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The King's Men - Capítulo Quinze [Parte 2]


TRADUÇÃO: THIAGO
REVISÃO: THIAGO

– Posso dirigir? – Neil perguntou a Andrew.

Andrew não respondeu, dirigiu para o dormitório em vez do estádio. Neil saiu junto com os outros e deu a volta pelo capô. Quando se virou, enxergou Kevin subir no banco do passageiro. Andrew olhou para trás, quando percebeu que Kevin não estava com ele, mas não parou e não perguntou, seguiu seu caminho para o dormitório.

Assim que Kevin se instalou, Neil os conduziu de volta a estrada. Os carros de Abby e Wymack estavam estacionados lado a lado na calçada em frente do Foxhole. Neil discou o mais novo código de segurança e seguiu pelo corredor. Ao se aproximarem do vestiário, olhou para Kevin e disse:

– Me deixe conversar com ele primeiro. Ele não vai querer falar com mais ninguém quando você terminar com ele.

Kevin manteve os olhos no chão sem dizer nada.

Abby já esperava por eles, sentada no salão. Começou a se levantar, mas Kevin foi até ela, dando tempo a Neil para ir ao escritório de Wymack. A porta de Wymack estava aberta o suficiente para Neil enxergar sua mesa. Cercado por seu caos habitual de papel e com seu telefone no ouvido. Ele não se incomodou em remover os itinerários de seu teclado antes de tentar digitar com uma mão. Olhou para o movimento na porta e gesticulou para Neil entrar.

Neil fechou a porta ás sua costa e puxou uma das cadeiras em frente à Wymack para esperar. Levou apenas mais alguns minutos para Wymack conseguir seu voo. Neil ouviu Columbus e soube que Wymack estava de olho no atacante que havia escolhido. Finalmente, Wymack desligou e colocou o telefone no suporte. Alguns toques no teclado bloquearam seu monitor e Wymack sentou-se para dar a Neil toda a sua atenção.

Neil retornou seu olhar, de repente, perdido. Ele era fluente em dois idiomas, quase lá em um terceiro, e podia falar algumas frases úteis de sobrevivência em meia dúzia de outros. Todavia, com toda a verdade nua e crua entre eles, Neil não tinha as palavras certas para dizer.

– Você deveria ter jogado fora meu arquivo –, disse-lhe Neil finalmente. – Deveria ter ido embora quando recusei o contrato. Mas você teve uma chance comigo e me trouxe aqui. Você salvou minha vida Três vezes. Você salvou minha vida. Não consigo apenas dizer “obrigado” por isso.

– Não é necessário –, disse Wymack. – Eu te trouxe aqui, mas você salvou a si mesmo. Foi você quem decidiu ficar. Foi você o único que parou de ter medo por tempo suficiente para perceber que poderia se reestabelecer aqui. Você trilhou seu próprio caminho...

– De qualquer forma –, continuou Wymack quando Neil tentou argumentar: – Eu deveria te agradecer. Você nos disse ontem à noite que pretendia terminar o ano morto ou em custódia federal. Poderia ter ignorado tudo e todos para se preocupar com você este ano. Em vez disso, você concordou em ajudar Dan a consertar esta equipe. Você está salvando os dois que eu pensei que não poderíamos alcançar, você é um exemplo vivo para Kevin seguir. Ele nunca costumava olhá-lo –, disse Wymack, – mas está de olho em você desde dezembro, tentando descobrir como você se mantém firme.

– Não é algo que pode ser ensinado –, disse Neil.

– Isso é o que você pensa –, replicou Wymack. – De onde estou sentado, você está fazendo um progresso real.

Poderia ter sido uma ilusão, exceto que Wymack tinha uma forma de enxergar as coisas através de todos eles. Neil acreditou nele, porque queria acreditar que Kevin poderia ser alcançado. Precisava ver o dia em que Kevin tiraria o número de seu rosto e vencesse Riko em seu próprio jogo. Precisava que Kevin acreditasse que poderia usurpar o trono de Riko e sobreviver. Até que Kevin acreditasse nessa possibilidade, ele nunca acreditaria plenamente na capacidade das Raposas de chegar às finais.

