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The King's Men - Capítulo Dezenove [Parte 1/2]

thicoss - The King's Men - Capítulo Dezenove
TRADUÇÃO: THIAGO
REVISÃO: THIAGO

Com a derrota da USC nos dois jogos consecutivos das semifinais, o ERC cancelou a terceira partida da semifinal. Não fazia sentido colocar Raposas e Corvos uns contra os outros quando ambos estavam classificados para a final. No lugar da partida, ambas as equipes receberam uma semana de folga para descansar, recarregar as energias e despistar a imprensa voraz por histórias.

As Raposas transpareciam confiança sempre que tinham um microfone ou uma câmera em seus rostos, e nem sempre era fingimento. O ódio total em relação à Riko ajudou a acalmar seus nervos. Os Corvos pouco tiveram a dizer sobre as Raposas, possivelmente ao fato de estarem lidando com as consequências da transferência abrupta de Jean. Jean era o atleta mais procurado nas notícias da NCAA atualmente, no entanto, ele se recusou a revelar seu paradeiro atual ou falar com a imprensa. Seu silêncio não favoreceu os Corvos tão logo após a entrevista audaciosa de Kevin, especulações e rumores começaram há tomar um rumo sombrio.

Na segunda-feira à tarde, Wymack contou à sua equipe que o último jogo seria no Castelo Evermore. Não foi uma notícia bem recebida, mas também nenhuma surpresa. Por ser também o estádio da seleção nacional, o tamanho do estádio de Edgar Allan tinha o dobro da metade do estádio de Palmetto. Eles precisavam de todos os lugares que pudessem conseguir. Wymack ainda achava que não era grande o suficiente para um jogo como este, mas, definitivamente, na Carolina do Sul não haveria espaço para acomodar a torcida que viria assistir a final do campeonato universitário.

Ao fim de seu anúncio, Wymack passou uma prancheta. Edgar Allan iria reservar uma seção inteira para amigos e parentes, logo atrás do banco de reservas. As Raposas receberam dezoito assentos para dividir entre os nove, e Wymack precisava de uma lista com nomes para poder reservar os assentos o quanto antes e começar a trabalhar no planejamento da viagem até Edgar Allan.

Dezoito não parecia muito, mas as Raposas não conseguiam preenchê-los. Ninguém no grupo de Andrew precisaria de nenhuma, e Allison passou a prancheta sem hesitação. Renee precisava de um assento para sua mãe adotiva e doou o segundo para Matt, para que seu pai pudesse trazer sua amante atual. Dan foi a última, então sabia quantos assentos extras ela poderia pegar. Várias de suas irmãs de palco haviam trocado o antigo clube por empregos mais calmos, mas era improvável que as poucas que ainda estavam lá pudessem ter uma noite de sexta-feira livre.

Naquela noite, Nicky e Aaron apareceram para treinar sem serem convidados.  Neil esperava que Kevin os expulsasse com o discurso de “ser um pouco tarde de mais”, entretanto os colocou em prática imediatamente. Na quarta-feira, os veteranos se uniram. Uma semana e meia não era tempo suficiente para transformar alguém em especialista nos exercícios precisos dos Corvos, mas Kevin fez todo o possível. Sua atitude cáustica e seu desrespeito hostil pelas habilidades de seus companheiros de equipe não lhe favoreciam durante o dia, mas à noite as Raposas se submeteram com uma determinação silenciosa e sombria. Matt foi o primeiro a perceber que Kevin jogava com a mão esquerda à noite, já que foi ele quem se colocou em seu caminho para bloqueá-lo.

Ter uma arma secreta contra os Corvos encorajou seus espíritos.

Ter todas as Raposas reunidas tornou mais difícil para Neil abordar Andrew sozinho depois dos treinos, já que era mais do que óbvio que eles não iriam direto para a cama. Morar na mesma suíte tornava ligeiramente mais fácil pegar Andrew, apenas entre as aulas. As Raposas tinham treinos tão longos que a maioria de suas aulas ocupavam os mesmos espaço de tempo. Conseguir ficar a sós teria sido completamente impossível se não fosse pela interferência de Nicky.

