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The King's Men - Capítulo Quinze [Parte 1]


TRADUÇÃO: THIAGO
REVISÃO: THIAGO

Os planos para o café da manhã de segunda-feira foram adiados para o almoço, por causa de quão tarde eles tinham acordado. Os refeitórios estavam fechados durante as férias de primavera, mas havia um restaurante a dez minutos de carro que servia café da manhã o dia todo. As Raposas se dispersaram para se arrumar, tirando os cobertores e travesseiros da sala. Kevin foi o único a ficar para trás.

Neil conhecia o motivo, ele ainda estava cansado demais para ter essa conversa.

Ele lutou para se levantar, e seguiu Matt até a cozinha com sua sacolinha de remédios. Eles comeriam em uma hora, no entanto, aparentemente, era tempo de mais para esperar pelo café. Matt enxaguou a panela sob a pia e começou a enchê-la.

Neil pegou uma xícara no armário e tirou o remédio da sacola. Então parou, porque só conseguia imaginar o quanto machucaria seus dedos para desatarraxar a tampa. Procurou por algo que facilitasse seu trabalho, e, enxergou Kevin esperando na porta.

Kevin olhou de Neil para Matt e falou em francês.

– Quando Riko descobrir o que seu pai fez no seu rosto, ele vai se vingar em você.

Até então, Matt estava acostumado a ouvi-los tagarelar em línguas estrangeiras ao seu redor. Ele não deu nenhum sinal de que os ouvia ou se importava com o que estavam dizendo, apenas tirou os grãos de café e os filtros do armário. Neil lutou consigo mesmo, o coração batendo apressadamente com nervos aflorados. Ele estudou o perfil de Matt, até Matt pegar o moedor, depois olhou para Kevin.

– O que ele poderia fazer? – indagou Neil em inglês.

Matt congelou, com o filtro próximo a cafeteira. Na porta, Kevin ficou tenso de incompreensão ou desaprovação. Neil sentiu os olhos de Matt sobre ele, contudo não retribuiu seu olhar. Na noite passada, ele dissera a Matt que acabaria com as mentiras. Não poderia esperar que Matt acreditasse se cochichasse pelas costas. Os veteranos já conheciam toda a história agora, de qualquer forma, então não havia razão para esconder essa inevitável complicação.

– A essa altura, Kengo sabe que meu pai está morto e eu vivo. Pior ainda, ele sabe que o FBI já conversou comigo. Ele vai ter que tomar uma decisão sobre mim, de uma forma ou de outra. Acha que Riko vai correr o risco de dar o primeiro passo?

Kevin deu a Matt um olhar mordaz, obedientemente mudou a conversa para o inglês. 

– Eles tocaram no que nunca deveriam. Quando apagaram sua tatuagem, basicamente, disseram que ele era insignificante. Riko não vai tolerar isso. – Kevin levantou sua mão esquerda, como um excelente exemplo do violento complexo de inferioridade de Riko. – Se ele achar que pode, ele vai passar por cima do próprio pai para pegar você, e ele vai.

– Que tente. Ele sabe onde me encontrar.

– Sua falsa presunção não vai ajudar em nada.

– Nem a sua covardia –, revidou Neil. – Só estava com medo de Riko porque ele sabia quem eu era. O que ele pode ter contra mim agora que todos sabem a verdade? 

Neil deu a Kevin um momento para digeri suas palavras e depois continuou:

 – Andrew disse que os Corvos têm que deixar essa disputa seguir seu curso nesta primavera, então, Riko não pode nem sonhar em atacar o resto de vocês, ainda. Eles podem tacar pedras e espernear, mas vocês estão a salvo deles, por agora.

– Acredita nele? – questionou Matt.

Neil deu de ombros.

– Tetsuji acalmou seus fãs loucos dizendo que os Corvos cuidariam de nós na quadra. Ele vai ter que cumprir, então sim, eu acredito em Andrew. Mas, ei, já que as mãos de Riko estão atadas –, disse Neil, olhando para Kevin. – É a hora perfeita para tirar isso do seu rosto.

