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The King's Men - Capítulo Cinco [Página 2]


Os gritos da multidão aumentaram para um tom animado e enlouquecedor. Neil supôs que as mascotes tivessem aparecido para irritar as arquibancadas. Ele olhou para trás de Wymack, ainda ouvindo parte do discurso, e segui os dedos apontados. Um camarote VIP estava ao lado da sala de imprensa entre os bancos das Raposas e o esquadrão das Vixens. Alguns guarda-costas revistavam a multidão em busca de ameaças em potencial, mas recuaram assim que suas preocupações estavam resolvidas.

O mundo de Neil ficou em câmera lenta ao enxergar as tatuagens e cabelos escuros.

Wymack estalou os dedos no rosto de Neil. Neil recuou com tanto pavor que cambaleou sobre Kevin. Ele lançou um rápido olhar para Wymack, boca aberta em um pedido de desculpas por ter perdido o fôlego, mas Wymack não esperou por sua explicação. Ele se virou para vasculhar o pátio interno. Não demorou quase nada para ver Riko e Jean. Quando ele se virou, sua expressão era mais sombria do que Neil jamais vira.

As Raposas também os viram, e Matt foi o primeiro a reagir ferozmente:

– O que eles estão fazendo aqui?

– Vou perguntar –, disse Andrew, e começou a andar.

Wymack puxou-o antes que ele pudesse ficar a mais de um passo longe do banco das Raposas.

– Você não tem permissão para matar ninguém no primeiro jogo da temporada. Preocupe-se menos com ele e mais com sua linha ofensiva, me entendeu? Foco, Kevin. Você também, Neil. Neil –, disse ele, mais alto. – Olhe para mim.

Neil percebeu que estava olhando para Riko novamente. Ele arrastou o olhar de volta para o rosto de Wymack. Wymack parecia zangado, mas Neil conhecia Wymack muito bem. Essa raiva nascera de uma preocupação genuína. Neil preferiu interpretá-la como decepção, porque era mais fácil se motivar. As Raposas precisavam dele hoje à noite. Ele não podia deixar Riko o amedrontar. Neil pegou todas as más lembranças que rosnavam em seu ouvido e empurrou-as o mais fundo.

– Estou começando a achar que ele é afim mim, afinal de contas –, disse Neil, forçando indiferença.

A risada de Nicky soou falsa, seu sorriso nem alcançou seus olhos, mas pelo menos ele tentou.

– Quem resistiria olhar para você por muito tempo? Você tem sorte de eu ser comprometido, porque, nossa. Talvez possamos convencer Erik a me compartilhar um pouco?

– Você morreria se não falasse essas merdas medonhas na quadra uma única vez? –indagou Aaron.

– Se eu tenho que assistir você babar pela Katelyn, você tem que me assistir atrair o Neil para o lado negro.

– Eu não fico babando pela Katelyn.

– Certo, claro, você não fica babando. Só observando de longa distância, que é mil vezes mais nauseante.

– Vocês tem dois segundos para calar a boca antes que eu mandar todos correr –, disse Wymack.

Nicky se encolheu com um sorriso relâmpago na direção de Neil. Neil conseguiu um pequeno sorriso de volta. As discussões familiares tinham atingindo o limite da indignação das Raposas, e agora os veteranos olhavam para Neil ao invés de Riko. Andrew se acomodou à esquerda de Neil, formando um bloqueio entre Neil e a multidão. Na próxima vez que Wymack olhou para Neil, Neil acenou com a cabeça em silêncio.

– Onde eu estava? – indagou Wymack.

– Na linha ofensiva, eu acho –, disse Neil, e olhou para Kevin. Kevin estava com o rosto pálido ao encarar Riko, mas Neil o cutucou até que tivesse a sua total atenção.

– Uma observação: se eles colocarem o Beckstein para me marcar, vou fazer passes inúteis à noite toda. Ele tem quase trinta centímetros a mais do que eu, então, se ele interceptar minha raquete em um lance, vai me jogar longe, vou acabar quebrando algo.

Kevin começou a dizer alguma coisa, mas Andrew lhe surpreendeu se interpondo calmamente:

– Vinte centímetros, ele só tem um e oitenta de altura.

