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The King's Men - Capítulo Dezessete [Parte 1/2]



TRADUÇÃO: THIAGO
REVISÃO: THIAGO

As Raposas reagiram às notícias de Neil com uma quase unanimidade de entusiasmo. Até mesmo Aaron pareceu animado o suficiente para oferecer parabéns. No entanto, Kevin não conseguiu recompor-se tão rapidamente, de ter seu mundinho virado de cabeça para baixo, e se distraiu a tarde toda. Errou tiros que normalmente acertaria de olhos fechados e passou o descanso sozinho na arquibancada. Wymack não disse nada sobre seu mau desempenho e acalmou Dan quando ela tentou lhe dizer algo.

Dan conduziu todos ao Downtown, para um jantar comemorativo. Conversar sobre o acordo de Ichirou em público era desaconselhável, mas podiam e fizeram, comentando sobre tudo o que veio à mente. Todos notaram as novas braçadeiras de Neil, mas, depois de algumas provocações bem-humoradas, eles mantiveram a palavra de ficar fora do relacionamento de Neil e Andrew.

Neil passou a maior parte da refeição observada Kevin e Andrew. Kevin não disse nada a ninguém, apenas fitou o prato enquanto brincava com a comida. Andrew se inclinou para frente, em seu assento entre os dois atacantes, as mãos entrelaçadas e pressionadas no rosto para esconder a boca. Ele assistiu a todos com um olhar semicerrado e nada teve a acrescentar. Quando alguém cometia o erro de tentar incluí-lo, ele os encarava até que continuassem.

Neil enxergou a estafada troca de olhares entre Matt e Dan, uma óbvia decepção estampada na carranca de lábios repuxados. Eles haviam feito um verdadeiro progresso nas montanhas, ou assim acreditavam, porém Andrew havia se fechado novamente sem aviso prévio. Neil queria avisá-los, de que Andrew estava reservando toda a sua energia para o surto silencioso de Kevin, mas não sabia como proceder sem despertar a ira de Andrew. 

Finalmente, voltaram para o dormitório. Neil seguiu Nicky até o quarto dos primos. Kevin passou direto para o banheiro, deixando a porta aberta atrás dele. Neil olhou de seu aperto na beirada da pia, deixando os dedos brancos, para o reflexo de Kevin. Ele não sabia o que colocara aquele olhar intenso no rosto de Kevin, a menos que estivesse olhando para o número em sua bochecha. Kevin tinha sido o segundo melhor e de segunda classe toda sua vida. Agora ele tinha a liberdade de alcançar o posto que sempre merecera e sempre tivera medo de desejar. Neil não o culpava por seu medo, embora precisasse vê-lo superá-lo.

Quando Kevin deu sinais de que não sairia tão cedo, Neil teve que desistir. Andrew estava sentado em sua mesa, então Neil sentou ao lado dele. Nicky e Aaron pegaram os puff e jogaram um jogo. Jogaram três níveis antes de Kevin reaparecer.

Kevin olhou de Neil para Andrew e disse:

– Me leve para o estádio.

Era óbvio que ele não se importava com qual deles faria isso, no entanto, Neil olhou para Andrew. Andrew tinha a janela aberta, para que ele pudesse soprar a fumaça do cigarro através dela. Estava apenas na metade, mas não hesitou em apagá-lo no peitoril da janela. Deixou a guimba no canto, para mais tarde, e deslizou para fora da mesa. Quando estava do outro lado da sala, Neil se levantou em convite. Kevin não pareceu notar, e Andrew aceitou sua presença com um breve olhar. Nicky se despediu, uma despedida eufórica e voltou a massacrar monstros.

Eles deixaram Kevin no vestiário e seguiram em direção à quadra. Neil estava próximo à parede, estudando o piso polido e as brilhantes patas de raposa. Andrew se sentou no banco do time sem dizer nada. Kevin não os fez esperar muito, apareceu com um balde de bolas em uma das mãos e a raquete na outra. Neil observou-o atravessar a quadra vazia até a linha do primeiro quarto. Kevin deixou o balde, ajustou as luvas e começou a atirar no gol vazio.

