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The King's Men - Capítulo Dezesseis [Parte 2/2]


TRADUÇÃO: THIAGO
REVISÃO: THIAGO

– Obrigado –, agradeceu Wymack, em um tom que claramente mostrava estar mais chateado pela teimosia do que grato pelo apoio. – Agora que já está resolvido, eu tenho outra coisa a dize, contanto que eu tenha todos do meu lado. Vocês precisam saber antes de verem nos noticiários.

– O que mais agora? – Perguntou um dos curadores.

– Recentemente fui surpreendido com a notícia de que tenho um filho –, disse Wymack. Mantendo seu tom e expressão neutra, embora parecesse tenso em sua cadeira. – Estou agendando um teste de paternidade agora que estamos de volta ao campus, porque quero as documentações nos conformes.

– Meus parabéns –, alguém disse, soando mais obrigatório do que qualquer outra coisa.

Wymack abriu a boca, fechou-a e tentou novamente.

– É o Kevin Day.

O silêncio que se seguiu foi profundo. Finalmente alguém conseguiu irrompê-lo.

– Como é?

– Ele me contou na semana passada. Ele estava... inspirado –, disse Wymack depois de uma breve busca por palavras, – por causa da situação de Neil, para ser mais claro. Estou lhes contando porque ele pretende ir a público esta semana. Vamos usá-lo para ajudar a combater a criticas negativa em torno de Neil. Gostaria de deixar claro que essa descoberta não terá impacto no meu treinamento.

– Entendido –, disse uma mulher, parecendo insegura, pouco antes de outro argumento irromper. Este foi mais curto, focado principalmente em como a universidade reagiria publicamente às notícias. Finalmente, tudo fora despejado e a conferência chegou ao fim. Enquanto cada pessoa desligava, a linha apitou, indicando a saída dos presentes. Whittier esperou até todos estarem off.

– Isso foi inesperado –, confessou Whittier, com um longo olhar para Wymack. Neil considerou que ele estivesse procurando por um sinal de que Wymack estivera guardando esse segredo há anos em vez de uma semana.

Wymack não teve dificuldade em interpretar esse olhar, mas em vez de declarar sua inocência, simplesmente disse:

– Acima de tudo sou o treinador.

Whittier assentiu com a cabeça.

– Falando de presidente para treinador, é exatamente o que eu quero ouvir e espero que você mantenha sua palavra. Falando de Chuck para David, me desculpe. Não deve ter sido uma descoberta fácil.

– Obrigado –, disse Wymack depois de um momento.

Whittier levantou-se e acompanhou-os até a porta. Wymack trouxera Neil ao dormitório, de carona. Neil enviou-lhe um olhando através da janela, se perguntando se deveria dizer alguma coisa. No final, decidiu confiar em Abby e Dobson para ficar de olho em Wymack. Ele se contentou com um seco “obrigado” quando Wymack o deixou na calçada, e não olhou para trás antes de entrar.

***

Segunda-feira significava aulas, embora Neil estivesse feliz em sua cama. Seus hematomas atraíram olhares mais persistentes do que poderia suportar, e alguns colegas de classe foram ousados o suficiente para pressioná-lo por fofocas. Não havia sentido em mentir sobre, mas ninguém dissera que deveria contar a verdade também. Ele ignorou todas as perguntas com um insistente:

– Não quero falar sobre isso, – que ficava mais forte toda vez que alguém ignorava o aviso.

Quando o sinal tocou ao final de sua última aula, o alívio que Neil sentiu quase o paralisou. Saiu da sala e seguiu os alunos barulhentos para fora do prédio e desceu as escadas. Deixou uma distância significativa do prédio antes que alguém o parasse. Neil estava acostumado a se esquivar de corpos no campus, então se esquivou com cuidado e continuou andando.

Um homem o chamou durante sua passagem.

– Pare ai.