Neil e Kevin viraram para encarar Andrew. A sobra de um sorriso no rosto de Wymack dizia que ele percebera o significado desta observação, sabia que significava oportunidades para as Raposas hoje à noite. O resto da equipe passou despercebido pela informação. Dan cochichou algo a Allison, sobre como compensar a possível desvantagem de Neil. Neil sabia que ele e Kevin deviam ser incluídos na conversa, mas ele não conseguia acompanhar o raciocínio.

A altura era, sem dúvida, o detalhe crucial em uma partida de Exy. A altura de um jogador decidia a velocidade para empunhar uma raquete e determinava seu alcance, por causa da envergadura. Para a maioria dos jogadores, um numero estimado era suficientemente bom; Não importava se eles estivessem a um ou dois centímetros de diferença, porque só precisavam de uma simples ideia do que enfrentariam. Os números seriam usados apenas para determinar o quão difícil seria a marcação.

Neil e Kevin sabiam a altura exata de cada defensor dos Longhorns, porque não podiam jogar sem essa informação. Jogadores extremamente técnicos como Kevin podiam usar a altura de um indivíduo para mapear todos os seus pontos fracos. Mais importante, ele poderia cruzar a áreas de alcance do oponente e encontrar os melhores lugares para atirar. Era assim que ele conseguia furar a defesa adversária varias vezes.

Jogadores instintivos como Neil, sabiam onde encontrar essas lacunas sem calcular ângulos e se sobrepor ao adversário. Se Wymack desse uma caneta a Neil e dissesse a ele para indicar o ponto fraco de um defensor em um diagrama tático, ele não saberia mostrar, mas uma vez que o jogo estivesse acontecendo, Neil poderia encontrá-lo em um piscar de olhos. Ele ainda não era bom o suficiente para tirar o máximo de proveito dessa visão, mas Kevin dissera que um talento como esse acabaria por garantir o lugar de Neil na seleção nacional.

Andrew não deu qualquer explicação sobre como soubera a altura de Beckstein. Para inicio de conversa, Beckstein era um defensor. Se as Raposas fizessem sua lição de casa direitinho, Beckstein não chegaria antecipadamente para intervir um possível gol. Mais importante, Wymack só tinha dado as alturas dos Longhorns uma vez: quando lera pela primeira vez a escalação da UT. Essa estatística foi impressa nos panfletos da primeira rodada que Wymack distribuiu na semana passada, todavia, Andrew tinha enchido seu armário com os papeis na primeira oportunidade que teve. Neil não o tinha visto retirá-los de lá dês de então.

Andrew estava completamente absorto quando Wymack informou a escalação dos Longhorns, mas ele ouvira cada palavra e as absorvera. Fora exatamente assa absorvição perfeita que os salvou em sua partida contra o Belmonte no outono passado. Wymack tinha feito um comentário descartável sobre cobranças de pênalti durante o intervalo. O jogo nem sequer foi aos pênaltis, com tão poucos segundos no relógio e pressão massiva sobre o atacante de Belmonte para empatar o placar, Andrew sabia que o atacante faria algo familiar. E ele bloqueou um tiro super veloz sem vacilar.

Neil olhou para Kevin, depois para Wymack, imaginando por que ninguém lhe dissera que Andrew tinha uma memória fotográfica, imaginando se eles sabiam. Ele não podia deixar de fazer outro teste. Mentalmente pensou na escalação da linha ofensiva dos Longhorns e se estabeleceu em uma atacante do quinto ano.

– Qual é a altura da Lakes?

– Só levantar a cabeça –, respondeu Andrew.

– Me faça um agrado, só desta vez –, disse Neil. Andrew começou a se afastar, então Neil enfiou os dedos enluvados na cabeça da raquete de Andrew e deu um puxão cuidadoso. Tentou novamente com insistência: – Qual é a altura dela?

– Um e sessenta e sete? – Matt tentou adivinha.

– Um e setenta e quatro –, refutou Andrew.

– Foi perto disso. – Matt deu de ombros com apatia.

Neil largou a raquete de Andrew em favor de segurar a sua.

– Nos vamos vencer.

– Por acaso você estava esperando que nós perdêssemos? – perguntou Dan.