Kevin demorou um segundo para entendê-lo e se debateu como se tivesse sido atingido.

– Nem brincando.

– Não estou. Allison disse que me emprestaria dinheiro para tirar a minha. Talvez ela faça o mesmo por você agora que eu não preciso da ajuda dela.

– Sem dúvida –, disse Matt. – Ela adora um bom escândalo.

– Parem –, ordenou Kevin. – Calem a boca.

– Você deveria ser o segundo melhor –, disse Neil.

– Experimente.

Kevin fez um gesto cortante sobre o pescoço e saiu. Ele não se incomodou em fechar a porta, e Neil entendeu quando Andrew chegou um segundo depois. Andrew trouxe com sigo um rolo de fita adesiva e alguns sacos de lixo, atravessou a cozinha e se sentou nos cobertores de Neil. Neil fechou a porta do quarto e foi encontrá-lo na sala. Andrew esperou até que ele estivesse sentado antes de levantar o moletom de Neil. Ergueu quatro ou cinco centímetros, depois checou a outra extremidade e finalmente colocou a mão sob a borda.

– Não estou vestindo uma camisa por debaixo –, disse Neil.

Andrew aceitou em silêncio e se preparou para esperar. Neil passou uma mão enfaixada pela fita e pelas sacolas, no entanto, Andrew desviou o olhar e o ignorou. Matt terminou na cozinha e passou por eles. Quando a porta do banheiro se fechou atrás dele e abriu o chuveiro, Andrew gesticulou para o moletom de Neil. Neil tentou não estremecer quando desabotoou os botões. Puxou o moletom até os cotovelos antes de respirar e descansar as mãos doloridas. Andrew deu-lhe apenas um segundo antes de retirar as mangas de seus braços, uma a uma.

Andrew envolveu um saco de lixo em cada braço, cortou o excesso das bordas. Puxou ambas as sacolas, verificando se estavam soltas e acrescentou outra camada de fita adesiva para ter certeza. Quando terminou com os braços de Neil, começou em seu rosto. Pegou uma das sobras de plástico que havia cortado, dobrou-a várias vezes e colou-a em uma das bochechas de Neil, como uma atadura preta e brilhante. Embora Neil estivesse certo de que Andrew colocara mais fita do que plástico em seu rosto, não reclamaria. Andrew terminou a outra face e inspecionou seu trabalho. Neil supôs que estava satisfeito com o resultado final, pois Andrew jogou a tesoura e o rolo de lado.

Puxou o cobertor de baixo deles e colocou-os sobre os ombros de Neil, como um manto. Neil tentou segurar as pontas sobre o peito, mas não conseguiu com os sacos envoltos na mão. Andrew observou-o tentar duas vezes, afastou-lhe as mãos e o fez por ele. Então não havia nada a fazer, exceto esperar Matt terminar. Matt saiu do banheiro para o quarto sem diminuir a velocidade, e se vestiu em tempo recorde. Em vez de vagar até a pia do banheiro para arrumar o cabelo e espetá-lo de gel, levou um pente para a sala e olhou entre eles. Neil olhou em sua direção, no entanto, Andrew não manifestou sua atenção.

– Eu vou ver se Dan precisa de ajuda para reagendar seu voo –, disse Matt. – Venha quando estiver pronto.

– Tá bom –, assentiu Neil.

Andrew levantou-se, seguindo Matt até a porta. Neil supôs que estaria indo tomaria banho em seu próprio quarto, então se levantou e foi ao banheiro. Largou o cobertor assim que ouviu a porta se fechar, o próximo estalo da fechadura foi definitivamente do lado de dentro. Neil olhou para trás, curioso, porém Andrew não estava à vista.