Andrew tolerou o espetáculo apenas até o balde estar vazio, e, então, se levantou entediado:

– Ele é realmente patético.

– E nós todos não somos? – Neil retrucou sem desviar os olhos de Kevin.

Kevin inspecionou a bagunça ao redor, brandindo a raquete de um lado para o outro. Usou o cabo da raquete para aproximar algumas bolas perdidas, em seguida, passou a raquete da mão direita para a esquerda. Neil esperava vê-lo voltar a sua mão direita antes de começar uma segunda rodada. Em vez disso, Kevin alcançou a bola mais próxima, porém, pegou-a com a mão direita.

Neil socou a parede da quadra com as mãos, em alerta. As reverberações enviaram ardência constante em cada ferida em cicatrização sobre seus braços, o fazendo soltar um dolorido:

Andrew.

Kevin ignorou os golpes e deslizou a bola na rede de sua raquete. Deu em sua raquete um movimento experimental, em seguida, atirou no gol. Neil pensou que ele estaria mirando no mesmo lugar que esteve acertando nos últimos cinco minutos, mas a bola caiu a meio metro de distância. Kevin sacudiu a raquete com óbvia irritação e pegou outra bola. Ele fez outro tiro, ainda assim aterrissou longe do alvo. Kevin sistematicamente atirou o restante das bolas alcançando uma curta distância. Ele fez seu gol na quinta tentativa, depois, organizou as próximas quatro bolas exatamente no mesmo lugar.

Neil olhou por sobre o ombro. Andrew se virou para olhar o chamado de seu nome, a expressão em seu rosto era indecifrável. A contração no canto da boca poderia ter sido desprezo, embora Neil não estivesse convencido. Finalmente, Andrew se virou abruptamente e saiu. Neil olhou para a quadra, enquanto Kevin lançava as bolas. Ele cerrou os dentes, preparado para a dor e bateu na parede novamente.

Kevin apontou sua raquete para Neil, em uma ordem clara para deixá-lo. Neil ignorou o modo como sua mão pulsava e esquentava, acenando com a mão esquerda para Kevin. Kevin gesticulou em desprezo voltando a sua tarefa. Neil resistiu à vontade de entrar e esganar Kevin por sua imprudência, estava quase no limite. Em vez disso, observou Kevin lentamente ganhar velocidade, indo até as bolas posicionadas para tiros seguidos. Kevin correu em direção as bolas quando elas rebateram na parede, tentando rebatê-las o mais rápido possível. Desenhou duas cruzes na parede do gol, os quatro pontos cardeais seguidos pelos quatro cantos, e acerto o centro do gol com cada bola depois disso.

Neil sentiu calafrios por todo o corpo ao observá-lo, sem saber se era o medo de que Kevin lesionar-se de novo ou espanto. Ele sempre soubera que Kevin era o melhor, no entanto quase esquecera como Kevin costumava a ser em seu auge.

Um vulto laranja em sua visão periférica foi o suficiente para distraí-lo de Kevin, e Neil fitou Andrew colocar o capacete no banco das Raposas. Andrew obviamente notara a atenção, porém concentrou-se em apertar as luvas. Ele não ia oferecer uma explicação, então Neil perguntou:

– Vai jogar com ele?

– Alguém tem que ficar de olho nesse idiota – respondeu Andrew.

Ele puxou a última trava no lugar, prendeu o capacete e se dirigiu para a porta. Ele não se incomodou em dar um aviso antes de abrir a porta da quadra, mas Kevin estava de frente para a porta e parou quando o viu entrar. Ele dirigiu um rápido olhar para Neil. Seu protetor de rosto e a distância entre eles tornaram impossível ver sua expressão, no entanto, Neil podia adivinhar que havia algo de acusador. Ele sacudiu a cabeça e deu de ombros exageradamente, tentando transmitir sua inocência. Andrew fechou a porta atrás de si e se dirigiu para o gol.