– Neil –, disse Wymack depois de um minuto, – está em todos os noticiários. Nós tentamos ficar em nossos quartos e fora de vista enquanto você estava com o FBI, mas eles estavam esperando do lado de fora. Eles têm fotos do ônibus e todos nós carregando coisas antes de partir. Não demorou muito tempo para juntar as peças. Meu telefone tocou a manhã toda entre a imprensa, a diretoria e o Chuck. A reitoria da universidade vai querer conversar com você antes de voltar às aulas.

Neil sabia que isso aconteceria, no entanto, por um momento, pensou em vomitar o café da manhã.

– Tudo bem. Quer que eu jogue o joguinho “sem comentários” com a imprensa? Se você puder, eu... – Neil hesitou, mas pensou no conselho de Allison e na promessa relutante de Kevin de ajudá-lo a lidar com a tempestade, – falarei com eles na próxima semana. Você pode dizer a eles.

– Terça? – indagou Wymack. – Terça ou quarta-feira, quero que você use a segunda-feira para lidar com todas as reações no campus. Vou agendar um horário e ver o que posso fazer para distraí-los nesse meio tempo. Talvez eu diga a eles que você concordou em ser vice-capitão no próximo ano.

– Não estou qualificado para isso –, disse Neil. Ele apontou para os arquivos dos recrutas espalhados sobre a mesa de Wymack. – Todos eles têm mais experiência do que eu e não querem seguir o filho de um gangster.

– Andrew também não queria segui-lo –, disse Wymack. – Veja como isso acabou.

Você descobrirá algo de um jeito ou de outro.

Neil olhou para suas mãos. Contara sua vida e perdas em seus dedos apenas algumas semanas atrás. Agora eram coisas que estavam no ar, esperando apenas na capacidade de Stuart de influenciar os moriyamas. Wymack estava pedindo a Neil para se comprometer com um futuro que nenhum deles tinha certeza de que realmente teria. A praticidade dizia-lhe para esperar até que tivessem certeza. Todavia, depois de um momento, Neil cerrou a mão em um punho e focou no caminho que buscava seguir.

– Farei o melhor que eu puder – disse ele.

– Ótimo – assentiu Wymack. – Agora vá em frente. Dan me ligou para dizer que todos vocês estão de saída da cidade. Afaste-se de tudo isso por um tempo, respire um pouco de ar fresco e volte pronto para fazer o impossível acontecer.

– Sim, treinador. 

Kevin levantou-se quando Neil voltou. Neil via a tensão nos ombros de Kevin e a linha dura em seus lábios e soube que Kevin adiaria a revelação até eles voltarem. Kevin o olhou, depois passou por ele, em direção à porta aberta de Wymack, e abriu a boca prestes a dar uma desculpa, da qual Neil não quis ouvir. 

– Não faça – aconselhou Neil.

Kevin hesitou, Neil sabia que havia vencido. Abby olhou entre eles, sem entender. Neil não esperou que ela descobrisse, cortou para a porta seguinte, para o escritório dela. Abby se juntou a ele um momento depois, ainda confusa. Neil não explicou, porém ouviu o som abafado da porta de Wymack se fechando. Só então pôde relaxar e voltar sua atenção a Abby.

Enfrentar suas feridas não foi mais fácil. Neil rapidamente desviou o olhar do desastre em seus braços quando Abby desenrolou suas ataduras. Abby segurou o rosto de Neil em uma mão antes de começar. Então, preparou um kit de viagem para ele levar para as montanhas e deu-lhe um beijo de despedida na testa. Neil se levantou da maca e foi até o carro para esperar.

