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The King's Men - Capítulo Quatro [Página 2]


Matt já calçava os sapatos antes de estar desperto o suficiente para conversar. Ele ficou imóvel, com os nós do cadarço malfeitos e olhou para Neil.

– Você estava certo. Eles fizeram uma promessa. Aaron e Andrew, quero dizer. Foi o que Aaron disse a Katelyn, de qualquer forma. Aaron fez um acordo com Andrew no reformatório: se Andrew ficasse com ele até a formatura, Aaron ficaria com Andrew. Sem amigos, sem namoradas, nada. Aaron não pode nem socializar com seus companheiros de equipe.

Neil passou os dedos pelos cabelos e verificou o curativo na bochecha.

– Aaron se referiu até formatura do ensino médio. Mas eles renovaram esse pacto quando assinaram o contrato para jogar. Agora Katelyn está na jogada, mas Aaron não vai lutar por ela. – Matt sacudiu a cabeça e terminou de amarrar os sapatos. – Katelyn contou a Dan o que Andrew fez com as ex-namoradas do ensino médio. Se Katelyn não tem medo de Andrew, isso não a torna segura. Andrew é tão louco a ponto de atacar alguém importante para Aaron?

– Aaron fez uma promessa – disse Neil, escolhendo as palavras com cautela. – Andrew vai força-lo a cumpri-la. Não é tão louco quanto parece ser.

Neil quase esquecera o quanto os veteranos eram cegos para as questões dos gêmeos. Ele não tinha percebido o atrito entre os dois até a sua segunda viagem ao Eden's Twilight, mas agora a guerra fria entre eles era bastante óbvia. A importância de Katelyn para Aaron foi o que a colocou em perigo. Se Aaron não lutaria por ela, era porque ele estava com muito medo de enfrentar seu irmão ou ele realmente achava que tinha mais a ganhar ficando ao lado de Andrew?

Mais importante, por que Andrew concordou em estender o acordo? Andrew ainda estava punindo Aaron por ficar ao lado da mãe, ou achava que o tempo faria diferença? Esta ultima opção parecia um pouco forçada, mas Neil estava começando a acreditar nela. Quando Drake deixou a Andrew uma concussão e um corpo ensanguentado em Columbia, a única coisa que importava a Andrew, a única pessoa que ele precisou ver, foi Aaron. Seu próprio trauma foi minimizado; sua preocupação era o sangue espalha sobre Aaron.

Andrew e Aaron haviam feito essa promessa um ao outro, e estavam presos a um impasse. Ambos não estavam dispostos a estender a mão, e eram incapazes de dar o braço a torcer. Novembro deveria ter sido o estopim, mas a prisão de Aaron e a internação de Andrew fez com que eles superassem aquele pesadelo distante um do outro. Andrew havia voltado há uma semana, e Neil tinha certeza de que os dois ainda não tinham conversado sobre aquela noite, tão como nunca haviam conversado sobre as circunstâncias da morte de Tilda Minyard.

Aaron o ignoraria caso Neil mencionasse tal sem ter um segredo grande o suficiente para persuadir Andrew a conversar com Aaron. Kevin não se envolveria, e Andrew daria uma lição em Nicky caso tentasse. Wymack havia prometido não se envolver em seus problemas pessoais, embora tivesse esboçado atravessas esse limite no outro dia para assegurar a integridade física de sua equipe. Renee conseguiria captar a atenção de Andrew para si tempo o suficiente para plantar a semente da reconciliação, porem Aaron não teria quaisquer interesses no que Renee teria a dizer.

Isso deixava poucas opções, e Neil havia deletado o número de Betsy Dobson de seu celular no mesmo dia em que Andrew o adicionou como contato de emergência. Aaron havia afirmado não ter trocado uma única palavra com Betsy, mas provavelmente tinha percebido um certo apego de Andrew por ela. Talvez ele concordasse em deixá-la mediar esse impasse em confidencialidade.  Se recusasse, Katelyn poderia dar-lhe o incentivo que ele precisava. Convencer Andrew a concordar com isso seria a verdadeira proeza. Mesmo que a sobriedade não distorcesse sua opinião sobre Betsy, convencê-lo a se abrir para Aaron sobre tudo seria impossível.

Estático, ele se perguntou se Betsy sequer sabia que os irmãos tinham problemas.

– Neil?

Neil levantou o olhar e viu Matt se encostando no batente da porta do quarto. Ele sequer tinha visto Matt sair do quarto, muito distraída em seus pensamentos. Matt pareceu perplexo ao encontra-lo exatamente onde o havia visto por último.

– Você está bem? Temos que ir.

Se Neil estivesse atrasado em dois treinos seguidos, Kevin provavelmente o colocaria no banco só por maldade. Neil pegou suas chaves da cômoda.