Neil realmente não pensou que seria abordado, olhar para trás foi instintivo. Ele se arrependeu imediatamente e se arrepiou, fazendo uma parada brusca. O homem que falara era japonês, mais velho do que os estudantes estrangeiros que passavam por eles, vestido casualmente para não se destacar. Ele considerou Neil, como se fosse a ruína de sua existência e fez um gesto, não em convite, mas uma ordem.

– Estamos de saída.

Neil quase perguntou para onde eles estariam indo, mas pensou melhor no último segundo. Ele seguiu o estranho até o estacionamento da biblioteca. Um carro estava estacionado na calçada e Neil entrou no banco de trás quando alguém abriu a porta para ele. Sua escolta fechou a porta ás suas costas e sentou-se no banco do passageiro.

Ninguém disse uma palavra.

Neil olhou pela janela, observando onde estavam indo, para o caso de precisar encontrar o caminho de volta, mas não se prolongou em pensamentos. Eles o levaram para o canteiro de obras do outro lado do campus. Neil enxergou carros estacionados e equipamentos inativos. Nenhum operário a vista, Neil preferiria algumas testemunhas.

Havia apenas mais outro carro, estacionado nos fundos. O motorista estacionou ao lado do carro onde estava e desligou o motor, ninguém se mexeu. Neil percebeu a insinuação depois de um minuto de silêncio, tenso, e saiu. A porta a sua frente estava destrancada. Ele abriu, porém, hesitou ao entrar assim que viu quem estava a sua espera.

À primeira vista, não se parecia muito com Ichirou Moriyama. Sua roupa de seda preta ostentava sua riqueza excessiva, entretanto sua característica jovial enfraquecia tal pretensão. Ele só tinha alguns anos a mais que Neil, sua genética o fazia parecer ainda mais jovem. Parecia apenas outro homem de negócios esperançoso, talvez, outro jovem CEO rico vivendo uma vida de extravagâncias. Neil se enganou por um segundo: momento esse que o levou a encontrar os olhos de Ichirou.

Não era como o pai de Neil, com seu temperamento, capangas e má reputação. Não era como Riko, com sua crueldade egoísta e suas birras infantis. Era um homem que poderia manter ambos sob controle com apenas um olhar, um homem criado para governar. O poder dos Moriyamas em vida, vívido e, com a morte de seu pai, sentado sozinho e intocável em seu trono.

Neil considerou se virar e ir embora, mas suspeitou que fosse uma boa maneira de levar um tiro pelas costas. Não sabia o motivo de sua presença, pois nem mesmo Riko conhecera seu irmão pessoalmente, no entanto sabia que um passo em falso anularia a trégua esperançosa de seu tio.

Neil desesperadamente buscou em sua memória, procurando algum conselho sobre como lidar com esse encontro. Neil não poderia enfrentar Ichirou como Neil Josten; teria que enfrentaria Ichirou como um Wesninski. Cada palavra deveria ser a verdade, e esta tinha que ser a maior mentira que Neil já havia dito. Ele engoliu suas dúvidas e o primeiro lampejo de pânico e disse, com muita cautela:

– Posso entrar?

Ichirou moveu dois dedos, em comando silencioso, e Neil entrou no carro. Fechou a porta atrás de si, com firmeza, mas não forte, e fixou seu olhar no ombro de Ichirou.

– Sabe quem eu sou? – Ichirou perguntou.

– Sim –, assentiu Neil, e hesitou por meio segundo enquanto encontrava o título apropriado. “Senhor” não tinha o respeito necessário, mas Kevin havia se referido a Kengo mais de uma vez como “Mestre”. Era um termo obsoleto e desajeitado, mas tudo o que tinha naquele momento. – Você é o Senhor Moriyama.

– Sim –, disse Ichirou, com uma calma moderada na qual Neil não confiava nem por um segundo.

– Deve saber que meu pai está morto? Não ouvi seus pêsames ainda.

– Oferecer meus pêsames soaria presunçoso –, disse-lhe Neil. – Indicaria que o Senhor valoriza minhas palavras, mas sou apenas um ninguém.

– Você não é um ninguém –, disse Ichirou. – É por isso que estou aqui. Entende.