Vinte minutos depois, Kevin apareceu, abatido e derrotado. Começou a abrir a porta do passageiro e entrou. Neil nada disse, apenas girou a chave na ignição. Foi uma curta viagem de volta a Torre das Raposas, e Kevin não saiu quando Neil estacionou. Neil esperou apenas um minuto antes de entender e começou a andar em direção à porta. A dois passos do carro, se virou e abriu a porta novamente. Kevin estava com o cotovelo no peitoril da janela e o rosto na mão. 

Neil repensou no que dizer.

– Vou contar a eles, para você não precisar fazer.

Kevin fez um gesto com a mão livre. – Algo que poderia ser “Saia” ou “não me importo”, porém não um “Não se atreva” – Nada disse; Neil não achou que pudesse. Fechou a porta e deixou-o em sua miséria.

Neil pegou Nicky e os gêmeos de seu quarto e levou todos para o quarto ao lado, para o quarto de Dan. Uma pilha de mochilas e bolsas de viagem no meio da sala de estar dizia que eles estavam prontos para sair. Matt e Allison estavam sentados no sofá, enquanto Renee desconectava os eletrônicos da sala. Renee trouxe Dan para fora do quarto a pedido de Neil. Dan afundou no espaço entre Matt e Allison e pegou uma caneca da mesa de café. Neil esperou, até que todos estivessem acomodados, antes de olhar para Dan e ao redor da sala.

– O treinador é o pai de Kevin.

Dan cuspiu o café no meio da mesa, engasgando-se com o pouco que não saiu da boca. Matt fitou Neil por um minuto interminável, boquiaberto, um segundo antes de perceber que Dan tossia, e, então deu-lhe um golpe entusiasmado nas costas. Dan tentou dizer algo, no entanto, saiu em uma rouquidão ininteligível. Allison e Renée olharam para Neil como se uma segunda cabeça lhe tivesse crescido, e Aaron encarou Andrew, como se Andrew devesse tê-los alertado em algum momento. Se Andrew notou a atenção, não a retribuiu; Ele só tinha olhos para Neil.

– De jeito nenhum! – explodiu Nicky. – De jeito nenhum! Fala sério? Você não pode está falando serio. Quando diabos isso aconteceu?

– A mãe dele ensinou Exy para o Treinador –, Neil o lembrou.

– É o que? Ele não percebeu que ela estava grávida? – questionou Aaron.

– Ela disse a ele que Kevin não era dele –, respondeu Neil. – Ela conhecia o desejo do treinador de ter uma equipe na NCAA um dia. Ela pensou que ele abandonaria seus sonhos para ajudá-la a criar Kevin. Não era o que ela queria, e também não queria desistir do que estava fazendo e se mudar para os Estados Unidos. Então ela mentiu. A única pessoa a quem ela contou foi o técnico Moriyama.

Dan finalmente retomou sua voz.

– Quanto tempo Kevin sabe?

– Apenas há alguns anos –, lembrou-se Neil.

Há alguns anos –, repetiu Dan, em um tom nada suave –, e ele não contou nada?

– Ele estava tentando protegê-lo –, disse Neil. – Se o treinador soubesse que Kevin era seu filho, ele teria tentado tirá-lo de Edgar Allan.

Nicky fez uma careta.

– Eles nunca deixariam Kevin ir embora.

– Mesmo assim, deveria ter dito algo quando fugiu –, insistiu Dan. – Ele está aqui há um ano e meio. Ele não tinha o direito de manter algo assim do Treinador por tanto tempo. Pai do céu, ele não fez... – A voz de Dan embargou-se um pouco, mais em pesar do que indignação, Neil presumiu que ela imaginara a reação de Wymack à verdade. – Não é certo. Não é justo.

– Não –, concordou Neil calmamente, – mas pelo menos o Treinador sabe agora. 

– Droga –, disse Matt. – Como ele reagiu?

– Não estava presente na hora –, disse Neil, – mas não acho que tenha ocorrido bem. 

Dan fez um barulho horrível e levantou-se do sofá. Matt se aproximou dela apenas para ter sua mão afastada. Dan correu para o quarto e fechou a porta ás suas costas. Matt pareceu atordoado por aquela rejeição violenta, no entanto, Renee pegou o lugar vazio de Dan e deslizou seu braço por ele. Apesar dessa silenciosa demonstração de apoio, Renee olhava para Allison.