– Tô legal. Dan lhe deu o novo horário de tutoria de Aaron? – Quando Matt assentiu, Neil disse: – Mudei de ideia. Eu falo com ele. Tenho uma ideia em mente.

Matt enviou-lhe uma mensagem enquanto Neil trancava a porta da suíte atrás deles. Neil sentiu o celular vibrar em seu bolso, mas certificou-se de que não fosse lido a caminho do estádio. A tela de seu celular era pequena de mais para qualquer um conseguir ler a mensagem por cima de seu ombro, mas Nicky estava muito curioso para saber quem a enviou logo no inicio do dia. Mais tarde, Neil só teria que conseguir os números de Betsy e Katelyn. Se tivesse sorte, Dan teria os dois em seus contatos.

Eles passaram o treno matinal fazendo exercícios de explosão na academia. Neil voltou com o grupo de Andrew, mas deu uma parada no quarto das garotas para retocar a maquiagem em seus hematomas. Ele já parecia bem melhor, estando duas semanas fora do alcance de Riko, mas precisaria dos truques por mais alguns dias. Muito tempo depois de tudo estar curado, Neil ainda teria um curativo em seu rosto, e ele ainda não dissera aos veteranos o que estava escondendo deles. Neil pensou nisso, enquanto Allison retocava seu rosto. O grupinho de Andrew e a equipe já sabiam, o que significava que não havia mais motivos para escondê-lo.

– Allison –, disse ele, em aviso de que estava prestes a se mexer.

Ela recuou a mão, Neil estendeu a sua para tirar a fita de seu rosto. Ele não sabia onde era seguro tocar, já que sua bochecha estava fria por todas as camadas de maquiagem.  Allison entendeu o que ele estava tentando fazer, então afastou sua mão da frente. Ela agarrou a borda da fita com suas unhas compridas e tirou o curativo suavemente.

Demorou meio segundo para ela perceber o que estava enxergando, e levantou-se com um estridente:

– Você está brincado comigo?

Dan tomava seu café da manhã na cozinha, e Renée estava no quarto, mas o grito de Allison as fez correr. Dan estava ao lado esquerdo de Neil, então ela enxergou primeiro. Ficou paralisada, mas por apenas um segundo. Um instante depois, ela atravessou a sala sentando-se onde Allison estava. Ele não sabia que ela conseguia se mover tão depressa.

– Isso é uma piada –, disse Dan, agarrando o queixo de Neil. – Neil?

– Ele disse que eu deveria me transferir para os Corvos –, disse Neil. – Ele disse que eu poderia terminar essa temporada com as Raposas, mas que eu mudaria para Edgar Allan neste outono. Eles me tatuaram em preparação e eu não pude fazer nada. Eu queria que vocês soubessem no caso de Riko dizer algo sobre isso. Continuo sendo uma Raposa, não inporta o que ele diga. Não vou assinar nenhum contrato.

– Tire isso –, disse Dan.

– É permanente –, disse Neil.

– Nada é permanente. Tire isso. Matt lhe dará o dinheiro.

– Ele ou eu –, acrescentou Allison. –Não quero ver isso na minha equipe. A tatuagem de Kevin já estraga a atmosfera o suficiente.

– Kevin sabia disso, não sabia? – indagou Dan, irritada. – Ele sabia o que Riko faria com você e ele deixou você ir de qualquer maneira. Da próxima vez que eu vê-lo...

– Você não fará nada –, Neil a interrompeu. – Kevin não tinha o direito de me impedir.

– Ele deixou você ir até Riko no lugar dele.

– Não –, negou Neil. – Kevin não tem nenhuma participação nisso. Ele sabia que não tinha nada a ver com ele.

Dan não esperava por isso. A confusão diminuiu sua raiva.

– Você disse que Riko estava tentando atingir Kevin.

– Eu disse que Riko se concentrou em mim por causa da minha relação com Kevin –, disse Neil. – Não disse que fui no lugar dele. Só achei que vocês deveriam saber antes da temporada começar.

Dan o deixou se levantar, mas o agarrou pelo cotovelo antes que ele pudesse se distanciar. Neil a olhou, mas ela estava parada, olhando para o outro lado da sala, para o absoluto nada. Um minuto antes de ela começar falar.

– Você nunca teve planos de ir para casa no Natal, não é? Essa confusão toda sobre o seu tio voar para o Arizona... Você inventou tudo isso para nós não perguntarmos por que você não iria para Nova York com Kevin. 

Não adiantava negar.

– Menti.