– Não –, admitiu Neil. Seus lábios se contorceram, e ele soube pelo forte puxão em sua boca que estava usando o sorriso de seu pai. Ele pressionou a lateral de sua luva no rosto, quase esmagando os dentes contra seus lábios. Ele sentiu o gosto de sangue antes que fosse mais seguro retirar a mão dos lábios. Neil inclinou-se um pouco para trás e olhou além de Andrew, em direção a Riko. – Estou feliz por ele estar aqui para ver isso. Vamos ver se não conseguimos abalá-lo. 

– Vamos –, disse Wymack. – Enfim, imaginem que eu disse tudo de importante que precisava dizer, porque agora é tarde demais para terminar. A quadra foi aberta. Façam os exercícios habituais, o primeiro e terceiro. Eu falo isso sempre às vezes porque você me faz repetir o tempo todo: mantenha as bolas em nosso maldito lado da quadra, Andrew.

As Raposas pegaram o restante de seus equipamentos e se dirigiram para alguns treinos. Neil estava contente em ter calma, mais interessado em julgar o estado atual de seu corpo do que treinar com seu goleiro. Avistar Riko fez cada um de seus hematomas, agora curados, pulsar sobre sua pele, no entanto, nesse exato momento, ele mal sentia alguma coisa. A única coisa que importava era seu time e o modo como se moviam em seu derredor.

Eles tiveram que deixar a quadra para o arbitro atirar a moeda. Dan conseguiu o primeiro saque, e Wymack teve alguns segundos para reunir sua equipe antes das formações serem chamadas.

– Lembrem-se –, disse ele. – Só dois dos três avançam, e vocês não podem perder o primeiro jogo da temporada. Atacantes, consigam três pontos cada um ou vou inscrevê-los em uma maratona. Defensores, se vocês parecerem idiotas, vão fazer companhia a eles. Negociantes: serve para vocês também. Renee, jogue como você sabe. Andrew, leve três gols ou menos e eu vou te comprar o máximo de álcool que couber em seu armário.

O locutor chamou ambas as formações iniciais para a quadra.

 Neil tomou o sua posição na linha de meia-área e lançou um último olhar para Kevin. Por algum milagre, Beckstein estava na quadra diante de Kevin. Kevin respondeu seu olhar com um aceno de cabeça. Neil estava quase pulando quando a campainha tocou.

Por um tempo, a partida foi um jogo de ida e volta. Houve algumas colisões, alguns incidentes e mais do que algumas trocas de palavras rudes. Wymack estava certo em alertá-los sobre a negociante dos Longhorns. A garota que o Texas colocou como titular era rápida e suja. Ela e Dan se empurraram quase sem parar. Mesmo quando a bola estava do outro lado da quadra, eles batiam com seus bastões em um constante contato físico. A razão de Dan ter aturado tanto tempo antes de estourar, Neil não fazia ideia, mas esta passividade durou uns bons dez minutos.

Na jogada seguinte, em que a bola foi lançada para a negociante, Dan se agachou, curvando seu corpo em frente à negociante, a garota foi arremessada de pernas para o ar. Para piorar ainda mais a situação, ela ofereceu à garota caída uma mão enluvada para levantá-la. No segundo seguinte, elas estavam cara a cara com dedos apontados e em tons estridentes. Os árbitros cruzaram a quadra até a confusão, provavelmente para dar um cartão a Dan por seu golpe sujo, antes que outro jogador socasse Dan bem na boca. Dan estendeu as mãos se recusando a uma retaliação. Não fazia sentido, uma vez que havia conseguido o que queria. Ambas negociantes receberam cartões amarelos e os árbitros reiniciaram a jogabilidade a partir de uma posição neutra.

Essa quase briga foi a gota d’água, e o resto do primeiro tempo foi brutal. Neil estava todo dolorido no momento em que a campainha sinalizou o intervalo, mas não se importava com o quanto seu corpo doía. Andrew estava dentro da meta que Wymack lhe estipulou, ele perdera apenas dois gols. As raposas, por outro lado, já haviam conseguido quatro. Neil seguiu seus companheiros para fora da quadra durante o intervalo, passou por Wymack, que estava dispensando as repórteres, e andou pelo vestiário até que voltou a sentir seus pés. Abby levou-o a uma rápida avaliação em outra sala e Neil estava muito ofegante para acenar para ela.