Nicky passava grande parte do seu tempo livre com o resto das Raposas, em seus quartos, e arrastando Kevin com ele sempre que possível. Assim forçou Andrew a escolher entre Neil e sua natureza controladora. Um dia Neil ganhava; outros dias, o rancor de Andrew o fazia caçar a dupla indisciplinado assim que percebia o que estava acontecendo.

A semana seguinte seria significativamente mais difícil de superar, em parte, pois seria a última semana da aula. Na sexta-feira à noite, as Raposas enfrentariam os Corvos na final da NCAA; Na segunda-feira, as provas finais começariam. Três dos professores de Neil tornaram as aulas opcionais, o que permitiu que seus alunos se candidatassem a revisões e exames práticos ou optassem pelo autoaprendizado em outros lugares. Neil tentou ir para sua primeira aula, mas se desviou no meio do caminho. Ele pretendia encontrar um lugar vazio na biblioteca, no entanto, de alguma forma acabou parando no Foxhole.

Wymack não pareceu surpreso ao vê-lo, porém fez Neil prometer que não tiraria notas vermelhas em qualquer meteria antes de emprestar jogos para Neil assistir. Na manhã seguinte, Neil nem sequer tentou ir para a aula. Entre os treinos, Neil correu e treinou de forma suicida. Percorreu os degraus do estádio no início do dia para que suas pernas pudessem se recuperar antes do treino da tarde. Ele se forçou a ir mais rápido, mais rápido e mais rápido, e ele sabia que não ajudaria.

Os Corvos pareciam relâmpagos na quadra; eles raramente carregavam a bola por mais de alguns passos, porque haviam aperfeiçoado a arte de passes impossíveis. Eles destruíram as Raposas com seus truques em outubro passado. Kevin passara meses ensinando Neil como jogar assim, mas não significava nada agora. Não importava se Neil e Kevin pudessem marcar se a defesa não conseguisse defender e controlar a diferença. Cada jogo que Neil assistiu levou seu pensamento a distancias, o que fez considerar estar louco.

Aaron e Andrew cancelaram sua sessão de quarta-feira com Dobson para treinar a tempo, no entanto Kevin pulou o treino da noite de quinta-feira. Ele não teve outra explicação além de “tenho que cuidar de algumas coisas”, deixando Neil no comando. Dizer aos outros o que fazer era tão terrível quanto Neil esperava, mas Neil não teve tempo de hesitar. Eles teriam um jogo em dois dias e Neil era a única pessoa que conhecia todos os exercícios dos Corvos. Ele guiou seus companheiros de equipe através deles, sabendo que eles não poderiam dominá-los em tão pouco tempo, mas precisando saber o que eles estariam enfrentando na sexta-feira. Eles fizeram muitas perguntas, mas sem recuar, e então, após o treino, Dan sussurrou em seu ouvido:

– Muito bem, capitão.

Eles não saíram do campo antes da uma da tarde, mas quando chegaram ao dormitório, os nervos de Neil anularam o cansaço. Ele ficou em sua mesa, enquanto os outros se trocavam para dormir, revisando seus livros sem realmente ler. Folheou cegamente por um de seus cadernos e depois empurrou tudo de lado. Ele queria correr, mas também sabia que seu corpo precisava descansar depois dos longos treinos de hoje. Se contentaria com uma caminhada, embora não quisesse que os outros soubessem de sua ansiedade.

A ansiedade fazia a dúvida desfazer tudo o que eles estavam trabalhando.

Nicky voltou para a sala.

– Ei. Tá tudo bem?

– Estou bem. Só estou pensando.