Kevin posicionou as bolas novamente na linha do primeiro quarto. Andrew fez um gesto expansivo, abrindo os braços, ao que quer que Kevin tenha lhe dito e colocou sua raquete descuidadamente sobre o ombro. Ele se recusou a se mexer, mesmo quando Kevin indicou que estava pronto. Kevin ficou com a raquete por mais alguns segundos, depois desistiu e deu um tiro. Andrew nem sequer se mexeu, e a bola passou direto pelo capacete. O gol ficou iluminado em vermelho. Kevin deu outro tiro, e outro, ficou impaciente e mirou em Andrew. O tiro acertou o capacete de Andrew que, finalmente, se posicionou em uma posição disposta.

Na vez seguinte em que Kevin atirou no gol, Andrew rebateu diretamente em sua direção. Kevin a pegou, mas tendo que sair de sua posição. Assim que retornou, apontou para o gol novamente. Andrew rebateu nos joelhos de Kevin, que se esquivou a tempo. Eles permaneceram nesse jogo de rebotes por um tempo, antes de Kevin marcar novamente. Kevin marcou mais duas vezes em rápida sucessão, porém, depois disso, Andrew desviou os tiros com lances impossíveis. Isso fez a velocidade aumentar.

Já não era mais um treino; era uma batalha. Andrew estava tentando cortar Kevin no rebote, e Kevin estava desafiando Andrew a manter o ritmo de alguma forma. Exy tinha sido um ponto morto entre eles desde que se conheceram. Era a parte crítica de sua amizade que Andrew se recusava a aceitar e Kevin não conseguia consertar, um sonho em que Andrew não acreditava e ao qual Kevin não poderia desistir. Neil mal podia respirar enquanto os observava duelar. Neil podia enxergar seus temperamentos começarem a incendiar por pequenas coisas: um empurrão da raquete de Kevin aqui e ali e a crescente crueldade nas defesas de Andrew.

Era inevitável que Kevin vencesse. Mesmo canhoto, Kevin colocara muito de si em seus treinos para perder para Andrew aqui. Andrew tinha todo um  talento bruto para ser um campeão, mas nada de delicadeza; ele não superaria Kevin com força bruta solitária. Quando Kevin acertou cinco tiros seguidos, soltou a raquete e caminhou em direção ao gol. Andrew dependurou sua raquete em seu ombro e observou-o se aproximar.

Neil esperava que Kevin começasse a gritar. Em vez disso, Kevin agarrou a grade do capacete de Andrew e o acertou contra a parede do gol. Neil estremeceu, indo em direção à porta, sabendo que seria tarde demais para impedir Andrew de estripar Kevin, mas precisava tentar. Parou no meio do caminho, porque Andrew não se mexeu. Seu punho estava ao seu lado em um soco abortado, ele nem mesmo havia empurrado Kevin. Ele simplesmente ficou lá, parado, e ouviu o que Kevin rosnou em seu rosto. No final, Kevin o soltou e foi embora. Andrew empurrou-o pelas costas com a cabeça da raquete, forte o suficiente. Kevin tropeçou e se aproximou da linha do gol novamente.

Alguns segundos depois, estavam de volta como se nada tivesse acontecido, e continuaram até que Kevin finalmente teve de se sentar. Neil recolheu as bolas da quadra enquanto tomavam banho e, sabiamente, não disse nada a nenhuma deles. A viagem de volta a Torre das Raposas permaneceu em silêncio e Kevin foi direto para a cama. Andrew pegou a guimba de cigarro da janela, acendeu e fitou o campus escuro. Neil observou-o alguns minutos antes de retornar ao seu quarto.

Kevin estava em seu habitual no dia seguinte, dominante e cáustico como sempre. Ele também retornou à sua mão direita e nada comentou dobre o treino da noite anterior. Neil pensou que, talvez, ele tivesse forçado a mão pressionando Andrew com tanta obstinação, porém havia retornado à sua mão esquerda assim que ficou sozinho na quadra naquela noite. Andrew o seguiu novamente, sem hesitar, e os dois duelaram como se já tivessem esquecido o resultado de ontem. Neil foi relegado a segundo plano, sem se importar muito. Ele enxergava o futuro em cada disparo e defesa, cada ponto roubado e frustrado, e ele mal podia respirar através de seu entusiasmo.