Os Longhorns deram trabalho no segundo tempo, os jogadores receberam dois cartões vermelhos e cinco amarelados. Seu estilo de jogo dissimulado deixava as Raposas no limite, mas as Raposas sabiam que não deveriam revidar. Um cartão amarelo não os colocaria no banco, mas dois consecutivos os tirariam da partida e não sobraria ninguém para substituir.

Eles mantiveram a calma o melhor que puderam, mantendo um caminho cuidadoso em suas próprias transgressões numerosas, e acumularam o maior numero de pontos por pênaltis possíveis. No final, valeu a pena, porque o resultado final foi de sete a seis, a favo das Raposas.

Quando as Raposas saíram de quadra, Renee foi até Riko. Ela não era do tipo que se metia em brigas, então Neil parou para encará-la. Riko não pegou a mão que Renee ofereceu, mas Jean, sim. O aperto de mão durou um pouco demais, mas Neil não sabia qual deles foi mais lento ao soltar.

Neil pensou na reação estranha de Jean a Renee no banquete de outono, os rápidos olhares persistentes e a apresentação desconfortável. Era as lembranças que ele tanto buscava na semana passada, enquanto verificava suas mensagens no Reddin. Jean aceitara a crueldade de Riko e Tetsuji por não ter ninguém fora dos Corvos. Com nada mais para viver e nenhuma razão para lutar, ele abaixou a cabeça e se concentrou em sobreviver. Renee foi a primeira coisa brilhante a chamar sua atenção.

– Ele está interessado nela –, disse Neil, não era exatamente uma pergunta.

Kevin também os observava.

– Esquece. Não vai funcionar.

Renee dissera a Neil no outono passado que os Corvos não tinham permissão para namorar. Tetsuji não queria que sua equipe se distraísse do jogo. Renee sabia disso, mas ela estava lá de qualquer maneira. Neil estava pensando demais nas intenções dela, mas estava disposto a explorar qualquer ângulo que pudessem encontrar.

– Talvez não –, disse Neil, – mas poderia nos dar uma vantagem. Você ainda sabe o número dele? Dê a ela e veja o que ela pode fazer até as finais.

Dan e Kevin haviam concordado previamente em lidar com os repórteres depois do jogo. Neil estava feliz em deixá-los com os repórteres e seguir seus colegas alegres para o vestiário, mas ele não foi muito longe. Ele estava provavelmente a oito passos do banco antes que um repórter gritasse atrás dele.

– Neil, é verdade que você está na mira do time dos sonhos?

A coisa mais inteligente a fazer era continuar andando e fingir não ter ouvido sobre o som da multidão furiosa, mas Neil parou. Ele olhou para frente, considerando todas as maneiras de como não responder a isso. Finalmente ele se virou. A presença de Riko significava que Andrew estava a todo o momento ao lado de Kevin, mas o olhar de Andrew estava voltado para Neil depois dessa pergunta ousada. Neil inclinou a cabeça em um questionamento silencioso, e Andrew fez sinal para que ele fizesse o que quisesse.

Neil soltou as alças de seu capacete e dirigiu-se ao trio de repórteres. Andrew pegou o capacete de Neil enquanto passava por ele, e Renee pegou de Andrew enquanto ela se dirigia para o vestiário. Neil enfiou as luvas debaixo do braço e parou ao lado de Kevin.

– Sinto muito –, disse ele. – Você disse alguma coisa?

– Há rumores de que você foi convidado para integra o time dos sonhos.

O repórter dirigiu o microfone a ele, com os olhos fixos no rosto suado de Neil com curativo.

– Algum comentário sobre isso?

A primeira vez que alguém perguntou sobre as tatuagens de Riko e Kevin, Riko não tinha rodeios. Ele era o melhor atacante do jogo, ele disse, e ele queria que todos soubessem disso. A história mudou um pouco quando Jean fez sua primeira aparição pública com um "3" tatuado no rosto. Riko estava supostamente recrutando a futura seleção nacional dos EUA. Ele os intitulou de “Time dos sonhos” e, embora não fosse oficial e incrivelmente arrogante, seu talento e criação deram credibilidade à teoria.

– Ah –, disse Neil. – Você quis dizer isso.