O olhar que trocaram parecia cansado.

– Ela nunca vai perdoar ele por isso –, disse Allison.

– Quando o treinador chegar a um consenso, muito menos –, disse Renee.

Allison nada disse; seu olhar cético disse o suficiente. Neil concordou silenciosamente com Allison. Ele passara tempo suficiente com os veteranos para saber o tanto Dan admirava Wymack. Ele era a única figura paterna que ela já tivera. Ele era tudo o que ela aspirava ser na vida. Dan perdoara muitas injustiças durante seus anos com as Raposas, porém, grande parte desses insultos fora dirigida a ela e a seus amigos. Perdoar alguém por ferir Wymack era mais do que poderia suportar.

– Vão ficar de olho nela? – indagou Neil.

– Claro –, disse Renee.

Neil foi até ao quarto para fazer as malas. Não demorou muito, porém não retornou a seus amigos quando acabou. Em vez disso, se sentou no sofá e esperou que seus companheiros se recuperassem novamente. Matt apareceu quinze minutos depois, passaram-se vinte minutos antes de Nicky procurar por eles. Matt dependurou a bolsa de Neil em um ombro e a sua no outro e deixou Neil fechar o quarto. Em algum momento, Kevin havia entrado, parecendo completamente exausto ao lado de Andrew. Obviamente, Dan ainda estava brava, como um cão selvagem, onde se manteve longe de todos os outros. Ela nem sequer olhou para Matt quando ele se aproximou, apenas se dirigiu para as escadas.

As Raposas desceram as escadas em fila dispersa e jogaram suas malas na traseira da caminhonete de Matt. Andrew foi o único que manteve a sua, e Matt não tentou levá-la. Matt tinha uma capa escondida sob o banco do passageiro e, em apenas alguns minutos, prendeu as bagagens a traseira. Com as malas presas, as Raposas se separaram entre a caminhonete e o carro de Andrew, e pegaram a estrada.

Andrew encaminhou-se para uma loja de conveniência no caminho para a interestadual. Nicky entrou sozinho, voltou quinze minutos depois com uma quantidade obscena de garrafas. Sem as bagagens no porta-malas, havia espaço suficiente para carregá-las. Andrew abriu o zíper e despejou sua bolsa. Estava cheia de suéteres, uma escolha estranha para as montanhas, até Neil perceber que, estariam usando as camisas para encobrir as garrafas. Neil esperava que Andrew tivesse guardado algumas mudas mais práticas junto às coisas de Nicky ou Kevin.

Eles voltaram à estrada alguns minutos depois. Passaram-se um pouco mais de duas horas do campus até as montanhas, embora parecesse uma viagem curta para atletas acostumados a viajar antes das partidas. Neil pensou que alcançariam a picape de Matt em algum momento, porém, os veteranos chegaram por primeiro ao local. Matt enviou uma mensagem a Neil com instruções do posto principal, de sua cabine e uma confirmação de que tinha todas as chaves.

Dez minutos depois, Andrew parou na estrada de terra em frente à sua cabana, um pouco distante. A enorme cabana parecia rústica por fora e refinada por dentro, com paredes lisas de madeira e piso de madeira polida. A sala principal possuía tapetes pesados espalhados por toda parte, ossos decorativos e arte nas paredes. A cozinha estava equipada com novos aparelhos, e um enorme ímã na geladeira anunciava a hora em que as refeições eram servidas no posto. A sala dos fundos dispunha uma mesa de pebolim e uma mesa de sinuca. Havia também uma televisão embutida à parede.

Um quarto no andar de baixo. Os outros quatro no andar de cima. Dois quartos já tinham as bagagens, significava que o grupo de Andrew se dividiria entre os andares. Nicky votou imediatamente, para que Neil e Andrew ficassem com o quarto privado no andar térreo, e nem Aaron nem Kevin o contestaram. Neil quase denotou algo, pois o quarto do andar de baixo tinha apenas uma cama king size, mas como Andrew não discutiu, ele manteve a boca fechada.