***

Na quarta-feira à tarde, a imprensa apareceu para fazer entrevistas e filmagens. Neil se lembrou do conselho de Allison, para ser honesto, tentando responder tudo o que pôde suportar. Ele evitou algumas das perguntas mais cruéis, lembrando-lhes que ainda havia uma investigação em curso sobre seu pai. Ele não esperava que eles recuassem, no entanto entenderam a dica depois de algumas tentativas e pularam para outras coisas. Como esperado, perguntaram sobre a gravidade de seus ferimentos. Neil confirmou que estaria fora do jogo de sexta-feira, mas que voltaria a quadra para as semifinais. Sua confiança inabalável na capacidade das Raposas arrancou um sorriso por aqui e um aceno de cabeça ali e estabeleceu que, Nathaniel ou Neil, ou seja lá quem for, o novato das Raposas era a mesma pessoa que sempre fora. Quando terminaram com ele, continuaram com o restante das Raposas, até mesmo encurralaram Abby e Wymack. Finalmente saíram e deixaram as Raposas se concentrarem em seus treinos.

Na quinta-feira, Neil encontrou Andrew do lado de fora de sua turma. Andrew saiu sem dizer uma palavra, sabendo que Neil iria segui-lo. Neil ficou contente em acompanhá-lo até perceber que estavam indo para a biblioteca. Nicky dissera que, no outono passado, Andrew evitara a biblioteca a todo custo. Neil o tinha visto lá apenas uma vez, em janeiro do ano passado, quando Andrew o buscou para o treno. Ele poderia ter perguntado o que estavam fazendo ali, mas Andrew falou primeiro. Estavam a apenas à quatro degraus do  segundo andar quando Andrew se virou para Neil.

– Pegue ou eu vou usá-las - disse ele, estendendo as mãos.

Neil olhou para as palmas das mãos vazias, perplexo, em seguida, procurou sob as bainhas das mangas compridas de Andrew e puxou as bordas das braçadeiras. Ele sabia que havia outra camada nas braçadeiras de Andrew, as havia manipulado antes, porém o peso ainda o pegou de surpresa. Enfiou as braçadeiras com suas armas escondidas em sua bolsa. Andrew observou até Neil fechá-la e dependurá-la sobre o ombro novamente antes de se virar.

Havia apenas uma razão pela qual Andrew entregaria suas facas aqui, na qual Neil não conseguia acreditar. Ele não se atrasou em pensamentos.

A parede da direita estava equipada de computadores e, ao lado dos computadores, havia grandes mesas de estudos. Na metade do caminho, Katelyn estava sentada com três estudantes desconhecidos. O garoto à sua direita gesticulava para seu livro enquanto falava. Katelyn passou uma caneta pelos cabelos enquanto escutava. Andrew estava a apenas duas mesas de distância quando ela percebeu, e deu um sobressalto com tanta força que deixou a caneta cair. Andrew lançou-lhe um olhar frio e continuou. Neil fez uma pausa, para se certificar de que ela compreendia tal mensagem.

Seus colegas trocaram olhares estranhos, assustados com sua reação violenta. Katelyn se virou na cadeira para olhar Andrew, seguindo um olhar nervoso para Neil. Neil apenas inclinou a cabeça e um gesto para seguir Andrew.

Katelyn se levantou.

–Volto já.

Andrew deveria ter revisado o mapa da biblioteca antes de vir, pois percorreu em direção a uma seção tão escura que não havia alunos. Neil notou o isolamento imediatamente, contente por Andrew lhe ter entregado as facas. Andrew virou no final da fileira, examinando o canto vazio a apenas alguns passos, e esperou Neil e Katelyn alcançá-lo.

Katelyn cometeu o erro de parar próxima a ele. Mal teve tempo de gritar antes de Andrew agarrá-la pelo ombro e jogá-la contra a parede. Neil estremeceu ao som que ela fez quando colidiu contra a parede. Ela tropeçou, mas não caiu e se virou para olhá-lo com os olhos arregalados.