Nicky não disse nada, um minuto se passou antes de sair. Neil tinha a luz da sala acesa, então Nicky fechou a porta do quarto. Neil permaneceu em silêncio até que o quarto ficou em silêncio, depois se sentou à escrivaninha e olhou para a parede. Ele ficou lá por bastante tempo, com seus pensamentos distorcidos que nem coseguia acreditar que o céu ainda não havia se iluminado com o amanhecer. Por fim, os pensamentos de Neil foram reduzidos a um avanço lento e ele se levantou para dormir. Ele só ficou a poucos metros de sua mesa antes que a porta da suíte se abrisse e deixasse Kevin entrar.

Kevin cheirava tão forte a álcool que Neil podia sentir o cheiro no meio da sala, mas Neil esqueceu o mau cheiro no segundo em que viu o curativo no rosto de Kevin. Uma espera interminável e impossível de acreditar, Neil congelou e o fitou fixamente. Kevin fechou a porta e cambaleou para trás. Ele estava prestes a cair, se aprumando a tempo, e olhou para Neil com ar sombrio. Foi tudo o que Kevin conseguiu, aparentemente, então Neil foi até ele. Kevin fez um gesto fraco perto ao lado de seu rosto. Neil levantou um canto da fita e removeu a gaze de Kevin.

A sensação foi como cair e um pouco como flutuar; O estômago de Neil atingiu o fundo por um segundo antes de a adrenalina inundar suas veias. Kevin usara o “dois” tatuado em seu rosto desde seus primeiros dias sobre a cruel atenção dos Moriyamas. Riko e Kevin usaram marcadores por anos, escrevendo sobre seus números toda vez que ameaçavam desaparecer. Assim que tinham idade suficiente, mudaram para permanente. Agora esse número havia desaparecido, encoberto pela figura preta de uma peça de xadrez. O conhecimento de Neil sobre o xadrez era confuso na melhor das hipóteses, mas ele sabia, com certeza, que não era o rei.

– Você fez isso – disse Neil, atordoado demais para dizer qualquer outra coisa. 

– Deixe Riko ser o rei – disse Kevin, exageradamente em seu comportamento bêbado. – O mais cobiçado, o blindado. Ele vai sacrificar cada peça que tiver para proteger seu trono. O que seja. Eu? – Kevin gesticulou para si novamente, bêbado de mais para levantar a mão mais alta que a altura da cintura. – Vou ser a peça mais mortífera do tabuleiro.

– A Rainha –, disse Andrew em algum lugar atrás de Neil. Neil não o ouvira sair da cama, mas é claro que a batida na porta o teria despertado. Um Andrew sóbrio acordaria tão facilmente quanto Neil, talvez mais porque Andrew estava acostumado com pessoas hostis entrando em seu quarto. Neil olhou para ele, mas Andrew estudava Kevin. Andrew atravessou a sala, ficando ao lado de Neil e segurou o queixo de Kevin na mão. Ele virou a cabeça de Kevin para inspecionar a nova arte. – Ele vai ficar furioso.

– Que se foda –, cuspiu Kevin, deslizando um pouco mais para fora da porta. – Que se fodam todos eles. Eles são um desperdício de tempo para ficar com raiva. Eles quem deveriam ter medo.

– No inferno não tem tanta fúria –, comentou Andrew.

Kevin fez um gesto débil para Neil, que colocou o curativo de volta em sua pele inchada e avermelhada. Neil abaixou a mão e cerrou os punhos para esconder o tremor. Ele duvidava que Kevin ou Andrew notassem; Eles estavam ocupados demais encarando um ao outro. Finalmente, Andrew sorriu, lento e frio. Era a primeira vez que ele sorria desde que deixara as drogas, e Neil não pôde deixar de fitá-lo.

– Agora está ficando divertido –, disse Andrew.

– Finalmente –, replicou Kevin, em medidas iguais de exaustão e irritação.

