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The King's Men - Capítulo Seis [Página 2]


Wymack foi embora, e Andrew esperou em silêncio por seu retorno. Neil olhou entre Andrew e Aaron. Andrew, assim como Nicky, voltou sua atenção para o carro destroçado. Aaron ainda estava olhando para Andrew, como se a resposta à criação do universo estivesse fora de alcance. Kevin tinha ficado fora do caminho durante toda a briga, mas agora ele finalmente avançou e assumiu um posto ao lado de Andrew.

Wymack tinha ido embora por um tempo, mas finalmente tinha retornado para eles. Queria falar sobre outro assunto quando disse que colocaria a briga das Raposas em espera. Nada disse sobre a violência de Andrew ou o estado de Allison. Em vez disso, deu uma longa olhada no carro de Andrew e puxou um cigarro.

Andrew estendeu a mão, em expectativa, assim que foi aceso. Wymack entregou sem hesitação e acendeu outro para si.

– Bem –, arfou Wymack, – pelo menos você atualizou sua apólice de seguro no ano passado.

– O bem que nos faz. – Nicky enfiou as mãos nos bolsos e chutou o para-choques torto do carro. Essa bagunça não pode ser consertada. Mesmo que arranquem e substituam todo o interior, eu não vou conseguir entrar nele sem ter calafrios. Você viu a raposa morta, treinador? Eles colocaram um animal morto no nosso carro. Ugh.

– Imundos –, reclamou Aaron.

Neil ficou perdido no momento em que o reparou nos polícias. Eles estavam apenas a dois carros distantes de Andrew agora. Neil não ficou tenso ao vê-los, mas foi uma coisa quase que semelhante. Ele arrastou seu olhar para longe sem tentar ser óbvio, mas a vista não era muito boa na outra direção.

 – Câmeras, também –, sussurrou ele.

Momentos depois, a polícia isolou o estacionamento e repassou as informações para os treinadores que chegam. Duas vans da imprensa foram paradas do lado de fora da linha de isolamento, e os repórteres tiraram fotos da cena sombria.

Os policiais foram até eles alguns minutos depois. Um dos agentes fez o percurso lentamente, anotando o número da placa e, presumivelmente, anotando descrições dos danos externos. Em sua segunda volta, ele tinha uma câmera com sigo, e afastou as Raposas fora de seu caminho com uma mão impaciente para que pudesse obter bons registros. O outro policial varreu-os com um olhar cansado, com a caneta prontamente sobre seu bloco de notas, e perguntou:

– De quem é este carro?

– Nosso –, disse Nicky, levantando a mão. – Bom, tá no nome de Andrew, mas eu também estou na apólice do seguro. Somos primos, veja. Nicky Hemmick e Andrew Minyard, quarto 317. Você precisa de um documento ou qualquer coisa? Eu posso te dizer onde encontrar, porque eu realmente prefiro não chegar perto. Olhe dentro do carro e você entenderá o porquê. Não, sério, não olhe lá dentro.

O policial deu uma olhada para o carro, mas não disse nada sobre seu estado deplorável. Neil imaginou que ele tivesse parado de se importar com sessenta atletas irritados, horas atrás. Pois tudo o que ele disse foi:

– Você viu ou ouviu algo incomum na noite passada ou hoje de manhã?

– Sexta à noite em um campus universitário –, disse Nicky com um encolher de ombro sincero. – Nós ajustamos a rotina, se quisermos dormir. Além disso, o nosso quarto está virado para frente do edifício.

– E você? – o policial perguntou ao Aaron.

– Não –, respondeu Aaron.

O policial olhou para Andrew por último. Andrew olhou para trás num silêncio indiferente e deu uma tragada lenta no cigarro. Nicky apenas deu a ele alguns segundos antes de responder por Andrew.

– Nós descobrimos juntos. Renee nos acordou quando ouviu a notícia. Uh, Renee é nossa companheira de equipe. – Nicky deu de ombros ao olhar que o policial deu a ele. – Sim, desculpe. Andrew não fala com policiais. É uma longa história e completamente irrelevante. O que mais vocês precisam saber?

O policial só tinha mais algumas perguntas, algumas das quais ele direcionou a Andrew, apesar do aviso de Nicky, e o resto foi dividido entre Nicky e Aaron. Andrew parou de prestar atenção à coleta de depoimentos e, em pouco tempo, deixou seu olhar vaguear. Nicky respondeu o questionário o mais rápido que pôde e, ao final, os policiais seguiram em frente.