Não foi uma pergunta, mas Neil abaixou a cabeça e disse:

– Meu pai foi morto pelas mãos do meu tio e o FBI está investigando o que restou de seu círculo. Sou uma ponta solta que deve ser tratado de qualquer forma.

– Posso dar um fim nisso –, disse Ichirou, e Neil acreditou nele. Não importava que o FBI já tivesse caixas cheias de depoimentos e nomes fornecidos por Neil. Se Ichirou quisesse que histórias morressem e rumores fossem encobertos, ele poderia fazê-lo com alguns telefonemas e dinheiro suficiente. – Em vez disso, estou aqui. Gosto de saber o valor das coisas antes de jogá-las fora, para saber como compensar a perda.

– Já não tenho valor agora –, disse Neil, – mas, se tivesse tempo e oportunidade conquistaria de volta, eu pagaria à sua família pelas inconveniências que causei. Um jogador regular profissional ganha três milhões de dólares por ano. Não preciso de todo esse dinheiro. Deixe-me doar para sua família. Posso encaminhá-lo através de transições e instituições de caridade que você tenha herdado.

– Uma tentativa sutil de comprar sua liberdade.

– Meu senhor –, disse Neil, – estou tentando corrigir um erro e cumprir uma promessa quebrada. Eu deveria pertencer ao seu tio, para ser um Corvo. Meu potencial de renda sempre pertenceu a vocês. Voltei a jogar Exy assim que minha mãe morreu, porque conheço meu propósito.

– E, mesmo assim, não voltou para o meu tio –, retrucou Ichirou.

Parecia um teste, onde uma falha significaria a morte. Neil conhecia uma resposta segura, mas um pensamento perigoso queimou sua língua. Seu pai servira Kengo, para manter tanto um território como poder, Kengo teria de confiar nele. Nathan tinha por direito levar ameaças e possíveis complicações para a atenção de Kengo. Neil não tinha essa autoridade, porém ele tinha que tentar.

– Sei que você não tem nenhum motivo para confiar na minha palavra –, disse Neil, com muito cuidado, – e sei que não mereço sua atenção ou consideração. Mas sou um Wesninski. Minha família é sua família. Por favor, acredite em mim quando digo que eu nunca arriscaria a segurança do seu império. Jogar em Edgar Allan vai contra tudo o que minha família deveria representar.

Ele hesitou, como se tivesse medo de continuar e cruzar uma limite frágil. Ichirou esperou que ele tomasse uma decisão. Neil desejou poder ler alguma coisa, qualquer coisa, no rosto de Ichirou, no entanto sua expressão era serena e seu tom não mudara desde que essa conversa horrível começara. Neil não sabia se estava traindo Ichirou, e se faria diferença, mesmo que pudesse.

Neil, finalmente, respirou fundo e disse:

– Seu irmão vai acabar com tudo o que é seu, a menos que alguém o coloque rédeas.

Foi o suficiente para ganhar um leve sorriso de Ichirou. Foi tudo o que Neil pôde fazer para não estremecer quando Ichirou disse:

– É muita ousadia.

– Sim –, concordou Neil, – mas é a verdade.

Ichirou não disse nada por tanto tempo que Neil se perguntou se deveria sair do carro e ir embora. Finalmente, Ichirou gesticulou para ele continuar.

– Riko passou toda a sua vida com o objetivo de ser o melhor jogador – disse Neil –, quando sente que sua superioridade está ameaçada, ele ataca sem se preocupar com as consequências. Ano passado foi a prova de sua crescente instabilidade.

– Kevin Day foi o segundo maior investimento de seu tio, mas Riko o arruinou por causa de seu orgulho ferido. No início de seu segundo ano, Kevin tinha uma fortuna de sete dígitos com seu contrato, um lugar na seleção nacional e privilégios. Ele poderia ter ganhado para sua família vinte milhões por ano após a formatura. Agora Kevin está começando do zero.