Os dois tiveram que levar Kevin para o quarto. Neil não sabia como Kevin ia subir as escadas de sua cama, porém conseguiu, de alguma forma. Ele estava dormindo quase tão logo sua cabeça bateu no travesseiro. Neil sentiu-se completamente recarregado enquanto olhava para o beliche de Kevin. Ele estava pé e instável, zumbindo demais para ficar parado. A escuridão deveria ter escondido a ruína que ele se tornara, no entanto Andrew não se deixava enganar enganado. Ele bateu no ombro de Neil em seu caminho de volta para fora do quarto. Neil desviou o olhar da forma inconsciente de Kevin e seguiu-o.

Andrew empurrou-o contra a parede com mãos pesadas e beijos duros.

– Drogado.

– Eu tava esperado por isso desde junho –, disse Neil . – Você estava esperando por mais tempo.

Andrew não se incomodou em negar. Estava quase amanhecendo quando finalmente foram dormir, mas Neil pôde copensar no trajeto de ônibus para o norte. Ele se escondeu embaixo de seus cobertores e sonhou com Evermore caindo em sua cabeça.

***

Faltando uma hora para o jogo, todo o estacionamento no campus de Edgar Allan estava cheio. O recinto do estádio estava tomado de fãs vestidos de preto. Explosões de flashes de câmera e corpos atarracados em ternos marcaram a chegada de celebridades de renome. Em todos os lugares, Neil parecia ter visto policiais, e uma seção inteira foi isolada para as vans de noticiários.

Neil olhou para seus companheiros de equipe. Nicky tamborilou os dedos nos quadris enquanto absorvia tudo. Aaron estava ombro a ombro com Katelyn, os nós dos dedos brancos do aperto que segurava sua mão. Andrew não pareceu impressionado com o asilo em que entraram, mas seu olhar calmo seguiu a multidão em busca de ameaças. Renee estava mexendo no colar de cruz, o olhar distante enquanto rezava. Dan e Matt estavam de braço dado atrás dela, dois pilares de força prontos para uma luta. O estalo dos saltos de Allison contra o asfalto a tirou de sua inquietação, embora ela possuísse um olhar de desprezo em seu rosto.

Ao lado de Neil, Kevin era intocável. Kevin exibiu sua nova tatuagem assim que entrou no ônibus. A comemoração da equipe tornou difícil para Neil dormir, mas ele não podia rejeitar aquela empolgação. Wymack não reagiu com mais do que um leve sorriso firme, o que significava que ele já sabia antes de qualquer um deles. Neil pensou nas tatuagens de chamas tribais nos braços de Wymack e imaginou se Wymack teria chamado seu próprio tatuador para fazer o trabalho. Pelo menos, explicava como Kevin retornara ao dormitório na noite anterior, quando mal conseguia andar.

Neil não sabia qual seria a última gota que transbordaria o copo de Kevin, mas, aparentemente, o espetáculo da noite anterior não nascera da grandeza de estar bêbado. Kevin havia se comprometido; Não havia como voltar atrás. Ele enfrentou o Castelo Evermore, agora como se fosse mais uma parada sem valor no caminho em direção à glória. Neil não sabia se essa determinação era genuína ou pura força de vontade, assim como não sabia quanto desse desdém era uma fachada para a imprensa. Neil teve a sensação de que o desafio de Kevin era pelo menos noventa e nove por cento de verdade, e isso bastava para manter os nervos de Neil à distância.

Duas mulheres reuniram o esquadrão Vixen. Quatro seguranças escoltaram as Raposas do ônibus para o estádio, enquanto outros seis ficaram de guarda ao longo do curto caminho. Era um pouco excessivo, talvez, mas o conselho de Edgar Allan não estava se arriscando. As câmeras piscaram quando as Raposas passaram, e era apenas uma questão de tempo até que alguém percebesse que a tatuagem de Kevin havia mudado. Um grito de descrença chamou toda a atenção para o rosto de Kevin e, de repente, dez guardas pareciam completamente inadequados. Houve um coro de vaias em todos os lados enquanto a notícia se espalhava pela multidão, no entanto, em meio aquela desaprovação havia alguns gritos dispersos de Rainha! Kevin suportou tudo com uma expressão arrogante presa em seu rosto.