Os quatro cômodos do andar superior tinham portas que levavam a uma varanda que cercava todo o edifício. Duas portas dos fundos do andar térreo levavam a um deck que rodeava os dois lados do edifício, com vista para a encosta da montanha e um trecho, aparentemente interminável, de árvores. Cadeiras de balanço decoravam a varanda, e pequenas lanternas em intervalos no corrimão. Havia uma banheira de hidromassagem, instalada no canto do deck, em formato de L, e foi lá que encontraram os veteranos. Já haviam colocado roupas de banho e estavam sentados dentro da banheira enquanto enchia.

– Não é incrível? – perguntou Matt. – Quero me mudar para cá.

– É muita... natureza –, disse Nicky. – Moraria aqui só se pudesse ficar lá dentro.

Allison revirou os olhos e se inclinou um pouco mais contra o encosto da banheira. 

– Só falta uma Margarita.

– Engraçado você mencionar isso –, disse Nicky, e os quatro veteranos se viraram para olhá-los. Nicky fingiu surpresa, depois condolências, pondo a mão no peito dramaticamente. – Sério, pessoal? Parece que vocês não nos conhecessem.

– Nós tentamos –, denotou Allison.

Ao mesmo tempo, Matt perguntou:

– O que vocês trouxeram?

Han – Nicky fez uma careta para Allison. – O que não trouxemos, você quer dizer?

– Eu consegui as cabanas –, disse Allison. – Vocês preparam as bebidas. Tem um liquidificador na cozinha.

– Dois, na verdade –, disse Renee. – Vi um reserva no armário acima da geladeira.

Nicky votou rapidamente sobre os pedidos, e recrutou Aaron e Kevin para ajudá-lo a carregar as bagagens para dentro. Neil e Andrew foram até a cozinha para investigar. O freezer tinha uma máquina de gelo embutida e o balde estava cheio, então Andrew colocou-o no balcão e puxou o segundo liquidificador. Neil saiu do caminho enquanto os outros descarregavam as bebidas, e observou, com interesse vago, enquanto Andrew e Nicky trabalhavam com os liquidificadores. Kevin e Aaron sentaram-se à mesa e abriram uma garrafa de vodka.

– Vai fazer para Renee? – indagou Nicky, enquanto terminava a primeira bebida. – Vai contra a minha religião fazer drinks sem batizá-los.

Andrew não respondeu, entretanto Neil sabia que ele cuidaria disso. Nicky recrutou Kevin para levar as bebidas enquanto terminavam. Kevin e Aaron pareciam bem, bebendo suas doses, Nicky misturou algo colorido para si quando terminaram com todos os outros. Ele seguiu Aaron e Kevin para o deck, supondo que Neil e Andrew não ficariam muito longe deles.

Andrew ficou, para limpar os liquidificadores, depois pegou dois copos de cristal do armário. Encheu ambos até a borda com uísque e entregou um a Neil. 

Neil olhou para Andrew.

– Não bebo –, Neil o lembrou.

– Você não bebia porque tinha medo de perder o controle –, disse Andrew. – O que você tem a esconder agora?

A rápida acusação foi provocante. Neil fitou a bebida novamente. Andrew aproximou-se, e Neil segurou o copo. Andrew ergueu o seu, um pouco desafiador, ou convidativo, e beberam ao mesmo tempo. O whisky queimou garganta de Neil a baixo. Ele pensou nas várias noites na estrada e várias contusões. Pensou em Wymack ajudando-o em seu apartamento em dezembro e o deixando manter seus segredos. Ele hesitou entre os extremos, sem saber se o calor que se acumulava em seu estômago era náusea ou alívio.