– Riko matou um dos meus companheiros de equipe em agosto e confessou em público –, expôs Neil. – Em novembro, ele interferiu no o sistema judicial em Oakland e deixou um rastro de dinheiro da Califórnia até a Carolina do Sul, tudo para ferir um outro companheiro de equipe, e, em dezembro comprou um psiquiatra no Easthaven, em Columbia, para continuar com a tortura. No feriado Natalino, devolveu minha aparência natural para que os capangas do meu pai pudessem me encontrar e me matar. Ele armou o confronto em Maryland, que terminou com a morte do meu pai e toda essa investigação federal.

– Na semana passada, ele reagiu à morte de seu pai, espancando um de seus colegas de equipe e por pouco não o matou. Ele tem sorte por ter sido Jean Moreau, Jean conhece sua família e nunca deporia contra Riko. Mas Jean está sob nossa custódia. Agora, enquanto ele se cura, a Universidade de Edgar Allan começou uma investigação silenciosa sobre os Corvos. Vão descobrir sobre o trote e seu tio será responsabilizado. O que aconteceria se tropeçassem em evidências das manipulações de Riko durante essa investigação?

– Não estou dizendo que seu irmão está fora da linha –, mentiu, – só não está sendo cuidadoso. Ele continua porque se sente ameaçado, mas há muitas pessoas de olho em nós agora. Vão chegar até ele, tenho medo do que vai recair sobre você. Não posso me juntar tendo tantos riscos, então não posso jogar pelo seu tio em Edgar Allan. Sinto muito.

Outro silêncio sem fim se seguiu. Pareceu que um dia, uma semana, um ano, haviam se passado antes Ichirou dizer:

– Me olhe nos olhos e escute com atenção. – Neil arrastou o olhar para o rosto de Ichirou. O sorriso de Ichirou desaparecera há muito tempo, seus olhos de cor carvão pareciam perfurar Neil. – De onde eu venho, a palavra de um homem vale tanto quanto seu nome, e seu nome ganha peso com o sangue que derramou pela minha família. Você não foi posto à prova. Você não vale o ar que respira. Riscaria seu saldo negativo de minha lista com sua morte, consideraria um pagamento justo.

No entanto, Ichirou continuou:

– Você é filho do seu pai, e seu pai era alguém para mim. Ele é a razão pela qual eu vim aqui, quando eu poderia ter enviado alguém para falar com você. Sabe o que eu vou fazer se achar que você está perdendo meu tempo? Sabe o que farei com as pessoas que o conhecem? Vou matar todo mundo que já te apoiou e farei com que todas as mortes durem o bastante.

Não parecia uma ameaça; Soava como uma promessa.

– O que posso fazer para convencê-lo de que estou dizendo a verdade? – indagou Neil.

– Nada –, respondeu Ichirou, e disse algumas palavras em japonês para os dois homens sentados à frente.

O passageiro da frente tirou um celular do bolso. Neil não conseguia entender as palavras ditas, mas entendeu muito bem o tom zangado. Por um momento inculto, pensou que o homem estaria organizando mortes confusas para todas as Raposas.

Ele cerrou os dentes contra uma pontada de pânico e olhou para o assento vazio entre ele e Ichirou. O passageiro observou, para frete e para trás, por vários minutos, em seguida, desligou e guardou o celular. Seu tom foi respeitoso quando disse algo para Ichirou.

Quaisquer que fossem as notícias, a expressão de Ichirou não mudou. Ichirou batucou o polegar no tornozelo enquanto pensava. Neil não sabia quanto tempo ficaram sentados em silêncio, dez minutos ou dez vidas, mas tinha certeza de que morreria antes que Ichirou finalmente tomasse uma decisão.

– Talvez sua vida tenha um preço, afinal –, disse Ichirou. – Oitenta por cento dos seus ganhos durante toda a sua carreira será suficiente. Espero dízimos semelhantes de Day e Moreau, é razoável, considerando que minha família financiou seu treinamento. Alguém entrará em contato para tomas providências. Se você falhar em entrar na liga profissional, depois da formatura, o acordo é cancelado e você será executado. Entendeu? 