– Eu entendo que você não confie totalmente na gente –, disse Dan. – Isso não me agrada, eu achei que tivéssemos sido bons em conquistar sua confiança durante todo o ano. Nós nunca o pressionamos a nos dar explicações excessivas e nós nem perguntamos o porquê de você está assim. Então não faça isso com a gente. Não venha aqui mentir em nossas caras. – Ela finalmente olhou para ele, frustração puxando com força o canto de sua boca. – Somos seus amigos. Nós merecemos mais do que isso.

– Se vocês sempre tivessem o merecido, vocês não seriam Raposas.

Neil puxou seu braço do aperto de Dan. Ela o soltou sem lutar, parecendo um pouco assustada com aquela réplica contundente. Neil tentou dispersar a culpa, mas não conseguiu.

–Nunca tive amigos antes. Não sei como isso funciona. Estou tentando, mas vai levar tempo.

O tempo era algo que ele não tinha, mas era algo que não valia a pena mencionar. Dan aceitou seu pedido de desculpas, ela garantiu com um aceno de cabeça cansado, e as meninas o deixaram sair em paz. Neil parou no banheiro, para colocar um novo curativo na tatuagem. Ele ainda tinha tempo para matar antes da aula, então se sentou em sua mesa com seus livros. Ele queria rever a matéria de suas lições anteriores. Em vez disso, desenhou patas de Raposa pelas páginas até a hora de partir.

Neil não enviou a mensagem para Dan até que estivesse na hora do almoço, querendo dar a ela algumas horas para se acalmar. Ou ela realmente havia o perdoado, ou esquecido o fiasco da manhã, pois ela respondeu quase que imediatamente com os números que ele precisava. Neil acabou adicionado ambos em seus contatos. Nicky tinha o hábito de encher a caixa de mensagens de Neil, e Neil não podia se dar ao luxo de perder o rastro dessas mulheres.

Primeiro, pediu a ajuda de Katelyn. Ele deve tê-la pego enquanto estava na sala de aula, porque já era quase uma hora quando ela retornou. Só levou algumas mensagens para perceber que não havia tempo bom em seus horários para se encontrarem hoje. No entanto, ela prometeu arrumar tempo para ouvi-lo amanhã, e isso foi bom o suficiente.

Naquela tarde, Neil finalmente conseguiu a confirmação que estava procurando: embora Andrew estivesse sem remédios, ainda tinha sessões semanais com Betsy. Neil sabia a que horas as sessões de Andrew começavam, e, supôs que Betsy teria um pequeno espaço de tempo sem pacientes antes de Andrew aparecer.

Assim que Neil soube que Andrew estava a caminho de Reddin, ele preparou o nervosismo e ligou para o escritório de Betsy.

Ela respondeu no segundo toque com um agradável "Dr. Dobson".

– É o Neil –, disse ele, e continuou antes que ela pudesse agir com surpresa e felicidade por ouvi-lo. – Só preciso de um sim ou não. Se conseguirmos convencer Aaron e Andrew a fazer sessões conjuntas, você consegue reconciliá-los?

Houve apenas uma breve pausa antes que Betsy dissesse:

– Certamente tentarei.

– Não tente –, disse Neil. – Não suponha nada. Isso é importante demais. Você pode ou não pode?

– Sim. – Ele podia ouvir o sorriso em sua voz: não era diversão, mas aprovação. – Se você vier buscá-los, eu cuido disso. Neil? – disse ela quando ele estava começando a tirar o celular do ouvido. – Eu gosto desse seu lado honesto.

Neil desligou em sua cara.

***

Ainda era muito cedo para a biblioteca estar lotada, então Neil não teve dificuldade em encontra Katelyn. Uma enorme xícara de fé estava com ela, e Neil tentou não se sentir atraído pelo café. No entanto, ele não queria parecer uma estatua parado ali, então seguiu pelo corredor em direção à mesa dela sem parar. Um livro de bioquímica foi empurrado para um lado enquanto ela destacava partes relevantes de suas anotações. Aaron tinha o mesmo livro em seu quarto, enquanto estudava Ciências Biológicas. Neil adivinhou que seus cursos em comuns e turmas semelhantes foram como eles finalmente se conheceram, tirando os jogos.

Katelyn fechou o caderno bruscamente ao perceber sua abordagem.

– Neil, oi! Sei que só se passaram algumas semanas, mas parece uma eternidade. Como foi o Natal?

– Foi legal –, disse ele. – Como foi o seu?

– Meu Deus, foi incrível. – Katelyn juntou as mãos em contentamento. – Minha irmã finalmente descobriu que o bebê é um menino, então passei a maior parte do tempo fazendo compras para ele. Minha mãe disse que eu estou muito entusiasmada, mas eu sei que ela também está.