Neil acendeu a luz do banheiro. A sacola em torno da mão grudou nos azulejos molhados da parede. Fitando o chuveiro, indagando-se: se poderia pular essa parte. Os sacos protegiam suas feridas e ataduras, mas também tornavam todo esse processo cem vezes mais complicado. No entanto, ele não tomava banho desde a noite de sexta-feira, sendo assim, não tinha muitas opções.

Os pés descalços de Andrew foram silenciosos sobre o tapete, entretanto, Neil enxergou o embaçado de cores refletido no espelho e virou-se. Andrew estudou seu peito com um olhar entediado, mas seus dedos, pressionados contra as cicatrizes de Neil, eram pesados e persistentes. Neil esperou para ver se tinha algo a dizer, pois Andrew não falara com ninguém desde que saíram do hotel em Baltimore. Neil duvidava que os outros tivessem notado, já que Andrew raramente conversava com Kevin ou Nicky agora que estava sóbrio, no entanto Neil não estava acostumado a tratamento silencioso.

– Ei – começou Neil, apenas para fazer Andrew olhá-lo.

Neil inclinou-se para beijá-lo, precisando saber se Andrew retribuiria ou se afastaria. Andrew aceitou os lábios de Neil sem hesitar, deslizou a mão por seu peito até a garganta. Beijá-lo fez suas bochechar queimadas doerem. Neil lutou para ignorar aquela dor latejante. Passaram-se apenas alguns dias desde aqueles beijos no ônibus, mas, neste momento, parecia uma eternidade.

Neil lembrava muito bem da sensação de dizer adeus. Lembrou de como foi dizer oi novamente. Uma pontada do pânico e indignação da sexta-feira fisgou seu peito, quente o suficiente para queimar o ar em seus pulmões.

Já não sabia o que era essa coisa entre eles.

Não sabia o que queria ou precisava que fosse.

Sabia apenas que deveria mantê-lo o maior tempo possível.

– Você é uma bagunça –, disse-lhe Andrew contra os seus lábios.

– Alguma novidade?

Andrew se afastou, tirou Neil para fora do caminho. Ligou o chuveiro e segurou a mão sob a corrente, verificando a temperatura. Neil pisou na bainha de sua calça para começar a tirá-las, no entanto, Andrew fez a maior parte desse trabalho; despindo-o. Estar nu diante de outra pessoa pareceu estranho, com suas cicatrizes e hematomas à vista, mas a onda desconfortante no estômago de Neil foi se dissipando, pouco a pouco, com a maneira desinteressada que Andrew o manuseou. Neil entrou no chuveiro, tenso, em preparação para a dor, foi um alivio os revestimentos em seus braços e rosto permanecerem. Abaixou a cabeça e deixou a água cair em seu crânio. Dava-lhe uma desculpa para fechar os olhos e encontrar seu equilíbrio mental.

Uma mão em seu cabelo o sacudiu de seus pensamentos, e rapidamente abriu os olhos para ver Andrew, em pé, a sua frente. Andrew não se incomodou em se despir, a não ser pelas braçadeiras e os sapatos. A água atingiu sua camisa preta, colando-a sobre o corpo, pequenos riachos corriam por suas têmporas, descendo pelas bochechas até pingar no queixo. Neil estendeu a mão até ali, lembrou-se dos sacos bem na hora e franziu o cenho um pouco irritado. Andrew afastou sua mão e puxou a cortina do chuveiro.

Andrew conseguiu lavar os cabelos de Neil com eficiência, se não suavemente, mas ao se aproximar do corpo de Neil, houve mais beijos do que limpeza. Andrew cometeu o erro de virar o rosto em certo ponto, então Neil perseguiu a água escorrendo ao lado de seu pescoço. Os dedos de Andrew se apertaram convulsivamente aos lados de Neil quando um tremor sacudiu suas estruturas.

Andrew tentou se recuperar replicando:

– Seu fetiche por pescoço não é atraente.

– Você gosta –, disse Neil, sem arrependimento. – Gosto que você goste.

