terminamos?

Abby lentamente soltou-o e ajudou-o a se vestir novamente. Ele poderia ter amarrado seus sapatos, mas Abby fez isso por ele. Neil a deixou e se concentrou em alisar seu suéter. Abby se moveu para que ele pudesse descer da maca e não o seguiu para fora.

Em vez de ir pelo corredor até o salão, Neil saiu pela porta dos fundos e entrou na quadra. Ele não conseguiu respirar até estar no pátio interno com as mãos esmagadas contra a parede de acrílico, e então a primeira respiração que conseguiu quase o rasgou em pedaços. Neil podia sentir cada muro que havia construído para sobreviver no Evermore desmoronando ao seu redor. Agarrou-se ao autocontrole com as pontas dos dedos, sabendo que se afogaria se a soltasse. Seu coração parecia pedra derretida, mas cada respiração acalmava um pouco o calor. Neil desejou que seus dedos trêmulos parassem e voltou ao vestiário.

Wymack e Andrew não estavam por perto, mas na ausência de Neil, as meninas e Matt haviam aparecido. Ele não queria encara-las, então procurou por uma distração. Encontrou uma tomada no estabilizador atrás do centro de entretenimento e conectou o celular para carregar. Quando a luz do celular ficou vermelha, ele foi para o sofá. Seu fingimento ocasional só funcionou até que tentou sentar. Nada do que ele fizesse poderia disfarçar o cuidado que precisou ao sentar-se no sofá.

Foi então que o temperamento de Dan finalmente irrompeu.

– Aquele filho da puta...

Ela acalmou-se tão abruptamente que Neil teve de olhar para ela. Renée pôs a mão no ombro de Dan. Renee sorriu quando Neil olhou na sua direção e disse:

– Estávamos discutindo o que pedir para o almoço. Abby disse que ligaria e pediria, para que não precisássemos esperar a entrega. Alguma sugestão?

– Por mim, tanto faz qualquer coisa –, disse Neil.

Allison o varreu com um olhar cético.

– Você consegue mastigar?

– Sim –, assentiu Neil. – Onde está Andrew?

– Encontramos ele no caminho –, disse Matt. – Ele e o treinador estão conversando no estacionamento. Conhecendo um ao outro novamente, eu acho. Espero que seja melhor que da primeira vez.

 –Eu ainda estou falando com você –, disse Allison.

Neil recompensou sua persistência se esquivando.

– Você já viu o banner do Seth?

Demorou um momento para as palavras a atingirem, e, então Allison estava fora de sua cadeira, caminhando em direção à quadra com salto arco-íris de cinco centímetros. Dan olhou por um momento como se fosse atrás dela, mas mudou de ideia com uma breve sacudida de cabeça.

– Sanduíches ou comida chinesa? – ela perguntou a Neil.

– Qualquer um está bom.

– Estou com Allison, no negócio de mastigar. – Nicky gesticulou para o próprio rosto, indicando os hematomas manchando as bochechas e a mandíbula de Neil. – Macarrão e arroz são mais macios do que os sanduíches. Vamos de comida chinesa.

Matt se levantou e foi transmitir a decisão para Abby. Ele já estava voltando quando a porta bateu e fechou. Do outro lado, Dan sentou-se um pouco mais ereta e lançou a Renee um olhar significativo. Renee deixou as mãos cair em seu colo com os dedos entrelaçados. Não era a resposta ansiosa que Dan procurava, a julgar pelo seu olhar estreito e desapontado, mas Dan não teve tempo de se mover antes que Andrew passasse pela porta do salão sozinho.

Matt cometeu o erro de parar e olhar. Andrew nem hesitou, socou Matt com força suficiente para derrubá-lo. Deveria ter sido impossível derrubá-lo; Matt tinha mais de meio metro de diferença comparado a Andrew, e conseguia carregar mais peso que qualquer um na academia. Andrew teve a vantagem da surpresa, e não parou quando Matt caiu. Ele bateu com o punho no rosto de Matt assim que Matt bateu no chão.

Dan levantou-se em um estante, mas de alguma forma, Neil chegou primeiro a Andrew. Ele nem se lembrava de ter se levantado. Ele usou seu corpo e impulso para empurrar Andrew para trás. Esperava que Andrew se mantivesse firme, mas Andrew se deixou empurrar e lançou a Neil um olhar indiferente. Neil colocou as mãos entre eles, para o caso de Andrew tentar contorná-lo.

– Chega –, disse ele.  – Matt não fez nada de errado.

Andrew apontou um dedo em acusação.

– Ele sabia o que aconteceria se colocasse as mãos em Kevin, mas ele foi estúpido o suficiente para fazer isso duas vezes. Se ele fizer de novo eu não serei tão amigável.

– Você não está realmente ameaçando ele? – indagou Dan, incrédula. – Quem você acha que pagou a fiança de Aaron? Se não fosse por Matt, Aaron ainda estaria na prisão esperando pelo julgamento.