– Por favor – ela disse. – Por favor, eu...

– Cale a boca –, disse Andrew. Ele estendeu o braço, criando uma barricada, batendo sua palma contra a parede raspando a cabeça dela, a fazendo se encolher. – Não fale. Sua visão é intolerável por si só. O som da sua voz deixa as coisas a seu favor.

Neil deu um passo cuidadoso em direção a eles, tentando transmitir apoio, apoio silenciosos, no entanto Katelyn estava com muito medo de Andrew para olhar Neil. Andrew se inclinou para frente, encarando seu rosto e passando um dedo pela têmpora dela.

– Você é como um tumor – disse ele. – Deveria ter te cortado e jogado fora quando você ainda era benigno. Agora é tarde demais, então aqui estamos. Não se atreva a falar –, ameaçou Andrew, a voz selvagem, quando Katelyn abriu a boca. Katelyn franziu os lábios e finalmente lançou um olhar aterrorizado para Neil. Andrew segurou seu queixo, forçando a voltar sua atenção para ele. – Não me ignore. Sua vida depende de quão bem você consegue ouvir. Consegue ouvir?

Ela assentiu freneticamente, mas Andrew não a soltou.

– As condições para sua sobrevivência são simples: nunca confunda isso com aceitação e nunca, nunca, fale comigo. Você faz parte da vida dele, nunca fará parte da minha. Se você esquecer, eu vou lembrá-la, e você não vai sobreviver à lição. Entendeu?

Andrew esperou que ela assentisse novamente antes de soltá-la. Ele considerou sua mão por um momento, em seguida, enxugou os dedos na calça, como se pudesse apagar a sensação de sua pele. Ele lançou um longo olhar para Katelyn, afastando-se da parede e saiu de seu espaço.

– Espero que vocês dois sejam infelizes juntos.

Com isso, ele se virou e foi embora. Neil o seguiu logo atrás, Katelyn soltou um soluço silencioso atrás dele. Ele hesitou e olhou para ela novamente. Ela cobriu a boca com as duas mãos, abafando o barulho, mas Neil pôde ver seus ombros tremendo. Neil não era bom em consolar pessoas e, para começar, não gostava muito de Katelyn, entretanto sentia-se compelido a fazer um esforço grosseiro vendo que parte disso fora culpa sua.

– Você venceu – disse Neil. Ela apenas o fitou com olhos brilhantes de lágrimas. – Aaron não está na aula agora, caso você queira ligar para ele.

Ele se virou e a deixou lá, com seu choque e medo. Andrew não hesitou para ver se Neil o seguia. Neil correu atrás dele e chegou às escadas. Andrew saiu pela porta da frente para uma tarde ensolarada. Neil o deixou seguir alguns passos, só até o corrimão de entrada que oferecia uma vista do campus, antes de agarrar seu cotovelo. Andrew se desvencilhou, mas parou.

Neil ficou onde podia enxergar o rosto de Andrew.

– O que fez você mudar de ideia?

Andrew o ignorou. Neil encostou as costas no corrimão e olhou além de Andrew, para a biblioteca. Ele revirou o que acabara de acontecer em sua cabeça, imaginando como Aaron reagiria quando Katelyn o ligasse aos prantos. Tinha grande potencial de tornar o treino desconfortável, embora Neil duvidasse que Aaron pudesse aguentar sua irritação por muito tempo. Aaron sabia, de antemão, como os métodos de Andrew eram insensíveis e que ele, finalmente, havia conseguido o que queria. Se os fins justificassem os meios, para ele, então confortaria Katelyn adequadamente, mas nunca celebraria tais ameaças de seu irmão.

– Isso me fez lembra, agora é um mau momento para eu aproveitar meu bônus? – Neil interpretou o silêncio de Andrew como bem entendeu e disse: – Quem disse “por favor” que te fez odiar tanto a palavra?

Andrew olhou para ele em silêncio por um minuto.