Incredulidade arrancou o ar em seus pulmões; o alívio foi tão intenso que Neil pensou por um momento que ficaria tonto. De alguma forma manteve seu tom, mesmo quando disse:

– Entendo. Eu vou falar com Kevin e Jean imediatamente. Nós não vamos falhar com você.

Ichirou o fitou com olhar mordaz.

– Então, por enquanto, está dispensado.

Foi tão abrupto que Neil quase se esqueceu de dizer: 

–Obrigado

Tentou sair do carro sem dar a impressão de que estava enlouquecendo, sem ter certeza se tinha conseguido. Ele fechou a porta atrás de si e ambos os motoristas ligaram os motores. Neil permaneceu imóvel enquanto os carros se afastavam, observou aturdido quando eles o perderam de vista. Saber que haviam ido embora, nada fez para que se sentisse mais seguro. Neil caiu de joelhos no asfalto. Passou os dedos pelo jeans, o esticado sobre os joelhos, e lutou para controlar seu coração palpitando.

Quando pensou que poderia ficar de pé sem cair, seguiu a Perimetral descendo o campus até o prédio onde Kevin tinha sua aula de história. O relógio de seu celular dizia que faltavam quinze minutos para o próximo período, por isso Neil encostou-se à parede externa da porta e esperou. Kevin foi um dos últimos a sair e ficou em silêncio quando viu Neil.

– Vamos para a casa da Abby –, disse Neil em francês. – Temos que falar com o Jean.

– Não agora –, disse Kevin.

– Agora sim –, Neil estendeu um braço quando Kevin parecia pronto para se afastar. – Ichirou veio nos ver.

Kevin engasgou com sua primeira recusa. Sua segunda tentativa foi rouca de descrença.

– Não brinque com essas coisas. – Neil olhou para Kevin em silêncio, até que Kevin estremeceu e recuou meio passo. – Não. Riko não estava. Ele não viria aqui.

– Vamos logo –, insistiu Neil.

Ele enviou uma mensagem para Andrew, a caminho da Torre das Raposas, Andrew esperava por eles, sentado sobre o porta-malas de seu carro. Um pacote pequeno em uma mão e um cigarro na outra. O cigarro foi jogado de lado quando se aproximaram, e destrancou as fechaduras. Foi uma curta distância de carro do dormitório para a casa de Abby. Neil bateu na porta, embora estivesse destrancada, e Abby respondeu alguns segundos depois. Ela franziu o cenho quando os viu na porta de sua casa, porém se afastou para deixá-los entrar.

– Vocês não tem aula agora?

– Não –, respondeu Neil. – Onde está Jean?

– Ele estava dormindo da última vez que fui vê-lo.

– É super importante –, disse Neil. – Vou acordá-lo.

Abby estudou a expressão sombria de Kevin um momento antes de se afastar. Neil levou Kevin e Andrew pelo corredor, deixando Abby os olhando, e bateu a porta do quarto rapidamente. Jean ficou assustado ao ouvir o estrondo e começou a se sentar. Mover-se foi um erro, a julgar pelo som que fez quando afundou de volta sobre o colchão. Neil aproveitou sua distração e examinou o trabalho de Riko a caminho da cama. O rosto de Jean era mais ou menos uma contusão inchada. Ambos os olhos estavam enegrecidos, cortesia de um nariz quebrado, pontos remendavam seu queixo e bochecha. Punhados de cabelo haviam sido arrancados de seu couro cabeludo, deixando lacunas calvas e cascões duros por toda parte.

Neil se obrigou a recuar inesperadamente e sentou-se na beira do colchão.

– Oi, Jean –, Neil o cumprimentou.

– Vaza –, disse Jean, sua voz crua de ódio. – Não tenho nada para lhe dizer.

– Mas você vai me ouvir –, retrucou Neil, – porque acabei de dizer a Ichirou onde você está.