– Não importa –, disse Aaron em sua cadeira.

Ontem, Nicky pareceu culpado quando avisou Matt para ter cuidado. Agora, ele fechava o cerco com seus primos e expansivamente deu de ombros pra Dan.

– Matt Ajudou o Aaron, não o Andrew. Você não pode contar um favor para um como favor para ambos só por serem gêmeos, você sabe. É trapaça.

– É bom ver você também, monstro, – disse Matt, um pouco amargo.

Neil olhou para trás quando Matt se levantou novamente. Matt passou a mão pelo sangue que escorria do nariz, deu uma fungada e fez uma cara feia com o sabor.

– É bom saber que você continua sendo um bostinha maluco.

– Não fique surpreso –, disse Aaron. – Não era os remédios que deixava ele maluco.

– Oi, Andrew –, disse Renee.

Andrew não disse nada, mas deslizou um olhar frio em sua direção. Um sorriso satisfatório curvou os lábios de Renee que deu um leve aceno de cabeça, reconhecendo e aceitando tudo o que enxergou no olhar carregado de Andrew. Essa troca de dois segundos foi o suficiente para ambos; Andrew voltou sua atenção para Neil assim que Renee teve o suficiente.

Abby entrou um momento depois, hesitante com sua bolsa pendurada ao ombro. Ela olhou da raiva aparente de Dan para expressão firme de Matt com o nariz sangrento. Não demorou muito para ela juntar as peças, e virou um olhar cauteloso para Andrew.

– Andrew –, disse ela. – Bem-vindo de volta. Não tem sido a mesma coisa sem você.

 Andrew olhou para ela em silêncio. Abby esperou, então descobriu que não receberia uma resposta. Ela olhou sem jeito ao redor para o resto das Raposas reunidas.

– A comida deve estar pronta assim que eu chegar lá. Eu volto já, ok? Tente se comportar enquanto eu estiver fora.

– Obrigada –, disse Dan.

Abby lançou um último olhar para Andrew e saiu. A porta mal havia se fechado atrás dela quando Wymack atravessou a porta. Neil se perguntou se ele estava fumando ou apenas perdendo tempo, deixando a equipe se acostumar à reentrada abrupta de Andrew e as escoriações de Neil da mesma forma que os abandonara com a dor de Allison em setembro. Wymack arqueou uma sobrancelha para Matt, depois olhou para Neil e Andrew.

– Nós não tivemos uma conversa sobre não matar seus companheiros? – perguntou Wymack. Andrew fingiu não ouvir, então Wymack olhou em volta. Levou-lhe uma fração de meio segundo para perceber que faltava uma Raposa. – Allison estava aqui. Onde ela foi?

– Ela foi ver os banners do campeonato –, respondeu Neil.

– Ela vai voltar quando terminar de chorar –, acrescentou Nicky.

– Ela não está chorando –, refutou Neil.

Nicky sorriu.

– Cinco dólares de que está.

Foi uma tentativa grosseira de aliviar o clima. Neil deveria ignora-lo. Talvez um mês atrás ele teria conseguido. Ele sabia que seus companheiros de equipe eram viciados em apostas; apostavam em praticamente tudo, desde a pontuação final das partidas, o relacionamento inexistente entre Andrew e Renee, até quem seria o primeiro a começar uma discussão.

Apostar dinheiro no trauma psicológico de alguém não era novo ou inesperado, mas Neil não estava com vontade de aturar isso hoje. Seu encontro com Abby tinha lhe atiçado os nervos e ele mal estava conseguido controlar-se diante da equipe. O cheiro acre de cigarro impregnado ao casaco de Andrew foi a gota d'água. Neil tentou manter a indelicadeza fora de seu tom, mas mal conseguiu.

– Não ouse apostar na dor de alguém.

– Ah, ei, ei. – Nicky ergueu as mãos em autodefesa. – Não foi a intenção, tudo bem? Sem ofensa. Eu só estava tentando aliviar o clima.

– Alivie a cadeira, levante essa bunda e vá procura-la –, disse Wymack. – Nós temos muito o que discutir hoje e eu não vou começar até que ela volte. Ela ficará mais irritada se começarmos sem ela do que se você interrompê-la. E sim, eu quis dizer você, Hemmick, eu não quero o Neil se mexendo mais do que ele precisa.

– Eu consigo andar –, disse Neil.

– Que orgulho de você –, disse Wymack. – Mas não perguntei.

Nicky levantou-se da cadeira e saiu.

Andrew cravou uma unha na cavidade da garganta de Neil até ter a sua exclusiva atenção.

– Sente-se e fique quieto.





1 Comentários

  1. Achei bonito a atitude as Raposas de não perguntar sobre o ocorrido com Neil, as vezes catucar a ferida, e forçar um desabafo machuca mais ainda.

    ResponderExcluir

Ativador Formulário de Contato