Alguns agentes de seguros apareceram no local para verificar em primeira mão a bagunça e conversar com os atletas que fossem seus clientes. A mulher representante da agência de Andrew parecia ter lido uma colinha, pois já chegara cumprimentando os primos pelos nomes e expressou simpatia por passarem pela situação uma segunda vez. Enquanto ela tagarelava e tomava notas e fotos, caminhões de reboque entraram em cena e começaram o lento processo de transportar todos os carros para as lojas de reparos.

– Nós pagaremos a conta dos alugueis de carros e vans por uma semana –, disse Wymack quando ela correu para seu próximo cliente. – Vou pegar os dois que precisamos em alguma hora, hoje. Pode levar um tempo até a loja procurar vocês –, ele apontou, indicando a enorme tarefa que os mecânicos teriam, – então, me avisem assim que chegarem. Eu posso estender o prazo dos carros se for preciso.

– Sim, treinador –, disse Nicky.

– Esperariam alguns minutos? – perguntou Wymack e, ao aceno dos garotos, foi em busca do resto de sua equipe.

Não havia muito que fazer, a não ser esperar. A polícia levou mais de uma hora verificando todos os atletas e caminhões de reboque, tempo esse que causou um desgaste notável em sua carga de trabalho. Wymack voltou quando os policiais terminaram de conversar com Allison e Matt.

Os veteranos logo atrás dele, para a surpresa de Neil. Dan e Matt ainda pareciam um pouco zangados, porem todos pareciam mais cansados ​​do que qualquer outra coisa. Allison fez questão de confrontar o olhar de Andrew, uma declaração silenciosa de desafio e destemor.

– Andrew e eu vamos pegar alguns lanches para todos –, avisou Wymack. – Alguma preferência?

Neil duvidou que alguém estivesse com fome depois de vagar pelo estacionamento fedorento durante toda a manhã, mas ninguém recusaria comida de graça. Fizeram uma votação sem entusiasmo e Andrew seguiu Wymack. As Raposas se entreolharam em um silêncio constrangedor. Finalmente, Neil arriscou um olhar para Allison. Ele abriu a boca, precisando e querendo dizer o que deveria ter dito meses atrás, mas durante todo esse tempo ele ainda não tinha as palavras certas.

– Obrigado –, Allison agradeceu rigidamente.

Era tão imérito que Neil logo disse:

– Eu sinto muito.

Era terrivelmente inadequado pelo o que ele acabara de despejara sobre ela, o que certamente custaria a todos, decidindo ficar, mas era tudo o que ele tinha a dizer. O olhar que Allison lhe enviou dizia que ela sabia pelo que ele estava tentando se desculpar. Ela torceu os lábios, como se não tivesse certeza da resposta que deveria desperdiçar sobre ele. Antes que ela pudesse se decidir, Dan começou.

– Nós sabíamos que recrutando vocês teríamos problemas –, disse ela, olhando de Aaron para Nicky. – Nós os aceitamos apesar dos rumores e das queixas porque acreditávamos em vocês. Nós os defendemos, ficamos ao lado de vocês e perdoamos várias merdas que ninguém mais aturaria. Nós tentamos ser seus companheiros de equipe, tentamos ser seus amigos, várias e várias vezes tentamos nos aproximar. Mas tudo tem seu limite. Se vocês ultrapassarem isso novamente, está acabado. Vocês não, não vão –, disse ela novamente com ênfase feroz, – machucar mais ninguém nesta equipe novamente. Estamos entendidos?

A alegria característica de Nicky tinha desaparecido. Parecia quase derrotado quando olhou entre Dan e Allison.

– Eu entendo, e você está certa, mas eu sinto muito. Eu não posso prometer nada. Andrew... Andrew. Nós não conseguimos prevê-lo ou tão pouco controlá-lo.

– Ele consegue –, disse Matt, apontando o queixo para Neil. – Por que você não consegue?

– Menos instintos de sobrevivência? – Nicky tentou adivinha, mas sua tentativa humorística falhou.

– Mais –, corrigiu Neil, sabendo que Nicky não entenderia.

Matt voltou-se para Neil, sua expressão era intensa.

– Nem Renée estava conseguindo convencê-lo. O que você disse a ele para fazê-lo parar? Caso não esteja por perto da próxima vez, alguém precisa saber como proceder.

Neil não conseguia explicar sem entrar em assuntos que não eram da conta deles.