Foi a primeira vez de Neil no vestiário para visitantes de Evermore. Kevin os alertara na viagem, mas as palavras não conseguiram impedir Neil de sentir que entrara em um túmulo. Era duas vezes maior que o vestiário das Raposas, que parecia cem vezes menor que este. As paredes eram desprovidas de qualquer decoração, tudo era completamente preto, do chão ao teto. Custou às Raposas um preço imediato e eles se dispersaram o mais rápido que podiam, jogando bolsas laranja em todos os cantos da sala, tentando quebrar a ilusão sufocante.

– Edgar Allan estende suas boas-vindas aos oponentes de hoje à noite –, disse um dos guardas quando a equipe parou de se mover. – Os ingressos das arquibancadas estão esgotados, assim como as torres. Os representantes estaduais e escolares estão na torre norte, olheiros na sul e o CRE na oeste. Recebemos doze representantes das principais ligas e seis das equipes profissionais. Vocês não podem se aproximar de nenhum deles, a menos que sejam convidados por um membro da minha equipe.

Ele esperou um momento para se certificar de que haviam entendido.

– Vocês podem usar livremente o pátio interno pela próxima meia hora, assim que os Corvos chegarem ao lado da casa vocês estarão restritos à sua metade do campo. Alguma pergunta?

Nicky levantou a mão.

– Sim. Quem está na torre leste?

– É reservada para hóspedes e clientes de negócios dos Moriyamas –, respondeu Kevin.

O guarda assentiu em confirmação, esperou por outras perguntas e saiu.

– Bem –, começou Dan, quando a porta se fechou atrás dele, – é exatamente o que estávamos esperando.

– Vamos nessa –, assentiu Matt.

Eles deixaram o equipamento e entraram no pátio interno. Lá fora, parecia não haver ninguém do lado das Raposas, porém as arquibancadas estavam divididas em grupos de estudantes e fãs em diversos tons de laranja. As Raposas acenaram para todos os rostos amigáveis que conseguiram enxergar, ganhando aplausos animados e punhos para o alto. A torcida dos Corvos foi rápida em retaliar, levantando e rugindo vaias do fundo de seus pulmões.

No meio de cada seção havia um torcedor vestido com listras vermelhas e pretas e, um após o outro, estenderam as mão no ar. O mais próximo ainda estava longe demais para Neil enxergar claramente o que ele segurava, Neil achou se tratar de sino de bicicleta. Não fazia sentido, cinco segundos depois, quando a seção inteira, do chão as vigas do teto, pulou como um só. Quando sentaram novamente, a próxima seção saltou e uma onda estrondosa cercou o estádio. Era uma cacofonia ensurdecedora e perturbadora da qual Neil queria que fosse. Os fãs listrados levantaram os braços novamente quando a onda retornou a eles e fizeram uma segunda volta.

– Santo pai –, sussurrou Nicky, quase inaudível, mesmo estando atrás de Neil. – Acho que eu não consi... Erik!

Nicky passou por Neil e correu para as arquibancadas. A primeira fileira estava vazia, com um segurança em cada extremidade, mas um rapaz acabara de aparecer mostrando sua credencial. Como Erik Klose ouviu Nicky sobre o barulho das arquibancadas, Neil não soube, mas ele imediatamente se afastou do guarda e se inclinou sobre a grade de segurança para dar um abraço feroz em Nicky. Nicky se agarrou a ele como se tivesse passado anos desde a última vez que estiveram no mesmo recinto, alheios ou completamente indiferentes aos olhares que atraía.

O restante dos convidados das Raposas apareceu alguns segundos depois, já que Wymack havia providenciado uma van para buscá-los no aeroporto. Wymack dispensou sua equipe, sabendo o quanto eles precisavam de rostos amigáveis neste momento. Allison não trouxera ninguém, seguindo os veteranos até as arquibancadas. Aaron foi até as Vixens para conversar com Katelyn. Neil ficou com Andrew e Kevin e simplesmente assistiu.