Andrew tirou um maço de cigarros do bolso de trás e trocou-o pelo copo vazio de Neil que, sacudiu o maço e sentiu o peso característico de um isqueiro, partiu logo em seguida. Estava a meio caminho da varanda, distante da jacuzzi, para que os outros não sentissem o cheiro do cigarro, e o acendeu. Ele rolou o cigarro entre as mãos, vagamente consciente da conversa animada dos outros, mais consciente do gosto em sua boca. Passou a língua sobre os dentes, imaginando o que pensar.

No final, o cigarro foi suficiente para inclinar a balança. Andrew cheirava a fumaça de cigarro e uísque na noite em que entregou a chave de sua casa e lhe disse para ficar. Neil sempre carregaria seu passado com sigo, mas não precisaria se sentir oprimido por ele. Com tempo suficiente, poderia suavizar as partes dolorosas e substituir seus traumas por boas memórias.

Andrew se aproximou, deixou a garrafa de uísque a seus pés. Neil deslizou seu maço no corrimão de madeira, em direção a ele. Em troca, Andrew pôs um copo cheio em meio ao caminho entre eles. Neil observou a luz do sol refletida na superfície balançando e jogou cinzas na terra, a cerca de cinco metros abaixo. Manteve o cigarro fora do caminho ao pegar o copo e bebeu o whisky em um único gole. Foi tão difícil quanto à primeira, no entanto, dessa vez, não teve gosto de morte.

– Ai meu Deus –, disse Nicky, estridente demais. – Isso é álcool? Você acabou de dar álcool a Neil, e ele realmente bebeu? Não me lembro do memorando sobre Neil começar a beber com a gente?

Apesar da aprovação atordoada de Nicky, Andrew não deu a Neil uma terceira rodada. Terminaram seus cigarros longe dos outros, então se aproximaram para que Neil pudesse participar da conversa.

O posto abriu as portas para o jantar às oito horas, então todos caminharam por uma estrada de terra até o prédio principal. Havia mais do que suficiente para satisfazer o grupo de atletas famintos, e os proprietários estavam prontos para cumprimentar cada grupo de hóspedes que chegavam. Os olhos escurecidos de Neil, hematomas e ataduras múltiplas atraíram mais do que alguns olhares curiosos, mas a equipe foi educada o suficiente para manter a boca fechada.

Durante o caminho de volta, Dan parou Kevin. Neil ouviu Matt dar um aviso de que não batesse em Kevin, pois deixaria marcas, no entanto havia resalvas sobre se Dan ouvira ou não.  Matt acendeu à lareira quando voltaram para a cabana, e as Raposas se aconchegaram nos sofás e cadeiras de balanço para ver as chamas dançarem. Allison contou histórias de resorts que visitara, e claro, com comentários obrigatórios da insignificância de cada comparado as propriedades de sua família. Ela e Matt começaram um debate, sobre como as Raposas deveriam comemorar quando conquistassem o primeiro lugar no campeonato. Neil não sabia se tudo era uma piada ou se estavam realmente fazendo planos; teria suposto o primeiro, se não fosse pela facilidade com que Allison lhes assegurara a cabana.

Enquanto seus companheiros discutiam cruzeiros contra Havaí ou Las Vegas, ele pensou no dinheiro escondido no cofre, em seu quarto. Neil concluíra a fuga de seu pai que, obviamente, nunca recuperaria a grana. Já não conseguia pensar em nada melhor para fazer com o dinheiro do que retribuir seus companheiros pela amizade. Ele não se pronunciou, sem certeza do que pensariam das férias compradas com dinheiro sujo de sangue. Assim ouviu atentamente as férias dos sonhos vencedora do debate. Seus planos se tornaram mais elaborados conforme bebiam, até Neil ter certeza de que nenhum se lembraria do debate pela manhã.

Neil se levantou com outro copo de água quando a conversa se direcionou a assuntos mais normais. Quando fechou a pia e se virou, encontrou Aaron esperando por ele no meio da cozinha. Aaron indicou com queixo, em uma ordem silenciosa, para segui-lo e saiu em direção à porta dos fundos. Neil deixou a bebida de lado e seguiu-o em direção à varanda. Fechou a porta o mais silenciosamente e encostou-se ao parapeito. Aaron nada fez para ocupar a lacuna entre eles.