Ele mordeu-o, mostrando estar certo, e Andrew virou o rosto de encontro a ele com um sibilo agudo. Neil sorriu, um sorriso que Andrew não pôde ver. Talvez sentisse o roçar de lábios contra sua pele hipersensível, pois cravou os dedos no cabelo de Neil e o afastou. Andrew pôs uma mão espalmada sobre o abdômen de Neil, o empurrou até sair de baixo da ducha, o pressionado contra os ladrilhos suaves e escorregadios.

Perguntou Andrew, próximo ao queixo de Neil:

– Sim ou não?

– Com você sempre será SIM –, respondeu Neil.

– Exceto quando for NÃO –, replicou Andrew.

Neil levou um dedo embrulhado em plástico ao queixo de Andrew, guiando a cabeça para outro beijo.

– Se você tiver que continuar perguntando... Vou responder quantas vezes você perguntar. Mas a resposta sempre será sim.

– Não venha com essa de “sempre”.

– Não pergunte a verdade se for enfraquecê-la.

Andrew colocou a mão sobre a boca de Neil, manteve-a até estar de joelhos, isto é, até não poder alcançá-lo mais. Levemente Andrew beijou o quadril de Neil, antes de engoli-lo por inteiro. Neil agarrou o cabelo de Andrew, mas suas feridas e o plástico tornaram a aderência difícil. Em vez disso, segurou-se contra a parede, porém estava escorregadio demais para oferecer apoio. Andrew o prendeu contra a parede com uma mão no quadril, o que ajudou, mas Neil ainda sentia que estava escorregando. E escorregou, logo depois, embora estivesse descendo, deslizou pela a parede até o chão, ofegante e atordoado pela necessidade ardente.

– Você quer...? – Ele começou, sua voz rouca.

Andrew o beijou para silencia-lo. Neil fez uma pequena careta ao sabor na língua de Andrew, mas ficou feliz em removê-lo. Andrew segurou seu antebraço contra a parede, mantendo um espaço confortável entre seus corpos. Neil deixou-o que fizesse essa lacuna, no entanto cruzou os braços doloridos atrás da cabeça de Andrew para mantê-lo mais perto. Neil não notou a ausência da outra mão de Andrew, até Andrew parar de respirar contra seus lábios. Isso o confundiu por um segundo, a ponto de ser burro o suficiente de se afastar e olhar para baixo.

Fazia semanas desde que beijar Andrew tornara-se algo normal, embora todas as noites terminassem da mesma forma: com Andrew o fazendo gozar e depois o dispensando. Nem mesmo desabotoava as calças se Neil ainda estivesse por perto. Neil não sabia se essa quebra na rotina era uma confiança relutante ou uma determinação de não deixar Neil fora de sua vista novamente. Neil, neste momento, não se importava, desde que Andrew permanecesse onde estava. Neil murmurou algo entre os lábios Andrew, algo que poderia ter sido aprovação, poderia ter sido apoio, recebendo um ligeiro grunhido em resposta.

Andrew não gostou desse incentivo de Neil, mas tampouco se zangou o bastante para se afastar. Neil se manteve firme até Andrew finalmente ficar estático. Andrew demorou alguns segundos para recuperar o fôlego, depois afastou-se. Neil obedientemente abaixou os braços e o soltou. Andrew lavou a mão com a água do chuveiro antes de se levantar e ajudar Neil a ficar de pé.

Neil saiu do chuveiro, deixando água por toda parte e enrolou a toalha na cintura. Andrew se inclinou para fora do chuveiro, abriu a porta e fechou-a quando Neil saiu. Demorou tempo suficiente até Neil ouvir o golpe das roupas encharcadas de Andrew contra o chão, depois foi para o quarto secando-se ao ar. Havia comprado apenas uma toalha, isso quando se mudara para o campus no verão passado, mas Matt tinha algumas peças de reposição para os dias de lavanderia e as ocasionais festas do pijama com Dan. Neil tirou uma limpa do armário de Matt e pendurou-a na maçaneta da porta do banheiro, para Andrew.