Quatro das irmãs de Dan vieram. Elas usavam vestidos brancos de veraneio que haviam customizado, três escrito RA-PO-SAS. A quarta ostentava uma pata de raposa, que já começava a perder um dedo da pata. Elas praticamente esmagaram Dan, sufocando-a com um abraço em grupo antes de elogiá-la. Elas foram rapidamente  abraçar Allison, a familiaridade em seus sorrisos sinceros dizia que a tinham visto pelo menos uma vez antes.

Stephanie Walker estava no assento ao lado, e abraçou Renee como se fosse para sempre. Os pais de Matt tinham os lugares ao lado dela. A trança de sua mãe estava tingida de laranja e usava um macacão igualmente brilhante. Matt falava sobre sua mãe o suficiente para deixar Neil saber o quanto ele a amava. De alguma forma, ele ainda parecia impressionado com o quão vergonhoso esse amor havia sido retribuído.

Havia um orgulho feroz no sorriso de Randy Boyd que o lembrava Dan, ela brincava com o cabelo espetado de gel que ele havia penteado. O pai de Matt era um pouco mais reservado, mas sorriu quando deu um tapinha no ombro de Matt em saudação. A mulher que ele trouxera como acompanhante aparentava ser pouca coisa mais velha que Matt, e nem ela nem Matt se conheciam.

Betsy Dobson foi a última a chegar. Andrew não reservara uma entrada para ela, então Neil supôs que Wymack e Abby a convidaram. Andrew não pareceu surpreso em vê-la, se aproximou assim que ela se acomodou. Ela sorriu ao se aproximar e gesticulou ao redor dele. Neil não podia ouvi-la no meio da multidão, supondo que ela estava fazendo suas observações redundantes usuais. Neil desviou o olhar antes que ela o visse e voltou sua atenção para a multidão.

– Vocês dois poderiam pelo menos dar um oi –, disse Wymack, um pouco ofendido.

– Não faz sentido –, replicou Kevin. – Eles não são nada mais que uma distração.

– Se chama apoio. Pesquise essa palavrinha.

– Thea tá assistindo da área sul –, disse Kevin, olhando para a área VIP no alto. Era muito longe e alto demais para Neil enxergar rostos, já havia uma pequena multidão reunida em frente às paredes de vidro. Saber que os profissionais estavam lá para vê-los jogar enviou um calafrio nas veias de Neil. Kevin arrastou o olhar para o rosto de Wymack e disse: – E meu pai vem para todos os meus jogos. É o bastante.

Do outro lado de Wymack, o olhar de Abby se suavizou. A mandíbula de Wymack trabalhou por um momento antes que ele pudesse dizer em tom brando:

– Sua mãe ficaria orgulhosa de você.

– Não só de mim –, disse Kevin em um raro episódio de humanidade.

A situação estava ficando muito pessoal, ou talvez aquela pontada aguda de desconforto no peito de Neil fosse um ataque de solidão e perda. Neil os deixou um com o outro e foi se juntar a seus companheiros de equipe. O aperto de mão de Erik foi firme e seu sorriso largo. Neil confundiu as irmãs quase imediatamente depois de suas apresentações alegres. O sorriso paciente de Stephanie foi tão desconcertante quanto o comportamento pacífico de Renee, e Neil tinha certeza de que Randy arrancara alguns de seus órgãos vitais com o quão forte ela o abraçou. O pai de Matt deu um pulo com um simples – oi – para contar a Neil sobre um cirurgião plástico conhecido, caso Neil quisesse que alguém harmonizasse um pouco seu rosto.

– Pai – advertiu Matt, horrorizado. – Mas que merda?

– Neil Josten –, chamou um guarda, – um tal de Stuart Hartford está aqui para vê-lo. 

Neil seguiu o guarda até outra parte do pátio interno. Uma grade os separava das arquibancadas, Stuart esperava do outro lado com os braços cruzados. Ele dispensou o guarda com um simples acenou de cabeça e dirigiu um olhar pensativo a seu sobrinho há muito tempo perdido.