Foi o suficiente para captar toda a atenção de Jean. Kevin sentou do outro lado de Jean, seu rosto sem cor novamente ao som do nome de Ichirou. Neil olhou para trás, se certificado de que Andrew ouvia, e depois contou-lhes sobre a visita de Ichirou: o por que ele viera, como decidira poupar suas vidas e o que lhes custaria em retribuição. Kevin e Jean ouviram tudo sem dizer uma única palavra.

– Não é anistia e não é realmente liberdade, mas é proteção. – Neil observou de um rosto chocado para o outro. – Agora somos propriedades da família principal. O Rei perdeu todos os seus Peões e não há nada que ele possa fazer sem esbarrar em seu irmão. Estamos a salvos... Para sempre.

Jean fez um som agonizante e enterrou o rosto entre as mãos. Kevin abriu a boca, fechou-a novamente e lançou um olhar atordoado para Jean. Neil esperou, mas nenhum dos dois parecia capaz de reagir além disso. Finalmente, Neil levantou-se da cama e os deixou em questionável conforto mútuo. Andrew o acompanhou para fora do quarto, Neil agarrou sua manga enquanto fechava a porta atrás deles. Andrew obedientemente se virou para ele.

– Como se sente ao acabar de se vender? – indagou Andrew.

– Valendo cada centavo –, respondeu Neil. – Deixe ele ficar com tudo o que quiser. Eu não preciso do dinheiro. Tudo que preciso é o que ele me deu: uma promessa de que tenho futuro. Tenho permissão – não, ordens – para viver minha vida como eu bem entender. Vou me formar em Palmetto e jogar Exy até que me forcem a me aposentar. Talvez eu até morra de velhice.

– A cada dia você se parece mais com eles –, disse Andrew.

Neil supôs que ele se referia a seus companheiros de equipe, os mais otimistas.

– Vai precisar inventar algo próprio para se agarrar. Tenho certeza que Kevin não precisará mais de sua proteção, Nicky vai voltar para Erik e Aaron terá Katelyn. O que vai fazer? Do que vai viver sem ter nós para você agir feito um cão pastor?

– Aaron não vai ter Katelyn.

– Negação não combina com você. Já conversamos sobre isso.

– Você falou –, disse Andrew. – E eu não dei ouvido.

– Faça sua escolha –, disse Neil. Foi o suficiente para silenciar Andrew, talvez apenas por um segundo, mas Neil aceitaria qualquer abertura que obtivesse. – Kevin vai retomar sua posição em campo antes de se formar. Ele acredite que eu posso crescer com bastante prática e tempo. Venha conosco. Vamos todos jogar juntos nas Olimpíadas um dia. Nós seremos imbatíveis.

– Essa obsessão é sua, não minha.

– Pegue-a emprestado até você ter algo de sua vontade. – Neil se agarrou à manga de Andrew quando este começou a se soltar. – Não é divertido? Ter um lugar, ter uma equipe, uma cidade diferente a cada semana e cigarros e bebidas no meio? Não quero que acabe.

Andrew se soltou.

– Tudo tem um fim.

Ele empurrou o pacote contra o peito de Neil e seguiu pelo corredor. Andrew já havia cortado a fita das extremidades, então Neil abriu a aba sem muita dificuldade ou dor. Sacudiu a caixa na palma da mão, mas nada caiu. Ele teve que puxar o conteúdo com os dedos e considerou os tecidos amarrotados com uma pontada de decepção. Não havia entendido, até estender ambas e deixar as extremidades se desenrolarem. Estava segurando um conjunto de braçadeiras, idênticas às de Andrew. Eram longas o suficiente para esconder as bandagens e as novas cicatrizes em seus antebraços.

Ele olhou para a chegada de Abby. Ela olhou para a porta do quarto, fechada, e viu o presente que Neil estava segurando.

– Tudo bem?

Neil pensou sobre a resposta, mas não por muito tempo.

Nunca esteve melhor.