Ainda estava molhado quando Andrew apareceu, e deu de ombros ao olhar que Andrew lhe lançou. Andrew secou-o, cuidadosamente em torno de seus ferimentos, e vigoroso no resto do corpo. Retirou as sacolas dos braços e rosto de Neil. Andrew correu um dedo pelas bandagens no braço esquerdo de Neil antes de ajudá-lo a vestir as roupas mais soltas que tinha. Seria ótimo usar mangas compridas, porém não por muito mais tempo. Essas feridas cicatrizariam onde todos pudessem vê-las. As cicatrizes eram melhores do que estar morto, então Neil se imaginou recebendo olhares eventualmente.

Neil emprestou roupas a Andrew, para que não tivesse que voltar a seu quarto usando apenas uma toalha, mas não ficou enquanto Andrew se vestia. Em vez disso, foi até a cozinha pegar o remédio e encher três canecas com café. Andrew entrou enquanto Neil devolvia a cafeteira e pegava uma das canecas. Neil pegou as outras duas e suas pílulas, contudo hesitou na porta de entrada.

– Estou sem minhas chaves –, disse ele.

Ele as colocara em sua bolsa antes da viagem a Nova York, mas não tocara em seus equipamentos desde então. Sabia que Matt levara sua bolsa para o estádio, porém ninguém havia se dado ao trabalho de desfazê-la depois de sua história na noite anterior. Neil mal podia acreditar que tinha esquecido de verificar suas coisas. Não sabendo se deveria atribuí-lo ao cansaço ou ao trauma de encontrá-la vazia. Talvez pudesse culpar Renee e Dan, cujos gestos no final daquela conversa dolorosa o fizeram se sentir seguro demais para se importar com qualquer outra coisa.

Andrew se virou, sem comentar, pegou as chaves de Matt na gaveta da escrivaninha. Só depois de voltar a seu lado que Neil lembrou-se: Matt as havia deixado lá na noite anterior, depois de trocar de roupa. Neil invejou a memória perfeita de Andrew, por um momento; Andrew já havia dito que as memórias de sua infância eram desagradáveis. Neil também não tinha muitas boas lembranças, mas pelo menos sabia que havia esquecido algumas das primeiras injustiças e tragédias. Não conseguia imaginar como seria lembrar-se de cada golpe e de todas as palavras fortes.

Pensou em perguntar a Andrew se tinha alguma boa lembrança, então teria que realmente perguntar o que alguém tão taciturno considerava “bom”. Em vez disso, disse:

– O nosso joguinho acabou, não foi?

– Ainda é minha vez –, destacou Andrew.

– Depois disso? – indagou Neil. – Não tenho mais segredos para trocar.

– Pense em outra coisa.

– O que vai querer?

– O que você vai me dar?

– Não faça perguntas na qual você já sabe a resposta –, Neil o repreendeu.

Andrew deu-lhe um olhar entediado, nada impressionado por ter usado suas próprias palavras contra ele. Neil encostou um ombro na porta antes que Andrew pudesse abri-la e disse: 

– Acho que eu deveria ganhar algumas rodadas extras, considerando que você recebeu todas as suas respostas de graça.

– Você deu de boa vontade.

– As circunstâncias meio que forçaram isso.

Andrew olhou para ele em silêncio. Neil se recusou a entender a pista ou se mover, feliz por jogar o jogo do espera. Demorou alguns minutos, mas finalmente Andrew levantou um dedo e disse:

– Uma pergunta grátis.

Uma? – repetiu Neil. – Quanto menos você me der, mais vai odiar o que eu vou pedir.

– De qualquer maneira, odeio tudo relacionado a você –, revidou Andrew. – Nem vou notar.

Neil se afastou da porta.

– Te aviso quando algo acontecer comigo.