– Nicky é um pouco idiota –, disse Aaron. – Ele cometeu o erro de dizer alguma coisa a Andrew em vez de esperar até que pudesse ficar sozinho. Andrew quase cortou a cara dele quando não entendeu o aviso rapidamente. – Ele olhou sobre o ombro, para a porta dos fundos, talvez certificando-se de que a cozinha ainda estava vazia, antes de virar para Neil. – Isso o deixa comigo, já que Andrew não considerou apropriado me avisar para ficar longe de você.

– Quando foi à última vez que Andrew decidiu falar com você?

– Na última quarta-feira –, lembrou-se Aaron.

Não era a resposta esperada. Ele havia preparado o alicerce para a terapia dos irmãos, fazia semanas desde que Aaron havia participado, pela primeira vez, de uma das sessões de Andrew, mas essa era a primeira pista de que eles estavam realmente fazendo alguma coisa naquele momento. A atitude terrível de Aaron naquela primeira quarta-feira foi a única reação que eles receberam dos irmãos. Neil logo acreditou que ambos não haviam chegado a lugar nenhum de imediato. Seu triunfo foi um calor silencioso e quente em seu estômago que rapidamente morreu pelas próximas palavras de Aaron.

– Então agora você vai bater um papinho comigo –, disse Aaron, – e eu vou lhe dar exatamente uma chance para me dizer a verdade. Você está realmente comendo o cu do meu irmão?

Ele esperou um segundo, quando Neil simplesmente apenas retribuiu seu olhar, em silêncio, perguntou:

– Você segue exemplos de gente morta?

– Como?

– Só estive imaginando, como você desceu do seu pedestal – não gosto de ninguém – para cair na cama de Andrew –, disse Aaron. – Ou você estava mentindo, para esconder o fato de que você é um chupa pica, ou você viu Drake estuprar Andrew e percebeu que ele é uma presa fácil.

Neil acertou-lhe um soco –, um erro terrivelmente grotesco, uma vez que acabou curvando-se pela mão dolorida. Aaron recuou alguns passos, extremamente apáticos, para fora do alcance de Neil e, calmamente, checou o canto da boca com o polegar. Cuspiu para o lado e se abaixou para fitar o rosto de Neil. Apesar de suas palavras cruéis, sua expressão parecia calma e indagadora. Neil teve a nítida sensação de provocação, o que não acalmou sua indignação.

– Vá se foder –, cuspiu em um tom feroz. – Vaza daqui enquanto pode.

– Nicky acha que não passa de tensão sexual causada pelo ódio –, Aaron continuou, como se Neil sequer tivesse o alertado. – Estou fechando minhas apostas em outra coisa. Saberemos muito em breve, não é?

– Fique fora disso.

– Não vou –, replicou Aaron. – Você queria que eu lutasse por ela. Acha mesmo que ele vai lutar por você?

– Não –, respondeu Neil.

Aaron deu de ombros, levantou-se e entrou sem trocar mais palavras. Neil esperou até que a queimação em sua mão se tornasse um rugido ensurdecedor, em seguida, relaxou e checou suas ataduras. Havia claridade o suficiente, filtrada através da porta de vidro, para que pudesse ver a gaze limpa. Estava sem acreditar que algo pudesse doer tanto sem deixar marcas.

Puxou a respiração lentamente, contendo sua raiva prolongada e se dirigiu para dentro. Seu copo estava onde a deixara, e Aaron estava de volta à sua cadeira quando Neil entrou na sala de estar. Aaron não direcionou seu olhar para Neil novamente naquela noite. Neil estava feliz em fingir na não existência de Aaron.