– Pensei que tivesse voltado para a Inglaterra –, disse Neil.

– Tenho andado de um lado para o outro –, respondeu Stuart. – Teria vindo atrás de você antes, mas ele nos disse para não interferir até que ele tomasse uma decisão.

Neil não precisou perguntar a quem Stuart estava se referindo com “ele”. Stuart esperou o aceno de Neil antes de continuar.

– A morte do seu pai deixou um vazio nada fácil de preencher. O patrãozinho está limpando a casa e reduzindo as perdas onde pode, realocando o pessoal da Califórnia para a Carolina do Sul. Policiais, médicos, espiões... não importa. Se houver uma pontada de resistência em suas novas regras, eles estão mortos. É uma coisa interessante, a reformulação de um império. Sangue também.

– Tinha capangas na Carolina do Sul? – indagou Neil. Assim que foi dito, seu coração saltou. – Espere, médicos? Médicos ou psiquiatras? Você tem nomes?

– Fico por fora dos detalhes, amenos que sejam da minha conta –, disse Stuart. Alguém em particular, que você está procurando?

– Um psiquiatra em Columbia, Proust. Ele trabalhou no Easthaven, ele se deixou ser comprado e usado pelo irmão errado. Eu disse a ele... o patrão –, corrigiu-se Neil depois de um momento de hesitação. – Alguma coisa?

– Vou dar uma olhada –, prometeu Stuart. Ele lançou um olhar casual e disse: – Sabe que eles ainda estão de olhos em você, não sabe? Estão esperando um deslize seu, esperando para ver se alguém é estúpido o suficiente para dar uma mordida. Isca e espião em um só. Seja esperto, ok? Você entrou nisso, o que significa que não posso protegê-lo se as coisas saírem do controle.

– Vou ter cuidado –, garantiu Neil. – Obrigado

– Queixo erguido –, disse Stuart, aprumando-se. – Olhe para frente. O patrãozinho está aqui esta noite. Não o faça se arrepender de investir em você.

Neil não foi tão estúpido a ponto de olhar para a torre leste. Apenas assentiu e assistiu Stuart desaparecer em meia multidão. Ele correu de volta a Wymack, decidido a não contar a Kevin sobre quem estava presente hoje à noite. Wymack deu mais um minuto à sua equipe para se socializar e depois levou-os ao vestiário. Eles se trocaram o mais rápido que podiam, o estado de espírito restaurado pelo entusiasmo de seus convidados, e rodearam o pátio interno até os Corvos surgirem.

Neil achou a multidão barulhenta antes, mas as boas-vindas que deram à equipe local fizeram seus ouvidos doerem. As Raposas se retiraram para o vestiário, para se alongarem e salvar seus tímpanos. Gastaram o tempo equipando o resto do equipamento e se encontraram novamente na sala principal. Wymack deu-lhes um minuto para respirar antes de enviá-los ao pátio interno mais uma vez. Os árbitros desta noite dividiram-se entre as extremidades da quadra, no aguarde, próximos aos portões para deixar as equipas entrar. Os Corvos foram um fluxo interminável de preto quando entraram pelo lado oposto, e Neil tentou não olhar. O aquecimento nunca pareceu tão demorado; Em um minuto Neil estava tomando sua posição e no próximo eles estavam sendo chamados para a apresentação antes da partida.

A banda de Palmetto, a Orange Notes, havia encontrado seus lugares em algum momento, eles tocaram a canção de guerra com orgulho petulante assim que o locutor terminou de anunciar a escalação das Raposas. O locutor esperou até a última nota, antes de anunciar a escalação dos Corvos. A canção de guerra de Edgar Allan soava maliciosa, como sempre, e a bateria continuou com uma batida pesada muito depois que o resto da banda ficou em silêncio. A multidão prosseguiu até que todo o estádio parecia estar se contorcendo em fúria. Neil não sabia se eram as reverberações de sua loucura ou sua palpitação caótica que estava o sufocando.