Andrew abriu a porta e fechou-a atrás deles. Neil levantou o dedo mindinho da caneca e deixou Andrew pendurar o chaveiro. Neil foi para a próxima porta, mas Andrew continuou pelo corredor até seu próprio quarto. Neil não tinha a mão livre para tocar, então deu um pontapé de leve. Foram necessárias três tentativas antes que alguém o ouvisse ou percebesse que alguém estava pedindo para entrar. Quando Matt abriu a porta, Neil indicou uma das canecas.

– Você esqueceu isso.

– Ah, obrigado. – Matt pegou e se afastou para deixá-lo entrar.

Dan e Renee já estavam prontas. O espaço vazio do sofá entre elas certamente era o lugar de Matt, contudo, Dan gesticulou para Neil se sentar. Matt sentou-se no braço do sofá, à esquerda de Dan e passou o braço sobre seu ombro. Ela entrelaçou os dedos com os dele e estudou as ataduras de Neil. Neil deixou-a olhar, esperou para ver se surgiram novas perguntas da noite para o dia.

No entanto, tudo o que lhe ocorreu foi:

– Como se sente?

– Não sei –, disse ele. Achava que deveria estar um pouco preocupado por não ter notícias de Stuart, mas não conseguia pensar em nenhuma preocupação. As Raposas tinham enfrentado seus segredos e apenas se aproximado mais. Como poderia temer algo com todos eles o protegendo? Do que poderia se arrepender enquanto ainda sentisse os beijos de Andrew em sua boca? – Agora estou bem, eu acho.

O som abafado de um secador de cabelo dizia que Allison terminara com o banho e seguia o lento processo de se preparar para o dia. Eles esperaram por ela em silêncio, confortavelmente. O café de Neil havia acabado há muito tempo, sua caneca esfriado quando Allison apareceu. Não importava que fosse primavera ou que estivessem saindo para comer ovos; Allison estava vestida de maneira impecável, como de costume, e deixou um rastro de perfume do banheiro até a sala. Deu a volta ao redor do sofá para fitar Neil, as mãos nos quadris e o salto estalando contra o assoalho.

– Vai sair? – Ela perguntou.

– Ainda não vi as notícias –, disse Neil.

Ela olhou por cima do ombro, como se pensasse em ligar a televisão, mas Dan se levantou e disse:

– Estou morrendo de fome. Vamos

Eles pegaram o grupo de Andrew na porta ao lado. Neil não perdeu os olhares que os veteranos lhe enviaram quando viram o que Andrew usava, contudo, estava mais interessado nas reações dos primos. Os ombros de Nicky estavam tensos, e um espaço notável entre ele e Andrew. Neil imaginou que a língua de Nicky havia escapado e dissera algo sobre Andrew ter tomado banho no quarto de Neil. Essa falta de filtro na língua seria a causa de sua morte, algum dia.

Aaron estava ainda mais para trás, os braços cruzados sobre o peito e os olhos em Neil. Neil esperava ver censura ou desgosto em sua expressão, considerando a dor de cabeça que Aaron dava a Nicky devido a sua sexualidade, porém seu o olhar era pesado e ilegível.

Matt ofereceu-se para levar todos em sua caminhonete, depois se retratou imediatamente após se lembrar de que Neil não conseguia nem subir na cama. Neil sentou-se no banco do passageiro do carro de Andrew, relegando silenciosamente Kevin para o banco de trás com Nicky e Aaron, e observou o campus vazio passar pela janela. Nicky ficou quieto durante a maior parte da viagem, mas se recuperou antes de chegar ao estacionamento. Felizmente, foi inteligente o suficiente para não tocar em assuntos pessoais e, em vez disso, divagou sobre seu histórico pessoal de comer panquecas.

O almoço foi um evento turbulento. As Raposas se reuniram da única maneira que sabiam: seguindo como se o fim de semana não tivesse acontecido. A disposição de Neil, caso precisasse de alguma coisa, mas não se intrometeriam e não ser atrasariam em pequenos acidentes. O único momento desconfortável foi quando a garçonete, tentando fazer uma conversa fiada, perguntou a Neil sobre suas ataduras.