Kevin e Dan apareceram pouco depois. Neil não enxergou nenhum novo hematoma aparente em nenhum deles. Todavia, pareciam ter passado por uma crise emocional. Nicky se levantou sem ser solicitado e pegou algumas garrafas na cozinha. Quando voltaram, Kevin encarou um por um e Dan, praticamente, lançou-se ao colo de Matt. Dan e Kevin estavam mais interessados em ficar bêbados do que em contribuir para a conversa, desse modo, seus companheiros de equipe preencheram o silêncio da melhor maneira possível.

Quando as Raposas foram dormir, a maioria deles estava instável sobre seus pés. Felizmente, Renee estava sóbria o suficiente para ajudar os mais sorridentes pelas escadas. Neil quase a seguiu, antes de lembrar que seu quarto estava no andar de baixo. Como se Allison pudesse ler sua mente, ela se inclinou perigosamente sobre o corrimão e apontou.

– A cabana não é à prova de ruído. Não me deixe acordada. Isso vale para vocês dois também –, disse ela, e direcionou o dedo acusador para Dan e Matt. Dan tentou olhá-la inocentemente, mas estava bêbada demais para consegui-lo. Allison moveu o dedo para enfatizar. – Não fodam fazendo barulho. Não é justo para nós que estamos na seca.

– Talvez, se você pedir a Kevin com carinho... –, Nicky começou.

O olhar mordaz de Kevin foi quase tão escandaloso quanto o barulho indignado de Allison. Neil meneou a cabeça e se dirigiu para o quarto. Andrew não estava muito atrás dele e, juntos, conseguiram que Neil se trocasse para dormir. Neil olhou para a cama com alguma consternação. A única pessoa com quem dividira a cama fora sua mãe. Ela se espremia no mesmo colchão estreito junto a ele, para que sempre soubesse onde ele estava; Era a única maneira que conseguia dormir à noite. No entanto, a hesitação não ajudou nenhum deles, por isso Neil escolheu um dos lados e puxou os cobertores o mais cuidadosamente.

Apesar de suas reservas, havia algo dolorosamente familiar sobre o peso de outro corpo em sua cama. Menos familiar era a sensação de ser empurrado o mais fundo no colchão, as mãos de Andrew em seus ombros e a língua em sua boca, no entanto, algo que Neil poderia definitivamente se acostumar.

Permitiu não se preocupar com as palavras desagradáveis de Aaron, no entanto, a suposição de que Nicky, de não passa de uma atração alimentada pela raiva, não foi assim tão fácil de ignorar. Nicky estava mais certo do que Neil queria que estivesse, porém Neil não tinha motivos para se ressentir. Sabia, antes de mergulhar de cabeça, o que Andrew pensava d’ele – sua apatia era precisamente a razão pela qual decidira aceitar os avanços de Andrew.

Mas não era tão simples, e não sabia por que, quando, ou onde tudo mudou. Sabia muito menos o que fazer sobre. Teria que avisar Andrew em algum momento, mas agora não era a hora. Ele enterrou profundamente sua inquietação e confusão. Passou os dedos enfaixados pelo cabelo de Andrew. Não se importando com o quanto doía, contanto que conseguisse deixar Andrew mais perto, e deixou que Andrew o dominasse na cama até não conseguir mais pensar.


6 Comentários

  1. Pqp... eu achei que o Aaron era mais amorzinho vai se fuder...
    ele n fala nada o livro inteiro e quando abre a boca é pra falar merda jesus... sem paciência...

    AAAAA MEUS BEBÊS <3 <3 <3

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    Respostas
    1. Anônimo16 abril

      pensei a mesma coisa

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    2. Nunca me enganou, sempre achei ele um embuste, principalmente em relação a sexualidade alheia.

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    3. Aaron foi muito embuste mesmo. MDS! Que perguntas idiotas.

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  2. Aaaaa muito obrigada pela tradução❤❤
    Ansiosa pelos próximos capítulos!!

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  3. Morri de rir com o Nicky na hora do Neil bebendo kkkkk amei demais o cap e esse final. Estou amando vê a evolução desse "relacionamento". Ansiosa por mais caps.

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