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The King's Men - Capítulo Quatro [Página 1]


TRADUÇÃO: THIAGO
REVISÃO: THIAGO

Na segunda-feira, Kevin deu inicio aos treinos noturnos novamente, mas se recusou a levar Neil junto. Na tarde de terça-feira, com relutância Abby concedeu a volta de Neil aos treinos, contanto que não fosse tão bruto nos contatos físicos. Neil sequer ficou tempo o suficiente para ouvir tal aval antes de correr até seus equipamentos. As Raposas já estavam na quadra, já que Abby tinha chegado quase duas horas atrasada ao treino, mas Dan interrompeu os exercícios assim que Neil bateu na porta. Ela e Matt saldaram a chegada de Neil a quadra com gritos animados. Nicky bateu o bastão da raquete com ele, que se dirigia ao lado de Kevin.

– Se você não poder, não insista – aconselhou Kevin.

– Eu sei – aceitou Neil. – Se alguma coisa repuxar eu saio da quadra.

Kevin lançou-lhe um olhar desconfiado, mas não discutiu.

A dor surgiu quase que imediatamente, mas era quase um alívio trabalhar seus músculos doloridos. Neil manteve um ritmo leve, porque Abby e Wymack o observavam do lado de fora. Quando Neil finalmente deu-se um tempo durante o aquecimento, temeu que eles o retirassem. Eles não interviram, então ele voltou ao jogo com sangue nos olhos.

Depois, Wymack sentou com todos eles no vestiário para analisar os pontos altos e baixos do dia. Quando ele terminou, olhou para Neil e disse:

– Então?

– Estou bem –, disse Neil, se desviando ligeiramente do olhar mortífero de Kevin, e, continuou: – Se eu não estivesse dolorido agora, me preocuparia, mas isso não chega a ser um problema. Eu posso me retirar se os lançamentos começarem a repuxar demais meus pontos.

– Foi mesmo tão difícil avisar logo no inicio? – perguntou Dan, ironicamente.

– Eu avisei no inicio – insistiu Neil. – Eu estou bem.

– A palavra correta é “desesperado” ou “obcecado” –, disse Nicky , sorrindo.

– Tudo bem –, disse Wymack. – Neil, você vai para a academia amanhã. Vá com calma esses dias, entendeu? Adapte o circuito conforme necessário e me avise do que não suportas. Se lesione aqui, na quadra, não lá. – Wymack não perdeu de vista o olhar raivoso que Abby lançou a ele, mas não manifestou importância a isso. – É isso por hoje, então. Se vistam e saiam.

Todos tomaram banho e voltaram ao dormitório. Dan foi com Matt e Neil para o quarto deles. Nei entendeu isso como uma dica para dar uma voltinha, mas Dan acenou com a cabeça para ele quando Neil virou-se para se retirar novamente. Quando ela soube que ele havia entendido, Dan sentou no sofá e abraçou os joelhos contra o peito.

– Então, voltando à vidinha de antes – disse ela. – Nós e eles, quero dizer. Foi divertido no mês passado, não foi? Eu gostei do nosso jantar de equipe e da noite fora.

– Parece que voltamos de onde começamos em agosto –, concordou Matt.

– Se soubéssemos o que Andrew tem contra nós, poderíamos tentar combatê-lo –, disse Dan. Ela batucou um joelho no outro em um ritmo agitado por um estante, em seguida, olhou para Neil. – Como você conseguiu que ele parasse de laçar as bolas nos nossos pés no treino do outro dia?

Neil reduziu a verdade da forma mais simples e fácil. 

– Perguntando.

– Perguntando –, disse Matt, quase soando uma acusação. – Foi a mesma coisa no Halloween e com os pais do Nicky. Sério, Neil. Como você o convence a fazer as coisas que ele obviamente não quer? É suborno ou chantagem.

Dan lançou a Matt um olhar indecifrável e disse:

– Sem pressão, Neil. Sem enrolação. Andrew tá sóbrio agora, eu sei que isso é uma mudança abrupta. Mas você conseguiria juntar todos eles conosco?

– Eu não sei –, admitiu Neil. – Posso tentar. Mas –, ele continuou, com um olhar entre eles, – alguém precisa lidar com Aaron. Nicky quer ser amigo de vocês, e Kevin sabe que o time é mais forte como todos unidos, mas Aaron está quase tão contra nós quanto Andrew. Não faz sentido, porque ficar do lado de Andrew significa manter Katelyn as escondidas. Se Aaron está disposto a escondê-la sem se impor, então a decisão não é só de Andrew. A decisão é dos dois.

Dan ficou pensativa.

– Katelyn deve saber de alguma coisa. Nenhuma garota que se preze aceitaria isso, a menos que houvesse uma boa razão. Se ela não falar, você acha que conseguiria arrancar algo de Aaron, Matt? Você disse que ele vinha se comportando melhor desde o Natal, não foi?

– Não custa tentar – disse Matt. – Treinador já deu o nosso horário de tutoria?

– Está em algum lugar na minha escrivaninha –, disse Dan. – Assim que eu encontrar, vou mandar por mensagem para você.