Dan encontrou Riko na quadra para o lançamento de moeda e ganhou o primeiro saque pra as Raposas. A multidão continuou, como se planejassem continuar a noite toda. Wymack teve alguns minutos antes de iniciarem a formação necessária na quadra, então ele se aproximou de sua pequena equipe, o suficiente para que pudessem ouvi-lo.

– Sou péssimo em conversas motivacionais, mas Abby me ameaçou com uma morte assustadora se eu não fizesse algum tipo de esforço. Foi isso que eu pensei depois de uma hora batendo cabeça. Eu não ensaiei, então vocês terão que fingir que é uma coisa polida e encorajadora. De acordo?

Ele olhou em torno, para todos eles, captando e segurando os olhares de cada jogador por um momento.

– Quero que vocês fechem os olhos e pense no porquê de estarem aqui esta noite. Não me digam “revanche”, porque vocês já conseguiram só de estarem aqui.

– Não é mais sobre Riko –, continuou Wymack. – Não é sobre os Corvos. Isso é sobre vocês. Isso tudo é sobre o que vocês engoliram até chegarem aqui, tudo o que lhes custou, e todos aqueles que riram quando vocês ousaram em sonhar com algo grande e brilhante. Vocês estão aqui porque se recusaram a se render, se recusaram a ceder. Vocês estão aqui, onde todos disseram que nunca chegariam, e ninguém pode dizer que vocês não ganharam o direito de jogar esta partida.

– Todos os olhos estão em vocês. É hora de mostrar a eles do que vocês são capazes. Não há espaço para dúvida, não há espaço para suposições, não há margem para erro. Hoje é a noite de vocês. É o jogo de vocês. É o momento de vocês. Aproveitem tudo o que vocês podem. Se livrem de todos os obstáculos e deem tudo de si. Lutem, porque vocês não vão morrer em silêncio. Vençam porque vocês não sabem perder. Esse tal de rei já governou por tempo suficiente... é hora de derrubar seu castelo.


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7 Comentários

  1. -Rikko, vamos derrubar seu castelo!
    Isso me lembra Jogos vorazes kkkk Aí MDS! Mal posso acreditar que já está acabando. Muito bom. Amando demais. Ansiosa pelo final. Obrigada de vdd pela tradução e por seu esforço, tempo e trabalho nisso.
    Bjs até 😘

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  2. Anônimo31 maio

    Como sempre um capítulo intenso! Não vejo a hora da próxima parte. Gostaria de saber se você pensa em lançar o livro em PDF como os anteriores?

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  3. MEEEEE QUE CAPÍTULO MEUS IRMÃOS!!
    Primeiro esse "muito bem, capitão" eu tive surtos ... :,)
    A tatuagem do Kevin pqp! <3
    Andrew sorrindo sem drogas <3

    Esse finalzinho pqp! Minha frase preferida...
    "Fight because you don't know how to die quietly, Win because you don't know how to lose"
    aaaaaaaaaaaaaaaa <3



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  4. "E meu pai vem para todos os meus jogos. É o bastante."
    PODE ME ENTERRAR

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  5. Se eu arrepiei? KKKKKKKkk até o cabelo.
    Misericórdia, eu amo uma equipe e ela é laranja e branco!!

    Eu to tão nervosa mds, isso me lembra de quando eu assistia Haikyuu!, cada episódio uma ansiedade diferente e tá tão perto do fim q eu só queria deitar em posição fetal e chorar de nervosismo ;u;;
    Esperando o próx cap cm calmantes ;3;
    e com certeza vou reler quando sair em epub (ou pdf)!!!

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  6. Eu estou perdidamente apaixonada por essa série.
    Agora só falta uma vitória gloriosa contra os Corvos, um Riko lesionado e uma confissão do Andrew.
    Primeira vez que leio uma história sobre esporte de equipe e já está na minha lista dr favoritos.
    Obrigada pela tradução, Thiago!! Eu vou enlouquecer com esse livro!!

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