Andado de Skate –, disse Matt ao mesmo tempo que Dan. – Ele caiu em um tanque de piranhas.

Allison fez um gesto em despedida, entediada, quando a garçonete lhes lançou um olhar perplexo, e disse-lhe em tom conspiratório:

– Termino de namoro conturbado.

– Fim de semana difícil –, deduziu a garçonete, e seguiu seu caminho.

Dan seguiu exatamente de onde haviam parado: descobrir como reorganizar seus planos para as férias de primavera. Remarcar seus voos era viável, embora um pouco cara, mas Dan não estava mais interessada em voltar para o norte. Não fora óbvia sobre não quer deixar Neil fora de sua vista, mas aludiu tão insensatamente que Neil soube o que ela queria dizer. Em sua visão, não havia nada que valesse a pena no campus nesta semana, com absolutamente tudo fechado, e, atentou-se as ideias dos outros.

– Você tinha planos de fazer alguma coisa? – Matt finalmente pensou em perguntar a Neil. – Além do óbvio, quero dizer.

Neil não tinha certeza se Matt estava se referindo a Exy ou Andrew. Não tentou adivinhar, mas respondeu:

– Estava planejando uma viagem. – A julgar pela expressão em seus rostos, foi a última coisa que esperavam vindo dele. Neil deu de ombros desconfortavelmente e continuou: – Minha mãe e eu viajávamos para sobreviver. Nunca fui a lugar algum apenas por querer. Queria saber como era.

– Você nunca tirou férias? – indagou Dan, em seguida, surpreendeu-se com expressão de pesar e um: – Ignore. Esqueça que eu disse isso.

– Aonde você quer ir? – perguntou Renee.

– Não sei –, admitiu Neil. – Eu não olhei em volta ainda.

Allison levou as unhas bem cuidadas aos lábios, pensativa, e, então acenou para Matt. 

– Um Resort?

– Não parece a praia dele –, disse Matt, – e é cedo demais para ir à praia. Cabana, talvez?

Allison parecia disposta a discutir, mas pensou melhor. 

– Montanha Blue Ridge?

– Nunca estive lá, ainda –, disse Matt, – mas ouvi dizer que é incrível.

– Neil? – perguntou Allison.

– O que? – replicou, perdido.

– Sim ou não? – sugeriu Allison, não acreditando em sua falta de atenção. – Nós vamos para as montanhas durante a semana.

Nós –, repetiu Kevin. Quando Matt fez um movimento com o dedo para indicar a todos, Kevin fez um gesto brusco. – Não. Independentemente do que aconteceu neste fim de semana, ainda estamos no meio do campeonato de primavera. Nós precisamos...

Kevin parou de falar abruptamente e olhou para baixo. Neil não pôde ver o que enxergava, embora pudesse adivinhar. Uma das mãos de Andrew estava fora de vista, debaixo da mesa, junto a faca faltando ao lado de seu prato. O queixo de Andrew posicionado em sua outra mão, enquanto olhava para o outro lado do, para nada em particular. Kevin olhou fixamente para o alto da cabeça de Andrew, como se considerasse o blefe. No final, franziu a cenho e aquietou-se. Neil não sabia o que o convencera: os hematomas escuros que ainda lhe rodeavam a garganta ou os gestos desesperados que Nicky fazia ao lado de Neil.

– De qualquer forma... –, disse Allison deliberadamente.

– Não é muito em cima da hora para fazer reserva, certo? – perguntou Dan.

– Estamos em março –, disse Allison, como se tivesse explicando tudo. Tirou o celular brilhante da bolsa e apontou para Neil. Foi a última chance de recusar sua oferta, Neil adivinhou, porque um segundo depois ela assentiu e apertou alguns botões. – Vou ver se Sarah encontrar algo para nós. Sarah? – Ela disse em seu celular antes que Neil pudesse perguntar. –Eu preciso de algo, em Blue Ridge, para nove pessoas. De preferência com cinco quartos ou mais. Sim, hoje noite até domingo de manhã, é melhor. Sim, vou esperar.