Ela havia lhe dito que sua irmã estava grávida, mês passado, mas Neil não havia se atentado aos detalhes. Ele atentou-se a animação dela agora, ouvindo apenas as palavras-chave que significavam que ela tinha acabado detalhando todas as suas grandes descobertas e compras de inverno. Não demorou muito para ela lembrar que eles não estavam ali para por a conversa em dia, ela se recompôs com um sorriso tão tímido quanto feliz.

– Então, isso é sobre o que? – perguntou Katelyn. – Você disse que queria falar sobre o Aaron?

– Aaron precisa de ajuda –, disse Neil. – estou tentando ajuda-lo um pouco.

Katelyn buscou a sensatez rapidamente.

– Ele está tendo pesadelos de novo, não está? Ele disse que estava bem melhor. Ele prometeu... – Katelyn gesticulou, frustrada ou desesperançosa, pressionando os dedos em seu lábio inferior trêmulo.

– Pesadelos –, ecoou Neil.

Ele não esperava essa mudança repentina no assunto, mas ele podia adivinhar o que estava assombrando Aaron.

– Sobre novembro, você quer dizer.

– Ele não quer que isso o afete – disse ela. – Ele diz que Drake merecia algo pior do que teve. Que está feliz por ter o matado. Mas, desejar a morte de alguém e ser aquele que vai cometer o ato, são duas coisas completamente diferentes. Estou disposta a ouvi-lo e farei tudo o que for possível para ajudar, mas ele não me escuta nem quando digo que está tudo bem.

– Ele precisa falar com Andrew –, disse Neil.

Katelyn deu uma risada abafada.

– Ele não vai.

Katelyn sabia o que os veteranos não sabiam: que Aaron e Andrew mal podiam tolerar a visão um do outro, isso em um dia consideravelmente bom. Talvez ela precisasse saber, uma vez que a rixa deles era o que a mantinha longe de Aaron. Neil, favoravelmente, recalculou suas possibilidades de realmente conseguir persuadir Aaron a longo prazo.

– Ele precisa –, disse Neil novamente. – Eles precisam um do outro. Eles só não sabem como dar o primeiro passo. É ai que você entra.

Katelyn se indagou olhando em seu rosto por um momento e disse:

– Por que?

– Por que você? – perguntou Neil.

– Não, por que você –, ela o corrigiu. – Aaron não é...

Ela era muito gentil para completar a frase, mas Neil não teve problemas em preencher as lacunas.

– Aaron e eu nos damos bem quando precisamos e evitamos um ao outro quando possível. Não vou mentir e dizer que estou fazendo isso por ele. Eu não me importo se ele vá ficar bem com o passar do tempo. Eu me importo apenas com a equipe. Não vamos conseguir vencer sem eles. O motivo realmente importa, quando estou fazendo isso para que todos saiam felizes?

– Para mim, importa –, disse Katelyn. – Eu amo ele.

– Então me ajude a ajudá-lo –, disse Neil.

Katelyn comprimiu os lábios em uma linha reta enquanto considerava.

– Estou ouvindo.

– Aaron já lhe falou sobre a dr. Dobson? – perguntou Neil. – Ela trabalha na Reddin e ela é a psicóloga da equipe. Ela está disposta a fazer sessões em grupo com Andrew e Aaron.

– Aaron já mencionou ela antes. Ele disse que ela é uma perda de tempo.

– Porque ele não usufrui do trabalho dela como deveria –, replicou Neil, ignorando a hipocrisia em sua acusação. – Felizmente, não importa o que ele pensa. Dobson já conhece os dois. Ela tratou de Andrew por um ano e meio. Honestamente, se ela achasse que não conseguiria reconciliá-los, ela teria dito isso. Se conseguirmos leva-los para seu escritório ao mesmo tempo, ela pode fazê-los falar um com o outro.

– Você quer que eu fale com ele –, concluiu Katelyn.

– Você convence Aaron. Vou convencer Andrew.

– Você realmente acha que consegue?

– Eu tenho que conseguir –, respondeu Neil.

– Mas como? – Katelyn o pressionou. – Estou perguntando com toda honestidade, porque eu não sei como chegar até ele. Ele nem sequer me deu ouvidos da última vez que eu disse a ele para procurar ajuda.

– Então não faça por ele –, disse Neil. – Faça por você. Você pode consertar isso aqui, agora mesmo. Pare de ser um peso morto e faça ele lutar por você.

– Não acho que posso usar “nós” contra ele. Não é justo.

– Mas é justo com você? – Neil gesticulou para ela. – Olhe bem, sem chances de eu convencer Andrew da noite para o dia, então você tem tempo para pensar. Mas quando Andrew estiver pronto, você tem que escolher o seu lado. Tente optar pelo lado certo.

Ele se levantou e saiu, e ela não o chamou enquanto ele partia.


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