13 Comentários

  1. Obrigada por traduzir mais um cap. Ficou louca de ansiedade pra leros próximo, mas triste por saber que esta acabando. Esse cap foi tenso. Mas, ainda bem que, ao que parece, as coisas entre os Moryamas se resolveram. Amei o Neil falando que se sente valendo cada centavo kkkk O coitado se ferrou demais, acho que tá na hora de as coisas começarem a melhorar um pouco, quem sabe... Apesar que, as tretas sempre cercam as raposas. Esperando loucamente pelo próximo cap .Bjs até 😘

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  2. Anônimo30 abril

    Mais um ótimo trabalho,obrigada pela dedicação em traduzir a obra!
    Cada dia mais ansiosa para saber o final dessa história ❤️

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  3. Ai mano eu tô muito emocionada que está chegando na reta final... Esse livro é tão incrível mas falta tão pouco pra acabar :,)

    As coisas parecem estar se acertando para meus filhos e eu tô quase chorando de alívio!
    Meu Andreil, porém me preocupa :,) Esse casal é tão complicado kkkkkk

    Eu passei os livros inteiros torcendo pela relação do Aaron e do Andrew, querendo que eles ficassem de boa, mas no capítulo passado Aaron só me decepcionou!
    Espero que deus o elimine!

    É isso <3
    Obrigado pela dedicação em traduzir tão rápido os capítulos! ^^

    ~Pretende pegar outro projeto (outro livro)?

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    1. Eu tava preparando um post sobre isso hoje. Tenho em mente:
      Legally Blonde (Legalmente Loira) - Amanda Brown
      Leo Loves Aries (Leão ama Áries) - Anyta Sunday

      [img]https://4.bp.blogspot.com/-EGZlt7KFuvc/XMjvlkvaTtI/AAAAAAAACBw/O9H8IErZlj0zarICcuczMa310Aj1KNqMgCLcBGAs/s1600/LEGALLY_BLOND.jpg[/img] [img]https://1.bp.blogspot.com/-T3BlGOSx_fM/XMjvltwuK4I/AAAAAAAACB0/L_HxOkkYdl4xxEV_vZHUDv38y-WHS6U7ACLcBGAs/s1600/LEO_LOVES_ARIES.jpg[/img]
      Tenho outros em mente, mas que ainda não li.

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    2. OMG
      Eu quero tanto ler essa série de livros da Anyta Sunday *-*

      Eu só estava esperando acabar All For The Game pra começar a ler Leo Loves Aries (em inglês mesmo)

      Espero que dê tudo certo para que você consiga fazer a tradução desse livro ^^

      Obrigado por ter traduzido AFTG até agora
      Eu amo tanto o Neil (meu filho <3) e todos os outros personagens (até o Seth :D), que não sei o que vou fazer quando terminar de ler The King's Men e não tiver mais nada sobre eles para ler :(

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  4. Anônimo05 maio

    Thiago, o seu trabalho é mesmo incrível e eu agradeço muito pelas traduções! Poderia me tirar uma dúvida e me falar por onde traduziu os primeiros livros, no drive ou no word? E como formatou para pdf/epub? Bom, desde já fico grata, é a mesma uma curiosidade de alguém que se sente instigada a entrar no ramo da tradução. ��

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    1. Eu sempre uso o word pra traduzir e fazer outros manuscrito.
      Primeiramente, eu uso o Sigil - editor de e-books para formatar em epub, depois converto para pdf usando o Calibre.

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  5. Aah meu deuussss
    Sempre q o Neil entra em um carro de desconhecido eu já começo a ter falta de ar :c
    e ainda to em duvida quanto a positividade desse acordo cm Ichirou.
    E cara, puta merda, mas Andreil é tão bipolar q eu sorrio boba em um cap e fico triste no outro :(( ai mds

    E tá acabando ;-;; eu n sei oq vou fazer da minha vida depois q esse livro acabar meu deus do céu </3

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    1. Também tenho minhas ressalvas em relação a esse acordo, não e tão vantajoso. Basicamente, a coleira passou de mãos e os cachorrinhos ganharam um novo dono.

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  6. Ah meu deus, mal posso aguentar esse andreil. Ansiosa demais pelo próximo, tem previsão? :(

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