– Tudo bem! Vou ver se consigo caçá-lo lá embaixo.

– Deixe eu tentar com Katelyn primeiro –, disse Dan. – Ela se inclinou para puxar seu celular do bolso e digitou uma mensagem rapidamente. – Não quero que Aaron diga a ela que estamos nos intrometendo.

Matt assentiu, mas Dan estava olhando para o celular, como se ela pudesse coresponder a isso. Não demorou muito para o celular tocar. Dan caminhou de um lado para o outro conversando com Katelyn.

– Tudo bem. Vou sair. Talvez demore um pouco, então comam sem mim. Me desejem sorte?

– Sorte – disse Neil quando Matt a despediu com um beijo.

Neil e Matt acabaram jantando com Renee e Allison no quarto das meninas. A escolha de Allison por assistir filme foi imediatamente vetada, então Allison jogou a democracia pela janela e o colocou de qualquer maneira. Era provavelmente a pior coisa que Neil já assistira, mas, pelo menos, ajudava há matar o tempo. Ele foi poupado dos últimos quinze minutos de melodrama e atuação ruim porque Kevin estava pronto para ir para o estádio.

Andrew já os esperava no carro.

Andrew se esparramou no sofá das Raposas enquanto Kevin ia se trocar por primeiro. Neil hesitou, mudou de ideia e seguiu Kevin, e mudou de ideia novamente. Ficou de pé atrás do sofá, cruzou os braços sobre as costas do sofá e olhou para Andrew. Andrew tinha um braço dobrado debaixo da cabeça e o outro sobre os olhos para bloquear a luminosidade.

– Um dia desses, você poderia treinar com a gente –, disse Neil. Ele não ficou surpreso quando Andrew não respondeu, mas ele se recusou a desistir disso facilmente. – Por que você começou a jogar se nunca está disposto a praticar?

– A jaula é maior que da outra alternativa.

Esse era um dos pontos em que os repórteres mais gostavam de frisar quando Kevin se tornou titular no time com Andrew: Kevin fora criado em Evermore, cercado pelos melhores e, praticamente nascido com uma raquete na mão, enquanto Andrew aprendeu Exy durante sua estadia no reformatório juvenil. Neil tinha um extenso artigo sobre isso em seu fichário. Foi vulgarmente intitulado de “O Príncipe e o Plebeu”, e o foco estava em quão desastrosa seria essa amizade. O escritor da matéria achava que suas atitudes divergentes com relação à Exy eram incompatíveis, e, seus antecedentes diferentes tornaria impossível de permanecerem juntos por muito tempo.

Neil considerou que o agente Higgins tivesse sido responsável por Andrew ser enviado em uma das melhores instituições juvenis da Califórnia. O foco deles era: reabilitação através da disciplina e empoderamento, o que significava que todos os internos aprendiam esportes coletivos. Não havia espaço suficiente para uma quadra de tamanho normal, mas um dos agentes confirmou em entrevista que eles possuíam metade de uma quadra no terreno da instalação. Os melhores e mais bem comportado jogadores de Exy viajavam ocasionalmente ao centro comunitário para competir contra as equipes da vizinhança.

Neil não culpava Andrew por pensar que a quadra era um lugar melhor para se estar do que uma cela, mas duvidava que Exy fosse o único desporto que a instituição oferecia. Andrew escolhera Exy por algum motivo.  Neil considerou a natureza agressiva do jogo, mas Andrew era um goleiro. Ele tinha poucas oportunidades para praticar violência desnecessária. Ele dissera o mesmo a Andrew, que deu de ombros em resposta.

– O diretor meio que me obrigou –, disse Andrew. – Eu não poderia jogar em outra posição.

– Eles achavam que você machucaria alguém se ficasse livre na quadra? – Perguntou Neil.

Andrew não respondeu; Neil tomou seu silencio como resposta. Ele tentou imaginar Andrew em qualquer outra posição, mas não conseguiu mentalizar.

– Eu acho que é melhor assim, com você atrás da linha defensiva. Você nos analisa dentro de quadra e defende nossas burradas. Você joga como se apostasse a vida. É por isso que você é tão bom nisso.

Neil ergueu a cabeça quando a porta se abriu no corredor. Kevin veio em sua procura, já equipado e olhando irritado pelo atraso. Ele parou assim que percebeu que ambos estavam conversando. Kevin ainda não havia perguntado a Neil o que acontecera na sexta-feira. Neil não sabia se Kevin havia perguntado a Andrew, mas ele duvidou de que Andrew explicasse tal. Segundo Renee, só ela e Neil sabiam que Andrew era gay. Neil não fazia ideia de como Wymack percebera isso.

– Estou indo –, avisou Neil, mas não se moveu.

Kevin levantou um dedo em aviso de um minuto e saiu. Neil escutou a porta dos fundos se fechar antes de olhar para Andrew novamente.

– Eu também não sou atacante por escolha – disse ele. – Eu fazia parte da linha defensiva em ligas pequenas. Riko lembra porque eu treinava com ele e Kevin. Ele me fez jogar na defesa com os Corvos durante o Natal.