Eu disse.

Neil não sabia qual resposta esperava, mas não era essa. Ele sentiu o palpitar em seu peito, afiado e surpreendente. Abriu a boca prestes a dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas o que poderia dizer sobre algo dessa natureza?

Andrew tolerou seu olhar vazio por apenas alguns segundos antes de descartá-lo como inconsequente e desinteressante.

– Ele disse que iria parar se eu falasse isso.

– E você acreditou nele – adivinhou Neil.

– Eu tinha sete anos – disse Andrew. – Acreditei nele.

Sete – repetiu Neil estupidamente.

Andrew permaneceu na casa dos Spears até os doze anos. Antes de Drake transformar a vida de Andrew no inferno. Andrew passara por doze casas diferentes, Andrew dissera a Neil, na semana passada, que nenhuma delas foram boas. Neil não perguntara o quão ruim haviam sido; ele supôs que, de longe, Drake era o pior de todos.

Neil se arrependeu de perguntar, porém, era tarde demais para voltar atrás.

– Você... – começou Neil, mas as palavras falharam.

Ele procurou pela mentira no olhar calmo de Andrew, não a encontrou. Andrew quase tinha matado quatro homens por agredir Nicky e teria quebrado o pescoço de Allison por bater em Aaron, mas quando se tratava de crimes contra sua própria pessoa, Andrew não se importava. Ele mantinha sua vida com menos consideração do que qualquer outra coisa. Neil odiava essa atitude com uma ferocidade nauseante.

– Depois de tudo o que fizeram com você, como você consegue me suportar? – indagou Neil. Ele não estava disposto a colocar os detalhes em palavras com tantas pessoas ao redor. Ele duvidava que alguém estivesse prestando atenção, mas não ia se arriscar. Ele gesticulou entre eles, sabendo que Andrew entenderia. – Como isso é possível?

– Não é “isso” – refutou Andrew.

– Não é o que estou perguntando. Você sabe que não é. Andrew, espere –, ele insistiu, porque Andrew estava se afastando como se não conseguisse mais ouvir Neil.

Neil estendeu a mão até ele, não querendo deixá-lo ir sem uma resposta sincera.

Não –, disse Andrew, e a mão de Neil congelou no braço de Andrew.

Andrew também ficou parado, ambos ficaram parados, em silêncio por um minuto terrível. Finalmente, Andrew olhou para ele, mas por um momento Neil não sabia para quem estava olhando. No espaço de uma respiração, a expressão de Andrew ficou tão sombria e distante que Neil quase recuou. Então voltou, tão calmo e indiferente como sempre, e agarrou o pulso de Neil empurrando a mão para o lado. Os dedos cravados antes de soltá-lo, não forte o suficiente para machucá-lo, e disse:

– É por isso.

Neil parou quando Andrew lhe pediu. Não foi muito, porém mais do que suficiente. Neil conseguiu acenar com a cabeça, entorpecido demais para falar, e observou Andrew se afastar dele.

***


4 Comentários

  1. Ai man meu coração quebrou em muitos pedaços aqui.... pqp meu filho só sofre n tem como :,(

    aaaaaa eu só quero proteger essas raposas problemáticas mds! <3

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  2. Não DAAAAAAAAAAAA como o Andrew consegue me deixar ansiosa e triste de um momento pra outro? ptm ele é um personagem tão bem construído que até dói, lindo DMS ❤

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  3. Eu ainda não consigo entender esse diálogo final... Mas essa cena é tudo pra mim AAAA ❤❤

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    1. O Neil quer saber como o Andrew consegue ficar com ele depois de ter sido estuprado, ele usa "isso" pra não dizer a palavra.

      Geralmente, pessoas que sofrem abuso tem repulsa por toque ou relações sexuais.

      Andrew também não gosta de conversar sobre o assunto, quando Neil pressiona ele, a expressão do Andrew muda para algo irreconhecível e depois volta ao normal. Ele esconde a sua dor e quando ela vem atona carrega fúria e violência. Por isso que ele sempre diz que não sente nada ou tenta não sentir.

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