– Não deixe que haja uma próxima vez.

– Neil, estou falando sério –, insistiu Matt.

Neil sacudiu a cabeça.

– Eu também.

– Allison –, disse Kevin. – Ele te machucou?

Allison conhecia Kevin muito bem para supor que ele estivesse preocupado com seu bem-estar. Ela enviou-lhe um olhar descontente e não respondeu. Kevin interpretou o silêncio como bem quis e enviou um olhar considerando Neil. Depois de um momento, ele estendeu a mão e cobriu a tatuagem de Neil com o polegar. O resultado o fez franzir a cenho, não em desapontamento, mas em confusão, e Kevin abaixou a mão novamente. Neil esperou, mas Kevin nada mais disse.

– Vamos entrar –, disse Dan, e as Raposas desanimadas marcharam para dentro.

Aaron, Kevin e Nicky desapareceram no quarto. Neil colocou uma mão entre a porta antes que Nicky pudesse fechá-la atrás deles. As garotas seguiam Matt para seu quarto mais ao fundo, mas levou apenas um momento para perceber que Neil não os seguia. Neil levantou um dedo prometendo que ficaria bem e passou por Nicky. Nicky fechou e trancou assim que Neil estava seguro lá dentro.

Aaron caiu em um dos pufes e não se incomodou em olhar para cima quando Neil parou na sua frente. Neil enfiou as mãos nos bolsos para não usá-las em Aaron e se agachou. Aaron torceu o lábio para Neil, sem remorso e desafiador. Neil cerrou os punhos. Ele tentou contar até dez em sua cabeça, mas só chegou a seis.

– Só diga que você não é tão idiota –, disse Neil.

– Este quarto não é seu –, disse Aaron. – Vaza.

– O que ele prometeu a você? – exigiu Neil, ignorando aquilo. – Ele não prometeu te manter seguro. Porque se tivesse, ele não teria deixado Kevin ficar no ano passado. Então, de que ele prometeu protegê-lo? – Ele deu há Aaron um minuto para cooperar antes de adivinhar. – Ele mudou-se para sua casa e descobriu que a sua mãe te batia. Ele disse que se você não pudesse se defender de uma mulher, ele poderia defendê-lo. Não foi? Tudo que você tinha que fazer em troca era ficar com ele até a formatura.

 – Não interessa.

– É claro que é isso –, retrucou Neil. Aaron fez uma cara feia, mas desistiu de negar. – Você sempre soube o motivou dele a matar sua mãe. Por que me fez soletrar para você?

– Não –, argumentou Aaron imediatamente. – Isso não tem nada a ver comigo. Ele fez essa promessa em sua segunda noite em casa com a gente, mas ele esperou cinco meses para matar nossa mãe. Você não viu as marcas que ela deixou nele naquela noite, quando ela pensou que ele fosse eu.

– Andrew não se importava que ela o machucasse. Ele se importava que ela machucasse você. Só demorou tanto tempo porque os “acidentes” levam tempo para se planejar.

– Você não sabe de nada.

– Claro que sei. Se você tivesse prestado atenção em como ele te tratou em Columbia –, disse Neil. – Você sabia antes que eu o porquê dele ter feito aquilo com Allison. O único que pode parar isso é você. Descubra o que você tem que fazer – o que você tem que perdoar – para ele te deixar em paz.

Ele saiu batendo a porta atrás de si, mas ficou congelado no corredor, sabendo que não deveria voltar para os veteranos em um humor como este. Não era a hora nem o lugar para isso, não com a equipe já tão frágil, mas o temperamento de Neil nunca tivera um bom controle. Ele não sabia ao certo com quem estava mais irritado: Aaron, por ser tão incrivelmente cego, ou com sigo mesmo, por não juntar as peças mais cedo. Por sinal, estar bravo com Nicky e Kevin, por serem tão inúteis, também não ajudou.

Ele não conseguia se acalmar, então, fez a única coisa que pôde: desceu as escadas para o andar térreo e correu. Ele não estava pensando no estádio, mas ele inevitavelmente acabou lá. Ele largou as chaves no banco de reserva assim que passou por este e correu sob os degraus do estádio. No meio do percurso, ele finalmente havia esquecido seus pensamentos. Tinha parado de sentir, deixado de ser "Neil", deixado de ser tudo, menos um corpo em movimento. Depois, voltou ao pátio interno. Cada respiração ofegante parecia quente demais em seus pulmões tensos, mas Neil finalmente se sentiu normal novamente.