Ele tirou o curativo do rosto e deixou os repórteres darem uma boa olhada em sua tatuagem. Um dos repórteres agarrou o seu cinegrafista para obter um close e Neil obedientemente inclinou o rosto para uma visão melhor. Ele estava com aquele sorriso novamente e dessa vez não tentou esconder. Os repórteres eram tão estúpidos, ou ansiosos demais por uma manchete, para decifrar a ameaça naquela expressão. Kevin não era tão cego e ele assobiou baixinho em francês tenso.

"Não provoque ele."

O desejo de sufocar a antiga vida de Kevin era tão feroz quanto fugaz. Neil não perdeu seu tempo olhando para Kevin, se dirigiu aos repórteres.

– É realmente impressionante, não é? Acho que é a primeira vez que Riko está errado. Ele sempre pareceu muito teimoso para admitir quando cometeu um erro.

– Você acha que ele cometeu um erro marcando você? – um repórter perguntou.

– Você não acha que merece o número? – outro disse ao mesmo tempo.

Neil surpreendeu-se com o mal-entendido.

– Eu não acho que ele mereça a gente –, disse ele, e gesticulou entre ele e Kevin, – mas isso é irrelevante.

– O que você quer dizer?

– Olha, eu vou ser honesto –, disse Neil. – Eu sei que Riko é ótimo. Todo mundo sabe. Graças ao nome de seu tio ele foi longe na vida e os Corvos têm um recorde impressionante. Mas Riko como pessoa é difícil de respeitar. Até que em Dezembro, eu percebi que ele era um maníaco egocêntrico que estava tão desesperado por sua própria glória que se recusou a ver o potencial em qualquer outra pessoa. Ele, claro, presumiu que eu era um zero à esquerda sem o direito de opinar.

– Neste Natal, tentamos nos encontrar e chegar a um acordo–, disse Neil. – Riko me convidou para treinar com os Corvos durante as férias, para que eu pudesse ver a discrepância entre nossos dois times. Foi isto que nos afastou.

Neil fez um gesto para a tatuagem na sua bochecha.

– Ele admitiu que estava errado sobre mim, e eu prometi cumprir as expectativas dele. Nós nunca vamos ser amigos e definitivamente nunca vamos gostar um do outro, mas trabalharemos isso pelo tempo que for necessário.

– Houve um boato que você pode se transferir para Edgar Allan.

– Isso foi mencionado enquanto eu estava lá –, disse Neil, – mas nós sabemos que isso nunca vai acontecer. Eu nunca vou ser bom o suficiente se eu jogar com os Corvos. Além disso, mal consegui tolerá-los por duas semanas. Nem consigo me imaginar jogando com eles por quatro anos. Eles são seres humanos horríveis.

– Sabes o que mais? – Neil prosseguiu antes que os repórteres pudessem responder. – Isso é insignificante. Eu disse que seria honesto, mas fui um pouco transparente demais. Digamos isso: nós prometemos uma revanche aos Covos nesta primavera, então eu irei torcer por eles até as finais. Se Riko achasse que não conseguiríamos enfrentá-los na final, ele não teria tatuado meu rosto ou voado até aqui para nos ver jogar hoje à noite. Ele sabe que temos uma chance. Ele ainda não descobriu que vamos ganhar na próxima vez que nos encontrarmos. Fiquem de olho em nós, tudo bem? Vai ser um ano emocionante.

– Boa noite –, disse ele quando começaram a fazer mais perguntas. Ele se virou e dirigiu-se ao vestiário como se não tivessem lhe chamado pelas costas.

A gargalhada encantadora de Dan dizia que ela estava lhe seguindo, porem ele não olhou para ver se Andrew e Kevin estavam com ela. A porta do vestiário bateu fechada atrás deles, abafando a maior parte do barulho da multidão, e Neil pode ouvir o mau-humor de Kevin. O temperamento de Neil se acendeu novamente e dessa vez ele não o reprimiu. Ele se virou e empurrou Kevin contra a porta o mais forte que pôde. Kevin tinha quase trinta centímetros a mais e poderia facilmente sobrepujar Neil em uma briga, mas ele estava assustado de mais para se defender. Dan ficou boquiaberta com Neil. Andrew, que atacou Matt por bater em Kevin, deu um passo para fora do caminho. Nenhum deles iria interferir, então Neil os ignorou em favor de Kevin.