Ela desligou. Deixando o celular de lado.

– Sarah? – indagou Nicky.

– A agente de viagens dos meus pais –, respondeu Allison. Nicky lançou-lhe um olhar estranho. Allison pareceu quase ofendida. – Você não acha que reservo minha própria viagem, acha? Quem tem tempo para isso?

– Qualquer pessoa no mundo real –, disse Dan secamente.

– Estou surpreso que seu pai a deixe contatá-la depois de deserdar você –, disse Nicky. Foi um lembrete rude de que Allison havia perdido a maior parte de sua herança abandonando os sonhos de seus pais. Até Nicky sabia o quão ruim soava, a julgar por seu recuo. – Isso soou errado. Só queria dizer...

– Eu sei o que você quis dizer –, retrucou Allison, um pouco fria. – Ele não sabe.

– Sinto muito. – Nicky deu a Neil um olhar suplicante para salvá-lo de sua falta de reflexão.

Neil não precisou intervir, pois Allison seguiu o olhar frenético de Nicky em direção a Neil.

– Você gosta de montanhas, certo?

– Fui uma vez. Nós não ficamos. Tá tudo realmente bem?

– Isso, se tá realmente bem –, disse Dan, – parece como se não tivéssemos convidado todo mundo para suas férias.

– Precisa que ajudemos na despesa? – Renee perguntou a Allison.

Allison a dispensou.

– Não se preocupe com isso.

A garçonete e os dois garçons apareceram com seus pratos, e a conversa se afastou temporariamente quando todos ajudaram a pegar os pedidos. No meio do almoço, Allison recebeu uma chamada de confirmação para uma cabana de cinco quartos em Smokies. Eles podiam pegar as chaves no escritório principal a qualquer momento antes das oito, o local ficava a pouco mais de duas horas de carro. Allison olhou para o relógio do celular enquanto transmitia os detalhes a seus colegas e acenou com satisfação.

 Tinham muito tempo para fazer as malas e pegar a estrada.

Quando começaram arrastar a hora da partida, Neil precisou dizer-lhes:

– Tenho que ver Abby antes de sairmos.

– Oh –, espantou-se Dan, – então não se apresse, tome o tempo que for preciso. Nós vamos fazer as malas enquanto ela faz os curativos.

Ter um plano e um destino significava que ninguém estava interessado em demorar mais. Dispensaram as sobras do café e chamaram a garçonete para pegar a conta. Neil não sabia quando Dan tinha furtado o cartão de compras da equipe, que ficava com Wymack, mas pagou pela comida e pela gorjeta. O celular de Neil ainda estava na bolsa, no estádio, então Nicky ligou para Abby a caminho do estacionamento.

– Oi –, disse Nicky. – Quando você quer ver o Neil? Decidimos que todos sairemos da cidade durante a semana. Assim que você der o sinal verde, podemos ir. Sim, está tudo bem, vejo você em um estante.

Desligou e subiu no banco de trás. Quando estavam na estrada, se inclinou entre os assentos da frente para dizer: 

– Ela vai encontrá-lo no estádio, para pegar todos os materiais. Disse que o treinador já está lá, tentando reescrever as cartas de recrutamento. Com sorte, ele assinará com todos antes que as notícias os assustem.


6 Comentários

  1. Anônimo10 abril

    Andrew e Neil melhor casal ❤️
    Obrigada por mais uma tradução!

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  2. Anônimo10 abril

    apaixonado por esse livro

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  3. Jesus eu sou cardíaca....
    Eu tô muito que morta pqp Andreil meu casal <3
    crlh como eu amo um livro aff
    tô tremendo aqui
    ~respirando
    <3

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  4. Andreil tá o próprio casalzão da poha <3 mto amor envolvido!

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  5. Que episódio incrível!!!!! Obrigado por traduzir! Eu amo esse livro.

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  6. Mano que capítulo apaixonada,meu andreil cada vez mais lindo,chega o ar falta❤

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