Ele recolheu as chaves na saída e trancou-a atrás de si. Foi uma caminhada lenta de volta para a Fox Tower e ele tomou as escadas para o terceiro andar. Matt estava no sofá em seu quarto, Dan de um lado e Renee no outro. Allison estava em uma das mesas. Todos olharam para a porta quando ele entrou e pelos olhares em seus rostos Neil teve a sensação de ter interrompido uma conversa importante. Levantou uma mão a caminho do banheiro, um pedido de desculpas silencioso pelo mau momento e uma promessa que ele estaria fora do alcance da voz, no chuveiro por um breve momento.

– O almoço está na geladeira –, disse Matt. – O treinador deixou lá enquanto esteve fora.

Neil tinha esquecido tudo.

– Valeu.

Ele abriu o armário para pegar roupas, mas hesitou ao ver o seu cofre. Ele se agachou para passar os dedos sobre a fechadura, pensamentos girando a milhões de quilômetros por hora. Indagou-se sobre a quantia que à companhia de seguros cobriria nos reparos dos carros de seus companheiros de equipe. Mesmo que não cobrisse tudo, Allison e Matt tinham dinheiro suficiente para pegar o resto. Os primos não tinham esse dinheiro, e o carro deles era quase tão caro quanto o da Allison. Nicky já tinha previsto que eles teriam más notícias sobre esse assunto.

O arrastar de um sapato no carpete fino o distraiu. Ele se inclinou para trás, distanciando-se do armário para olhar. Allison estava de pé na porta, expressão contida e braços cruzados em seu peito.

Neil ainda não sabia o que dizer a ela, mas ele tinha que tentar.

– Sinto muito. Ele não merecia.

Allison ficou em silêncio por uma eternidade, então disse:

– Você já se lamentou. Se tivéssemos o que queríamos, não seríamos raposas. – Suas palavras soaram insensíveis quando aplicadas à morte de Seth. Neil estremeceu, mas Allison deu de ombros e desviou o olhar. – Talvez seja melhor assim. Se ele tivesse feito isso a si mesmo, eu viveria sabendo que nunca tinha o convencido a nada. Pelo menos desta forma, há outra pessoa para levar a culpa.

– Andrew te contou sobre Riko?

 – Soube desde quando aconteceu –, respondeu Allison. – O monstro passou pela casa da Abby antes do funeral para me perguntar sobre o remédio do Seth. Ele me contou sua teoria para ter certeza que eu voltaria a jogar.

Neil se lembrou de Allison voltando a jogar precocemente após a morte de Seth, e da forma como Andrew parou ao seu lado no caminho para o gol. Ele achara suspeito: Andrew oferecer qualquer tipo de apoio naquela época. Talvez Andrew estivesse lembrando-a de ficar furiosa.

Allison parou de falar com Neil por semanas após a overdose de Seth. Neil pensara que seu distanciamento fosse por causa de sua dor. Ele encolheu seu ombro frio, inseguro, sem saber como se aproximar dela com sua consciência culpada. Se ela sempre soubera a teoria de Andrew, então ela sempre soubera a parcialidade de culpa que Neil tinha. Talvez fosse por isso que Andrew se envolvera: ele já tinha tomado Neil sob sua proteção até então, no entanto, ainda precisava ter certeza de que Allison não seria um problema para eles.

Em alguma parte ao longo do caminho ela havia o perdoado e Neil nem tinha percebido.

– Eu deveria ter dito algo mais cedo. Eu só não...  – Neil gesticulou, impotente, perdido e se sentido horrível.  – Eu não sei como falar com as pessoas sobre coisas importantes.

– Nós percebemos. – Allison deu de ombros como se não fosse grande coisa, quando ambos sabiam que era. – Você é uma verdadeira figura*. Um dia desses, você vai ter que me contar o porquê.

Ela voltou para a sala, deixando Neil sozinho com seus pensamentos e segredos.


* (FIGURA: Qualquer pessoa considerada tendo comportamento diferente e engraçãdo)





3 Comentários

  1. MUITO OBRIGADA MESMO POR ESTÁ TRADUZINDO

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  2. Morri de rir com o gatinho de raquete.
    Uma coisa: Niel tá sempre se escondendo e mentindo e odeia quando se metem na vida dele...
    Mas ele vive fazendo o mesmo! Achando que sabe de titu... Tentando resolver os problemas dos outros.
    Meu Deus.

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