– Chega –, disse Neil, em rápido e furioso francês. – Nunca mais tente me censurar de novo. Eu não vou deixá-lo ditar como eu vou terminar.

– Você vai jogá-lo contra todos nós –, atirou Kevin de volta.  – você não pensa.

– Você também não está pensando. Você não pode mais ter medo dele.

 – Medo não é um interruptor que você ligar e desligar quando quer. De todas as pessoas, você deveria sabe muito bem disso. – Kevin finalmente empurrou Neil, mas ele não tentou passar por Neil. – Você não cresceu com ele. Você não pode me julgar.

– Eu não estou te julgando. Estou te dizendo que já passou da hora de se defender. Qual é o objetivo disso se você ainda continua sendo animal de estimação dele no fim das contas? Se você realmente acreditasse em nós – se você realmente acreditasse em si próprio – você revidaria.

– Você não entende.

– Não mesmo –, replicou Neil calorosamente. – Você tem uma saída. Você tem um futuro. Então por que você não aceita? Por que você está com tanto medo de agarra-lo?

Assim a raiva foi se desfazendo, quebrando o peso da precoce e necessária dor. A forma como a expressão de Kevin mudou de irritada para concentrada mostrava que ele ouvira aquele resquício de rouquidão nas palavras de Neil. Neil lutou para segurar sua raiva e continuou disparando.

– Quando descobri pela primeira vez tudo sobre o Moriyamas, eu fiquei, fiquei porque achei que você tinha uma chance. Um de nós teria que ser algo a mais e eu queria que fosse você. Mas você ainda acredita nesse número em seu rosto. O que há de tão importante em ser o segundo melhor?

Kevin olhou para Andrew, não que o Andrew pudesse tomar para si este argumento. Acabou que não era qualquer pedido, porque Kevin disse:

– Quando tentamos recrutar Andrew para os Corvos, ele disse a mesma coisa. Ele disse que eu não o interessava porque fiz carreira sendo o segundo. Eu não quero isso, mas eu não sou como você. – O olhar que Kevin lançou a Neil era frustrado, mas a raiva era mais para si mesmo do que qualquer outra coisa. – Eu sempre pertenci a Riko. Eu sei mais do que ninguém o que acontece quando se desafia um Moriyama

– Você sabe –, concordou Neil. – Mas eles já tiraram tudo de você. O que mais você tem a perder?

Kevin não respondeu. Neil deu-lhe um minuto e depois se virou.

Wymack estava esperando no final do corredor, braços cruzados e um cigarro apagado pendurado entre os lábios. Ele levantou uma sobrancelha quando Neil se aproximou.

– Não sei se você se lembra, mas vencemos –, disse Wymack. – Alguma razão em particular para você está tentando acabar com o bom humor?

– Apenas uma diferença de opiniões –, disse Neil, com a maior calma que conseguia. Ele hesitou próximo a porta do vestiário e olhou para Wymack. – Ah, e me desculpe antecipadamente pelos repórteres. Em minha defesa, foram eles que começaram.

– Ai, Cristo –, lamuriou Wymack. – O que você fez desta vez?

– Ele disse que Riko era o babacão da primeira divisão –, disse Dan. – Não nessas palavras, mas acho que eles entenderam o recado.

Wymack pressionou um dedo no canto de sua testa.

– Eu deveria ter pedido um adicional por periculosidade quando aceitei esse trabalho. Fora, fora, fora. Não vou lidar com seu distúrbio de comportamento até que eu tenha enchido a cara. Isso vale para o resto de vocês também. Sumam da minha vista e tomem banho. Se vocês não estiverem na van com o equipamento em vinte minutos eu vou deixá-los aqui. E, eeei –, gritou ele antes que eles pudessem se espalhar. – Bom trabalho por esta noite.

Ele havia dito só vinte minutos, mas Neil desperdiçou dez no chuveiro. Ele ligou a água bem quente e não se importou que escaldasse sua pele. Ele escreveu seu nome nas paredes de azulejos com as pontas dos dedos, repetidamente até sua mão ficar dormente.


1 Comentários

  1. Como eu amo o Niel afrontoso kkkkkk
    E o Andrew só observando hahahah

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