Isso finalmente fez Andrew tirar o braço do rosto.

– Ligas pequenas. Eu me lembro claramente de você dizendo a todo mundo que aprendeu a jogar em Millport.

– Meia verdade –, confessou Neil. – Eu sabia jogar Exy. Eu simplesmente não sabia como atacar. Não queria ser um atacante, mas o técnico Hernandez não tinha vagas em sua linha defensiva. Era ser um atacante ou nada, só queria jogar mal o suficiente para depois poder ir embora. Agora, não me imagino fazendo outra coisa.

Andrew calou-se por um tempo, então, – Você parece mais um guaxinim do que uma Raposa.

Neil franziu o cenho sem entender.

– O que?

– Um guaxinim –, repetiu Andrew, fingindo segurar uma bola frente ao rosto. – Exy é a coisa mais brilhante do seu mundinho triste. Você sabe que está sendo caçado, sabe que os cães estão se aproximando, mas você não vai fugir para salvar sua própria pele. Uma vez você me disse que não entendia o ato de alguém cometer suicídio, mas aqui está você. Acho que foi outra mentira.

–Não estou me voluntariado para morrer –, disse Neil. – É dessa forma que eu permaneço vivo. Quando estou jogando, sinto que tenho controle de pelo menos algo. Sinto que tenho o poder de mudar as coisas. Me sinto mais real do que em qualquer outro lugar. A quadra não se importa com meu nome, de onde eu sou ou onde estarei amanhã. Ela me permite existir como eu realmente sou.

– É só uma quadra – disse Andrew. – Ela não permite que você faça absolutamente nada.

– Você sabe o que eu estou querendo dizer.

– Não, não sei.

– É porque você não tem nada, não é? – disse Neil, calmamente o desafiando. – Nada anima você. Nada é capaz de irritá-lo.

– Ele finalmente percebeu –, ponderou Andrew. – Só demorou um ano.

– Do que você tem medo?

– Altura.

– Andrew.

– Se você fizer Kevin vir busca-lo, você vai se arrepender.

Neil se afastou do sofá sem mais nenhuma palavra e foi se trocar. Ele puxou seu equipamento com mais força do que era estritamente necessário, mas ele ainda estava bufando de raiva quando pisou na quadra. Ser repreendido por atrasos não ajudou seu humor a melhorar. Neil quase lembrou a Kevin que eles não tinham um horário obrigatório para os treinos extras, mas não havia sentido nisso. Eles estavam ali porque tinham trabalho a ser feito.

Ele executou os exercícios arduamente e veloz, sabendo que se arrependeria pela manhã. Ele não se importou. Era mais fácil pensar quando tudo doía. A exaustão finalmente sugou o último resquício de sua irritação, ele não sentia muita coisa no momento em que deixaram a quadra.

Aquela paz inconsciente durou até que Neil saiu do chuveiro e encontrou Kevin sentado em um banco no vestiário. O olhar severo em seu rosto dizia que ele não estava esperando por delicadeza.

– Já resolveu? – perguntou Kevin.

– Resolveu o quê? – perguntou Neil.

– Não aja feito um imbecil. Se você veio aqui, eu espero que esteja aqui –, disse ele, com ênfase na última palavra. – No segundo em que seus problemas com Andrew interferem em nosso jogo, eles se tornam nossos problemas. Você quer que ganhemos ou não?

– Não venha me advertir como se eu não soubesse o que está em jogo.

– Você disse para me concentrar no time –, replicou Kevin. – É o que estou fazendo: garantindo que você não comprometa esse sucesso.

– Eu não estava arriscando nada. Fiquei dois minutos atrasado porque pedi a Andrew para vir treinar conosco.

– Você ficou cinco minutos, e não pergunte a ele novamente. Não precisamos dele fazendo favores a nós. Ele tem que vir por vontade própria ou não vai significar nada. – Kevin se levantou e fez um gesto brusco para Neil segui-lo. – Vamos embora.

Eles buscaram Andrew no salão ao sair e se separaram no corredor.

Matt já estava dormindo, mas ele deixou a luminária do criado mudo acesa para que Neil pudesse enxergar. Neil trocou de roupa na pouca luminosidade. Quando foi desligar a luminária no caminho para a cama, ele encontrou uma nota rabiscada colada no interruptor.

“Você estava certo” dizia.

Neil colocou a nota na gaveta da escrivaninha e foi para a cama. Não fazia sentido pensar sobre isso quando eles estariam acordados em cinco horas, então ele afastou seus pensamentos o mais longe e se forçou a dormir. Parecia que ele tinha acabado de fechar os olhos quando o alarme disparou. Neil rolou para desligá-lo e quase gemeu de como estava dolorido. Ele teria que pegar leve no treino de hoje, ou Wymack revogaria seus treinos.



2 Comentários

  1. Anônimo20 junho

    Neil hipocrisou todo kkkk

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  2. Anônimo03 julho

    Neil é o melhor. Esse jeito dele de lidar com as coisas é tão peculiar.

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